Dani Barros veste duas peles e trabalha com dois conflitos. Os delírios e o peso de realidade da catadora de lixo, que dá título à peça e que teve sua história revelada no filme de Marcos Prado. E o da sua relação com sua mãe, que também apresentava distúrbios mentais. Esses dois eixos se cruzam o tempo todo.
A primeira sessão do espetáculo na cidade, dentro do 15º Festival Recife do Teatro Nacional, que lotou o pequeno teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro), despertou a emoção da plateia. Inclusive provocou o choro de algumas pessoas.
A peça tem apelo para isso. Estamira – beira do mundo, do Rio de Janeiro, transita do trágico ao cômico. E atriz explora com delicadeza os sentimentos da(s) personagem (ns). Da vergonha à dor, da mania de grandeza ao choro regressivo.
A catadora Estamira, segundo diagnóstico dos médicos, apresentava surtos psicóticos. A personagem tem carisma e sua história pontuada por abandono, violência e miséria, tem os ingredientes para comover.
No começo da peça ela cita sinônimos de loucura e interage com a plateia. Procedimento que me pareceu desnecessário. A consciência da protagonista e sua feroz crítica à sociedade de consumo, em algumas falas, provocaram o riso do público. Contradição do atingido…
Estamira transita em meio a centenas de sacos plásticos, dois cisnes, um banco ao fundo, dois ventiladores que ligados provocam um quadro interessante dos sacos voando. A sonoplastia sugere lugares com seus barulhos.
Dani Barros faz uma atuação brilhante. A direção e a dramaturgia são de Beatriz Sayad. Dani também colaborou na dramaturgia.