O espetáculo Essas Mulheres, do Coletivo Arremate de Teatro, nasceu como esquete e foi testado em mostras de peças curtas do Ceará. Entrou na programação do 10º Festival de Teatro de Fortaleza na cota dos novos artistas da cena local, estreantes ou resultados de conclusão de curso. É uma encenação embrionária e a equipe carece de muito treinamento para chegar a uma obra convincente. A montagem fez duas apresentações no festival: nos dias 25/11 no Cuca Chico Anysio (Cuca Mondubim) e 26/11 no Teatro Carlos Câmara.
A peça sugere que houve violência contra uma mulher, a protagonista Ione. Indica que ela sofreu, foi abandonada. Sente culpa e arrependimento. Mas também se intui presa a esse passado. A poética da cena ainda é bem primária e necessita de uma melhor definição e posicionamento das questões levantadas.
Não é qualquer violência que o grupo resolveu abordar. Mas algo realmente perturbador. Uma carga pesada traumática que não se materializa no palco, apenas é indicada. E o grupo desperdiça a potência que a temática já estabelece.
As lembranças terríveis e o sofrimento emocional são jogados. A misoginia não é explorada de forma adequada. A fantasia romantizada é lançada sem um contraponto que enriqueça o espetáculo. O texto foi escrito por Edla Maia e Mariana Elâni, duas atrizes do elenco, que perderam a chance de empoderar a personagem nas múltiplas possibilidades de caminho: de dor, de denúncia, de superação de desafios diários, de estagnação. A direção é coletiva.
O público foi levado ao palco do Teatro Carlos Câmara, onde ficou sentado ao redor da dramatização. As quatro personagens usam vestidos azuis, de corte modesto, com um detalhe aqui ou ali diferente. O tamanho da saia indica a idade das figuras. Duas delas brincam de cabra-cega (ou cobra-cega) aquele joguinho em que um dos participantes fica de olhos vendados, logo no início.
Depois há um teor agressivo de culpabilização da vítima. Por algo. Uma espera. Os traumas são revividos em doses homeopáticas. Existe medo e relações de poder, que se desmancham.
Há uma ação que parece o esboço de beleza na construção da cena. Quando o elenco, ao som de uma música criada especialmente para a montagem, levanta o vestido várias vezes, numa movimentação coreográfica. Há lampejos, mas desconectados entre si. Mas o grupo formado por Edla Maia, Mariana Elâni, Elaine Cristina e Antôni Cavalcante parece apaixonado por essa arte e precisa investir mais para afiar suas ferramentas.
Ficha técnica
Essas Mulheres
Coletivo Arremate de Teatro
Texto: Edla Maia e Mariana Elâni
Direção Coletiva do grupo
Elenco: Edla Maia, Mariana Elâni, Elaine Cristina e Antôni Cavalcante
Cenário e figurino: Coletivo do grupo
Iluminação: Wallace Rios
Sonoplastia: Daniel Uchoa