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Alaíde é um travesti na dança de Otávio Bastos

Coreografia O Alfaiate de Livros, com Otávio Bastos. Fotos: Ivana Moura

Coreografia O Alfaiate de Livros, com Otávio Bastos. Fotos: Ivana Moura

Satisfeita, Yolanda? no Palco Giratório

O bailarino e coreógrafo pernambucano Otávio Bastos nasceu prematuro. Depois do ventre da mãe, ele foi alimentado na incubadora. A tecnologia no início da vida. E também agora. A máquina filmadora faz a mediação na criação do seu trabalho. Bastos assina a direção, interpretação e coreografia de duas peças que apresentou ontem no Palco Giratório, no Teatro Capiba: O Alfaiate de Livros e Vestido de Noiva.

Otávio Bastos aprendeu primeiro o frevo. Nascimento do Passo foi o seu mestre. Foi estudar dança contemporânea em Nova York. Conheceu uma chinesa, com quem fez uma parceria: um dueto, uma pesquisa de linguagem. Apresentou o resultado em São Paulo, onde morou por um tempo. E ainda guardou um gestual, passos e movimentos da cultura oriental. De volta ao Recife, ele mostrou o seu espetáculo O fio das miçangas, o entrelaçamento que faz entre a arte popular brasileira e a cultura urbana contemporânea.

Nas suas atuações há lugar para performances, vídeos, instalações, teatro e dança. Ele é rápido para criar. Levou um mês para erguer O Alfaiate de Livros e dois para Vestido de Noiva.

Peça Vestido de Noiva, em que Alaíde é um travesti

Peça Vestido de Noiva, em que Alaíde é um travesti

Cada apresentação dos espetáculos é única. E essa é uma das características da arte de Bastos. Ele opera o improviso, a partir da marcação de luz e som, dando total liberdade para costurar outros movimentos a cada sessão.

Na coreografia O Alfaiate de Livros o artista foi buscar inspiração nas memórias afetivas da infância e adolescência. Filho de bibliotecário encadernador de livros, o menino cresceu entre palavras e letras. E elas aparecem projetadas. Às vezes invadem a pele do bailarino ou seguem um movimento arredondado, na vídeo-cenografia assinada por Ormuzd Alves e iluminação de Cris Souto.

Em Vestido de Noiva, montado ano passado para participar dos eventos em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues, Otávio Bastos toma suas liberdades poéticas. Com linóleo branco e fundo idem, coberto por um tecido de renda, ele buscou o pseudônimo de Nelson, Suzana Flag, como ponto de referência para o mergulho.

O artista fez o recorte dos planos da mulher que foi atropelada e que desintegrada, aparece em três planos para o público: realidade, alucinação e memória. No caso de Bastos, ele caminha por labirintos de entre-lugar. Entre popular e contemporâneo, entre homem e mulher. Sua personagem é um travesti que foi atropelado e vivencia essas tensões entre a vida e a morte.

Os três momentos ganham pulsações diferentes. Da queda ao desaparecimento. A trilha sonora tem Erik Satie e GMZ (domínio público). A iluminação é de O Poste Soluções Luminosas. O figurino das duas peças é de Agrinez Diana.

São muito interessantes as propostas de Otávio Bastos. Sua força para descobrir e experimentar.

Coreógrafo e bailarino pesquisa cruzamentos entre as manifestações populares brasileiras, tecnologia e dança contemporânea

Bailarino pesquisa cruzamentos entre as manifestações populares, tecnologia e dança contemporânea

 

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