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Em Júlia, o teatro se faz cinema ao vivo

Espetáculo de Christiane Jatahy tem cenas filmadas ao vivo. Foto: Francielle Caetano/PMPA

Sempre achei Senhorita Julia, escrita em 1888 por August Strindberg (1849-1912), uma peça meio datada e não me entusiasmei por nenhuma montagem recente. A diretora Christiane Jathahy pegou o original e transpôs para 2012, com a senhorita do título transformada numa menina mimada, filha de um milionário, que mora numa mansão e resolve seduzir o motorista do pai por brincadeira. Mas a força da encenação de Jathahy vai além dessa atualização. Há alguns anos a encenadora pesquisa o rompimento e a fricção de fronteiras entre o teatro e as outras artes, a partir do uso de mídias tecnológicas na cena teatral. Em Corte seco, por exemplo, que esteve no Recife, a diretora carioca usou a narrativa cinematográfica e a edição para fazer de cada sessão um espetáculo diferente.

Essa fronteira borrada também está presente no espetáculo Júlia, quando o cinema é levado de forma mais radical para o teatro. E essas duas linguagens se confrontam de modo crítico, misturando etapas de criação e recepção, com a imensidão da tela no palco e o uso dos recursos de filmagem e da convenção da teatralidade. Tudo é ressignificado. Não nos esqueçamos de que vivemos num tempo de redes sociais, reality shows e esquemas de segurança.

As presenças física e virtual criam novas possibilidades de tempos e espaços. Os personagens passeiam por esses dois campos. As estruturas cinematográficas são expostas. Com cenas pré-filmadas e cenas filmadas ao vivo, o evento é construído a cada dia nas vistas do público. E é exigido do espectador que funcione com montador do que está sendo exibido. A encenadora comanda essa orquestração que exige sintonia do todo nos mínimos detalhes.

Por Júlia, a encenadora Christiane Jatahy levou o Prêmio Shell de melhor direção de 2011. Ela assina além da direção, adaptação, o roteiro cinematográfico, em parceria com David Pacheco que é responsável pela direção de fotografia.

Julia Bernat e Rodrigo dos Santos etão no elenco. Foto: Ivana Moura

Os protagonistas Julia e Jelson (Jean no original) são trazidos para o Brasil de hoje. Julia Bernat interpreta sua personagem com entrega, coragem, explorando as sutilezas, e expondo frescor e beleza. Rodrigo dos Santos faz o empregado, entende e aplica a complexidade da figura do empregado, recalcado, ambicioso e submisso. Uma das cenas mais marcantes é quando os dois transam e há um jogo da câmera para selecionar o que deve ser revelado.

Além dos dois atores no palco, também participam do espetáculo as atrizes Tatiana Tiburcio no papel da empregada e a atriz mirim Alice Gastal fazendo a menina.

Em Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, que foi aos palcos em 1943, sob a direção de Ziembinski, renovando o teatro brasileiro, três planos são apresentados (Plano da realidade, Plano da alucinação,  Plano da memória) e entrecruzamento memória / alucinação / realidade.

Em Julia, os atores Julia Bernat e Rodrigo dos Santos representam para o público, são filmados no palco pelo câmera David Pacheco (que funciona também como diretor, com os seus corta e ação) e aparecem também nas imagens gravadas. Os três planos interagem em vários momentos. Jatahy apresenta mais um jeito de fazer teatro contemporâneo.

Por também ser cinema, Júlia envolveu 128 pessoas, com os dois atores e o cameraman que estão na cena, muita gente nos bastidores e outros que participaram das filmagens.

A diretora está negociando com o Festival Recife do Teatro Nacional para participar da programação. Torçamos para que dê certo.

Ficha técnica:

Direção: Christiane Jatahy
Adaptação do texto “Senhorita Julia” de August Strindberg
Elenco: Julia Bernat e Rodrigo dos Santos
Direção de arte e cenário: Marcelo Lipiani
Concepção de cenário: Marcelo Lipiani e Christiane Jatahy
Direção de fografia: David Pacheco
Iluminação: Renato Machado
Direção musical: Rodrigo Marçal
Figurino: Angele Fróes
Orientação corporal: Dani Lima
Programação visual: Radiográficos
Assessoria de imprensa : Palavra
Conteúdo e webmarketing : Janeiro
Projeto de som: Paulo Ricardo Nunes
Mixagem de som: Denílson Campos
Projeto de projeção : Alexandre Bastos – Nova Mídia
Fotos: Gui Maia
Câmera ao vivo : David Pacheco – Paulo Camacho (stand in)
Assistente de direção: Fernanda Bond
Assistente de Figurino: Fernanda Theóphilo
Arranjos e instrumentos : Luciano Correa
Participação especial “ funk da piscina”: Felipe Abib e Cintia Reis
Aderecistas: Luiz e Massaira
Marceneiro: Lucio da Palma
Equipe de cenotécnicos:S.F Serpa Fernandes
Participação especial : Gilda (a nossa amada canarinha)
Operador de vídeo: Léo França
Operador de som: Ribamar Mathias de Oliveira
Operadora de Luz: Elisa Tandeta
Diretor de Palco: Marcelo Gomes
Diretor Técnico: Branco Katona
Produção executiva: Lara Schueler e Cristiano Gonçalves
Estagiária de produção: Jéssica Santiago
Apoio de Produção: Marcio Gomes
Direção de Produção Filme/Peça – Cláudia Marques
Um projeto da Cia. Vértice

Ficha técnica Filme
Direção de fotografia: David Pacheco
Atriz: Tatiana Tiburcio
Atriz mirim: Alice Gastal
Ator mirim: Lucas Banhos
Pai do ator mirim: Gerson de Sousa
Produção: Manuela Duque
Edição: Sergio Mekler e Christiane Jatahy
Assistente de Direção: Lara Carmo
Assistente de Câmera: Bacco Andrade
Assistente de Edição : Mari Becker
Logger: Érica Rocha
Fotógrafo Still: Gui Maia
Assistente de produção: Miriam Balen
Produtor de Locação: Rodrigo Magalhães
Produção de Arte : Marina Lage
Técnico Som Direto : Paulo Ricardo Nunes
Técnico Som Direto: Vanilton Vampiro
Mixagem: Denílson Campos
Microfonista: Fabio
Eletricista: Marcelinho Pecis
Maquinista: Edison Mugica
Assistente de Maquinária: Rodrigo Tavares
Assistente de Elétrica: Cesinha
Assistente de Maquinária: Beto
Assistente de Maquinária: Rodrigo
Geradorista: Walk
Assistente de Figurino: Fernanda
Storyboard: Raphael Jesus
Locação: Anna Santos e João Santos
Equipamento de Elétrica e Maquinária: Maico Luz e Quanta
Equipamento de Elétrica: Air Star
Caixa Estanque: Fernando Young
Monitores: Breno Cunha
Dolly: Edison Mugica
Equipamento de Mergulho: X Divers – Rodrigo Figueiredo
Efeito de sangue: Maurício Bevilacqua
Gerador: Rondinelli Pinto
Rádios: Kleber Souza
Seguranças: Body Guard – Anderson
Catering: Set food – Nicolau Barbosa
Caminhão de Eletrica e Maquinária: Finizola – Claudia
Van de Camera e Som: Duda Lima
Van de Equipe: Jair Junior
Colorista: Fabrício Batista
Advogados: Renato Guimarães
Elenco de Apoio: Gerônimo de Sousa, Davi Santos, Jupiara Gomes, Sidnei de Oliveira, Talisson Anacleto, Michele Anacleto, Diego da Silva, Lucio Lopes, Nilda Anacleto, Lenilson de Sousa, Margarida Marques, Jucelina Gonçalves, Jairo Fernandes, Edilson Martins e Geraldo do Nascimento
Realização: Sesc
Co-Produção: Fábrica de Eventos e AXIS Produções

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Espetáculo Párias vale pela metade

Arion Medeiros no monólogo Sobre os males do fumo

O espetáculo Párias – Somos vários dessa espécie faz a última sessão desta temporada nesta sexta-feira, no Espaço Muda (Rua do Lima, 280, Santo Amaro).

A montagem é composta por dois textos curtos: Sobre os Males do Fumo de Anton Tchekov (1860-1904) e O Pária de August Strindberg (1849-1912).

O ator Arion Medeiros interpreta Sobre os Males do Fumo, monólogo repleto de tensões internas do protagonista, em que um homem é dominado pela mulher, sufocado pela sociedade. Trata-se de um intelectual decadente que vai dar uma palestra sobre o assunto do título, mas enquanto ela não chega, ele critica os valores que norteiam uma gente consumista e com visão estreita.

Espetáculo se despede hoje do Muda

Há muitos anos atrás, Medeiros foi dirigido com esse mesmo texto pelo saudoso Rubem Rocha Filho. A direção atual é assinada por Jorge Féo. Mas a mão de Rocha Filho está presente na montagem, ele que era um exigente diretor de ator.

Arion Medeiros consegue extrair do personagem as nuances, seja nas entonações, nos gestos desengonçados, nas intenções. Sua figura ajuda na composição desse personagem que parece o retrato do declínio humano perante a força capitalista do mundo. Sua atuação é comovente. Há brilho nos olhos e todo um gestual contido que humaniza a figura que desperta até compaixão.

Jorge Féo e Thiago França interpretam Strindberg.

O Pária tem direção assinada por Arion Medeiros e no elenco estão Jorge Féo e Thiago França. É uma das poucas peças curtas de Strindberg.

Dois homens se encontram no mesmo espaço e durante uma tempestade discutem sobre ética, moral, ganância, impunidade, justiça, dissimulação, mentira, chantagem. Até onde o ser humano é capaz de ir para salvar sua pele? Até onde ele pode descer para se dar bem? Por quanto ele é capaz de vender, roubar ou tirar a vida de outro ser humano? Essas questões são colocadas em debate com fina ironia e uma sofisticada teia que se enrola e desenrola no texto.

Eu disse, no texto de Strindberg. O problema dessa segunda parte do espetáculo é que a rica elaboração do autor … não se traduz no corpo, nos gestos, na voz, na intenção, no peso, na comunicação com a plateia.

É verdade que existe um desnível entra a atuação dos dois. Thiago França tem mais domínio da situação que escapa a Jorge Féo. Ele não convence em absolutamente nada. O andar é forçado, os gestos são inadequados, a voz não dá credibilidade. E, além disso, o texto de Strindberg exige um jogo de cumplicidade entre os atores fortíssimo, o que não acontece.

Então, no quesito atuação Párias – Somos vários dessa espécie vale só pela metade, pela primeira parte do espetáculo. A segunda é deprimente. Foi assim pelo menos para mim.

A trilha sonora original de Zé Manoel merece ser aplaudida. Ela cria os climas interessantes para o espetáculo. Ele compôs um valsinha para Sobre os Males do Fumo e fez uma pesquisa musical para a trilha que tem músicas dele próprio, de Carlos Gomes (Brasil), Astor Piazolla (Argentina) e Eduardo Mateo (Uruguai).

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Mademoiselle Julie em Avignon

Senhorita Júlia em Avignon

A atriz Juliette Binoche conquista o público e não a crítica em Avignon, diz o portal da RFI (Rádio Francesa de Informação Internacional). Seu espetáculo Senhorita Júlia, de August Strindberg, entusiasmou a plateia, mas não convenceu, no entanto, os críticos.

A famosa intérprete, Oscar de melhor coadjuvante em 1997 por seu papel no filme O Paciente Inglês, não pisava num palco de teatro francês desde 1988. E esse retorno foi cercado de muita expectativa. Juliette Binoche, aos 47 anos, chegou a comentar que estava com muito receio antes da estreia.

A adaptação contemporânea da peça do sueco Strindberg, escrita em 1888, feita pelo diretor francês Frédéric Fisbach, não conseguiu, segundo alguns críticos teatrais, “transmitir a densidade do texto, que trata não somente da paixão de uma aristocrata por seu empregado, mas principalmente da luta de classes e da relação de forças entre um homem e uma mulher”.

Fisbach colocou o conflito num apartamento moderno, “onde os convidados dançam freneticamente e os amantes discutem numa cozinha branca”, no lugar da família aristocrática da Escandinávia.

Juliette Binoche e o Nicolas Bouchaud. Foto: Divulgação

Para uns, Binoche conseguiu encarnar uma Júlia moderna, personagem trágica e complexa, contracenando com o ator francês Nicolas Bouchaud. Para outros, a caixa branca de vidro de Fisbach afastou o espectador da problemática principal da peça, a instabilidade das relações amorosas.

A crítica do Le Monde foi dura com relação à peça, apesar de destacar o trabalho de Binoche. O jornal diz que a atriz caiu numa armadilha nesse seu retorno ao teatro francês, depois da apresentação de A Gaivota, de d’Anton Tchekhov, exibida em 1988.

“O espetáculo é uma catástrofe”, prossegue o Le Monde. E a primeira razão apontada é própria escolha do texto. “Mademoiselle Julie é, na verdade, uma armadilha. Escrita em 1888 pelo sueco August Strindberg (1849-1912), ela fez escândalo na sua criação, em 1906, porque quebrou um tabu”.

Quando Strindberg escreveu o texto, diz a crítico do Le Monde, Miss Julie representava a última palavra da modernidade.

Mas “Mademoiselle Julie atravessou o século 20 com um gosto de enxofre que fascinou os diretores e ainda mais atrizes, sonhando com o papel de uma mulher em uma busca desesperada por liberdade. É porque o papel mais promete que faz… Hoje, a peça aparece em toda a sua nudez: instável, lotada de um pântano psicológico que relega Strindberg muito atrás de seu grande contemporâneo norueguês Henrik Ibsen”.

“… Assim vai o tempo em teatro, que pede, se quer enfrentar Miss Julie em 2011, para concentrar-se sobre ela um olhar firme ou iconoclasta. Não é o caso de Frédéric Fisbach”.

“… Juliette Binoche atua bem. Mas ela não pode lutar contra a encenação de Frédéric Fisbach. Nem contra essa impossível Julie, cuja a armadilha se fecha sobre ela. Apesar dela”.

Senhorita Júlia fica em cartaz no Festival de Avignon até 26 de julho. Depois, a peça deverá ser apresentada no Teatro Odéon em Paris e deverá fazer uma turnê em Londres e no Japão em 2012.

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