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Pós-feminismo de Fernanda Young no Recife

Maria Ribeiro em Pós-F. Foto: Maringas Maciel / Divulgação

Fernanda Young nunca foi uma unanimidade. Gracias!!!. Foi até apontada como uma feminista controversa. Pós-F: para além do masculino e do feminino – livro publicado pela Editora Leya em 2018, e vencedor do Prêmio Jabuti (póstumo) – apresenta opiniões sinceras de uma mulher que experimentou como quis a palavra liberdade. Em sua primeira obra de não ficção, Young levantou o seu debate do que significa ser homem e ser mulher atualmente, em muitas referências autobiográficas. Um forte sentimento de inadequação serviu como bússola para constantes deslocamentos.

Com um jeito personalíssimo de falar sobre assuntos diversos, ela construiu uma marcante carreira como escritora, apresentadora roteirista e atriz. Os títulos de seus livros são bem reveladores de alguns posicionamentos: Posso Pedir Perdão, Só Não Posso Deixar de Pecar,  A Mão Esquerda de Vênus, A Louca Debaixo do Branco, O Pau, Vergonha dos Pés, Dores do Amor Romântico. Fernanda morreu em 25 de agosto de 2019, aos 49 anos, devido a uma parada respiratória provocada por uma crise de asma. Ela deixou o marido Alexandre Machado e quatro filhos, Cecília Maddona, Estela May, Catarina Lakshimi e John Gopala.

O espetáculo Pós-F, com Maria Ribeiro e direção de Mika Lins, foi adaptado do livro Pós-F, para além do masculino e do feminino. Construído em versão on-line, estreou de forma presencial e segue em turnê nacional. Neste fim de semana faz apresentações no Teatro de Santa Isabel, no Recife, com sessões neste sábado às 20h e domingo às 18h (19 e 20/3).

A diretora Mika Lins buscou na encenação levar ao palco as experiências pessoais da autora. “Buscamos transformar o que é expresso na teoria em ação, na experiência pessoal dela. É quase como se a Fernanda estivesse em cena exposta como pessoa e contasse suas memórias e vivências.”, explica.

Pós-F é uma peça provocativa que expõe com bom-humor as ideias de um pós-feminismo e pós-Fernanda, um relato sincero sobre uma vida livre de estigmas, que rejeita convenção conservadoras e que aposta força do desejo e no respeito ao outro.

Pos-F. Foto: Bob Wolfenson / Divulgação

Ficha técnica – Pós F
 
Texto: Fernanda Young
Com: Maria Ribeiro
Direção e cenografia: Mika Lins
Adaptação: Caetano Vilela, Maria Ribeiro e Mika Lins
Iluminação: Caetano Vilela
Figurino: David Pollack
Trilha Sonora: Estela May, Maria Ribeiro, Mika Lins e Caetano Vilela
Ilustração: Fernanda Young, Estela May e Mika Lins
Cenotecnia e Direção de Palco: Alejandro Huerta
Fotos: Bob Wolfenson
Coordenação de Comunicação: Vanessa Cardoso
Assessoria de imprensa: Factoria Comunicação
Designer: Luciano Angelotti
Assistência, programação e operação de luz: Nicolas Caratori
Coordenação técnica: Helio Schiavon Jr.
Operação de Luz: Marcel Rodrigues
Operação de Som: Hayeska Somerlatte
Captação de imagens e edição: Paula Mercedes
Visagismo: Marcos Padilha
Assistente de Produção: Rafaella Blat
Produção executiva: Camila Scheffer
Produção: Dani Angelotti
Realização: Cubo Produções
Patrocínio: Porto Seguro

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Paulistas do Prêmio Shell

A repercussão do prêmio Shell ficou amortecida com a polêmica gerada nas redes sociais acerca do projeto de blog de Maria Bethânia. A Folha de S.Paulo publicou que a cantora estava autorizada pelo Ministério da Cultura a captar exatos R$ 1.356.858. As redes entraram em polvorosa e cada um que desse o seu pitaco. Muitas bobagens entre algumas críticas interessantes.

Classificado como audivisual, o blog é um projeto da Quitanda e prevê a postagem de 365 vídeos nos quais Bethânia declamará poemas e tambémversará sobre temas ligados à literatura. Com direção de Andrucha Waddington, da Conspiração Filmes, e coordenação do sociólogo Hermano Vianna, idealizador do site colaborativo Overmundo.

Mas vamos falar do Shell. A cerimônia de entrega do 23º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo foi realizada no Espaço Araguari, na capital paulista, na noite de terça-feira.

Maria Alice Vergueiro, atriz homenageada pelo 23o Prêmio Shell de Teatro de São Paulo. Fotos: Marcos Issa/Argosfoto

A atriz Maria Alice Vergueiro, uma das fundadoras do grupo de Teatro Ornitorrinco, foi a homenageada especial desta edição. Merecedíssima homenagem. “Ganhar esse Prêmio é uma honra. Já recebi um Shell anteriormente, mas agora o significado é maior, ainda mais por ter um júri tão forte como esse. Momentos assim nos fazem parar e fazer uma retrospectiva do que fizemos em nossas vidas e avaliar se valeu a pena. E receber esse reconhecimento da categoria confirma a escolha que fiz”, declarou a atriz.

A festa foi apresentada por Beth Goulart – eleita melhor atriz carioca em 2009.

O espetáculo Escuro, concorreu em cinco categorias e levou três prêmios: para o autor Leonardo Moreira, para o figurino de Theodoro Cochrane e para a cenografia de Marisa Bentivegna e Lenardo Moreira. A peça também dirigida por Leonardo Moreira, explora a vivência de deficientes visuais e auditivos.

Bete Dorgam, de Casting, foi eleita a melhor atriz e Luciano Chirolli, por As Três Velhas, melhor ator. Rodolfo García Vásquez, do grupo Satyros, ganhou como diretor pela montagem de Roberto Zucco, última obra do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès.

Os vencedores de cada categoria receberam uma escultura em metal do artista plástico Domenico Calabroni, inspirada no logotipo da Shell, e uma premiação individual de R$ 8 mil.

O júri do 23º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo foi formado por Alexandre Mate (professor e pesquisador teatral), Marici Salomão (autora teatral e jornalista), Mario Bolognesi (professor e pesquisador de teatro), Noemi Marinho (atriz, dramaturga e diretora) e Valmir Santos (jornalista e curador do Festival Recife do Teatro Nacional).

Parecia mais uma entrega de prêmio, com as alegrias dos vitoriosos e os cumprimentos de seus pares.

Mas algo não estava no script.

Na categoria especial concorriam a Cia. Elevador Panorâmico de Teatro pela pesquisa e criação do espetáculo Do jeito que você gosta; a Companhia Club Noir pela pesquisa e criação de Tríptico [Richard Maxwell] – Burger King, Casa e O fim da realidade; o Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes pela pesquisa e criação de A saga do menino diamante – uma ópera periférica; a atriz e viúva de Paulo Autran, Karin Rodrigues pelo encaminhamento e socialização do acervo pessoal de Paulo Autran a instituições culturais; e Luiz Päetow pela concepção e pesquisa do espetáculo Abracadabra.

Venceu o Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes. Recebeu o prêmio e protestou. A atriz Nica Maria jogou óleo queimado, simulando petróleo, no ator Tita Reis, que segurava o prêmio durante o discurso, que ironizava sobre a Shell, patrocinadora do evento.

Atriz Nica Maria jogou óleo queimado, simulando petróleo, no ator Tita Reis

O texto lido ontem: “Para nós do coletivo artístico Dolores é uma honra participar deste evento e ainda ser agraciado com uma premiação. Nosso corpo de artista explode numa proporção maior do que qualquer bomba jogada em crianças iraquianas. Nosso coração artista palpita com mais força do que qualquer golpe de estado patrocinado por empresas petroleiras. Nossa alegria é tão nossa que nenhum cartel será capaz de monopolizar. É muito bom saber que a arte, a poesia e a beleza são patrocinadas por empresas tão bacanas, ecológicas e pacíficas. Obrigado gente, por essa oportunidade de falar com vocês. Até o próximo bombardeio… quer dizer, até a próxima premiação!!!”

A atriz Bel Kowarick com o marido, o o jornalista Marcelo Tass

No site do Terra, o apresentador Marcelo Tas, casado com a atriz Bel Kowarick, indicada ao prêmio por Dueto para Um disse que “Foi uma atitude de visão pequena da parte deles, são extremistas”. E arrematou: “Eles não conseguiram enxergar a coisa maior de tudo isso e se igualaram a quem só quer aparecer na revista Caras.” Para a atriz Beth Goulart, apresentadora do prêmio, a atitude foi desnecessária. “Receberam um carinho e deram um tapa”. Já o autor premiado da noite, Leonardo Moreira, da peça Escuro disse não se incomodar com o protesto contra a Shell. “Cada um faz seu discurso. Acho legal ter esse espaço.”

Hoje, o grupo soltou uma nota sobre o ocorrido no seu site oficial:

Nota pública do Coletivo Dolores sobre ato na 23ª edição do Prêmio Shell

“É evidente para quem acompanha a trajetória do Coletivo Dolores que somos avessos às premiações como instrumento de eleição dos “melhores”. Este mecanismo, além de naturalizar hierarquias e competições, faz com que determinados grupos detenham o poder de decidir o que é ou não é arte.

Atualmente, em nosso país, o fazer cultural é dominado por grandes empresas privadas que, baseadas em critérios falsamente neutros e na força do dinheiro, ditam qual filme devemos ver, qual música devemos escutar, qual peça teatral devemos assistir. O financiamento privado exclui e, até mesmo, inviabiliza o fazer artístico que não se enquadre em seus critérios, sejam eles estéticos ou mercadológicos.

A liberdade de expressão, tão amplamente defendida, é restringida quando meia dúzia de financiadores domina a produção cultural. Muitas vezes, esses financiadores privados se utilizam de dinheiro público por meio de isenções fiscais e ainda se beneficiam do marketing propiciado. Esta engrenagem é viabilizada pela Lei Rouanet, à qual nós e inúmeros outros coletivos artísticos frontalmente nos opomos.

Também não deixa de ser tristemente irônico que uma das premiações mais conceituadas no meio artístico seja patrocinada por uma empresa que participa ativamente da lógica de produção de ditaduras perenes, guerras e golpes de Estado. Assim sendo, publicamente nos irmanamos a todas as lutas de emancipação de povos que possuem a riqueza do petróleo, mas que não podem usufruir deste recurso devido à ingerência de potências militares em seu território e à presença de empresas petrolíferas nacionais e transnacionais que usurpam essa riqueza.

Aproveitamos para declarar publicamente que aceitamos o prêmio. Em nosso entendimento, esta é uma forma de restituição de uma ínfima parte do dinheiro expropriado da classe trabalhadora. Recebemos o que é nosso (enquanto classe, no sentido marxista) e debateremos um fim público para esta verba”.

Cada um com seu troféu do 23º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo

Confira a lista de premiados e comente o que você achou do protesto na entrega do Shell:

Música: Fernanda Maia por Lamartine Babo

Iluminação: Caetano Vilela por Dueto Para Um

Figurino: Theodoro Cochrane por Escuro

Cenografia: Marisa Bentivegna e Lenardo Moreira por Escuro

Categoria Especial: Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica das Artes pela pesquisa e criação de A Saga do Menino Diamante- uma ópera periférica

Direção: Rodolfo Garcia Vázquez por Roberto Zucco

Autor: Leonardo Moreira por Escuro

Ator: Luciano Chirolli por As Três Velhas

Atriz: Bete Dorgam por Casting

Homenagem: Maria Alice Vergueiro, paladina do teatro experimental brasileiro

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