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Quero ser Marieta Severo!

Espetáculo será encenado até domingo no Teatro da UFPE

Assisti ao espetáculo As centenárias pela primeira vez há uns três anos, no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro. Essa sessão estava florida de gente famosa. E na realidade só consegui um ingresso porque falei com Newton Moreno, o autor, que conversou com o produtor. A temporada estava superlotando.

O teatro Poeira é mais lindo e aconchegante do que imaginei. Tem gotas de afeto espalhada pelo espaço e só percebi isso muito depois.

A história de duas carpideiras que tentam enganar a Morte e choram pelos humanos que se vão para abrir caminho me deixou em princípio desconfiada. Achei que uma narrativa tão próxima do que tive contato a vida inteira não iria me arrebatar. Mas a peça começou e as linhas do enredo foram fazendo sua teia de beleza e conquista.

Com quinze minutos de espetáculo estava entregue. Ao talenco das duas atrizes, Marieta Severo e Andréa Beltrão, à engenhosidade do diretor Aderbal Freire Filho e à simplicidade encantatória de mais esse texto de Newton Moreno.

Agora, com a vinda do montagem de As centenárias para o Recife, o que mais despertou minha admiração é a cumplicidade entre as duas atrizes, Marieta e Andréia, juntas no palco e na administração dos Teatros Poeira e Poeirinha. E uma invejável vontade de ter uma amizade desse quilate. Que quando uma repórter, Pollyanna Diniz, a Yolandinha, pergunta a Andréia qual o defeito da Marieta que mais a irrita, ela responde sem pestanejar: “A Marieta não tem defeitos. Quem tem defeitos sou eu e você”. Respeito e proteção a toda prova. Nem todo mundo merece uma amizade assim.

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Uma cunhada osso duro

Rebú tem texto do carioca Jô Bilac. Foto: Paula Kossatz

A visita de uma cunhada inconveniente, que acha tudo ruim e ainda troca o seu nome de propósito. Nem todo mundo teria o “estômago” de Bianca para aguentar Vladine, irmã do seu marido, Matias. Pelo menos até certo ponto. Porque Bianca tanto faz que acaba conseguindo virar o jogo. A montagem Rebú, uma tragicomédia da companhia Teatro Independente (RJ), que esteve na cidade no último Festival Recife do Teatro Nacional (nós até já escrevemos sobre a peça), volta para duas apresentações: hoje, às 20h; e amanhã, às 19h (sessão com audiodescrição), no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela. O texto é do carioca Jô Bilac e a direção de Vinícius Arneiro. Em cena estão Carolina Pismel, Diego Becker, Júlia Marini e Paulo Verlings. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).

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Teatro nos quatro cantos do país

Na última semana estive em Florianópolis, Santa Catarina, para o lançamento nacional do Palco Giratório. É o maior circuito de artes cênicas do país. Não duvide do adjetivo. Aqui, o ´maior` tem razão de ser. Ou você já teve notícias de algum festival que percorra todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, passando por 114 cidades, com 728 apresentações no total? Pois é. Esse é o Palco Giratório, promovido pelo Sesc, neste ano na 14ª edição.

Em Pernambuco, as apresentações começam no mês de abril. O espetáculo catarinense do grupo Persona cia. de Teatro & Teatro em Trâmite, chamado A galinha degolada, vai circular por cinco cidades do interior: Garanhuns, Caruaru, Arcoverde, Triunfo e Petrolina. No mês seguinte, é a vez do Festival Palco Giratório tomar conta da capital pernambucana, com espetáculos que compõem a grade nacional de circulação, outros grupos convidados e ainda companhias locais. Outras quatro cidades ainda vão receber encenações do projeto ao longo do ano.

Galinha Degolada, da Persona cia. de Teatro & Teatro em Trâmite (SC)

Escolher os 16 grupos que vão se apresentar por todo o país, com 37 espetáculos, e montar a logística do circuito são os principais desafios. Cerca de 80 montagens disputaram a seleção este ano. “As coordenações regionais, que participam da escolha, têm autonomia para fazer sugestões de espetáculos, que são copiados em DVDs para todos os participantes. Quem é do estado do grupo e está fazendo a indicação tem que ter visto o espetáculo ao vivo. Depois, durante dez dias, temos um encontro para discutir quais serão os grupos”, explicou Raphael Vianna, técnico de teatro que faz parte da coordenação nacional do projeto.

Galiana Brasil, representante pernambucana no grupo de curadores, diz que existe uma verdadeira ´defesa` dos espetáculos. “O curador tem que conhecer a cena do seu estado porque a escolha é feita através de indicações. Não há, por exemplo, um edital, com requisitos a serem cumpridos”.

O fato é que a seleção possibilita um amplo panorama do que está sendo produzido em artes cênicas em todas as regiões do país. Este ano, algumas particularidades ou, quem sabe, tendências, puderam ser elencadas. “Percebemos, por exemplo, o fim da era dos monólogos e o teatro de grupo aparecendo com muita força”, explica Galiana. Além disso, cada vez mais espetáculos de dança participam da seleção (o pernambucano Leve, do coletivo Lugar Comum, foi um dos contemplados pelo projeto e há ainda espetáculos de dança do Ceará e de Manaus) e houve dificuldade para selecionar espetáculos de teatro de rua.

O mundo tá virado, do Imbuaça (SE)

Um dos escolhidos nesta área foi o grupo Imbuaça, de Sergipe, que não vai ao Recife há cerca de dez anos. “Nós devemos circular por 15 estados e fazer 70 apresentações. Que outro projeto nos permite isso? Uma programação anual de espetáculos?”, questionou Lindolfo Amaral, do Imbuaça. O grupo, aliás, esteve na 1ª edição do Palco Giratório, em 1998, com o espetáculo A barca do inferno, sob direção de João Marcelino. À época, fizeram apresentações somente em Pernambuco. Neste ano, o grupo completa 34 de carreira.

“É mais que um prêmio. É a oportunidade de ficar um ano inteiro apresentando um espetáculo, o que normalmente é muito difícil conseguir”, explicou a atriz Pagu Leal, do grupo curitibano Delírio, que no Recife deve apresentar o espetáculo Evangelho segundo São Mateus, a história de um filho e seu retorno hipotético à casa dos pais.

Evangelho segundo São Mateus, do grupo Delírio (PR)

“É um processo de troca rico para o próprio trabalho, porque você tem que repensar a obra por conta do olhar das outras pessoas, das dúvidas e questões que vão surgindo”, explicou Vinícius Arneiro, diretor do espetáculo Rebú, do grupo Teatro Independente, do Rio, que abriu a programação de itinerância em Florianópolis. Em São Miguel do Oeste, o espetáculo apresentado foi Frankenstein, da Cia. Polichinelo, de São Paulo.

Frankenstein, da Cia. Polichinelo (SP)

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Ô mulherzinha…

Foto: Val Lima/Divulgação

Já dizia a minha avó: ´visita boa dura três, no máximo quatro dias na sua casa. Depois disso, passa a ser incômodo`. Bianca sabe bem o que é isso. Recém-casada, foi obrigada a hospedar a irmã adoentada do marido. Pra completar, a dita cuja, chamada Vladine, trouxe mais alguém com ela e ainda fez questão de ser insuportável. Esse é o mote do espetáculo Rebú, apresentado no último Festival Recife do Teatro Nacional. E é exatamente na sua dramaturgia e na escolha por um gênero muito bem definido que o espetáculo é bem-sucedido.

Jô Bilac – um jovem de destaque na dramaturgia carioca – escreveu um texto que nos aproxima daqueles personagens. Que nos faz perguntar: que mulher é essa?! Coitada da dona dessa casa! Deus me livre de um marido desses! E ainda tem os elementos non sense, como o ator que interpreta um bode e causa muitas risadas. A encenação opta mesmo pelo melodrama – desde a voz dos atores (com direito a gritos e mudanças de entonação – talvez a diccção de alguns deles tenha atrapalhado em alguns momentos a compreensão completa do texto), os movimentos marcados, a cena congelada.

Foto: Val Lima/Divulgação

A ação se passa dentro de um espaço cênico delimitado – o teatro dentro do teatro -, uma cortina que dá para um pequeno tablado que parece ser a sala da casa. Fora dessa caixa, alguns refletores. Os jovens atores da Companhia Teatro Independente (Carolina Pismel, Julia Marini, Paulo Verlings e Diego Becker), do Rio, mostram que estão avançando nos seus processos de construção de personagem.

Talvez isso seja facilitado pelo próprio processo de como a montagem foi concebida. A dramaturgia foi sendo escrita ao mesmo tempo em que os ensaios eram realizados e o diretor Vinícius Arneiro fazia suas escolhas.

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