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Ossos articula discurso bruto e libertador *

Elenco de Ossos

Elenco de Ossos: Daniel Barros, Arilson Lopes, Marcondes Lima, André Brasileiro, Ivo Barreto, Robério Lucado

                                                                                                        Sidney Rocha *
                                                                                                        Especial para o Satisfeita, Yolanda?

 

ATO I

Querida Yolanda:

Grosso modo, literatura que se parece com teatro não é literatura.

Dizem que a prosa de Marcelino Freire parece teatro. Lamento dizer: não parece. Não parece porque é literatura. Literatura e teatro têm linguagem distinta. Necessariamente. O discurso cênico tem outra função. Há certa natureza ética, que transcende a natureza estética, de modo que teatro não é diversão pura e simples, não está ali para entreter, mas para dizer certa verdade: a condição precária do homem no universo. Nisso o teatro se aparenta mais à filosofia que à literatura. Mas à filosofia que não se rende ao poder, nem ao exagero das interpretações, violência contra a qual Susana Sontag lutou violentamente naquele ensaio: Contra a interpretação.

A busca dessa verdade: tem sido assim desde a Grécia, quando sequer havia distinção entre arte e técnica. É assim na arte dramática de Brecht, de Camus, ou de Beckett e Ionesco, todos interessados somente em expor o homem em sua condição miserável e absurda perante a vida.

Marcelino Freire adaptou seu romance (Nossos ossos, 2013) para entregar ao coletivo Angu de Teatro um texto vigoroso. Um texto, repito. Logo no começo, à direita da cena, o ator, na pele do autor sob a pele de Heleno de Gusmão – ali numa litania à capella, durante todo o espetáculo – ali na primeira das mil ossaturas, expõe a transconfissão do metaescritor:
“O que eu poderia fazer mais, se já escrevi o romance?”
É verdade, Marcelino, mas verdade-só-literariamente.

O discurso cênico termina mostrando a verdade-verdade: o autor se esgota, brocha, acata porque, no teatro, o coito é só dos atores. Só eles podem. Com ph.

Marcelino descobriu cedo que as palavras em estado-de-literatura são uma coisa. Outra coisa são as palavras em estado-de-teatro. A palavra de fato. A palavra-ato.

Em Ossos, reina sobretudo a linguagem não-literária, mas teatral. A metáfora literária enfim perde para discurso do teatro que busca a linguagem ordinária, para suplantá-la. Ossos era para ser um tipo de “teatro de texto” que faz falta ao teatro contemporâneo no Brasil, e isso já bastaria – embora o textocentrismo seja outro tipo de exagero. Mas no teatro as teorias são uma tolice e se perdem no momento exato em que um ator pise o palco. É o que ocorre nessa adaptação. Os atores de Ossos sabem bem as margens miméticas do que vem a ser a encenaçãoatuação. Mas isso seria outro papo.

Eu dizia, Yolanda: uma coisa é texto. Outra, é fala. E outra coisa é voz. Essa pressupõe corpo e sangue. Porque o teatro, diferente do cinema, da literatura, da pintura, nos dá um corpo, de verdade: o do ator. Essa diferença é a essência da mímese do texto dramático. Ossos é também sobre esse corpo, que se tenta conduzir, enterrar, carregar, livrá-lo de uma alma e dá-lo a outra. Por isso o texto é pouco – e a fala não diz tudo. É a voz do ator que transmite o que não está no texto. É massa viva controlável somente pela técnica, no palco. É a única voz que interessa.

Ah, pobre literatura que não pode com essa força.

André Brasileiro e Daniel Barros numa cena de Ossos. Foto: Divulgação

André Brasileiro e Daniel Barros interpretam o escritor Heleno de Gusmão e o michê. Foto: Divulgação

ATO II

“Não sou dramaturgo”, diz o o autor no personagem central de Ossos, vivido com exatidão por André Brasileiro, quando se abre uma das camadas da adaptação – que são como atos dentro de atos, insight ou intuições de Marcondes Lima na busca de uma dicção ou linguagem ou lugar que realizasse o autor-adaptador, mas que contemplasse sua fala [repito: fala] como criador experiente que é.

A direção é conduzida de modo a todos dividirem a cena, a luz, o figurino, deixando clara a voz já reconhecível do coletivo, mas com o pensamento, fala e ação rigorosos do diretor de Ossos. Uma direção não-natural, porque o teatro é mesmo contra a natureza, e nisso consiste a arte – supor certo domínio, e controle, e direção sobre os atos, e omissões.

Por isso, querida Yolanda, não há personagem mais carne-e-osso do que aquele na pele de um ator, todo feito de intuição, e técnica, e erro. Sobretudo erros, Yolanda, porque não existe maria-concebida-[sem-erro]-sem-pecado, no teatro. Ao somar tudo, Marcondes Lima criou a fantasmagoria necessária para transformar Ossos em discurso bruto e libertador. Ossos é carnavalização, riso e grito. O paraíso do baixo-corporal, do prazer e da dor que se assume. A ridicularia da morte sobre a vida. E da vida sobre si mesma.

Taí a verdade desse teatro angular, coletivo.

 

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Marcondes Lima no papel de Estrela. Foto Divulgação

ATO III

O que realmente importa: André Brasileiro trocou a paixão daquela vez da estreia, naquele 11 junho do ano passado, pela exatidão que vi ontem, no mesmo Teatro Apolo, e compôs um Heleno de Gusmão que se põe em pé, sem pedir favor ou pacto de compreensão à plateia.
Marcondes Lima desaparece e faz surgir algumas vênus singulares: Estrela, Carmen Miranda, Fafá de Belém, todas com cor e coração também exatos.

Arilson Lopes faz o motorista do rabecão. Foto Divulgação

Arilson Lopes faz o motorista do rabecão. Foto Divulgação

O Caronte mais real que já vi, o motorista Lourenço – o personagem trágico por excelência em Ossos: vale mesmo vê-lo saltando de dentro de Arilson Lopes, que faz também o interesseiro Carlos.

A trilha sonora de Juliano Holanda. A trilha sonora de Juliano Holanda. A trilha sonora de Juliano Holanda.

Ceronha Pontes preparou urubus, travestis e michês para o banquete claro-escuro e multicor de cada cena.
Ossos é como a vida. E como a morte: Funciona.
Convenhamos, querida: no teatro, isso não é pouco.

Então ficamos assim, Yolanda: Ossos: texto de Marcelino Freire. Fala de Marcondes Lima. Mas a voz é do Angu de Teatro.
E que beleza.
Não perca.

*  Sidney Rocha  é escritor. Escreveu Matriuska (contos, 2009), Fernanflor (romance, 2015) e Guerra de ninguém (contos, 2016). Com O destino das metáforas venceu o Prêmio Jabuti, em 2012, na categoria contos e crônicas e com o romance Sofia, o Prêmio Osman Lins; todos pela Iluminuras.

Daniel Barros e Robério Lucado interpretam garotos de programa em Ossos. Foto: Ivana Moura

Daniel Barros e Robério Lucado interpretam garotos de programa em Ossos. Foto: Ivana Moura

FICHA TÉCNICA

Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Ryan Leivas (Ator stand in) e Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Operação de Som: Sávio Uchôa
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

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Política no sangue de um sapateiro

 

Mario Miranda (de camisa vermelha) interpreta Zumba

A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem dente é uma peça política. Sobre sonhos que valem pouco, homens que valem muito, e manobras descaradas para sufocar a liberdade. “Na tortura toda carne se trai”, diz uma velha canção entoada por Zé Ramalho. Se trai? Cada vez mais frágil essa contextura humana. Mas o nosso Zumba, ou melhor o Zumba recriado por Carlos Carvalho das letras de Hermilo Borba Filho é um ser fincado num passado, nem tão esplendoroso assim.

Essa encenação diminui a voltagem política da trama. O encenador exagera nas alegorias, dialoga com a farsa e permite aos atores improvisações criativas. A peça encerra temporada nesta última terça-feira de agosto, às 19h30, no Teatro Hermilo Borba Filho, que fica no Bairro do Recife, com entrada franca ao público.

Baseada no texto O Traidor, de Hermilo expõe as escolhas do sapateiro bolchevista, candidato a prefeito na cidade de Palmares e que foi sequestrado e morto. A montagem tem adaptação também de Carlos Carvalho, e direção musical de Juliano Holanda. No elenco estão Mario Miranda, Andrezza Alves, Flávio Renovatto e Daniel Barros.

É a segunda versão de Carvalho sobre esse texto de HBF. A primeira leitura, de 2000, era mais pesada. Do elenco anterior, apenas Andrezza Alves permanece. Mario Miranda defende o personagem título e quem conhece a trajetória sabe que o ator sempre dá um jeitinho de colocar uma pilhéria, um gracejo, um caco.

A democracia é naquele palco uma senhora que precisa ser defendida. Mas seus algozes são cruéis. A encenação busca a simplicidade para contar essa história e no talento dos atores. Passa seu recado, em um ou outro momento pode suscitar aquele sentimento de revolta na plateia, quando os direitos de gente humilde são espezinhados, quando a manipulação cega a possibilidade de discernimento.

Atores utilizam poucos objetos cênicos

Atores utilizam poucos objetos cênicos

Com o palco nu, a montagem utiliza vídeos – com desenhos ou depoimentos reais – mas não contextualiza uma época. Justapõe ocasiões de barbárie contra figuras que lutaram por um mundo mais justo. E é inevitável fazer conexões com o Brasil atual.

O tempo é embaralhado. A viúva de Zumba dá um depoimento após o sumiço do sapateiro. Passa para a casa do protagonista que ensina a prática do esquerdismo para dois jovens pupilos. Como numa câmara de zoom e planos abertos, a encenação trabalha com esses movimentos. Do público e do privado.

Zumba quer ser candidato a prefeito. E quando começa sua estruturação para isso, a repressão chega sob forma de delegado, de polícia. Essa opção pela alegoria atenua a complexidade da situação.

O diretor simplifica com a utilização de mamulengos. E enriquece com os passos do cavalo-marinho, a ciranda, o frevo.

São emblemáticas as cenas da prisão de Zumba e a inocência que é associada ao analfabetismo. Lembra o famoso poema Confissão de Cabôco, de Zé da Luz, que cometeu um desatino porque não sabia ler. É uma cena síntese do espetáculo.

Andrezza Alves e Daniel

Andrezza Alves e Daniel Barros

Carvalho experimenta as ideias Hermilo e as questões que são caras ao escritor pernambucano, como justiça e liberdade no teatro. Já ergueu as montagens Mucurana, o Peixe, a partir do conto O Peixe, com Azaias Rodrigues (Zaza) e O Palhaço Jurema e os Peixinhos Dourados, elaborado com base em O Palhaço, com Gilberto Brito como protagonista.

Serviço
A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem Dente
Quando: Nas terças-feiras de agosto, às 19h30
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife
Quando: Grátis
Informações: (81) 3355-3318

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Ossos faz temporada no Teatro Barreto Júnior

 

Marcondes Lima, o diretor, interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

Marcondes Lima, o diretor, interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

Ossos é o quinto espetáculo do Angu de Teatro, Coletivo pernambucano com 13 anos de existência. O terceiro da letra de Marcelino Freire – Angu de Sangue e Rasif – Mar que arrebenta são os outros dois. Além de Ópera, de Newton Moreno e Essa febre que não passa, de Luce Pereira. Todos com direção de Marcondes Lima, sendo Essa febre em parceria com André Brasileiro. Ossos narra uma história de amor e suas perversidades. O amor que move para a mudança, que traz a estagnação e a infertilidade afetiva, que lança para a morte.

O dramaturgo Heleno de Gusmão é o protagonista dessa peleja que começa em Sertânia, Sertão pernambucano, passa por Recife e chega a São Paulo e faz o caminho de volta. A estrutura da peça não segue uma linha cronológica, mas traça círculos, dá saltos, inunda de lembranças e de uma atmosfera fantástica.

A montagem volta à cena para uma segunda temporada, desta vez no Teatro Barreto Júnior, neste 19 de Agosto e fica em cartaz até 25 de Setembro, às sextas e sábados, sempre às 20h e domingo às 19h30. A primeira temporada ocorreu no Teatro Apolo.

Coro de Urubus. Foto: Divulgação

Um coro de Urubus pontua a narrativa, Urubus, sabemos, são aves de rapina necrófogas. Existem sete espécies e cinco delas circulam no Brasil. É possível observar essas aves planando sob o céu das cidades, pousando no alto de prédios, ou esquadrinhando os lixões em busca de material orgânico, pois são capazes de eliminar desde carcaças até ossos. Eles têm olfato apurado, estômago privilegiado apto a processar até carne podre e um sistema imunológico invejável. Esses faxineiros da natureza são incompreendidos. Até Charles Darwin, quando visitou a América em 1832 teria comentado: “São aves nojentas, que se divertem na podridão”.

Os Urubus da ficção de Marcelino Freire e Marcondes Lima comentam os acontecimentos da peça, são experts em dar matacão uns nos outros. Às vezes se aproximam dos personagens do teatro infantil ou dos desenhos animados e as vezes cansam ao expor de forma tão crua os sentimentos humanos. E apesar do trabalho difícil que exercem  da fama, eles também amam.

O espetáculo se desenvolve em vários cenários; nos guetos paulistanos do negócio do sexo,  nas esquinas dos michês, nos bastidores de um teatro amador, no interior de Pernambuco onde os ossinhos de bois são material para nutrir a imaginação do futuro escritor, na estrada de volta para à terra natal.

A encenação explora os acontecimentos sob a ótica do protagonista, o dramaturgo Heleno de Gusmão. Seus fragmentos de memória que aparecem como sonho ou um estado hiper-real. Ele fala diretamente ao público ou atua nas suas recordações ou projeções, às vezes de forma distorcida.

A iluminação de Jathyles Miranda é fundamental para impor esse clima que vagueia entre traços expressionistas. Sombras produzem formas bizarras e deformidades visuais, colaborando para o rompimento de continuidade de cena e aproximando de um processo cinematográfico de sobreposições, fusões de cenas e cortes secos.

O universo LGBT é mostrado sem maquiagem, os sonhos, as carências, e o lado sentimental de figuras marginalizadas com o garoto de programa e a travesti. E ergue o caráter político da existência e posicionamento das minorias aflitas no mar do consumismo. A peça é carregada de humor, às um humor doído.

E não podemos esquecer da trilha sonora do músico pernambucano Juliano Holanda, uma obra que merece levar uma vida autônoma por sua qualidade intrínseca. E que no espetáculo transborda em meio a tantos signos.

A montagem de Ossos é patrocinada pelo prêmio Myriam Muniz da FUNARTE – Ministério da Cultura – Governo Federal.

André Brasileiro (C) faz o papel do dramaturgo Heleno Gusmão. Foto: Divulgação

André Brasileiro (C) faz o papel do dramaturgo Heleno de Gusmão. Foto: Divulgação

 

Ficha Técnica
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Ryan Leivas (Ator stand in) e Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Operação de Som: Sávio Uchôa
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

SERVIÇO

OSSOS, de Marcelino Freire, pelo Coletivo Angu de Teatro
Quando: Temporada de De 19/08 a 25/09; Sextas e sábados, às 20h, Domingos, às 19h30
Onde: Teatro Barreto Júnior
Ingressos: R$30,00 inteira / R$15,00 meia-entrada
Classificação indicativa: 16 anos

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A luta de Zumba-Dentão

A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem dente tem entrada franca ao público

A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem dente tem entrada franca ao público

“Pertenço a uma cultura de resistência e justamente porque a liberdade e a dignidade do homem estão em crise é que utilizo a única arma que tenho – minha ficção, para combater a intolerância sob qualquer aspecto em que se apresente”. Enquanto houver injustiça neste mundo, as palavras de Hermilo Borba Filho cintilam feito faca afiada.

A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem Dente é uma dessas lâminas. O espetáculo está em cartaz às terças-feiras do mês de agosto, às 19h30, no teatro que leva o nome do escritor pernambucano, com entrada franca. Os ingressos para a encenação podem ser retirados na bilheteria do teatro, a partir das 18h.

Zumba é um personagem que aparece nas narrativas de Hermilo Borba Filho primeiro no conto A gravata, do livro O general está pintando. Vítima da repressão policial, com requintes de crueldade, ele carrega o sinal da tortura inclusive na alcunha de “Zumba-Dentão”. Chamado de bolchevista por anunciar mudanças ele é uma figura que atua como metáfora da resistência.

Baseada no texto O Traidor do escritor Hermilo Borba Filho, conta a história do sapateiro candidato a prefeito na cidade de Palmares e que aniquilado.

” Zumba-Dentão, assim chamado porque nas centenas de prisões por que passara arrancaram-lhe as unhas e todos os dentes menos o grandão da frente, jamais nada se provando porque coisa nenhuma existia, mas ele pagando por qualquer malfeito impune na cidade.”

A peça tem adaptação e direção de Carlos Carvalho. A direção musical, criada pelo instrumentista Juliano Holanda, é executada ao vivo durante a peça. No elenco estão Mario Miranda, Andrezza Alves, Flávio Renovatto e Daniel Barros.

Outra encenação de A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba-Sem-Dente, também com assinatura de Carlos Carvalho, foi erguida no início dos anos 2000. Contava com direção musical de André Freitas, que buscou inspiração no cavalo-marinho.

Na atual montagem, a tradição do teatro popular como o mamulengo, o cavalo-marinho, está conectada à temática da idealização de um mundo melhor, a luta pelo poder, a urgência da democracia durante o governo militar. E prossegue falando sobre as questões atuais.

Estudioso da obra de Hermilo, Carlos Carvalho já ergueu as montagens Mucurana, o Peixe, a partir do conto O Peixe, protagonizado por Azaias Rodrigues (Zaza) e O Palhaço Jurema e os Peixinhos Dourados, elaborado com base em O Palhaço, com Gilberto Brito no elenco.

Serviço
A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba sem Dente
Quando: Nas terças-feiras de agosto, às 19h30
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife
Quanto: Grátis
Informações: (81) 3355-3318

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O homem da educação

Daniel Barros e Júnior Aguiar em pa(IDEIA) - Pedagogia Da Libertação. Foto: Trema! Festival

Daniel Barros e Júnior Aguiar em pa(IDEIA) – Pedagogia Da Libertação. Foto: Trema! Festival

O desmonte de políticas culturais por parte do governo interino que se aboletou no poder exibe seus tentáculos. A educação treme com as ações do titular interino da pasta, político pernambucano que fez cortes em programas estratégicos. Não dá para ter orgulho dessa realidade.

No palco do Teatro Arraial, a educação é tema de luta e resistência como algo essencial para vida e direito de todos em pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação. A peça enfoca a trajetória de um personagem que ficou para a História como exemplo de homem público, o educador pernambucano Paulo Freire, autor d’A Pedagogia do Oprimido.

A encenação é resultado de uma pesquisa realizada pelo ator e diretor Júnior Aguiar, que considera Paulo Freire um revolucionário ao máximo. Ele criou um método que alfabetizava em 45 dias. Uma reviravolta na vida de muitos pobres, que passaram a ter o direito ao voto no processo de redemocratização.

Política, dialética e amor são as chaves utilizadas pelos atores Daniel Barros e Júnior Aguiar para atingir a libertação através das ideias, para compor essa figura. A montagem expõe momentos dos 70 dias da prisão de Freire no Recife após o golpe de 1964 e também relata o exílio do pedagogo, que durou 16 anos

pa(IDEIA) é o segundo espetáculo da Trilogia Vermelha, formada pelas peças h(EU)stória – O tempo em transe, sobre o cineasta Glauber Rocha, que já estreou e pro(FÉ)ta – O bispo do povo, sobre o bispo Dom Hélder Câmara.

Paulo Freire foi preso no Recife e exilado.

Paulo Freire foi preso no Recife e exilado.

SERVIÇO
1º temporada do espetáculo pa(IDEIA) – pedagogia da libertação
Quando: Dias 1º, 2, 15, 16, 22, 23, 29 e 30 (sextas e sábados de julho – exceto 8 e 9), às 20h
Onde: Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da aurora, Boa vista)
Quanto: R$ – 20,00 (inteira) e R$ – 10,00 (meia)
Indicação Livre
Informações: 99534.6054 / 99790.8251 / 3184.3057 (Teatro)

Ficha técnica
Atores-criadores – Daniel Barros e Júnior Aguiar
Pesquisa, roteiro, iluminação e encenação – Júnior Aguiar
Música Original – Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West. Com participações de Glauco César II, Aline Borba, Otiba e Geraldo Maia
Terapeuta Corporal – Mônica Maria
Operador de luz e áudio – Roger Bravo
Identidade Visual – Arthur Canavarro
Teaser – Nilton Cavalcanti
Fotografias – Diego di Niglio, Amanda Pietra e Trema! Plataforma de Teatro
Idealização e Produção – Grão Comum e Gota Serena
Parceiros/Colaboradores – Márcio Fecher, Asaías Lira, Quiercles Santana, Galeria MauMau – Sala Monstro, Centro Apolo-Hermilo, Espaço Cênicas, Rafael Amâncio.

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