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Coletivo Legítima Defesa apresenta
Exílio: notas de um mal-estar que não passa

Peça faz uma “transcriação poética” do exílio vivido por Abdias Nascimento e sua relação com Augusto Boal. Foto: Camila Ríos / Divulgação

Exílio resgata vozes silenciadas pela história oficial e propõe futuros alternativos. Foto: Camila Ríos / Divulgação

Imagine um palco onde o tempo se dobra e a história se refaz. O que parece metáfora poética se encaminha para uma profunda reflexão político-filosófica sobre a natureza da existência negra através dos séculos. É nesse espaço liminar, onde passado e presente colidem, que o Coletivo Legítima Defesa nos convida a adentrar com Exílio: notas de um mal-estar que não passa. Esse espetáculo urgente vem com imperativo ético e estético de reescrever a narrativa da negritude, resgatando vozes silenciadas pela história oficial e propondo futuros alternativos. A peça faz temporada no Sesc 14 Bis, na capital paulista, de 18 de outubro a 10 de novembro.

Exílio: notas de um mal-estar que não passa se apresenta como “transcriação poética” do exílio vivido por Abdias Nascimento (1914-2011) e a sua relação com Augusto Boal (1931-2009). Trata-se de uma reinvenção criativa que junta palavras, experiências vividas, traumas históricos e aspirações coletivas para o palco. Na construção dramatúrgica, Eugênio Lima e Claudia Schapira incorporam elementos do acervo do Teatro Experimental do Negro (TEN).

A montagem parte da premissa de que o surgimento do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Nascimento, coincide com o início da carreira dramatúrgica de Boal. Assim, Exílio retrata esta relação histórica e salienta a influência mútua desses dois criadores no desenvolvimento do teatro nacional.

As pesquisas do Legítima Defesa apontam que Boal e Nascimento reinterpretaram a hybris trágica, conceito da dramaturgia grega, a partir de uma lente afro-diaspórica. Eles propunham que a hybris negra – o orgulho desmedido que leva à queda do herói – estava intrinsecamente ligada ao candomblé. Essa perspectiva motivou Boal a escrever uma série de peças ambientadas em terreiros: O Logro (1953), O Cavalo e o Santo (1954), Filha Moça (1956) e Laio se Matou (1958).

A dramaturgia de Exílio entrelaça obras de Boal, Nascimento e O’Neill. Foto: Camila Ríos / Divulgação

No cenário teatral brasileiro das primeiras décadas do século 20, predominava um pensamento discriminatório que limitava atrizes e atores negros a papéis cômicos, negando-lhes oportunidades em produções trágicas ou dramáticas sob o pretexto, infundado, de que careciam de profundidade interpretativa. Nesse contexto, Abdias Nascimento – que passou 13 anos exilado nos Estados Unidos e na Nigéria – voltou seu interesse para a obra do dramaturgo estadunidense Eugene O’Neill (1888-1953). Nascimento via nas peças de O’Neill veículos potentes para explorar o que considerava a grande tragédia do negro no Brasil: o processo de embranquecimento. Por esse prisma, o indivíduo negro enfrenta um dilema existencial – ou abandona sua negritude e “morre” culturalmente, ou a mantém e enfrenta a morte literal ou simbólica imposta pela sociedade racista.

A narrativa de Exílio se desdobra como uma metapeça audaciosa, onde um grupo de seis performers negros – Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e Thaís Peixoto – tenta montar trechos de obras históricas, confrontando-se com a impossibilidade emocional e ética de reviver tais tragédias. Este conflito interno do elenco se torna o cerne do espetáculo, transformando-o em um “sample de textos” onde tudo é documento. O palco, convertido em um “tapete da memória”, permite que os atores transitem entre diferentes temporalidades e narrativas, enquanto a equipe técnica, visível e iluminada, participa ativamente da construção cênica. O diretor Eugênio Lima atua como se estivesse conduzindo um ensaio, borrando as fronteiras entre realidade e representação.

A dramaturgia de Exílio entrelaça diversas obras, criando um exercício de metalinguagem. De O’Neill, são incorporados O Imperador Jones, explorando o protagonismo negro e as complexidades do poder, e Todos os Filhos de Deus Têm Asas, abordando o drama racial e a busca por identidade. De Boal, O Logro investiga a tragédia na experiência negra brasileira, enquanto Murro em Ponta de faca reflete sobre o exílio e o deslocamento. A obra de Abdias Nascimento, Sortilégio – Mistério Negro, examina o tema do sacrifício e conflito de identidade. Esses fios de diferentes épocas e autores cria uma narrativa que explora a complexidade da experiência negra através do tempo e do espaço.

A paisagem sonora junta elementos aparentemente díspares, que se entrelaçam e se sobrepõem de maneira fluida: os depoimentos históricos de figuras emblemáticas como Léa Garcia e Ruth de Souza, os beats do Hip Hop dos anos 1980 e 1990, e as composições minimalistas de Philip Glass. Os raps contundentes dos Racionais MC’s dialogam com o jazz melancólico de Billie Holiday, enquanto os tambores de candomblé ressoam em harmonia com o soul envolvente de Marvin Gaye.

O cenário é enriquecido por projeções de documentos históricos, cartas, filmes e fotos, pesquisados no IPEAFRO e no Instituto Boal, criando um diálogo visual entre passado e presente. O figurino, assinado por Claudia Schapira, opta por peças-chave que situam as personagens em diferentes décadas, sempre mantendo a aparência de “roupa de ensaio”. A paleta em preto e branco remete à primeira peça do grupo, reforçando a ideia dos atores como documentos vivos da história negra.

Com Exílio“, o Coletivo Legítima Defesa reafirma suas investigações sobre a condição negra no Brasil e no mundo. O espetáculo discute como a experiência do exílio molda a identidade negra, de que forma o teatro pode ser um instrumento de resistência e transformação social, e como podemos reimaginar o futuro a partir de um passado de opressão. 

Elenco do Coletivo Legítima Defesa. Foto: Camila Ríos / Divulgação

FICHA TÉCNICA

Direção, direção musical, música e desenho de som: Eugênio Lima
Dramaturgia: Eugênio Lima e Claudia Schapira
Intervenção dramatúrgica: Coletivo Legítima Defesa
Com samplers dramatúrgicos de: Frantz Fanon, Racionais MC’s, Augusto Boal, Abdias Nascimento, Maurinete Lima, Eugene O’Neill, Nelson Rodrigues, Agnaldo Camargo, Ruth de Souza, Léa Garcia, Túlio Custódio, Guilherme Diniz, Gianfrancesco Guarnieri, Molefi Kete Asante e Iná Camargo Costa
Elenco do Legítima Defesa: Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Fernando Lufer e  Eugênio Lima
Atrizes convidadas: Thaís Peixoto e Luaa Gabanini (em vídeo)
Produção: Iramaia Gongora Umbabarauma Produções Artísticas
Videografia: Bianca Turner 
Iluminação: Matheus Brant
Figurino: Claudia Schapira
Direção de gesto e coreografia: Luaa Gabanini 
Assistência de direção: Fernando Lufer
Fotografia: Cristina Maranhão 
Design: Sato do Brasil
Consultoria vocal: Roberta Estrela D´Alva
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e  Daniele Valério
Cenotécnico: Wanderley Wagner
Vídeo: Matheus Brant
Engenharia de som: João Souza Neto e Clevinho Souza 
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa 
Parceiros: Casa do Povo, Ipeafro, Instituto Boal, Editora 34 e Editora Perspectiva

SERVIÇO
Exílio: notas de um mal-estar que não passa
Data: 18 de outubro a 10 de novembro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h
Atenção: no dia 27 de outubro não haverá espetáculo e, no dia 8 de novembro, haverá uma sessão às 15h e outra às 20h
Local: Sesc 14 Bis – Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista – São Paulo
Ingresso: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada) e 18 (credencial plena) | Ingressos disponíveis nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo, pelo aplicativo Credencial Sesc ou pelo site

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E a cadela não era dela
Reflexão critica sobre o espetáculo
Hip-Hop Blues – Espólio das Águas

Espetáculo Hip-Hop Blues – Espólio das Águas. Foto: Cristina Maranhão / Divulgação

Nilcéia Vicente em cena do espetáculo Hip-Hop Blues. Foto: Cristina Maranhão / Divulgação

Pense numa cidade rica e injustamente desigual como São Paulo. Faça um esforço para ouvir as vozes caladas, as figuras apagadas em muitas camadas de concreto. Porque além de abstrato, aniquilamento, eliminação são feitos concretos. Sinta as ondas energéticas de negociação por espaço de existir. Perceba os corpos insubordinados que falam / gritam / surraram em muitas linguagens suas existências plenas de vida.

Eu fiz esse exercício antes do terceiro sinal e essa ambiência grudou ao contorno do meu corpo.

Hip-Hop Blues – Espólio das Águas, peça-show do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos celebra os 20 anos de atividades e atuação continuadas do grupo que em 2022 chega aos 22 anos. Parece que engoli um tempo aí, mana, mas são as coisas da pandemia e muitas operações da necropolítica, que além de coisas roubadas como horizontes, nos surrupiaram o tempo, nosso bem tão preciso.

Tô indo desacelerada porque não quero que acabe. Não quero que acabe o Hip Hop Blues que me diz tanto, que expande tanto as questões identitárias, que de novo e de novo e de novo Eugênio Lima lembra do corpo-político, do corpo-ocupação. Ai minhas deusas, Nilcéia Vicente o que você nos faz com sua voz e com sua presença a conduzir por esse percurso de labirintos que soa, ecoa, ressoa, reverbera da caixa torácica aos vãos cabeça com seus sete buracos e aos mindinhos do pé.  Ai mulher, que força da natureza!

O espetáculo compõe microcenas individuais do elenco. Faz cruzas incríveis. Mergulha em ancestralidades, dá partida, que podem ir e voltar. Os atores elegem depoimentos a partir dos passos de cada qual. A marca desse diálogo entre o teatro épico e a cultura hip-hop que o grupo faz como ninguém está lá viva ardente acesa afogueada audaciosa (me prometi não usar a palavra potente nesse texto).

São os corpos que habitam São Paulo. É um grupo de teatro que pensava antes da pandemia em montar um texto de Bertolt Brecht. É a cidade que assusta, que não tem paciência com as dores de seus habitantes apressados. Canções, poemas, ações dramáticas se encaixam nessa curadoria, nesse passeio por São Paulo que aterrou seus rios, pelas memórias dos atores que destampou suas dores.

Foto: Matheus José Maria

Com dramaturgia e a direção de Claudia Schapira e concepção geral do Núcleo Bartolomeu, os artistas – atrizes e atores MC’s – Cristiano Meirelles, Dani Nega, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Nilcéia Vicente e Roberta Estrela D’Alva – mais Daniel Oliva na guitarra  se revezam no centralidade da cena para questionar os lugares, reivindicar o protagonismo negro, expor em alta escala as nervuras do mundo e as mudanças inadiáveis.

E no meio, na borda, no alto, no íntimo da coisa toda está a música, que sempre vai mais além, que toca mais fundo que cria revoluções temporais. E a música é azul de muito sangue derramado, de muita na estrada, da política e da diáspora, dos levantes.

Rima com rima. É a visão do mundo do Bartolomeu de guerras e guerrilhas, atravessadas por uma pandemia que deixou e ainda deixa suas marcas nos corpos, que atualiza de forma feroz a travessia.

Mas Hip Hop Blues – Espólio das Águas é celebração. Estamos vivos e isso é inegociável. Vivos e com fome de vida digna. Para quem quase sempre foi preterido.

Foto: Cristina Maranhão / Divulgação

Eugênio Lima. Foto: Cristina Maranhão / Divulgação

Na cena, um grupo de teatro conta como tentou montar a obra Os Sete Pecados Capitais dos Pequenos Burgueses, de Brecht, mas não parava de chover, e a chuva continua. Baldes de alumínio são deslocados durante a cena para aparar as goteiras. Brecht virou disparador para confrontar questões contemporâneas das marcas coloniais que pulsam na sociedade brasileira.

Depoimentos é uma a palavra que está no título do Núcleo Bartolomeu e vibra nos procedimentos do grupo, que faz isso há 22 anos. Na cena, Roberta Estrela D’Alva destrincha a estratégia para o público, como funciona. Cada um dos artistas leva para cena um ou mais episódio de suas vidas, suas subjetividades, o preço alto pago para chegar até aqui.

Esses sujeitos históricos em exposição alinham sequências ricas de sentidos individuais, que projetam os constantes deslocamentos, a lutas e as escolhas do Bartolomeu.

A visão de mundo é blues. As memórias são blues carregadas de violências de gênero, raça e classe que formam uma cena tão plenas de vida.

Nilcéia Vicente canta e conta da sua avo, aquela figura pequena, concentrada, anônima, violentada por outra quase igual numa fábrica de exploração – negrinha com xingamento – até atingir o refluxo da água. Não menosprezem a força da água represada, ela pode responder com tsunami ou enxurrada.

Eugênio Lima expõe os elepês que ele considera fundamentais para alimentar essa história, esse imaginário. Espólio do que sobrou do alagamento e que os discos traduzem como poucas coisas no mundo. O que pulsa de uma linha musical da cultura negra. Essa curadoria sonora é regada por samples que inundam o ar, enquanto Eugênio comenta sobre alguns vinis, como o de Miles Davis herança-orgulho de sua mãe. É eletrizante sua coleção, Tim Mais, Jorge Ben Jor, e que inclui o bolachão de Chico Science e NZ: “Cadê as notas que estavam aqui / Não preciso delas! / Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos” (o Brasil ainda precisa redescobrir Chico Science, sua genialidade).

Dani Nega tensiona o próprio passado de adolescente, as escolhas estéticas, as pressão social, a violência dos padrões impostos, os movimentos de exclusão, a partir de um retrato com cabelo alisado. O que foi, o que não pode ser negado, e marcas no seu corpo dessa experiência subjetiva e social.

Alguns artistas pretas, trans e indígenas aparecem em vídeo ou áudio para dar o seu recado ou são citados como Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, MC Neguinho do Kaxeta, Nêgo Bispo, Matriark, Reinaldo Oliveira, Aretha Sadick, Zahy Guajajara e Kiki Domaleão, drag afro tupini queen de Cristiano Meirelles,

Foto: Cristina Maranhão / Divulgação

Os assuntos da branquitude são enfrentadas a partir de duas cenas da atuação de Luaa Gabanini. O primeiro é o teste para o papel da peça de Brecht, em que entram os sentimentos de uma atriz branca, que não será escolhida para interpretar a personagem do dramaturgo alemão, que será feita por uma atriz negra. Os incômodos, os lugares de privilégio, as possíveis mudança de protagonismo dão voltagem à cena, que se vale de um humor corrosivo para desenvolver a temática. No segundo momento Gabanini apresenta o refluxo, em que tenta entender esse momento em que lhe está destinado um lugar secundário.

A opressão sofrida por Cristiano Meirelles chega pela sua homossexualidade e cobranças familiares e sociais, e as pressões em casa e na rua e a hipocrisia brasileira da família. E sua opção pela arte, pelo desbunde e pela alegria.

A atriz-MC Roberta Estrela D’Alva explora um não-saber, nesse tempos tempos em que quase todos tem discursos prontos. Na sua construção de palavras-ruelas, estradas, becos, cidades, a artista leva para cena o caso do menino Miguel. A cadela não era dela, a mão opressora que chamou o elevador. É sufocante, apavorante, quase palpável as palavras que Roberta convoca para contar essa história.

Mas o espólio das águas desse Hip-Hop Blues é para lavar o corpo, para energizar, desafogar, seguir como água que pode desviar das pedras do caminho, que segue o curso e sempre encontra um um jeito de existir, com força, com fúria, enchente, que nunca desiste, porque é essencial.

Ficha técnica

Hip-Hop Blues – Espólio das Águas
Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Direção: Claudia Schapira
Dramaturgia: Claudia Schapira e elenco
Concepção Geral: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Atores/Atrizes-MC’s: Cristiano Meirelles, Dani Nega, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Nilcéia Vicente e Roberta Estrela D’Alva
Guitarra: Daniel Oliva
Direção musical: Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva
Músicas: Núcleo Bartolomeu e elenco
Assistência de direção: Rafaela Penteado
Cenografia: Marisa Bentivegna
Criação e operação de luz: Matheus Brant
Assistência de iluminação: Guilherme Soares
Criação e operação de vídeo: Vic Von Poser
Assistência de cenografia: César Renzi
Cenotecnia: César Rezende
Assistência de vídeo: Beatriz Gabriel
Direção de movimento: Luaa Gabanini
Técnica de spoken word e métricas: Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega
Técnica de canto blues: Andrea Drigo
Técnica de sapateado: Luciana Polloni
Danças urbanas: Flip Couto
Participações especiais vídeo: Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara
Participações especiais áudio: Matriark, Reinaldo Oliveira e Nêgo Bispo
Pensadores-provocadores convidados: Luiz Antônio Simas, Luiz Campos Jr. e Celso Frateschi
Engenharia de Som: João de Souza Neto e Clevinho Souza Intérprete Libras: Erika Mota e equipe
Figurinos: Claudia Schapira
Figurinista assistente e direção de cena: Isabela Lourenço
Costureira: Cleuza Amaro Barbosa da Silva
Direção de produção, administração geral e financeira: Mariza Dantas
Direção de Produção Executiva: Victória Martinez e Jessica Rodrigues [Contorno Produções]
Assistência de produção: Carolina Henriques e Helena Fraga
Coordenação das redes sociais: Luiza Romão
Assessoria de Imprensa e Coordenação de Comunicação: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e Daniele Valério
Programação Visual e Desenhos: Murilo Thaveira
Fotos divulgação: Sérgio Silva
Agradecimentos Lu Favoreto, Estúdio Nova Dança Oito, Pequeno Ato, Galpão do Folias, Lucía Soledad, Marisa Bentivegna, Colégio Santa Cruz – Raul Teixeira, Périplo Produções

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Hip-Hop Blues reforça ativismo do Bartolomeu

Elenco de Hip-Hop Blues – Espólio das Águas Daniel Oliva, Luaa Gabanini, Eugênio Lima, Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva, Dani Nega, Cristiano Meirelles. Foto: Sérgio Silva  

A temporada de Hip-Hop Blues – Espólio das Águas acontece de 25 de março a 24 de abril de 2022 no Sesc Santana – sextas e sábados às 21h; domingos e feriados às 18h. 

Hip-Hop Blues – Espólio das Águas, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, mergulha no Rio Mississipi para trazer à tona os rios soterrados de São Paulo. Essa imagem tem como alavanca a obra Os Sete Pecados Capitais dos Pequenos Burgueses, de Bertold Brecht, um dos disparadores do espetáculo, e o transbordamento dos rios paulistanos, que gritam por seu espaço de existência em dias de chuvas. Ideias atravessadas por dilúvios da memória.

Essas narrativas explodem em mosaico de depoimentos pessoais do elenco, que avaliam as condições instauradas pela pandemia e pelo momento político penoso em que vivemos. Na cena, os seis atores refletem e ensaiam. A peça sacode questões contemporâneas num jogo cênico que fricciona testemunho e ficção, projetando histórias e ancestralidades que revelam e contrapõem o racismo, a moralidade, a lgtqia+fobia, a intolerância, a supremacia branca e patriarcal e seus inúmeros braços estruturais.

O coletivo, criado em 2000, alimenta uma produção cultural ativista na cidade de São Paulo, aposta na contundência da autorrepresentação como discurso artístico, e tem como pesquisa de linguagem o diálogo entre a cultura hip-hop e o teatro épico e seus recursos.

O elenco é composto pelos quatro membros-fundadores do Núcleo – Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’ Alva -, além dos artistas-aliados Cristiano Meirelles, Dani Nega, Nilcéia Vicente e Daniel Oliva. Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara, se juntam ao grupo formando a narrativa com a adição do vídeo. 

Inspirado pelos percursos dos rios de São Paulo, o grupo traduz o afogamento e reforça a necessidade de resgatar os afetos após as enxurradas. As narrativas são construtos da memória, cosidos pela diretora Claudia Schapira a partir dos depoimentos do elenco, criando um tecido polifônico. 

A música exerce papel essencial em Hip Hop Blues. O blues opera uma tradução dos conflitos, das desigualdades de classe e amplifica formas de resistência e de protesto. “Como ágora capaz de abrigar todas as diásporas, todos os levantes; que lança mão do ritmo e da poesia como se fosse reza, como se fosse lamento, também reivindicação e luta, sem abrir mão do poder transformador da celebração”  diz Claudia Schapira.

Este projeto foi realizado com apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

Ficha Técnica
Direção: Claudia Schapira
Dramaturgia:  Claudia Schapira e elenco
Concepção Geral: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Atores/Atrizes-MC’s: Cristiano Meirelles, Dani Nega, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Nilcéia Vicente e Roberta Estrela D’Alva
Guitarra: Daniel Oliva
Direção musical: Dani Nega, Eugênio Lima e  RobertaEstrela D’Alva
Músicas: Núcleo Bartolomeu e elenco
Assistência de direção: Rafaela Penteado
Cenografia: Marisa Bentivegna
Criação e operação de luz: Matheus Brant
Assistência de iluminação: Guilherme Soares
Criação e operação de vídeo: Vic Von Poser
Assistência de cenografia: César Renzi
Cenotecnia: César Rezende
Assistência de vídeo: Beatriz Gabriel
Direção de movimento: Luaa Gabanini
Técnica de spoken word e métricas: Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega
Técnica de canto blues: Andrea Drigo
Técnica de sapateado: Luciana Polloni
Danças urbanas: Flip Couto
Participações especiais vídeo: Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara
Participações especiais áudio: Matriark e Reinaldo Oliveira
Pensadores-provocadores convidados: Luiz Antônio Simas, Luiz Campos Jr. e Celso Frateschi
Engenharia de Som: João de Souza Neto e Clevinho Souza
Intérprete Libras: Erika Mota e equipe
Figurinos: Claudia Schapira
Figurinista assistente e direção de cena: Isabela Lourenço
Costureira: Cleuza Amaro Barbosa da Silva
Direção de produção, administração geral e financeira: Mariza Dantas
Direção de Produção Executiva: Victória Martinez e Jessica Rodrigues [Contorno Produções]
Assistência de produção: Carolina Henriques e Helena Fraga
Coordenação das redes sociais: Luiza Romão
Assessoria de Imprensa e Coordenação de Comunicação: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e Daniele Valério
Programação Visual e Desenhos: Murilo Thaveira
Fotos divulgação: Sérgio Silva
Agradecimentos
Lu Favoreto, Estúdio Nova Dança Oito, Pequeno Ato, Galpão do Folias, Lucía Soledad, Marisa Bentivegna, Colégio Santa Cruz – Raul Teixeira, Périplo Produções

Serviço
Hip-Hop Blues – Espólio das águas
Duração: 1h30
Recomendação etária: 12 anos
Sesc Santana (330 lugares) Av. Luiz Dumont Villares, 579, São Paulo – SP, Tel.: 11 2971-8700
Quando: 25/03 a 24/04/2022 + o dia 21/04 quinta-feira, às 18h
[Sexta e Sábado às 21h e Domingo e Feriado às 18h]
Quanto: R$ 40,00 e R$ 20,00
É necessário apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19. Crianças de 5 a 11 anos devem apresentar o comprovante evidenciando uma dose, pessoas a partir de 12 anos, das duas doses (ou dose única), além de documento com foto para ingressar nas unidades do Sesc no estado de São Paulo.  
 
Sesc Santana na rede
instagram.com/sescsantana
sescsp.org.br/santana

 

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Núcleo Bartolomeu desafia o fascismo

Espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, está em cartaz no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, até 28 de julho. Foto: Sérgio Silva / Divulgação

O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos é um grupo teatral que articula o teatro épico com o hip-hop na pesquisa de linguagem. É um coletivo militante da autorrepresentação como discurso artístico, que vibra com questões contemporâneas. Isso pode parecer óbvio, mas como “não sei com quem estou falando” nesses tempos de cinismo exacerbado e chamamentos conservadores no teatro… Voilà, talvez apareça alguém fora da bolha (da minha pobre bolha) interessado nessas artes cênicas. Pois bem, o espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Bartolomeu, estreou nesta sexta-feira (28 de junho), às 21h, no Teatro do Sesc Bom Retiro e segue até 28 de julho.

Um dos impulsos da montagem do Núcleo é o texto Terror e Miséria no Terceiro Reich, do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), composto entre 1935 e 1938. A produção também valeu-se das ideias de escritores e ativistas como Angela Davis, Grada Kilomba, Frantz Fanon, Achille Mbembe, Walter Benjamin, e outras, e outros, e outrxs para erguer a encenação.

Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias traça um paralelo entre a barbárie espalhada no nosso cotidiano com aqueles anos que precederam a Segunda Guerra Mundial e a ascensão do fascismo e do nazismo. A diretora Claudia Schapira sugou da realidade do presente muitos fluxos de uma arena de contradições, com vistas ao futuro.

 

Luaa Gabanini em Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias. Foto: Sérgio Silva 

Brecht traçou um panorama da decadência da sociedade alemã, sufocada pelo pavor, nas 24 cenas curtas da peça, que expõe a repercussão do regime de Hitler no cotidiano de gente comum. O ditador emporcalhou até a dinâmica familiar, como expõe uma das cenas de Terror e Miséria no Terceiro Reich, em que um professor de História sente o peso do nazismo tanto no trabalhou quanto na sua vida privada em casa.

Quando chegou ao poder na Alemanha, lá nos idos de 1933, Bozonazi (eita, ato falho!!!) Adolf Hitler surrupiou liberdades e desmantelou instituições democráticas. Fincou na História uma violenta ditadura. Deixou “tudo dominado”: economia, educação, artes, meios de comunicação etc.

Mas até corporificar o poder, o cabra não era grande coisa. Poucos levavam a sério aquele ex-militar bizarro de baixo escalão, “famoso” pelas falas contra gays, mulheres, feministas, políticos de esquerda, elites progressistas, minorias, imigrantes, mídia, judeus. Numa rápida pesquisa sobre a subida desse sujeito me deparo com a pergunta “Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?”.

Mas estamos falando de quem mesmo???

Um anti-político que conseguia usar a mídia da época para seus propósitos, difundindo fake news. Um elemento que insuflou a agressividade de seus apoiadores – da afronta verbal à violência física. Um charlatão oportunista.

 

Nilcéia Vicente e Vinícius Meloni. Foto: Sérgio Silva 

Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, com direção de Claudia Schapira chega para problematizar criticamente esses dias vivenciados com crueza em todos os recantos da vida social. Essa crise de civilização, com efeitos devastadores, é esquadrinhada na montagem pelos 11 atores MC’s : Fernanda D’Umbra, Georgette Fadel, Jairo Pereira, Luaa Gabanini, Lucienne Guedes, Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva, Sérgio Siviero e Vinícius Meloni, Dani Nega e Eugênio Lima.

A diretora se vale do procedimento de uma peça dentro da peça numa escolha metalinguística que espelha tempos – passados e presentes. O elenco ensaia algumas cenas do Terror e Miséria no Terceiro Reich, de Brecht. A partir desse disparador é estabelecido um jogo entre atores e personagens.

Composta por 8 cenas e respectivos comentários, além do prólogo e epílogo, os artistas discutem temas contemporâneos que giram em torno da fome e da pobreza,  da flexibilização do porte de armas, da destruição do meio ambiente; da retirada de direitos conquistados na luta de classes; do genocídio negro, da LGBTfobia, do machismo e outras violências cotidianas da concentração de renda, do desemprego estrutural; o desmonte dos bens e serviços públicos; da instabilidade, da precarização, da “obsolescência planejada” em textos falados e cantados. 

Nascido no ano 2000, o o Núcleo Bartolomeu de Depoimento atua com contundência nas suas montagens. Utiliza os recursos do teatro épico e da cultura hip-hop para discutir o “ser” em processo. Na mão desses artistas o teatro é uma ótima arma.  

SERVIÇO
Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias
Quando: De 28 de junho até 28 de julho. Sextas e sábados, às 21h e domingos, às 18h
DIA 12/07 Não haverá espetáculo
Onde: Sesc Bom Retiro (Rua Alameda Nothmann, nº 185).
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 6 (credencial plena).
Capacidade: 250 lugares.
Duração: 120 minutos.
Classificação: 14 anos.

 

Elenco do espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias. Foto: Sérgio Silva 

FICHA TÉCNICA
Direção: Claudia Schapira
Dramaturgia: Claudia Schapira em colaboração com Lucienne Guedes e elenco – livremente inspirado em “Terror e Miséria no Terceiro Reich” de Bertolt Brecht.
Inserções de poemas: Jairo Pereira e Roberta Estrela D’Alva
Giovane Baffô e Paulo Faria
Tradução auxiliar: Camilo Shaden
Direção Musical: Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva
Direção de Movimento e Coreografias: Luaa Gabanini
Assistência de Direção: Maria Eugenia Portolano
Atores-MCs: Fernanda D’Umbra, Georgette Fadel, Jairo Pereira, Luaa Gabanini, Lucienne Guedes, Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva, Sérgio Siviero e Vinícius Meloni.
Atores-MCse DJs: Dani Nega e Eugênio Lima
Direção de arte: Bianca Turner e Claudia Schapira
Vídeo e cenário: Bianca Turner
O vídeo Contém samples dos documentários “SLAM: Voz de Levante” de Roberta Estrela D’Alva e Tatiana Lohmann (poeta Kika Sena) e “Mães de Maio – um grito por justiça” de Daniela Santana )
Figurino: Claudia Schapira
Figurinista assistente: Isabela Lourenço
Técnica de spoken word e métricas: Roberta Estrela D’Alva
Kempô e Treinamento de Luta: Ciro Godói
Danças Urbanas: Flip Couto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Iluminação: Carol Autran
Engenharia de Som: Eugênio Lima e Viviane Barbosa
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa
Cenotécnico: Wanderley Wagner da Silva
Design gráfico: Murilo Thaveira
Estagiárias: Isa Coser, Junaída Mendes, Maitê Arouca
Direção de Produção: Mariza Dantas
Produção Executiva: Jessica Rodrigues e Victória Martínez (Contorno Produções) e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos- Teatro Hip-Hop
Assistente de Produção: Leticia Gonzalez (Contorno Produções)

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Teatro de reflexão e resistência. Vem aí a MITsp!

Espetáculo belga abre a 4ª MITsp. Foto: Phile Deprez

Espetáculo belga abre a 4ª MITsp. Foto: Phile Deprez

Que estamos vivendo uma crise econômica, política, social, não há nisso novidade. Um golpe arquitetado por homens brancos, ricos, corruptos e vestindo ternos tirou do poder a presidenta Dilma Rouseff. Depois disso, diariamente, nos deparamos com notícias e declarações que nos fazem quase perder a fé de que ainda há alguma possibilidade neste país. Mas qual o papel dos artistas diante disso? E de um festival de teatro? A quarta edição da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que começa na próxima terça-feira (14) e dura uma semana (21), decidiu ao menos (um grande intento) tentar refletir sobre o momento que estamos atravessando. O texto curatorial, praticamente um manifesto, assinado por Antônio Araújo, diretor artístico da MITsp, e Guilherme Marques, diretor geral de produção, fala sobre resistência. “Não apenas resistência de sobrevida para um festival ainda novo, mas de fortalecimento da imaginação, de recusa ao cinismo, de superação da apatia e, principalmente, de continuar acreditando na nossa capacidade de ação e de transformação. Recusamos, em igual medida, tanto o estado de coisas a que chegou este país, quanto o estado de ‘coisa’ que insistem em nos imputar”.

Desde a primeira edição da MITsp, não só a curadoria dos espetáculos faz com que a mostra tenha se tornado a mais significativa do país para o teatro de pesquisa, mas a ideia fundamental de que teatro e reflexão andam juntos. Se os espetáculos conseguem, em sua grande maioria, nos tirar do eixo pela experimentação artística, pelas temáticas, pelas abordagens, pelo hibridismo de linguagem, a discussão criada em torno desses espetáculos e do próprio teatro sempre foi um dos pilares da mostra. Este ano, a curadoria do eixo denominado Olhares Críticos, responsável por pensar todas essas conexões em torno da reflexão que a mostra pode gerar, foi assinada pelos jornalistas e críticos Kil Abreu e Luciana Romagnolli. As ações pedagógicas continuam sob a responsabilidade da jornalista Maria Fernanda Vomero. Há ainda o seminário internacional Discursos sobre o Não Dito: racismo e a descolonização do pensamento, cuja curadoria é de Eugênio Lima e Majoí Gongora.

A mostra começa oficialmente (algumas atividades pedagógicas já iniciaram) no Theatro Municipal de São Paulo, dia 14, com o espetáculo belga Avante, Marche!, direção de Alain Platel, Frank Van Laecke e Steven Prengels. Uma banda de música, que pode servir como retrato da nossa sociedade, e a situação de saúde de um músico nos colocam diante da resistência e da finitude. O espetáculo vai contar com músicos brasileiros, sob a regência do maestro Carlos Eduardo Moreno. Para quem for na segunda sessão, no dia 15, um presente: Tom Zé vai comentar o espetáculo ao final da apresentação, na ação intitulada Diálogos Transversais.

Artista libanês Rabih Mroué apresenta três trabalhos. Foto: Houssam Mchiemech

Artista libanês Rabih Mroué apresenta três trabalhos. Foto: Houssam Mchiemech

Ainda no dia 14, começam as sessões da Mostra Rabih Mroué. O artista visual, dramaturgo, diretor e performer libanês apresenta três espetáculos: Tão Pouco Tempo, Revolução em Pixels e Cavalgando Nuvens. Na coletiva de imprensa da mostra, Antônio Araújo revelou que tenta trazer o artista à MITsp há alguns anos. O trabalho de Rabih Mroué condiz com um dos principais eixos da mostra este ano: o teatro documentário, produções que utilizam fatos reais, documentos, história. No caso do libanês, o contexto de guerra do seu país é levado ao palco, como em Revolução em Pixels, quando ele discute como os sírios estavam documentando a guerra e a própria morte; ou em Cavalgando Nuvens, que tem como performer seu irmão, vítima de um tiro durante a guerra civil libanesa. A ação Pensamento-em-processo, uma conversa com Rabih Mroué, sua esposa (que também é performer em Tão Pouco Tempo) Lina Majdalanie, e seu irmão Yasser, será mediada no dia 16, às 10h, no Itaú Cultural, por Pollyanna Diniz, uma das editoras do Satisfeita, Yolanda?.

Por que o Sr. R, Enlouqueceu? Foto: Ju Ostkreuz

Por que o Sr. R, Enlouqueceu? Foto: Ju Ostkreuz

Outros três espetáculos internacionais compõem a MITsp: o alemão Por que o Sr. R. Enlouqueceu?, com direção de Susanne Kennedy para a Münchner Kammerspiele, uma montagem que faz a adaptação do filme homônimo de Rainer Werner Fassbinder; Mateluna, continuação de Escola, vista na primeira MITsp, do chileno Guillermo Calderón; e Black Off, de Ntando Cele, diretora e performer da África do Sul. Esse último trabalho compõe outro eixo significativo na MITsp: a discussão sobre racismo, empoderamento negro, branquitude e opressão. Tanto que dois dos três espetáculos brasileiros que integram a mostra, A Missão em Fragmentos: 12 cenas de descolonização em legítima defesa, com direção de Eugênio Lima, e Branco: o cheiro do lírio e do formol, de Alexandre Dal Farra e Janaina Leite, enveredam por esse caminho, mas por diferentes vias. O terceiro espetáculo brasileiro da mostra é Para que o céu não caia, da Lia Rodrigues Companhia de Danças. Os ingressos já estão esgotados, mas quem teve a sorte de comprar para a sessão do dia 18 de Para que o céu não caia, no Sesc Belenzinho, vai ter a chance de ouvir o xamã yanomami Davi Kopenawa, cujo livro inspirou o espetáculo, ao fim da apresentação, nos Diálogos Transversais.

Branco: o cheiro do lírio e do formol. Foto: André Cherri

Branco: o cheiro do lírio e do formol. Foto: André Cherri

Dentro dos Olhares Críticos, alguns destaques: o seminário Dimensões públicas da crise e formas de resistência, que contará com quatro mesas e convidados como Heloisa Buarque de Hollanda, Marcio Abreu, Vladimir Safatle, Suely Rolnik e Marcelo Freixo; uma discussão sobre teatro na Palestina, com o diretor Ihab Zahdeh, a atriz Andrea Giadach e Maria Fernanda Vomero; uma entrevista pública com Guillermo Calderón; o lançamento da nona edição da Trema! Revista de Teatro, do Recife; e a mesa Crítica e engajamento, uma proposta da DocumentaCena – Plataforma de Crítica (que reúne Satisfeita, Yolanda?, Questão de Crítica e Horizonte da Cena), que será mediada por Ivana Moura, editora do Satisfeita, Yolanda?.

O Satisfeita, Yolanda?, aliás, acompanha a MITsp desde a sua primeira edição. Este ano, participamos novamente da mostra escrevendo críticas que serão distribuídas nos teatros e publicadas aqui no blog e no site da MITsp.

Confira a programação completa da MITsp no site da mostra.

Mateluna. Foto: Felipe Fredes

Mateluna. Foto: Felipe Fredes

Para Que o Céu Não Caia. Foto: Sammi Landweer

Para Que o Céu Não Caia. Foto: Sammi Landweer

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