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CENA EXPANDIDA em Pernambuco
Iluminando os festivais de artes cênicas

Dançando Villa, da Curitiba Cia de Dança participou do Cena Cumplicidades. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Stabat Mater, um dos destaques da programação do FETEAG. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Leitura dramatizada do texto Planeta Tudo, (planeet Alles), no RESIDE FIT-PE. Em cena Iara Campos, Romualdo Freitas, Edjalma Freitas e Naruna Freitas e o viodeomaker Gabriel de Godoy, Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Cordel Estradeiro, Uma Viagem Impressionante ao Sertão, da Escola Municipal Maria De Lourdes Dubeux Dourado do Recife, em apresentação no FETED. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

ITAÊOTÁ, do Grupo Totem na programação do Transborda. Foto: Divulgação

Cinco festivais de artes cênicas de Pernambuco participaram de uma experiência inédita e promissora no estado chamada CENA EXPANDIDA. O Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena, de Arnaldo Siqueira; o FETEAG – Festival de Teatro do Agreste, de Fábio Pascoal; o FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança, de Pedro Portugal; o Transborda – As Linguagens da Cena, com curadoria de Ariele Mendes e equipe do Sesc-PE, e o RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco, de Paula de Renor, se juntaram numa ação conjunta no mês de setembro no intuito de produzir um bom impacto cultural nas cidades envolvidas (Recife e Caruaru)  e seus entornos, testar a força da união de seus realizadores e articular novas possibilidades de futuros a partir das atividades formativas e espetaculares propostas.  

A atriz, curadora e produtora Paula de Renor salienta que a CENA EXPANDIDA deste ano foi uma experiência, um teste, uma espécie de projeto-piloto, já provado em pequenas doses em 2018 e 2019. “Em 2022 fomos bem além! Unimos cinco festivais, ordenamos as programações, distribuindo-as nos teatros (o que acho foi o mais complicado, pelos poucos teatros que dispomos) e tentamos que programações dirigidas a um mesmo público não se chocassem em seus horários”. 

A CENA EXPANDIDA viabilizou uma aproximação e um diálogo mais ampliado entre os produtores dos festivais envolvidos, ressalta Ariele Mendes, do Transborda. O produtor, curador e professor Arnaldo Siqueira considera que foi um passo bem importante, “oxalá tenha continuidade e ampliação do apoio dos poderes públicos”. Fábio Pascoal, produtor e curador do FETEAG,  lembra que projetos como esse são importantes para o fortalecimento da rede produtiva e para ampliar público e o acesso.

“Essa prática tem sido uma constante com o FETEAG”, situa Pascoal, pois assegura que seu festival busca a cada edição construir novas parcerias e fortalecer as existentes. “Em 2013 fizemos uma edição partilhada com o TREMA!, em 2014 com a Mostra Capiba/SESC Casa Amarela e em 2017 com o TEMPO Festival/RJ, FIAC/BA e com a Bienal de Dança do Ceará. Acreditamos em parcerias”.

Ariele reforça o papel desse entrecruzamento. “Nesta rede que se estabeleceu, conseguimos vivenciar uma integração de maneira muito mais efetiva, o que possibilitou, por exemplo, a busca por soluções para imprevistos (eles sempre acontecem) que, normalmente, acarretariam um desgaste muito grande para a equipe de cada festival específico, mas que neste movimento, foi possível compartilhar e buscar apoio junto às lideranças de cada projeto, facilitando os processos”.

Já o Arnaldo Siqueira entende que a relação profissional e solidária dos/entre produtores foi incrível na CENA EXPANDIDA. “Apenas a título de exemplo, o próprio Cena Cumplicidades abriu mão de pautas/dias e horários para oportunizar que colegas de outros festivais pudessem pautar certos trabalhos”. Mas salienta que “de outra parte, o Cena Cumplicidades foi beneficiado com a força comunitária da articulação junto aos teatros e à FCCR (Fundação de Cultura Cidade do Recife).

Outro exemplo de cooperação citado por Siqueira foi a disponibilidade de Pedro Portugal, produtor do FETED e fotógrafo, que substituiu de pronto uma fotógrafa do Cumplicidades, que adoeceu de repente. “Tal comportamento demonstra o nível de entrosamento e colaboração, algo que põe por terra o mito do caranguejo na lata que puxa para baixo o que está subindo”, situa Arnaldo.

Pedro Portugal, mencionado por Siqueira, considera que a CENA EXPANDIDA trouxe benefício para o seu festival estudantil. “Por ser um festival mais ligado às escolas, uma coisa amadora, não é menor (*faz questão de frisar!), mas posso até dizer mais caseira, possibilitou mais visibilidade. Então nós ganhamos uma dimensão maior. Quanto mais estivermos juntos melhor”.

Paula de Renor. Foto Pedro Portugal

Paula de Renor, do RESIDE FIT-PE – Festival Internacional de Teatro de Pernambuco. Foto Pedro Portugal

Arnaldo Siqueira. Foto: Christina Rufatto

Arnaldo Siqueira, do Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena Foto: Christina Rufatto

Fábio Pascoal, do FETEAG – Festival de Teatro do Agreste. Foto: Reprodução do Facebook

Pedro Portugal, do FETED  – Festival Estudantil de Teatro e Dança. Foto: Divulgação

Breno Fittipaldi, curador e produtor do Transborda Casa Amarela; Luiza Cordeiro, diretora-presidente do Centro Social Dom João Costa e Ariele Mendes, curadora e analista de artes cênicas do Sesc Pernambuco. Foto: Divulgação

Essa edição da CENA EXPANDIDA é só uma parte do que foi idealizado, conta Paula de Renor. “Essa ação de colaboração é mais ampliada, com a participação de mais festivais e uma divulgação potente e eficaz, com grupos de mediação em comunidades, nos teatros, mapeando públicos diversos e oferecendo um cardápio grande de atrações durante um mês em teatros e na rua”, arquiteta.

Mas como todos nós sabemos, as verbas são fundamentais para o bom andamento dos projetos. “Infelizmente sem dinheiro é muito difícil fazer qualquer festival, por menor que seja”, frisa Pedro Portugal. “Também tivemos muito pouco tempo para fazer uma coisa maior, uma cena expandida maior, com mais abrangência e divulgação”, diz ele. 

Paula de Renor fornece outros dados: “Trabalhamos dividindo recursos para pagamento de despesas de divulgação e algumas vezes potencializando ações com o compartilhamento de atrações, sem tirar a autonomia de cada festival”.

Ao ser perguntado o que pode ser melhorado na CENA EXPANDIDA, Arnaldo Siqueira foi bem suscinto: “Proatividade na relação com os entes públicos. E seletividade”. Paula de Renor reconhece que precisava de mais divulgação. A falta de patrocínio dificultou o que foi idealizado. “Conseguimos apoio da Prefeitura do Recife via Secult e FCCR, o que foi decisivo para darmos o ponta pé inicial e apresentar ao público nosso intensão, mas não chega perto dos valores de patrocínio que precisamos para que tenhamos investimento em uma coordenação de produção geral do projeto e divulgação em mídias espontâneas e pagas”, posiciona.

Fábio Pascoal diz que é necessário fazer uma “avaliação precisa do papel de cada festival dentro da rede, respeitando suas individualidades e programações”. Outro ponto que ele visualiza para as próximas edições é o compromisso das instituições parceiras, “que acreditam no potencial da iniciativa e possam apoiar financeiramente a proposta, tendo em vista que é uma iniciativa de produtores independentes, que deve ser reconhecida como tal”. Paula de Renor acrescenta: “Não buscamos captar verbas para cada festival que participe da CENA, esse não é nosso objetivo. Para isso cada festival luta individualmente na procura de recursos para sua realização. E justamente pela falta de verbas de patrocínio vários festivais deixaram de acontecer este ano”.

A experiência suscita diversas reflexões e inquietações que miram o futuro, na opinião de Ariele Mendes. “Entendo a CENA EXPANDIDA como um movimento, e desta forma, não a vejo iniciando ou se encerrando no mês de setembro. Ela precisa permanecer por todo ano, de maneira contínua e articulada, em diálogo com a classe, com as instituições, coletivizando junto a outros produtores, se colocando em atuação nas diversas esferas… A realização dos festivais é o momento de festa, da celebração… Mas para que eles possam acontecer, é necessário uma série de processos e conquistas, que só é possível quando se ocupa certos espaços nos debates contínuos da cultura, construindo pontes estruturadas, no dia a dia…” Ariele entende que “todos os produtores envolvidos já são muito atuantes nestes diálogos. Juntos, conseguiremos ainda mais força”.

“O que propomos”, evidencia Paula de Renor, “é que a CENA EXPANDIDA seja entendida como uma ação que, potencializada, pode entrar no calendário da cidade, movimentando o turismo cultural, atraindo público das cidades vizinhas”. Ela cita como exemplo a cidade de Edimburgo na Escócia. “Durante um mês, Edimburgo envolve uma quantidade enorme de festivais que acontecem simultaneamente e sua população de 500 mil habitantes chega a 1 milhão nesse período. A cidade vive deste turismo cultural. Essa é uma construção de muitos anos, mas se a gente não acreditar e não começar agora, nunca saberemos se em Recife poderá dar certo.
Estamos provocando e motivando Prefeitura e Governo do Estado para que percebam o que estamos oferecendo à cidade!”, alerta.

Se liga Recife!!!  Parodiando Carlos Pena Filho, é do sonho de mulheres como Paula de Renor que uma cidade se inventa.

Poeta Preto, da Trupe Veja Bem Meu Bem no FETEAG. Foto: Pedro Portugal Divulgação

Um Mero Deleite, da Nalini Cia de Dança (Go) , integrou a programação do Cumplicidades. Foto: Ivana Moura

Arnaldo Siqueira – Entrevista

Arnaldo Siqueira. Reprodução de tela do Youtube

Encaminhei perguntas para os representes dos cinco festivais no início da programação. Ariele Mendes respondeu pelo Transborda; Fábio Pascoal pelo seu FETEAG, Pedro Portugal pelo seu FETED, Paula de Renor deu um truque e Arnaldo Siqueira respondeu, agora já como balanço. 

Os números do Cena Cumplicidades chegaram a 23 trabalhos artísticos, em 40 apresentações de 3 Países (Portugal/Moçambique/Brasil), 6 estados da federação (PE/ RN /PB/ GO/ PR/ RJ), sendo de Pernambuco obras de Recife e Jaboatão dos Guararapes. Além disso o Cumplicidades teve como atividades complementares 5 workshops, uma residência artística de videodança (on line e presencial) e uma mostra de videodança. “Certamente não teria sido assim sem a articulação da CENA EXPANDIDA”, destaca.

Arnaldo, o Cumplicidades já levou espetáculos incríveis para os palcos de Pernambuco,
montagens internacionais ousadas, que contribuíram para a ampliação do olhar sobre a cena contemporânea. Pergunta: o que te motiva, o que te move a tocar o Cumplicidades? O que você busca com isso?
O que me motiva é fomentar as artes da cena, sobretudo a dança que, sendo uma arte da juventude, como tal, necessita de doses regulares de informações artísticas. Num mundo de acessos fáceis e reprodutibilidade, onde a cópia deu lugar à reprodução do original, sendo ela
mesma um (outro) original. Acredito que as artes do corpo, e a dança em especial, é a joia rara que só se capta na presencialidade (por isso joia, e também rara). Não há meio termo possível (a tela não dá conta disso), é preciso que súbito se tenha a impressão de ver e sentir algo que só naquele momento de presencialidade foi possível. E que um rosto adquira de vez em quando uma expressão só encontrável no orgasmo. É preciso que tudo isso que está na cena seja sem ser, mas que desabroche no olhar do espectador. E se plasme no encontro com o inesperado.

Qual a posição do seu festival no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo?
O festival enfoca as artes da cena com atenção à singularidade da dança, do corpo e da performance. Desde 2008 o festival cultiva a experimentação de linguagem, a formação de plateias no Recife (que já foi um dos centros das artes cênicas), mas também se dedica ao
fomento de novos talentos na cidade, e à cooperação dos artistas locais e regionais com estrangeiros, dando ênfase ao intercâmbio com a produção ibero-americana. Enfim, busca a atualização estética tanto do público quanto dos artistas de cena, principalmente os da dança.

Como você interpreta as políticas públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente?
Indiferente e sem compreensão NENHUMA do papel dos festivais.

Fale brevemente do cardápio dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a produção?
A edição de 2022 enfocou à produção artística considerada de superação e enfrentamento tanto dos impactos da pandemia do Covid 19, como das agruras do atual cenário de descaso e precariedade do país no âmbito da cultura. O Festival deu visibilidade a uma produção local que investiu em criação artística presencial, oportunizou a contratação de coreógrafos, técnicos e bailarinos locais, e, assim, contribuiu com a cadeia produtiva da dança do Recife. No âmbito internacional (e seguindo o mesmo raciocínio de consideração de investimento na produção local) o Festival programou os trabalhos desenvolvidos na Região NE (PB e PE) por artistas estrangeiros com artistas brasileiros (Oráculo do Corpo e Orivayá – o vento pediu para a folha dançar), ou trabalhos desenvolvidos fora do país por artistas nordestinos (Pin Dor Ama primeira lição e Santa Barba, ambos de Portugal, são alguns exemplos).
A formação da equipe atendeu aos mesmos requisitos de quem, a despeito das necessidades, manteve-se na produção cultural, resistindo. Diferentemente de anos melhores, nas últimas edições venho, eu mesmo, fazendo a produção executiva. “Bato o escanteio e corro para
cabecear para o gol”.

A praxe dos festivais em Pernambuco é tocar essas iniciativas “na raça”. Isso é motivo de orgulho ou preocupação? E como você vem realizando nos últimos anos?
É motivo de preocupação sobretudo para os festivais consolidados como o Cena
Cumplicidades. Nos últimos anos estamos realizando “na raça” como vc disse.

Neste ano, com previsão para os seguintes, o seu festival integra o CENA EXPANDIDA com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?
Uma pluralidade incrível de opções e a oportunidade de perceber a força das artes da cena da cidade.

Qual a pergunta que não quer calar?
Quando o poder público vai atentar para o valor de festivais consagrados? Tem resposta? Está no tempo…

 

Deslenhar, do Teatro Miçanga, se apresentou no Transborda

José Neto Barbosa, na leitura Os Titãs, de Paola Trazuk, com direção de Monina Bonelli, na programação do RESIDE FIT-PE. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

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Transborda integra o Cena Expandida

Transborda encerra com apresentação do Barbarize e Mun-há. Foto: Divulgação

Fabiana Pirro apresentou Cara de Pau. Foto: Divulgação

Coletiva fez performances no centro do Recife e Morro da Conceição. Foto: Divulgação

O Transborda surgiu da urgência de trazer uma ação integrada entre as unidades do Sesc Pernambuco, promovendo um diálogo efetivo sobre questões que vazam a cena, sinaliza Ariele Mendes, técnica de Artes Cênicas do Sesc-PE e uma das curadoras do programa. O projeto está estruturado em três eixos: acessibilidade, mediação e sustentabilidade. Só na cidade do Recife são desenvolvidas duas edições do Transborda, e cada uma delas, com recortes bem diferenciados e característicos.

Neste ano, o Transborda integrou três Unidades do Sesc: Piedade, Casa Amarela e Santo Amaro. Em Jaboatão (Sesc Piedade), a ação ocorreu de 28 de agosto a 03 de setembro, e promoveu um forte diálogo com a Colônia de pescadoras de Barra de Jangada e com espaços culturais independentes, lançando um olhar sobre as águas e os elementos naturais da cidade. Tudo isto pelo viés da dança, performance e música.

As ações que integram o Cena Expandida foram tocadas pelo Transborda de Casa Amarela e Santo Amaro. Em Casa Amarela, o recorte temático escolhidos foi Altos e Baixos. Entre 5 e 11 de setembro foram realizadas intervenções, performances e espetáculos nas praças, ruas e centros culturais. Entre as atrações da programação participaram as Violetas da Aurora, que ocuparam a Praça do Sebo, a Coletiva, com performances na Rua Nova, Praça do Diário e Morro da Conceição e A Escola Pernambucana de Circo, que se apresentou no Centro Social Dom João da Costa. No dia 10 o projeto chegou ao Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo, com apresentações de Fabiana Pirro (com o espetáculo Cara de Pau), a Ciranda Sant’anna e o Bloco Afro Daruê Malungo. E também no Daruê, o Coletivo D(Elas) em Cena realiza a performance O que você deseja?

Cavalo, da Qualquer um dos dois, de Petrolina. Foto: Divulgação

Já em Santo Amaro as ações se instalaram a partir das premissas: ancestralidade, corpo e território. Na programação, já foram exibidos Cavalo, da Qualquer um dos dois, de Petrolina, e Ser Rizoma, de Lane Luna Luz. A Praça do Campo Santo recebeu uma programação intensa, com apresentações de Lippe Dj, do Afoxé Afefé Lagbará, Bione e o espetáculo Deslenhar do Coletivo Miçanga.

Também passaram pela programação Na Bagagem Poesia e O Dia em que a Morte Sambou.

Grupo Totem mostrou seu trabalho mais recente, ITAÊOTÁ. Foto Divulgação

O Grupo Totem exibiu ITAÊOTÁ, com encenação de Fred Nascimento, trabalho conduzido pelo conceito de descolonização, tendo como referência os modos de resistir e existir de povos indígenas e africanos, para a construção de um futuro ancestral. Em ITAÊOTÁ, a ideia é mostrar uma maior comunhão, chamando as pessoas para a autoresponsabilidade em relação ao momento difícil que vivemos, propor esta mudança prática entre todas as nossas relações.

O Transborda finaliza neste sábado, em festa, com o Baile Barbarize e performance de Mun-há.

Vale ressaltar que esta programação é fruto celebrativo de relações que são construídas pelas equipes do Sesc e suas lideranças (em Piedade de Isis Agra, em Casa Amarela, Breno Fittipaldi e em Santo Amaro, Ailma Andrade) com espaços e coletivos no decorrer do ano.

 Neste ano o Transborda integra o projeto Hub PE Criativo, uma realização do Sesc e Sebrae em Pernambuco. Este projeto conduz ações disparadoras de processos junto a sete territórios de atuação (Recife, Goiana, Jaboatão dos Guararapes, Arcoverde, Petrolina, Triunfo e Garanhuns), e visa estimular ações que desencadeiem formação e fomento para a cadeia produtiva da cultura. 

Entrevista: Ariele Mendes – técnica de Artes Cênicas do Sesc-PE

Ariele Mendes é técnica de Artes cênica do Sesc. Foto: Divulgação

– Quais as características específicas do Transborda? Pergunto isso porque o Sesc-PE tem vários festivais. E no Recife e em Pernambuco também existe uma fartura nesse quesito. 

O Transborda surgiu da urgência de trazer uma ação integrada entre as unidades do Sesc Pernambuco, promovendo um diálogo efetivo sobre questões que transbordam a cena. Para além de abordagens estéticas, mas também sobre elas. O encontro entre os supervisores de cada território friccionava os temas urgentes para discussão, tomando como base as territorialidades de cada unidade envolvida. Este é um projeto feito a várias mãos, que conta em sua natureza, desde o princípio, com discussões coletivas, mas sempre priorizando respeitar a identidade de cada território. 

Não tardou para se chegar nas perguntas latentes que atravessam o fazer artístico: Qual a dimensão da cadeia produtiva da cultura? Quais os possíveis caminhos para a sustentabilidade do artista? Como fortalecer as redes, pontos de cultura e as articulações comunitárias a partir da ação deste projeto? Como buscar formas mais assertivas de chegar ao nosso público? 

Hoje o projeto se estrutura em três eixos basilares de abordagem: acessibilidade, mediação e sustentabilidade. 

Para efetivar estes pilares, foram desenvolvidas, junto às Unidades, um profundo estudo sobre os territórios, investigando fatores como os pontos de cultura e coletivos artísticos existentes nas cidades. Também foi feita uma pesquisa com os agentes culturais para mapear seus contextos e as percepções que tinham sobre seu próprio fazer, além de efetivar uma profunda busca sobre a territorialidade de cada lugar em que o projeto era desenvolvido. 

Assim, o diferencial do Transborda, as linguagens da cena é exatamente o seu escopo estrutural: a busca para o fortalecimento do trabalho de redes internas e externas ao Sesc, as perguntas motoras que o estimulam e a organicidade com que este processo é desenvolvido. Trata-se de uma ação que traz o artista para a cena, mas também o convida a pensar junto sobre a sua trajetória pelo viés dos meios de produção que o levaram àquele lugar. 

– Quais as motivações do Sesc em realizar esse Festival? 

Entendemos que o Transborda, mais do que um Festival, se trata de um movimento, uma pesquisa contínua. Os recortes curatoriais são flutuantes, se renovam a cada instante. 

Na pandemia foi necessário se reinventar, buscar estratégias, continuar o diálogo com os fazedores da cultura, para resistir e seguir existindo.

Hoje, mais do que nunca, sintonizar no radar os possíveis caminhos que tragam respostas para as perguntas propulsoras do projeto seguem urgentes. E em cada território, novas inquietações e disparadores surgirão a cada ano. E assim será a cada edição. Trata-se de um movimento contínuo e constante, que precisa de estruturação. 

Longe de mim achar que temos respostas prontas, e que bastamos para solucionar uma questão tão intrigante que é a incessante busca pela sustentabilidade da cadeia produtiva da Cultura. Somos uma pequena parte de algo muito grande e diversificado – isto fica claro, por exemplo, quando percebemos que só na cidade de Recife desenvolvemos duas edições do Transborda, e cada uma delas, com recortes bem diferenciados e característicos –

mas nosso papel é de propor ações, instigar reflexões, mediar processos e garantir o acesso e a diversidade em nossas programações. As mudanças só serão consolidadas a partir da inteiração e atravessamento de cada agente deste ecossistema, se percebendo parte de um todo e expandindo sua atuação de maneira consciente na mobilização e articulação de cada iniciativa, para buscar possibilidades junto ao poder público, às instituições e à sociedade civil.

 – Qual a posição do Transborda no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo? 

Neste ano o Transborda integra o projeto Hub PE Criativo, uma realização do Sesc e Sebrae em Pernambuco. Este projeto conduz ações disparadoras de processos junto a sete territórios de atuação (Recife, Goiana, Jaboatão dos Guararapes, Arcoverde, Petrolina, Triunfo e Garanhuns), e visa estimular ações que desencadeiem formação e fomento para a cadeia produtiva da cultura. Esta iniciativa busca estratégias para a sustentabilidade dos agentes culturais durante todo o ano, e surge com muita força junto ao Transborda, por instigar processos de reflexões e inquietações que já se faziam presentes, mas agora ganham uma perspectiva concreta. 

As ações desenvolvidas em setembro dizem respeito ao período do Festival Transborda, onde realizamos apresentações e oficinas, mas as atividades do Hub PE Criativo seguem até 2023, com feiras, roteiros de turismo criativo, formações artísticas e de empreendedorismo, palestras, desfile e exposições artísticas. O público-alvo passa a ser, além da comunidade, os agentes do setor cultural e da rede de serviços ligado a ele (hotelaria, transporte, turismo, alimentação, etc.), visando o mapeamento e a qualificação profissional numa perspectiva ampliada, considerando a cena, o festival e os desdobramentos de impacto da ação que transbordam a cena. 

A sustentabilidade é um fator que sempre foi uma questão para o setor cultural. É de extrema importância nos questionarmos sobre caminhos possíveis e lançarmos a provocação para artistas e a sociedade civil sobre a importância da cultura na estruturação do país, tanto do ponto de vista simbólico e educativo, quanto sobre o fator econômico, pois o movimento que geramos vai além de impactos diretos, reverberando e fortalecendo outros setores da economia também.  

 – Quais as estratégias do Sesc para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente? 

O Sesc Pernambuco é uma Instituição referência na formação, fruição fomento e difusão das artes cênicas. Projetos como as Escolas Sesc de Teatro e Dança garantem uma ação sistemática de sensibilização e experimentação artística, impulsionando o surgimento de novos artistas/coletivos em todo o estado. Já os projetos especiais, como as Aldeias, o Transborda, as mostras de artes, movimentam a cadeia produtiva, promovem encontros, intercâmbios e parcerias. Particularmente, em minha trajetória, fui uma das pessoas impactadas diretamente pela ação do Sesc a partir dos anos 2001, quando iniciei meus estudos em teatro na Unidade do Sesc de Piedade. Lá pude experienciar processos nos cursos livres, no Curso de Interpretação para Teatro (CIT), no Núcleo de pesquisa e no Grupo artístico. Também Piedade foi meu campo de estágio, e onde me formei gestora, participando ativamente das produções e curadorias de projetos como Aldeia Yapoatan, Congresso Internacional Sesc de Arte/Educação, Mostra Na Onda da Dança, Projetos Aplausos, Mostra de Formas Animadas, entres muitas outras iniciativas. Por isto, compreendo que é preciso olhar sempre com muito carinho e respeito a história do que já foi construído, fortalecendo toda a tecitura que estrutura estas ações e trabalhar a partir delas, com proposições que visem atender as necessidades de hoje. 

Atualmente, o Sesc Pernambuco possui 24 Unidades Operacionais localizadas em todo o estado. Destas, 17 atuam com ações de artes cênicas, sendo 10 delas sedes da escola sistemática de teatro, 9 de dança e 1 com o viés de circo social que está prevista para iniciar suas atividades no 2° semestre de 2022. O que posso dizer é que a diversidade é a nossa grande potência e também um desafio. O respeito aos territórios deve estar sempre na ponta da lança de nossa ação. Para isto, é necessário o mapeamento e diálogo contínuo com a comunidade, com a classe artística e com os espaços e agentes culturais/sociais, para a partir deles, entender qual será o formato e as linhas de ações propostas para cada cidade/localidade. Mas existem diretrizes que acredito que precisamos fortalecer em todos os espaços: 

– Um olhar pedagógico: toda ação de cultura é formação, ainda que em formato de fruição. Durante todo o ano, as atividades desenvolvidas devem dialogar umas com as outras, em um processo de retroalimentação continuado. Em algumas Unidades, isto já acontece de maneira muito orgânica, e faz toda diferença. Em outras, é preciso estruturar mais este direcionamento. 

– Percebo a urgente necessidade de considerar com mais amplitude o espaço da linguagem de circo em todo regional. Temos uma presença majoritária da dança e do teatro em nossas programações, o que entendo ser natural, tendo em vista que temos as escolas consolidadas há bastante tempo. Sei que existem muitas especificidades, tanto técnicas, de estrutura, quanto a realidade dos circos tradicionais, que possuem características bem próprias, mas percebo a necessidade de um diálogo aberto, reconhecendo que precisamos nos adaptar, buscar estratégias mais acessíveis para ampliar oportunidades. 

– O Sesc também é um importante agente cultural, com quadro técnico especializado, com pesquisas e experimentações aprofundadas. Olho para nosso corpo de professores e supervisores, para os alunos/atores/bailarinos que fazem parte ou passaram pelo Sesc, e enxergo o quanto promovemos iniciativas importantes e quanto temos pessoas dedicadas, competentes e comprometidas. Cada processo desenvolvido em sala de aula tem uma importância fundamental, inclusive, para realimentar a classe cultural das cidades. Temos trabalhos de bastante qualidade e relevância. Fortalecer essa rede, promovendo encontros e intercâmbios entre as Unidades é uma diretriz que propomos porque sei o quanto essas trocas instigam e inspiram, reoxigenando as ações diárias. Também ressalto o processo de coletivos artísticos que se formam, oriundos destas experiências e que, com o tempo, se tornaram independentes e tem grande representatividade e atuação em suas cidades. Digo isto pois acredito que esta diretriz não diz respeito apenas ao Sesc, mas ao surgimento de novos coletivos. 

– Penso que as nossas programações devem focar, de maneira prioritária, nas produções locais, promovendo um encontro entre os coletivos, estimulando o setor das regiões e valorizando as produções, por exemplo, do interior, onde encontramos obras de bastante qualidade. No entanto, não pretendemos fechar as portas para as produções oriundas de outros lugares. Estas virão para dialogar, trocar, aprender e ensinar, mas precisam fazer sentido nos contextos em que irão atuar. Reconhecemos sua extrema importância para trazer provocações, inspirar e desestruturar possíveis paradigmas. 

Por fim, entendo que políticas estruturantes precisam de tempo para maturar e se efetivar. Cada passo, cada provocação, talvez só reverbere daqui há anos… É preciso paciência para alimentar diariamente o processo e muita humildade para ouvir e aprender. Para conduzir processos, é necessário escuta e observação, para então, mediar, colaborar e propor. 

 – Neste ano, com previsão para os seguintes, o Transborda integra a Cena Expandida com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação? 

A inserção do Transborda na Cena Expandida faz todo sentido para a ação do projeto, pois se trata de uma articulação entre festivais que buscaram trabalhar em rede para se fortalecer, tal qual foi o primeiro estímulo para o surgimento do Transborda, mas em instâncias institucionais. 

O público terá acesso no mês de setembro à uma vasta programação, organizada de maneira estratégica para que seja possível acompanhá-la de forma mais integral possível, pois as datas e horários foram pensados, evitando o choque entre as programações. Também, pela diversidade de contextos e perfis de cada festival, chegamos a públicos variados: conseguimos trazer a produção local, dar espaços de compartilhamento para os experimentos cênicos desenvolvidos pelas escolas de artes, contamos com programações de projeção nacional e internacional, evidenciamos a rica produção desenvolvida pelos grupos do interior do estado e oportunizamos processos de residências e experimentos a partir de mediadores de renome nacional e internacional. O Cena Expandida é um presente para o público, para os artistas e todos aqueles que compõe o organismo vivo da Cultura. 

– Qual a pergunta que não quer calar? Tem resposta? 

Como podemos multiplicar iniciativas como esta, articulando ações em cadeia, como forma de resistência e cumplicidade? A resposta não possa dar sozinha. Precisamos estar juntos na caminhada, traçando novas rotas, nos organizando de maneira estratégica para seguir em frente, articulando o discurso em conjunto, sem perder nossa essência e identidade.

 

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Melodrama em três quadros

Espetáculo Relações enquadradas

Primeiro quadro – Um papel em branco
Três textos do gaúcho José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo (1829-1883), são a base do espetáculo Relações enquadradas, do grupo Matraca, que cumpriu temporada recente no Teatro Marco Camarotti, no Recife. A montagem, que teve direção de Claudio Lira, foi dividida em quadros, costurados por dois personagens, apresentadores de uma espécie de programa de auditório.

Das linhas dos textos de Qorpo Santo, podem saltar questões como amor, poder, interesse, moral, sociedade e até política, mesmo que a lupa do autor esteja focada no relacionamento de casais.

Para a montagem, o grupo decidiu fazer algumas adaptações, entre elas a supressão de alguns personagens e a mudança de quadros de outros, e escolheu o invólucro do melodrama como estilo.

Segundo quadro – Separação de dois esposos
Parece ter sido exatamente nessa escolha que a crítica social tão pulsante no texto de Qorpo Santo se desprendeu da montagem, perdendo força e alcance.

Vamos ao enredo: no primeiro quadro, Um papel em branco, Espertalínio, professor e de Mancília, “seduz” a jovem. O verbo seduzir talvez nem seja o mais adequado, porque ela está mesmo doida para entregar-se ao senhor. No auge do amor, até uma criança eles tentam engabelar para ter alguns momentos de privacidade. Com o tempo, no entanto, as artimanhas não serão mais para se ver próximo, mas para conseguir alguma liberdade, mesmo que a volta para casa seja reconfortante.

Separação de dois esposos


No segundo, Separação de dois esposos, Farmácia e Esculápio têm uma relação em crise. Eles não sabem como agradar-se e nunca estão satisfeitos. Farmácia até já tem um namorado, Fidélis; e Esculápio também sai em busca de uma relação de “amizade”, mas ao final, os dois estão ali juntos para tudo, inclusive para morrer. Nesse texto, o autor parece usar esse casal para tratar de questões que vão muito além. “Mas quem poderá viver sem regras ou sem preceitos que regulem seus direitos; seus deveres; seus poderes!? Seriam as sociedades um caos. Anarquizar-se-iam, e logo depois — destruir-se-iam”, questiona Esculápio. No original, esse quadro tem ainda dois servos amantes, que ficaram para o final da montagem.

No terceiro, Mateus e Mateusa são idosos que se toleraram (ou não!?). Tem três filhas que lutam para ver quem consegue atrair mais o amor do pai. Nesse caso, o texto questiona a crença nas instituições, não só a do casamento, mas inclusive na justiça.

Terceiro quadro – Mateus e Mateusa
Ano passado, uma montagem fez muito sucesso na capital pernambucana: O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá. A pesquisa do grupo também era baseada no melodrama. Para quem viu as duas peças, impossível não traçar paralelos: os gestos prolongados, as músicas, as caras e bocas dos personagens. Não que isso de alguma forma traga prejuízos à Relações enquadradas, mas é interessante notar como as duas montagens beberam na mesma fonte, sendo que a execução de O amor de Clotilde…, até por se tratar de um grupo com atores mais experientes, mostra-se melhor resolvida no palco. Alguns elementos em Relações enquadradas beiram o humor raso, escrachado, como quando um cupido de formas, digamos, um pouco avantajadas, entra em cena.

Outra questão é que, ao retirar os dois servos amantes do seu texto original e deixá-lo para o fim da montagem, a impressão que se dá é que aquele último quadro é forçado, estereotipado. Está certo que se baseia quase integralmente nas diretrizes do texto original, mas talvez fosse tratado de maneira mais orgânica à montagem se não tivesse sido deixado para o fim. Por outro lado, algumas soluções cênicas merecem elogios, como colocar as três irmãs do quadro Mateus e Mateusa vestindo a mesma saia.

Epílogo
Relações enquadradas foi montado por um grupo de ex-alunos do Sesc Piedade, o grupo de Teatro Matraca. E os textos escolhidos deram a possibilidade dos atores mostrarem realmente as suas potencialidades, inclusive com espaço para alguns curtos monólogos. Alguns desses atores se destacam. É o caso de Catarina Rossiter (Farmácia e Catarina) e de Maurício Azevedo (Esculápio, Silvestra, Tatu e Avó 1), esse último principalmente pelo talento para a comédia. Ainda estão no elenco Ariele Mendes (Menina e Mateusa), Geraldo Dias (Senhor Quadrado e Fidélis), Ju Torres (Quadradete e Avó 2), Mário Rodrigues (Espertalínio e Tamanduá), Ubiratan Cavalcante (Mateus) e Viviane Braga (Mancília e Pêdra).

Na ficha técnica, Claudio Lira assina direção, direção de arte, maquiagem e programação visual; Diogo Felipe a direção musical; Sandra Rino fez coreografias e preparação corporal; Agrinez Melo assina iluminação; Flávia Layme a preparação vocal; e a execução de cenário, figurinos e adereços foi de Manuel Carlos de Araújo.

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Versão melodramática para Qorpo Santo

Viviane Braga com Mancília e Mário Rodrigues como Espertalínio

Quadro Um papel em branco

Ariele Mendes no papel da Menina

Catarina Rossiter como Farmácia e Maurício Azevedo como Esculápio

Quadro Separação de dois esposos

Ariele Mendescomo Mateusa e Ubiratan Cavalcante como Mateus

Quadro Mateus e Mateusa

Quadro extra

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