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Velhos amigos de guerra

Montagem do grupo Cena traz três ex-combatentes que hoje vivem no asilo. Foto: João Rocha

Mesmo que o tempo seja implacável, que a memória falhe ou o corpo não corresponda, se os amigos estiverem por perto…ah, com eles as guerras podem ser enfrentadas. Sejam lutas imaginárias ou não. Gustavo (João Antônio), René (Chico Sant’Anna) e Fernando (William Ferreira) são três ex-combatentes vencidos pelos anos. Hoje, vivem num asilo e se encontram todos os dias no quintal para conversas interrompidas somente pelos desmaios de Fernando – cada vez mais frequentes -, que tem estilhaços de foguete na cabeça. Vi o espetáculo Heróis, do grupo Cena, no festival Cena Contemporânea, em Brasília.

É uma montagem que combina atores competentes, com trabalhos consolidados, e um texto que tem humor, ironia e só um pouco (sim, só um pouquinho) de melancolia para falar não só de velhice, mas principalmente de amizade. O texto é de Gérald Sibleyras, autor que nunca tinha sido montado no Brasil. Na Europa, ele é bastante conhecido – foi indicado diversas vezes ao Prêmio Molière, na França, recebeu o prêmio em 2010 pela adaptação que fez de 39 Degraus e venceu o Lawrence Olivier Awards de Melhor Comédia, na Grã-Bretanha, pela montagem de Heroes, traduzido para o inglês por Tom Stoppard e protagonizado por John Hurt. Aqui no Brasil, a adaptação foi feita por Carmen Moretzsohn.

Aliás, o Grupo Cena, criado em 2005, é especialista em montar textos de autores pouco conhecidos em terras brasileiras. Começaram se dedicando à dramaturgos latinoamericanos. Vieram Dinossauros e Fronteiras, de Santiago Serrano (em breve posto uma entrevista que fiz com ele) e Varsóvia, de Patrícia Suárez. Depois, em 2007, montaram uma adaptação do romance Os Demônios, de Fiodor Dostoievski, com direção de Antonio Abujamra e Hugo Rodas. As três primeiras montagens têm a assinatura do diretor Guilherme Reis, que em Heróis usou de delicadeza e humor para fugir de qualquer tom mais pesado que o tema velhice pudesse carregar em si mesmo.

Claro que a peça também é sobre limitações, sobre o poder – que se agora não é mais militar, é da irmã Madalena -, sobre impossibilidades. Mas há a esperança do amor, mesmo que de forma inocente, a tentativa de fuga, ainda que seja só para fazer um piquenique. Dos três, Gustavo é o mais ranzinza. Sempre tem resposta pra tudo. Fernando sofre com os desmaios e com a possibilidade de que o asilo abrigue outro idoso que nasceu na mesma data que ele, já que ele acredita que Dona Madalena não permite dois aniversários numa só data. E René é o mais romântico e mais lúcido. Os três atores têm uma interação muito fluida e as interpretações mantêm o mesmo nível, mas é impossível não destacar o trabalho de corpo de William Ferreira, que se transforma realmente num velho e cai o tempo inteiro.

A montagem fez temporada em Brasília e participou do festival. Por aqui, uma ótima oportunidade de trazê-los seria no Janeiro de Grandes Espetáculos (que tal, Paula de Renor?!). Este ano, o festival trouxe Dinossauros, com Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi no elenco.

Heróis tem direção de Guilherme Reis. Foto: Leo Moreira

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Ex-combatentes em Brasília

Grupo Cena

O grupo Cena apresenta sua nova montagem nesta terça-feira, no próprio Espaço Cena, em Brasília. São três atores no palco: Chico Sant´Anna, João Antônio e William Ferreira, sob a direção de Guilherme Reis. Heróis, o caminho do vento (Le Vent dans Le peuplier, no original), traz três ex-combatentes, que agora estão numa casa geriátrica e desfiam lembranças, divagações e ironias. O texto é de Gerald Sibleyras.

Durante o Janeiro de Grandes Espetáculos, o Grupo Cena esteve no Recife para apresentar, pela segunda vez, um dos espetáculos do seu repertório: Dinossauros. Por essa experiência, fiquei muito curiosa para conferir esta nova empreitada. Em Dinossauros, os atores Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi se encontram numa madrugada no banco de uma estação. Aos pouquinhos, a gente vai se apaixonando pelo texto (que é do dramaturgo, diretor e psicólogo Santiago Serrano), pela encenação delicada, cheia de nuances – desde o medo inicial da personagem Silvina, até a aproximação dos dois personagens.

Um espetáculo curto – acho que tem menos de uma hora-, mas que deixa a sensação de que não é mesmo preciso muito para que uma experiência teatral seja plena, tanto para os atores como para o público. A direção também era de Guilherme Reis, um dos criadores do Festival Cena Contemporânea.

Heróis, o caminho do vento fica em cartaz até 26 de março. Na semana de estreia, as sessões serão de terça a domingo; depois, de quinta a domingo. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 61 3349-3937 ou pelo facebook do Cena Contemporânea de Brasília.

Espero que a peça venha logo por aqui! Atenção, produtores!!! Missão para vocês!

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A aposta do fim de semana

Ir ao teatro é sempre uma aposta. Mas a experiência normalmente compensa. Por isso, toda sexta-feira, vamos compartilhar com vocês os nossos ‘palpites’ para o fim de semana. Podem ser espetáculos que estão estreando, como esta semana, o que deixa o jogo ainda mais arriscado – já que não garantimos a qualidade. De qualquer forma, se você aceitar a dica e, porventura, não gostar, volte aqui ao Yolanda, comente, discuta. E isso que queremos!

Bom, hoje a dica é conferir o espetáculo A peleja da mãe nas terras do senhor do açúcar, com direção de Carlos Carvalho. A montagem reúne brincantes da cultura popular, como Mestre Grimário, e atores experientes, como Auricéia Fraga. O texto foi inspirado no livro A mãe, do russo Máximo Gorki. A sessão é às 21h, no Teatro Apolo, no Bairro do Recife. Ingressos: R$ 10 (preço único).

Além dessa, seguem outros palpites para o seu fim de semana:

Hoje (sexta):
O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, em duas sessões, às 19h e 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho (já saiu crítica aqui no Yolanda). Ingressos: R$ 10.

Sábado (29):

O fio mágico, às 16h, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. Ingressos: R$ 10 (estamos preparando a crítica, mas pode apostar!)
Dinossauros, às 19h, no Teatro Apolo (é sábado e domingo). Ingressos: R$ 10
Os fuzis da Senhora Carrar, às 21h, no Hermilo Borba Filho (também já saiu crítica por aqui)

Domingo (30):

O pássaro de papel, às 10h30, no Santa Isabel. Ingressos: R$ 10.
No meio da noite escura tem um pé de maravilha, às 16h, no Marco Camarotti. Ingressos: R$ 10
Quase sólidos, às 21h, no Barreto Júnior. Ingressos: R$ 10

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