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Ópera contra o preconceito

Ópera, segunda montagem do Coletivo Angu de Teatro, faz duas apresentações no Santa Isabel

Montagem do Coletivo Angu de Teatro faz apresentações no Teatro de Santa Isabel

Ópera é um dos mais queridos espetáculos da recente cena teatral pernambucana. E querido quer dizer aplaudido, com casa lotada e espectador que já viu até mais de seis sessões. Foi sucesso em janeiro no Teatro Glauce Rocha, dentro do projeto Visões Coletivas – Nordeste Contemporâneo. Depois dessa temporada no Rio de Janeiro, Ópera tem duas apresentações marcadas, nos dias 20 e 21 de abril, às 20h, no Teatro de Santa Isabel.

Mas o que é mesmo que essa montagem tem de especial? Bem, são algumas conjugações, como a criatividade do diretor Marcondes Lima, o talento do Coletivo Angu de Teatro, a verve cômica puxado para ácida do autor Newton Moreno e a temática gay, nem vilanizada nem vitimizada. É assim. E os recortes que o dramaturgo utiliza em seus contos para narrar as quatro histórias são divertidos, com criticidade aguda e até com doses de crueldade para todos os lados.

As quatro histórias são trabalhadas de forma diferente, como radionovela dos anos 1950, fotonovela, telenovela e, por último, uma ópera.  A primeira é O cão, que mostra as consequências no seio da família após a descoberta da condição gay de Surpresa, o cachorrinho da casa.

Em O troféu, episódio em forma de uma fotonovela dos anos 1960, expõe o drama de Pedro (ou Petra), que não se sente adequado em seu corpo masculino. Já em Culpa, inspirado nas telenovelas da década de 1980, o personagem soropositivo tenta encontrar um novo parceiro para o namorado. O último quadro trata da submissão de um barítono apaixonado por michê. Nesta temporada, desde janeiro, Carlos Ferrera substitui André Brasileiro como o cantor. A peça também tem a participação da transex carioca Jakellyne Ushôa.

SERVIÇO

Ópera

Quando: sábado e domingo, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel, Praça da República, s/n
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Informações: 3355-3322

Ópera – Ficha Técnica
Realização: Atos Produções Artísticas / Coletivo Angu de Teatro
Texto: Newton Moreno
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação Corporal e assistência de Direção: Vavá Schön Paulino
Plano de Luz: Jathyles Miranda
Elenco: Arilson Lopes, Andre Brasileiro (Carlos Ferrera), Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni e Jakellyne Ushôa
Direção de Produção: Tadeu Gondim
Produção Executiva: André Brasileiro / Luciana Bispo / Nínive Caldas
Identidade Visual / Operador de Luz: Sávio Uchôa
Operador de Som: Tadeu Gondim
Camareiras: Irani Galdino e Nine Brasil
Confecção de Figurinos: Maria Lima e Helena Beltrão
Gravação, mixagem e masterização: Henrique Macedo
Fotografias: Tuca Siqueira
Contra-regras: Vavá Schön Paulino e Gustavo Teixeira

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

A seguir, duas matérias que escrevi para o Diario de Pernambuco na época da estreia de Ópera, em 2007

Espetáculo sobre homoerotismo desafia limites da sociedade

ESTRÉIA // Peça Ópera, com textos inéditos de Newton Moreno, discute contradições da realidade brasileira, a partir de hoje, no Teatro Apolo

Apesar da intolerância e de fundamentalismos multiplicados, o mundo contemporâneo é povoado pela diversidade. Nas pulsações das identidades todos querem, cada um a seu modo, ser feliz. Mas não é bem de felicidade que trata a dramaturgia do pernambucano Newton Moreno, mas da perseguição por coisas como sobrevivência digna e um pouco de prazer, o que gera inquietações em várias modalidades, inclusive estéticas. O espetáculo Ópera, que estréia hoje no Teatro Apolo e fica em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até o final do mês, é uma adaptação de contos inéditos do autor, feita pelo Coletivo Angu de Teatro (o mesmo da peça Angu de Sangue, transposição de textos de Marcelino Freire), com direção geral de Marcondes Lima.

O homoerotismo é o grande tema da encenação, que se abre para discutir as contradições da realidade brasileira. Também a partir da poética marginal que caracteriza a queer culture e estética kitsch, a encenação busca uma crítica social à hipócrita visão de valores hegemônicos.A temática é assumidamente gay e o tratamento da encenação reforça essa escolha. Desde que dirigiu Angu de Sangue, há dois anos, o encenador Marcondes Lima desejava fazer uma homenagem a Pernalonga (artista transformista de Olinda, morto barbaramente em 2000) e investigar mais sobre a estética gay. “Não dava para não passar pelo Vivencial”, adverte Marcondes Lima. O Vivencial Diversiones foi um espaço experimental que funcionou em Olinda, sob forte influência do Tropicalismo.

Mais do que temática, a montagem Ópera busca ousar na definição de uma linguagem teatral, na problematização dos limites estéticos e éticos e o entrecruzamento de posturas. A condução dos temas ou ações é provocativa e alguns diálogos avançam por posições inusitadas. O primeiro dos quatro quadros, Cão, utiliza a metalinguagem de uma novela radiofônica, em que atores interpretam os conflitos de família de um cachorro gay, quando a história do animal vem a público. O pastor alemão e seu companheiro vira-lata terminam o quadro assassinados por envenenamento.

O Troféu, segundo dos quadros, trabalha com o formato de fotonovela em preto-e-branco da década de 1960, com poucos diálogos apresentados em molduras. Leva ao palco as angústias de Pedro, que sentindo-se inadequado com seu corpo masculino, comporta-se como Petra. O cúmulo dessa confusão psíquica ocorre quando o rapaz, diagnosticado com câncer de mama, comemora por acreditar que essa é a prova irrefutável do que sempre pensou, que é uma verdadeira mulher.

Dividido em três unidades, o quadro Culpa expõe três momentos de um encontro amoroso. O primeiro, em off; o segundo quando eles se encontram e o terceiro, da despedida. Soropositivo, Augusto sabe que vai morrer e anda consumido pelo remorso em saber que vai abandonar o companheiro mais jovem e tenta encontrar um novo companheiro para seu namorado, antes de morrer. O tom melodramático está afinado com o estilo predominante das novelas brasileiras da década de 1980.

O último quadro, que dá nome ao espetáculo, Ópera explora o comportamento submisso de um cantor de ópera apaixonado por um garoto de programa. O melodrama ganha o tratamento de uma micro-ópera pós-moderna. Como ligação entre os quadros, dublagens de figuras femininas que têm uma interferência no universo gay. Dalida, cantora meio francesa meio egípcia que suicidou-se, Rita Pavone e Rosana. O cenário, também assinado por Marcondes, condensa em portas e gavetas os símbolos de transposições, de saídas de armários.

Para o diretor o grande desafio da montagem para o elenco foi o de brincar com as referências. Os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni encararam a dificuldade de andar de salto alto e assumir gestos mais lânguidos. Ópera conta com a participação especial de Andréa Close. Na assistência de direção do espetáculo está Vavá Paulino e a produção executiva é de Gheuza Sena.

*Esta matéria foi publicada na capa do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco, no dia 13 de janeiro de 2007

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Estréia de Ópera revela sua vocação para se tornar um cult
Coletivo Angu de Teatro imprime ousadia e humor na adaptação dos contos de Newton Moreno, em sintonia com questões contemporâneas e exercitando várias linguagens cênicas

Por volta das 22h30 do sábado, no pátio dos teatros Apolo e Hermilo Borba Filho, num coquetel abarrotado de gente, para comemorar a estréia do espetáculo Ópera, a cantora Elza Show anunciava com seu vozeirão: “O mundo é gay!”. Nem tanto, darling! Mas a euforia faz sentido. Vamos recuar três horas nesse tempo. 19h30. Rua do Apolo, nas imediações do teatro homônimo, o público já fazia fila e começava a disputa por ingressos para a primeira sessão da temporada da peça Ópera, adaptação de contos inéditos do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, com direção de Marcondes Lima e produção do Coletivo Angu de Teatro. Os 290 lugares da casa não foram suficientes para atender a demanda da primeira noite. Muitos terão que voltar outro dia.

Na plateia desse teatro superlotado como há muito tempo não se via em estreia de produção pernambucana, muitas figuras do meio artístico, o secretário de Cultura do Recife, João Roberto Peixe, o cantor Silvério Pessoa. Artistas experientes, como a atriz Diva Pacheco ou a mais nova estrela do cinema nacional, Hermila Guedes (que por sinal faz parte do coletivo e integrou o elenco da montagem Angu de Sangue). Pessoas que alimentaram o Vivencial Diversions (que deu o norte estético à peça Ópera), como o escritor, cineasta e agitador cultural Jommard Muniz de Brito ou a atriz Ivonete Melo, estrela do Vivencial na década de 1970. A expectativa era grande. E o público acolheu calorosamente a estreia de Ópera. Palmas em cena aberta para vários atores. Indícios de que vai virar um espetáculo cult.

Ópera está dividida em quatro quadros, O Cão, O Troféu, Culpa e Ópera que dá título à peça além de intermezzo de dublagem. O diretor Marcondes Lima, uma dos mais festejados da cidade e também dos mais solicitados tanto para encenação quanto para direção de arte (cenários e figurinos), ousou ao dividir o espetáculo em formato de radionovela, fotonovela e uma novela televisiva, nos três primeiros quadros. O Cão é uma historieta de um cachorro de raça que a família descobre gay. Ele acaba assassinado pela tia intolerante, que está preocupada com a opinião pública (o ti-ti-ti maldoso dos vizinhos, principalmente) passa-se num estúdio de rádio. São expostos os bastidores da gravação de uma radionovela, num tom supra melodramático, onde o grande trunfo é o texto inteligente, irônico, ácido até. No intervalo dessa triste história de amor canino entre Surpresa e Benvindo, o comercial do produto Penetrol “lubrificante da família brasileira”.

Se o primeiro quadro é para os ouvidos, o segundo é para os olhos. O Troféu é focado na estética das fotonovelas em preto-e-branco de 1900 e lá vai trem, a cena apresenta Pedro, que sempre quis ser Petra. Sem falas e utilizando o recurso das legendas apresentadas em tabuletas (que por sinal muitas não dá leitura para quem estiver mais distante do palco) a ação mostra a versatilidade do ator Fábio Caio, poses exageradas e engraçadíssimas. Pedro, que desde criança sonha em ser mulher, sente-se feliz quando o médico diagnostica um câncer de mama. O quadro ainda precisa de alguns ajustes, principalmente nos enquadramentos das molduras.

O quadro Culpa trabalha com uma questão delicada, a história de um homem soropositivo, em momento terminal, que tenta arranjar um namorado para o amante. O tom, exageradamente melodramático dá sinais de cansaço. Os atores Arilson Lopes, Ivo Barreto, executam bem essa linha, mas o tratamento do tema ganha um tom quase cruel. O grande lance é participação de Fábio Caio nesta cena, como a maquiadora.

Entre esses três primeiros quadros, as dublagens alinhavam as cenas. E são verdadeiramente hilariantes. O gestual de Arilson Lopes, como Rita Pavone é impagável, vestidinho de bolinhas e uma capa de bolinhas. O ator Ivo Barreto dubla Tina Turner que sai em embate com a Caio Fábio, que dupla Rosana (Let’s stay together versus Vício fatal, numa luta que quem sai ganhando é o público, de tanto rir. Coube a André Brasileiro a dublagem mais difícil: fazer simultaneamente a cantora Dalida e o cantor Serge Lama. Resultado interessante.

O último quadro, Ópera, revela sem piedade o amor doentio de um cantor de ópera pelo michê Paulo (que faz do tenor gato e sapato), numa crítica virulenta à dependência amorosa. Com um coral de anjos, vestindo sungas brancas e bundinhas de fora, os atores contam a história de subserviência do cantor lírico, com música original composta por Henrique Macedo, numa mistura de rap ópera e levada nordestina. Ópera é o quadro mais explícito, beijo na boca ente o michê e o cantor. O quadro mete o dedo na ferida dos valores desse homem pós-moderno, perdido em sua identidade fragmentada, que chega ao ponto de comprar o amor. Numa sociedade em que tudo está à venda, o amor passa a ser mais uma mercadoria. Caso para se refletir.

O espetáculo Ópera tem muitos pequenos problemas (e isso não escaparia a uma estreia), mas tem muito mais qualidades. A sonoplastia de André Brasileiro e Marcondes Lima funciona bem dando os climas da peça, a iluminação Játhyles Miranda também é boa. Os figurinos no geral estão de acordo com a proposta, mas a do cantor lírico está em descompasso com o resto. O elenco (os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Dirceu Siqueira, Fabio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, e a participação especial de Andrea Closet, com muita garra e elegância) têm garra e talento. Vale ressaltar a ousadia do coletivo em tratar desse universo homoerótico com um humor sagaz, de estar em sintonia com pulsações contemporâneas e acima de tudo exercitar várias formas de fazer teatral.

* Esta matéria foi publicada originalmente na edição de segunda-feira, 15 de janeiro de 2007, do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco

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Ópera homoerótica!

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio. Fotos: Sávio Uchôa

Parte do elenco do Coletivo Angu de Teatro, que este ano comemora dez anos, está no Rio de Janeiro para a apresentação de Ópera, texto de Newton Moreno. Quem ainda não viu: corra, Lola, corra! Esta é a última semana em cartaz. O espetáculo estreou em janeiro de 2007 e não é apresentado no Recife desde março de 2009.

São cinco contos que discutem homoerotismo e sexualidade e, claro, teatro. O cão, por exemplo, narra as desventuras de um cachorro gay e os reflexos sobre a família do seu dono quando isso chega a ‘domínio’ público. É uma novela radiofônica. E tem ainda fotonovela (no conto O troféu), telenovela (Culpa) e ópera (pós-moderna, diga-se de passagem, em Ópera). A direção é de Marcondes Lima. No elenco estão Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto e Tatto Medinni.

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Ainda não há previsão de temporada no Recife, mas já podemos adiantar que um trechinho do espetáculo será apresentado na festa de comemoração de dois anos do blog! Dia 26 de janeiro, às 21h, no Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife).

Ópera
Quando: Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quando: quinta a domingo, às 19h (até o dia 20)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?, no dia 26 de janeiro

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?

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Na vertigem do real em 900 frases

Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases. Fotos: Rogério Alves/divulgação

“Certa vez ouvi de Roberto Alvim que ele só faz o teatro que faz porque está em São Paulo. Porque lá tem público para esse tipo de teatro – cabeção, hermético, contemporâneo pra caralho”, lembra o diretor Rodrigo Dourado. Depois de montar em 2009 um fracasso de público e, segundo ele mesmo, de crítica também – o texto Chat, do venezuelano Gustavo Ott -, Rodrigo Dourado decidiu que queria agradar o público pernambucano. Mas sem desagradar a si mesmo. Primeiro, precisava de um espetáculo mais intimista – dois atores, de preferência – para que ele pudesse realmente se debruçar sob o trabalho do intérprete. Foi quando Dourado, que adora cascavilhar textos contemporâneos; tem mais de 200 no computador, descobriu Les drôles (algo como ‘os engraçados’).

O texto é da francesa Elizabeth Mazev e é autobiográfico; conta a história dela, que é atriz e dramaturga, e de Olivier Py, também ator, dramaturgo e diretor. Os dois cresceram juntos, viveram as mais diversas experiências, se apaixonaram pelo teatro na mesma época. A escrita, no entanto, não é tradicional. Ou ao menos não era na época em que o texto foi escrito – quando o Twitter e os seus 140 caracteres ainda não faziam parte da nossa vida. A história não tem personagens tradicionais. São frases narrativas, na terceira pessoa; como um diário. Tanto é que Rodrigo enfatiza que poderia ter montado com vários atores.

Quando foi fazer a tradução, o diretor se deparou com um desafio que marcou os rumos que tomaram a encenação: havia muitas referências à França dos anos 1970 e 80. Nomes de programas de tv, por exemplo. Foi aí que a memória – que já estava no espetáculo, claro, porque o texto é autobiográfico – e a mistura entre realidade e ficção se espalharam de forma irrevogável.

É assim que quem for conferir o espetáculo vai conhecer não só a história de Olivier e Lili; mas também a de Leidson Ferraz e Fátima Pontes. É o que Rodrigo chama de “vertigem do real e do ficcional”. Para problematizar – não sei se essa seria a melhor palavra, já que o espetáculo é leve – ainda mais, o diretor decidiu colocar em cena, através do vídeo, Olivier e Lili, ‘os verdadeiros’. Foi um processo de amadurecimento para os atores; de esquadrinhar as próprias histórias. Para Leidson uma mudança marcante: pintou os cabelos e perdeu a barba. Já Fátima, terá em cena, por exemplo, objetos do pai falecido – e a história de quando o perdeu.

O que era Les drôles virou Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases (no original, na realidade, são mil frases). Leidson Ferraz aposta que a montagem Olivier e Lili vai abocanhar não só o público mais velho, de teatro, que já tem referências do trabalho do trio, mas também um público jovem. É pop, divertido, engraçado – ele faz a propaganda. Sem deixar de lado, claro, a pegada contemporânea e performática que Rodrigo Dourado tanto gosta. Tem tudo pra dar certo.

Espetáculo traz memória, ficção e realidade

Ficha técnica:
Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases
Texto: Elizabeth Mazev
Direção e tradução: Rodrigo Dourado
Dramaturgismo: Wellington Júnior
Preparação de elenco: Marianne Consentino
Videomaker: Márcio Andrade
Iluminação: Játhyles Miranda
Direção musical: Marcelo Sena
Preparação vocal/corpo: Carlos Ferrera
Maquiagem: Gera Cyber
Direção de arte: Júlia Fontes

Serviço:
Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases
Quando: estreia quinta-feira (30). Temporada: de quinta-feira a domingo, às 20h, até 9 de setembro. Depois a temporada dá um intervalo e retoma no dia 26 de setembro, ficando em cartaz de quarta a sexta-feira, às 20h, até 12 de outubro.
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Avenida Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3222-0025

Rodrigo Dourado e os atores de Olivier e Lili

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É melhor ser alegre…

Palhaços em ConSerto é um espetáculo sem contra-indicação

A arte da palhaçaria é algo bem delicado, que trafega em uma fronteira tênue entre o tom perfeito e exagero. Quando falo tom perfeito não me refiro a nenhuma fórmula consagrada, forma ou coisa do gênero. A piada pode ser batida, mas o artista, quando tem uma graça só dele, subverte sentidos fazendo com que pareça algo inusitado.

Não fui uma criança de muitas gargalhadas. Achava tudo sério. Todo mundo ria de uma topada do outro, ou quando alguém escorregava numa casca de banana. Era automático para eles. Pra mim não. Ficava com pena da criatura, ali esborrachada, humilhada. Mas mesmo com toda seriedade, desde sempre adorei teatro, circo e palhaços. Ficava vidrada na performance daqueles caras que conseguiam arrancar ondas de risos da plateia. Nunca deixei de gostar deles.

Ontem fui assistir novamente ao espetáculo Palhaços em ConSerto, com os Doutores da Alegria. Posso garantir que minha tarde ficou muito mais feliz.

O teatro Marco Camarotti (do Sesc de Santo Amaro – que fica ali perto do cemitério) estava lotado. E muitas crianças estranharam aquelas figuras de nariz vermelho e cara pintada. Alguns choraram. Mas a maioria se divertiu muito. Os adultos também.

Rocco Wicks na plateia dos Doutores da Alegria

Fui com Rocco Wicks e sua querida avó, Suzana Costa. O menino de dois anos se comportou como um príncipe. Bateu palmas, riu muito e tirou fotos depois. Eu adoro o espetáculo e não me contive; soltei sonoras gargalhadas. Suzana disse que gostou, mas ela é a mais crítica de nós três… talvez de todo o teatro.

Mas vamos voltar o foco para o palco. Uma trupe de palhaços que também tem sua lista de remédios contra a dor, a tristeza, a falta de ânimo, essas coisinhas que deixam um ser humano meio jururu.

Alegria das crianças

É uma gente muito talentosa. Nesse elenco tem médico para praticamente todos os males. Anderson Douglas é o dr. Cavaco; Arilson Lopes é o Dr. Ado, Eduardo Filho, o Dr. Dud Grud; Enne Marx, a dra. Mary En; Fábio Caio, o dr. Eu Zébio; Greyce Braga a dra. Monalisa; Juliana Alemeida, a dra. Baju; Luciano Pontes, o dr. Lui; Marcelino Dias, o dr. Micolino; Tâmara Lima, a dra. Tan Tan.

As paródias musicais são hilárias e as personalidades que eles criaram transbordam de humor. Cada um explora um detalhe. Há melancólicos, bobinhos, espertos, graciosos, abusados. Eu tenho os meus preferidos. É sempre um prazer assistir a algo com Arilson Lopes ou Fábio Caio, por exemplo. Eduardo Filho está bem como o mais bobo e o jeitinho e os cabelos da dra. Tan Tan me conquistam. Mas o espetáculo fica grande pelo conjunto de talentos. Um ou outro se destaca em algum momento, mas a proposta parece que é mesmo o investimento no trabalho coletivo para vencer os desafios de plantar humor na vida das pessoas.

A montagem é dividida em três partes: momento besteirológico (com as canções trabalhadas nos hospitais), Momento ‘bolsa Nova’, com músicas da bossa nova, e momento ‘no quintal de casa’, que remete ao cancioneiro popular.

Nas músicas criadas pelo grupo e outras de domínio público há muitas referências que os pequenos talvez não entendam, como alusões à Amy Winehouse, Michael Jackson, as popozudas, os sertanejos, à cultura que capitulou… E a musicista Rosemary Oliveira que tentar colocar um pouco de ordem à zona que se estabelece com tantas sonoridades.

Os atores tocam e cantam. Fotos: Ivana Moura

O musical tocado e cantado ao vivo está alicerçado na simplicidade, numa ingenuidade que constrói semelhanças. Parece dizer que todos têm direito à felicidade, mas que isso é uma construção constante. Esses palhaços fazem a parte deles. E divulgam a ideia de “que é melhor ser alegre que ser triste”.

Faz falta um DVD, um CD com o repertório do espetáculo, que é bom. Já tem muita coisa gravada no mercado, mas com certeza os Palhaços em ConSerto tem um lugar certo no nosso tocador de música (Ai pode, tu podes, ele pode, CD, DVD).

ÚLTIMA SESSÃO DA TEMPORADA – Neste domingo, às 16h30, no Teatro Marco Camarotti, do Sesc de Santa Amaro, o grupo faz a última apresentação desta temporada. Posso garantir que eles têm a capacidade de fazer o dia de qualquer um mais feliz.

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