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Festival Arte como Respiro começa nesta sexta (17)

Palhaça Zanoia abre programação de festival. Foto: Olga Ferrario

Diante do número assustador de mais de 70 mil mortos no Brasil, em quatro meses de pandemia da Covid-19, deve demorar muito até que uma sala de teatro possa estar lotada novamente. Desse cenário desolador, questões se desprendem e multiplicam – desde as práticas, que dizem respeito à sustentação da cadeia produtiva até aquelas mais conceituais, que questionam, por exemplo, se o teatro que estamos vendo, de nossas casas, nas plataformas digitais, pode ser considerado de fato teatro. Para além desse debate teórico-prático, as ações de instituições culturais e dos próprios artistas nas redes se multiplicam. O Itaú Cultural, com o edital Arte como respiro, foi um dos primeiros a incentivar a produção cênica neste momento. Entre os dias 6 e 10 de abril, o instituto recebeu mais de 7.200 propostas artísticas.

A partir desta sexta-feira (17), os trabalhos selecionados no edital participam do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas. Nesta primeira formatação, 26 obras serão exibidas no site do Itaú Cultural, permanecendo disponíveis ao público por 24 horas cada uma delas. O festival será realizado em dois blocos – de hoje a domingo (19) e entre os dias 22 e 26 de julho (de quarta a domingo).    

Quem abre a programação l é Lívia Falcão, com sua palhaça xamânica Zanoia. Os vídeos Rezos da Xamãe Zanoia também estão no instagram da atriz. São respiros de sensibilidade e possibilidade de mergulho, mesmo que você esteja por trás de um celular. Com uma produção simples, a índia-palhaça Zanoia faz vídeos-chamada nos deixando saberes ancestrais do seu povo, lições importantes de como sobreviver neste tempo-espaço.

Na quinta-feira (23) da semana que vem, às 20h, Hermínia Mendes apresenta o vídeo Pedaços – poesia performática, uma proposta de refletir a partir de um corpo inquieto nesta situação de caos e pandemia. Há quanto tempo mesmo estamos doentes? No dia 24, outra atração pernambucana é o Teatro de Fronteira, com uma intervenção literária, performática e audiovisual – Cenas teatrais: #Queerantena – Puro Teatro. São duas leituras-performadas, baseadas “nas vidas daqueles que escapam ao padrão, dos considerados estranhos, esquisitos”, diz a sinopse.

Batata Quente, cena da Caravana Tapioca

Para matar a saudade da Caravana Tapioca (de Anderson Machado e Giullia Cooper, que moraram no Recife por sete anos, mas voltaram para São Paulo há um tempo), tem também a cena Batata Quente, que faz parte do espetáculo Chá Comigo, mas foi adaptada para esta versão em vídeo. O público vai acompanhar a palhaça Nina fazendo uma receita deliciosa – certamente vem risada e trapalhada por aí.

Outros destaques – Um dos trabalhos pensados neste momento é Mil e uma noites século trans 21, de Ave Terrena, Aretha Sadick, Leo Moreira Sá e Verónica Valenttino, artistas transvestigêneres. Outra sugestão dentro da programação diversa do festival é o espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, uma ótima oportunidade para ampliar o alcance do espetáculo, que estreou com temporada no Sesc Bom Retiro no ano passado.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL NO SITE DO ITAÚ CULTURAL

Mil e Uma Noites Século Trans 21

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Do lixo à magia com a Caravana Tapioca

Caravana Tapioca estreia novo espetáculo. Foto: Renata Pires

Dupla Anderson Machado e Giulia Cooper estreia novo espetáculo. Foto: Renata Pires

O público recifense já conhece a alegria e inventividade da Caravana Tapioca, trupe formada pela dupla de atores, circenses e músicos, Giulia Cooper e Anderson Machado, paulistanos radicados na capital pernambucana há cinco anos. Nesta sexta-feira o dueto estreia o espetáculo Flor do Lixo, a partir das 19h, na área externa do Parque Dona Lindu (Boa Viagem).

Essa montagem direciona suas preocupações com o destino do lixo e a riqueza que é possível tirar do material reciclado.

Dois artistas e amigos descobrem o Beco da Ilusão e resolvem desenvolver seu trabalho no local. Uma série de contratempos os obriga a usar a imaginação e improvisar com coisas descartáveis para superar os problemas. Garrafas plásticas são usadas como malabares, bolas de papel e sacos de lixo se transformam em objetos animados.

Ilusionismo, malabarismo, música, humor e poesia são substâncias desse espetáculo sem palavras.

A Caravana Tapioca já montou Brincando no Picadeiro, Cavaco e Sua Pulga Adestrada e O Circo de Lampezão e Maria Botina. E também assinou a realização, em 2013, do I Festival de Circo a Céu Aberto, com nova edição programada ainda para este ano.

A montagem Flor do Lixo foi concebida desde 2013 e tem roteiro e direção de Anderson Machado e supervisão cênica de Marcelo Oliveira. “Queremos tratar desses seres invisíveis, garis, pedintes, moradores de rua, etc., e propondo também uma reflexão sobre o consumo desenfreado que nos faz gerar tanto lixo. Outro ponto importante é a necessidade de valorizarmos mais os espaços que temos na nossa cidade, lugares esquecidos que podem, sim, ganhar outra utilidade, outra vida”, explica Giulia Cooper.

flor do lixo com a caravana tapioca foto renata pires
AGENDA DE APRESENTAÇÕES GRATUITAS NO RECIFE E OLINDA
Dia 15/05 – Parque Dona Lindu, 19h
Dia 16/05 – Parque 13 de Maio, 16h30
Dia 17/05 – Praça do Arsenal da Marinha, 16h
Dia 18/05 (segunda-feira) – Ilha de Deus, no Centro Educacional Saber Viver, 17h
Dia 20/05 (quarta-feira) – Escola Governador Barbosa Lima, 9h
Dia 21/05 (quinta-feira) – Escola Vidal de Negreiros, 10h30
Dia 21/05 (quinta-feira) – Comunidade de Santo Amaro, no Largo do Albuquerque, ONG Pé no Chão, 17h30
Dia 22/05 (sexta-feira) – Rua da Alfândega, 21h
Dia 23/05 (sábado)- Praça de Boa Viagem, 17h e 20h
Dia 24/05 (domingo) – Parque da Jaqueira, 10h
Dia 24/05 (domingo) – Alto da Sé/Olinda, 16h30
Classificação indicativa: livre para todas as idades e públicos.

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Sai o resultado do Fomento às Artes Cênicas

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca, contemplada pelo fomento

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca, contemplada pelo fomento

O valor nem de longe é o que se espera para uma cidade como o Recife. Mas é o que a Prefeitura da cidade, através da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife, disponibilizou para o Fomento às Artes Cênicas do Recife 2014/2015: R$ 33 mil para cada projeto, sem levar em consideração os descontos. Ao todo são R$ 297 mil para montagens de novos espetáculos de teatro (3), dança (3) e circo (3).

Se os valores demonstram a precariedade das políticas públicas da Prefeitura com relação às artes cênicas, ao menos o fomento foi retomado. O último ano em que os artistas tiveram oportunidade de concorrer ao fomento foi em 2010. Só um ano depois ele foi pago, em 2011. Desde então, o Fomento às Artes Cênicas foi interrompido.

Os contemplados deste ano são:

DANÇA:
Tandan! Uma dança para ver com os ouvidos (Hudson Wlamir)
Thalassa (Corpo memória)
Lamê (Taciana Ramos)

CIRCO:
O aniversário da Nina (Caravana Tapioca)
Historietas Circenses – Vidas vividas no picadeiro (Grande Circo Arraial / Escola Pernambucana de Circo)
Os anões no reino das arábias (Circo Intinerante dos Anõs / Sated/PE).

TEATRO:
Que bicho você é (Everson Melquiades)
Cabarét Diversiones (Henrique Celibi / Sated)
A invenção da Palavra (Janela Gestão de Projetos ME).

Entraram na concorrência 37 projetos, sendo 15 de teatro, 14 de circo e 08 de dança. A comissão de análise e seleção foi formada por Feliciano da Silva, representando a Associação dos Realizadores de Teatro de Pernambuco (Artepe), Adriana Ayub Penna Leal, representando o Movimento Dança Recife, e José Clementino de Oliveira, representando a Secretaria de Cultura do Recife.

Os projetos contemplados com o Prêmio Fomento às Artes Cênicas têm por compromisso estrear no Recife no segundo semestre de 2015 e fazer oito apresentações na capital pernambucana.

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Um palhaço magrelo, tímido e mandão

Ano passado, por conta da Mostra Aldeia Yapoatan, fizemos uma série de entrevistas sobre palhaços com alguns artistas da cidade. Como a Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude, que começou nesta quinta-feira (20), resolveu homenagear a linguagem do clown e os palhaços atuantes em Pernambuco, resgatamos aqui essas conversas.

A primeira foi com Anderson Machado, o palhaço Cavaco. Além de ser Doutor da Alegria, Anderson também tem a companhia Caravana Tapioca, ao lado da esposa Giulia Cooper, a palhaça Nina. Ontem, Cavaco comandou a Tarde e a Noite dos Palhaços, show de variedades que reuniu números de vários palhaços na abertura da Mostra Marco Camarotti.

O palhaço Cavaco

O palhaço Cavaco

ENTREVISTA // ANDERSON MACHADO, o palhaço CAVACO

Todo mundo pode ser clown? Como descobrir o seu próprio clown?
Creio que sim. Todos podem ser clowns, palhaços, excêntricos, hótxuas (indígena), bobos da corte e outros tantos substantivos criados pela humanidade no decorrer dos anos para dar nome a esse arquétipo do riso. Mas, para alguns, esse processo de descoberta pode ser muito mais doloroso do que para outros. Há de se ter coragem para retirar véus impostos pela mente coletiva, enfrentar regras que nos espremem em padrões de beleza e um sistema que nos cobra estarmos sempre “certos” enquanto, na verdade, “errar é humano”. É por isso e por tantas outras coisas que essa figura do palhaço é tão milenar: para mostrar as fragilidades do mundo. A plateia ri aliviada quando se reconhece. O palhaço, além de brincante, é o perdedor, às vezes pela inocência, às vezes pela imprudência. Ele é a sombra do homem, o excluído da sociedade, a exemplo do grande Carlitos de Chaplin. É um caminho longo de aprendizado, nunca acaba. O palhaço é como o vinho, quanto mais velho melhor. É preciso se conhecer muito bem, assumir seus defeitos mais sombrios a ponto de poder rir de você mesmo, poder voltar a ser criança, alcançar estados de pureza, para aí, então, depois de estar convencido do que está fazendo, poder convencer a plateia que te vê. E, ainda assim, entrar no palco ou picadeiro sabendo que sempre há o risco de que não se emocionem e nem riam com você. E, mesmo depois do fracasso, ter coragem de tentar novamente, fracassar, refletir e tentar, fracassar, fracassar, triunfar, fracassar e triunfar, até que os dias de triunfo começam a ser mais frequentes. A vida muda naturalmente, ou melhor, você muda o jeito de olhar a vida, problemas não são tão problemas, são possibilidades. Não tenho mais vergonha do meu sorriso largo, das pernas finas entre tantos outros benefícios que esse caminho me proporcionou. Não é fácil. É preciso dedicação e saber dar tempo ao tempo. Sorte a nossa é que existem grandes mestres do riso que nos servem de guias quando ministram uma oficina aqui, outra lá, nos motivam a arriscar, daí conhecemos outros de nós e assim vamos entrando no fluxo.

Quais são as características do seu clown e como elas se mostram dentro da dramaturgia dos espetáculos?
São muitas características. Acredito que o clown de cada um traz consigo tudo o que a pessoa é, ou seja, todos nós temos nosso lado sábio e o lado tolo, o lado infantil e o maduro, o triste e o feliz, enfim, depende da situação na qual nos encontramos na vida ou na cena. Com isso, o palhaço também vai reagindo de diversas formas conforme a dramaturgia de um roteiro ou conforme os jogos de improvisos que utilizamos em treinamentos e na criação dos espetáculos. Assim, começamos a testar reações, dilatar sentimentos e vamos guardando tudo que pode ser interessante. Comecei descobrindo um bobo, tímido, sorridente, que se acha lindo dançando, que faz malabarismo com a língua pra fora, sempre bem musical, tocando meu cavaquinho (que me deu o nome de palhaço Cavaco) e outros instrumentos experimentais. Era assim que eu brincava. Anos mais tarde tive que trabalhar com outro palhaço que, de tão mais bobo que eu, impulsionou-me a pesquisar meu ridículo sendo o mandão, o branco, o chefe e acabei descobrindo muitas coisas legais. Hoje em dia tento me colocar em situações diferentes em cada espetáculo. Num trabalho, brinco de ser um bravo domador de circo que é um pouco louco, conversando com uma pulga adestrada. Em outro, um vaqueiro frouxo que finge que ser um cangaceiro para conquistar uma moça. Também brinco de ser um professor de inglês simpático, atrapalhado, noutro um palhaço mais triste, sempre brincando de ser algo diferente, mais ou menos como a criança que brinca de polícia e ladrão, mamãe e filhinha. Mas todos têm a minha verdade, a minha essência. Creio que, quanto mais vivas forem as diversas emoções e reações em cena, mais o clown cativa a plateia.

Como se dá a relação entre atuação e improviso para o clown?
Às vezes atuamos com um roteiro que deve ser seguido à risca para que a história/mensagem seja passada, e em outras o roteiro é mais flexível, permite momentos de improviso que podem até virar cenas únicas em nosso espetáculo. Mas, em todos os casos, creio que o que deva prevalecer é a verdade. Fico incomodado de deixar passar certos comentários da plateia, um cachorro passando no espaço cênico, uma criança invadindo o palco. Se não interajo com o imprevisto, a cena perde força. Sem falar que são nos momentos de improviso que a plateia mais delira com os risos. Um bêbado que entra em cena, um adereço que quebra e a plateia admira a criatividade da solução que o palhaço deu ao problema. Também gosto muito de números com voluntários, pois possibilitam que o improviso aconteça com alguém da plateia que nunca atuou, onde tudo pode acontecer, inclusive nada. E aí o palhaço existe, no risco, na corda bamba, entre o roteiro e o improviso, a verdade e a mentira, o acerto e o erro.

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca

Quando a Caravana Tapioca foi criada? O que ela pesquisa?
A Caravana Tapioca tem cinco anos e foi fundada por mim em parceria com Giulia Cooper. Dois paulistas que vieram pra cá seduzidos pela riqueza cultural pernambucana. Morando por aqui, decidimos juntar nossas experiências na área, a fim de tocar a companhia e pesquisar o circo, o teatro e a música sob a ótica do palhaço, combinando assim as habilidades circenses e musicais com dramaturgias teatrais. Hoje em dia temos três espetáculos e três números que já rodaram por muitos estados brasileiros. Todos as nossas criações podem ser apresentadas tanto em espaços abertos como em salas de teatro. Presamos manter nesses últimos trabalhos essa versatilidade para que pudéssemos viajar com os espetáculos de forma mais fácil e atingir diversos públicos. Já fizemos muitas turnês pelo Recife, Agreste e Sertão pernambucanos, ministrando oficinas e nos apresentando através de leis de incentivo, recursos próprios ou passando o chapéu. Acreditamos que a rua é uma excelente escola para o ator, já que conta com tantas interferências e desconfortos que não são comuns em salas de teatro. Sem falar também que assim asseguramos a democratização da arte, a formação de plateia, os encontros, o riso, entre tantos benefícios, o fato de podermos nos apresentar para pessoas que nunca tiveram oportunidade de ver um palhaço ao vivo e nunca assistiram a um espetáculo.

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