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Vamos ao teatro?
Agendo-me em São Paulo

Terror e Miséria no Terceiro Milênio, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, (em cima, à esquerda) segue no Sesc Bom Retiro. Stabat Mater, da Janaina Leite (foto maior) , está no porão do CCSP. Yolanda já viu os dois espetáculos e ficou bem empolgada com as provocações. Oroboro, do Grupo XPTO (foto de objetos animados) em cartaz com entrada gratuita, no Sesc Interlagos, está na lista de desejos. Fotos: Divulgação

As temporadas teatrais em São Paulo estão cada vez mais aceleradas; então, a pessoa (né, Silvia Sabadell?) tem que correr. Ofertas à mancheia (como registrou Castro Alves!), para tudo que é estilo. Bem, tenho minhas prioridades e preferências. Os mais experimentais, os posicionados politicamente pela liberdade e pela luta contra a barbárie desses tempos bicudos (posso dizer isso, que tem outras camadas), os que valorizam o humor e a ironia, que move toda a estrutura da sociedade (salve, salve Angela Davis).

Então correndo para ver essa cena ofertada com tanta garra. E.L.A, da cearense Jéssica Teixeira, no Sesc Pompéia; As Mil e Uma Noites da Cia carioca Teatro Voador Não Identificado; Buraquinhos ou o Vento É Inimigo do Picumã, com direção da Naruna Costa, no Itaú Cultural (consegui!!); As Comadres, com supervisão artística de Ariane Mnouchkine, Théâtre du Soleil; O Caso Severina, com a Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes no Espaço do Folias; Espaço Arcabouço, espetáculo de circo de Porto Alegre, no Centro Cultural Tendal da Lapa. E Oroboro, do Grupo XPTO, uma encenação sem palavras para seguir viagem na contundência das imagens. 

Das peças já assistidas, recomendo-me seis: Stabat Mater, da Janaína Leite, com participação da sua mãe, no porão do Centro Cultural São Paulo; Terror e Miséria no Terceiro Milênio do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, no Sesc Bom Retiro; a temporada popular do musical Elza, no Teatro Sérgio Cardoso; Mãe Coragem, com Bete Coelho no papel título e direção de Daniela Thomas, no Sesc Pompeia; Terrenal, no Teatro Raul Cortez. E As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão, com texto do Newton Moreno e um elenco de atrizes arretadas. Temporadas curtas. E potentes. E todas as montagens falam de hoje, de nossas desditas. Pode pegar numa quina aquela dor do que ainda resta de humano em nós.

Do espetáculo Stabat Mater, só sei que ninguém vai sair imune. É o espetáculo mais pedreira desta temporada paulista que eu assisti e ainda está em cartaz. Quer dizer outros foram, outros virão (espero), mas neste julho friorento de São Paulo, a cena mais soco na moleira e na alma do diacho é a da Janaina Leite. É bom avisar que é preciso ânimo para encarar uma atriz repleta de coragem que questiona as próprias certezas. É dança sensual pole dance de cérebros grávidos diante da aridez do real expandido. Um exercício potente sobre traumas e ainda no século 21 tabus sobre o feminino. A peça abriu a edição de número 5 da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo e viva.

Olha lá o que pretendo ver

Com o espetáculo E.L.A, a atriz cearense Jéssica Teixeira instiga a aceitação das diferenças, busca driblar os clichês e padrões de beleza impostos pela mídia e encoraja um olhar mais sensível para a diversidade na construção do ser político contemporâneo. Foto: Carol Veras / Divulgação

E.L.A

A cearense Jéssica Teixeira é portadora de uma síndrome que encurtou seu tronco. O primeiro solo da atriz apresenta uma investigação cênica do seu corpo inquieto, estranho e disforme, numa tentativa de desestabilizar e potencializar outros corpos e olhares. A artista traça um histórico das representações do corpo, composição química e das noções de beleza. O espetáculo perpassa por ramos de saúde, política, feminilidade, acessibilidade e estética. Dirigida por Diego Landim, E.L.A envolve colagens e textos autobiográficos de Jéssica. A montagem de Fortaleza (Ceará) mescla dramaturgia, artes plásticas e vídeo.éssica Teixeira também investiu na leitura do livro “O Corpo Impossível”, de Eliane Robert Moraes, como disparador de dispositivos dramatúrgicos para a expansão da cena.
Ficha Técnica
Direção: Diego Landin.
Elenco: Jéssica Teixeira.
Serviço
Quando: Quinta a sábado, 21h30; domingo às 18h30. Até 14/07
Onde: Sesc Pompeia – espaço cênico
Quanto: R$ 6 até R$ 20
Classificação etária: 14 anos
Telefone: 3871-7700

Cena de As Mil e Uma Noites, adaptação do clássico da literatura encenada pelos cariocas da Cia Teatro Voador Não Identificado. Com três horas de duração, a montagem tem cinco atrizes como Sherazade: Adassa Martins, Clarisse Zarvos, Elsa Romero, Julia Bernat e Larissa Siqueira. Foto:  Renato Mangolin / Divulgação

As Mil e Uma Noites

Foi como ser fabulante que a princesa Sherazade escapou da morte. A cada noite, uma história, que deixava o rei encantado e curioso e adiava o final trágico da mocinha. O clássico da literatura As Mil e Uma Noites tem encenação carioca da Cia Teatro Voador Não Identificado, que mistura episódios inspirados nos contos de Sherazade com relatos reais de refugiados árabes colhidos em entrevistas e interpretados pelos atores. Nas narrativas há referências à Primavera Árabe, onda de manifestações ocorridas no Oriente Médio a partir do começo desta década e que levou, entre outras coisas, à queda do ditador Hosni Mubarak no Egito. E lógico que a política brasileira é lembrada.Uma especificidade da peça é que cada apresentação é única, nenhuma delas é repetida nas encenações seguintes, com exceção do prólogo. 
Ficha Técnica
Concepção e Direção: Leandro Romano
Dramaturgia: Gabriela Giffoni e Luiz Antonio Ribeiro
Elenco: Adassa Martins, Bernardo Marinho, Clarisse Zarvos, Elsa Romero, Gabriel Vaz, João Rodrigo Ostrower, Julia Bernat, Larissa Siqueira, Pedro Henrique Müller e Romulo Galvão
Duração aproximada: 180 minutos
Serviço
Quando: Quinta a sábado, 20h; domingo às 17h. Até 14/07
Onde: Sesc Avenida Paulista; Arte II (13º andar)
Quanto: R$ 6 até R$ 20
Classificação etária: 14 anos
Telefone: 3871-7700

Um jovem negro de 12 anos da periferia de São Paulo sai de casa para comprar pão. Encarado como suspeito, ele corre o mundo para não ser baleado pela polícia. Foto: Alexandra Nohvais / Divulgação. Com direção de Naruna Costa e Ailton Barros, Clayton Nascimento e Jhonny Salaberg, no elenco

Buraquinhos ou o Vento É Inimigo do Picumã

A peça ostenta com uma poética trilhada em cima do genocídio e etnocentrismo da população negra. Foi contemplada com prêmio de montagem na Mostra CCSP de Pequenos Formatos Cênicos do ano passado. Com uma narrativa em primeira pessoa, abraçado ao universo do realismo fantástico, o espetáculo apresenta um garoto negro de periferia – personagem nascido e criado em Guaianases, zona leste de São Paulo – que, no primeiro dia do ano, recebe um bascolejo de um policial quando chega à padaria. Ciente do que acontece com gente preta e pobre diante dessas autoridades, o miúdo começa a correr e sai numa viagem sem rumo certo, passando por países da América Latina e da África, buscando sempre dispositivos de sobrevivência para continuar existindo.
Ficha Técnica
Idealização, coordenação e dramaturgia: Jhonny Salaberg
Direção: Naruna Costa
Elenco: Ailton Barros, Clayton Nascimento e Jhonny Salaberg
Serviço
Quando: Quinta e sexta, 19h. Até 12/07
Onde: Itaú Cultural – sala multiuso (Avenida Paulista, 149 – Bela Vista – São Paulo)
Quanto: Grátis
Classificação etária: 14 anos
Telefone: 2168-1777

20 atrizes brasileiras revezando-se em 15 papéis — o espetáculo é uma adaptação musical de René Richard Cyr de uma peça canadense.

As Comadres
Com supervisão artística de Ariane Mnouchkine, Théâtre du Soleil, companhia francesa fundada em 1964, o musical As Comadres é uma versão Versão de uma comédia que chocou o Québec nos anos 1960. A protagonista Germana Louzan é uma dona de casa suburbana. Ao ganhar um milhão de selos promocionais, trocáveis por uma variedade de produtos, ela decide chamar 14 “comadres” para ajudá-la a colar os adesivos para mobiliar sua casa. Linda, Mariângela, Branca, Romilda, Lisa, Rosa, Ivete, Lisete, Angelina, Teresa, Pietra, Gabriela, Olivina e Ginete são as amigas, mulheres trabalhadoras, eu cuidam de maridos e filhos, e eu juntas colando selos vão desfiando um rosário de desejos, anseios, frustrações, medos, inveja. O encontro vira um angu e as mulheres passam a cobiçar a sorte da protagonista.
Ficha Técnica
Supervisão artística: Ariane Mnouchkine.
Texto original: Michel Tremblay.
Versão musical original: René Richard Cyr.
Músicas originais: Daniel Bélanger.
Direção musical: Wladimir Pinheiro.
Serviço
Quando: Quinta a sábado, 21h. Domingo: 18h. Até 28/7
Onde: Sesc Consolação – R. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque
Quanto: R$ 12 a R$ 40.
Telefone: 3234-3000

Inspirada em faros reais, ocorridos no Agreste pernambucano, em 2005, a peça O Caso Severina narra a incrível história de uma agricultora, de 44 anos, que mandou matar o próprio pai. Foto: 

O caso Severina

Uma mulher, de 44 anos manda matar o próprio pai. “Por que uma agricultora, mãe de cinco filhos, contrata dois matadores de aluguel para matar o genitor, com seu próprio facão?” Essa é a pergunta que a Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes se fez ao iniciar o processo de construção da peça O Caso Severina. Inspirada em história real, ocorrida na Região do Agreste de Pernambuco, em 2005, a Fraternal realizou um extenso trabalho de pesquisa, que durou oito meses e utilizou tanto o material publicado pela mídia quanto os autos do processo, dentro de um projeto da Companhia intitulado Do Fato ao Ato. A direção é assinada por Ednaldo Freire e texto de Alex Moletta, e no elenco estão Mirtes Nogueira, Aiman Hammoud, Maria Siqueira, Giovana Arruda, Carlos Mira.
FICHA TÉCNICA
O Caso Severina

Concepção, Criação e Produção: Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes
Apoio: Prêmio Cleyde Yáconisda Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Direção: Ednaldo Freire
Dramaturgia: Alex Moletta
Elenco: Mirtes Nogueira, Aiman Hammoud , Maria Siqueira, Giovana Arruda, Carlos Mira.
Cenografia, figurinos e Adereços: Luiz Augusto dos Santos
Música: Luiz Carlos Bahia
Trilha e Direção Musical: Luiã Borges e Luiz Carlos Bahia
Iluminação e Operação de Luz: Marco Vasconcellos
Operação de Som: Ian Noppeney
Cenotécnico: Edson Freire
Design Gráfico e Audiovisual: Alex Moletta
Costureira: Célia Márcia Makarovsky
Duração:70 minutos
Recomendação etária:16 anos

Serviço
Temporada:05/07/2019 a 18/08/2019, de sexta a domingo
Horário:Sextas e sábados, 21h; domingos, 19h
Espaço do Folias: Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília,
telefone: (11) 3361-2223.
Capacidade:99 lugares
Ingressos:R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00
Ingressos antecipados:http://galpaodofolias.eventbrite.com
Estacionamento conveniado
Wi-Fi Público
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida
Aceita cartões de débito e crédito
Café do Folias
, no piso superior

Gabriel Martins propõe um diálogo entre o malabarismo, a dança e a performance, buscando instaurar um espaço no qual corpos e objetos se relacionam. O espetáculo trabalha com o conceito de Corpo Desvelado, no qual se coloca em vulnerabilidade e com toda a exposição dos procedimentos em cena. Foto: Rafael da Silva / Divulgação

ESPAÇO ARCABOUÇO (Circo adulto)

Espaço Arcabouço é um espetáculo de circo contemporâneo fincado principalmente no malabarismo. O trabalho é construído em diálogo com a dança e a performance, buscando instaurar, assim, um “espaço” no qual as relações entre corpo(s) e objeto(s) são mais que possibilidades. O público, disposto ao redor da cena, em arena, compartilha de perto a exposição deste “arcabouço”: o corpo exposto em estado de vulnerabilidade. A proposta é se entregar ao risco e as oposições presentes no malabarismo, oscilando entre a virtuose do malabarismo tradicional, até a mais simples tarefa de manipulação. As luzes, o som, a estrutura de malabarismo de rebote, os objetos cênicos e todas as necessidades que surgem ao longo do espetáculo, são manipulados e resolvidos pelo artista de maneira desvelada, tornando o espectador testemunha dos acontecimentos. Espaço Arcabouço foi contemplado com prêmio Açorianos de Dança de Porto Alegre – 2015 – na categoria de melhor iluminação. O projeto também foi vencedor em 2014 do Prêmio Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo da Funarte. O espetáculo foi contemplado com o Prêmio FUNARTE para circulação de espetáculos circenses (2018).
FICHA TÉCNICA
Concepção, direção e atuação: Gabriel Martins
Orientação cênica: Paola Vasconcelos
Iluminação: Mirco Zanini
Cenário: Luís Cocolichio
Figurino: Ana Carolina Klacewicz e Thayse Martns
Produção: Consoante Cultural
Distribuição: Michele Rolim
Classificação: LIVRE

Serviço
Quando: Sexta e sábado, 20h. Até 12 e 13/7 Após a sessão de sábado haverá bate papo com o artista.
Onde: Centro Cultural Tendal da Lapa (R. Constança, 72 – Lapa, São Paulo).
Quanto: R$ 20/ R$ 10 .
Telefone: 3862-1837 / (51) 98145-8419
Duração: 50 minutos

a atriz trans cubana Phedra D. Córdoba (1938-2016), que viveu no Brasil por mais de 40 anos. Márcia Dailyn é a protagonista, que faz confissões e relembra sua trajetória pessoal e profissional para o repórter, representado por Raphael Garcia. Foto: Aannelize Tozetto/ Divulgação

Entrevista com Phedra

O escritor João Silvério Trevisan definiu a atriz trans cubana Phedra D. Córdoba (1938-2016), como “uma muralha de resistência ao preconceito”. A diva da praça Roosevelt, de sotaque carregado e artista multifacetada viveu no Brasil por mais de 40 anos. Atuou na companhia de teatro Os Satyros, em muitas criações do diretor Rodolfo García Vázquez. Integrou o elenco de peças como  A Filosofia na Alcova, A Vida na Praça Roosevelt, Transex, Divinas Palavras, Liz, Hipóteses para o Amor e a Verdade e Cabaret Stravaganza. Foi personagem do documentário Cuba Libre”, primeira produção cinematográfica da companhia Os Satyros. A atriz Márcia Dailyn, primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo, interpreta Phedra, na peça que o jornalista Miguel Arcanjo escreveu. Entrevista com Phedra é a primeira incursão de Arcanjo na dramaturgia. Na peça a atriz relembra seu percurso pelos palcos do teatro de revista da América Latina. O cenário que reproduz a sala de seu apartamento na praça Roosevelt, em que é entrevistada por Raphael Garcia, que faz o papel do jornalista.

Texto: Miguel Arcanjo Prado.
Direção: Juan Manuel Tellategui e Robson Catalunha.
Elenco: Márcia Dailyn e Raphael Garcia.
Direção de produção: Gustavo Ferreira.
Realização: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez – Os Satyros.
Figurino e visagismo: Walério Araújo.
Cenografia: Robson Catalunha.
Iluminação: Diego Ribeiro e Rodolfo García Vázquez.
Sonoplastia: Juan Manuel Tellategui.
Arte visual: Henrique Mello.
Cenotécnico: Carlos Orelha.
Acessórios: Lavish by Tricia Milaneze.
Perucas: Divina Núbia.
Castanholas: Sissy Girl e Bene Reis.
Palco dos Bonecos: Luís Maurício.
Fotografia: Annelize Tozetto, Bob Sousa, Bruno Poletti, Edson Lopes Jr. e Felipe Margarido.
Vídeo: Laysa Alencar.
Operadores: Dennys Leite e Laysa Alencar.
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Apoio: A Casa do Porco, Bar da Dona Onça e Hot Pork – Janaina Rueda e Jeerson Rueda; Frango com Tudo – Rede Biroska – Lilian Gonçalves, Consulado General de Cuba em São Paulo e Consulado General de Argentina em São Paulo e Translúdica.
Agradecimentos: Livia La Gatto, Ferdinando Martins, Guttervil Guttervil, Lauanda Varone, Neiva Varone e Irlane Galvão.

Serviço
Onde: Espaço dos Satyros I Praça Franklin Roosevelt, 214 – Consolação – São Paulo
Quanto: R$ 40 (meiaentrada, R$ 20).
Quando: Segunda – 21h. Até 02/09
Telefone: 3255-0994
Capacidade: 50 assentos
Duração: 50 minutos.
Classificação: 14 anos.

Grupo XPTO em ação. Oroboro, uma alegoria sobre o caráter cíclico da existência. Foto: Divulgação

Oroboro

Personagens do mundo real estão sujeitos à ação de entidades mitológicas em Oroboro. um náufrago à deriva que, na iminência de sua morte, se vê diante do dilema de se deixar devorar por urubus ou atirar-se ao mar. Ele prefere arriscar a sorte no caminho do desconhecido e mergulha nas águas profundas do oceano. Numa ilha próxima, uma enorme serpente deixa um estranho ovo que provoca a curiosidade e a ambição dos habitantes do lugar. Humor, mistério, trapaças, lutas pelo poder, revolta, aniquilação são alguns dos temas abordados de forma simbólica em Oroboro, uma alegoria sobre o caráter cíclico da existência. A montagem emprega a linguagem de teatro de bonecos e formas animadas. A narrativa é desenvolvida sem a utilização da palavra, sendo conduzida tanto pela música executada ao vivo, como pela ação dos atores que manipulam os bonecos e objetos, emitindo ruídos guturais que funcionam como vozes dos personagens. Recentemente o grupo de teatro XPTO participou do festival The Ishara Puppet Theatre Trust, na Índia, sendo o único representante latino-americano no programa.
Ficha Técnica
Direção, cenografia, bonecos e iluminação: Osvaldo Gabrieli
Direção musical e músico: Beto Firmino
Elenco: Bruno Caetano, João Bernardes, Ozamir Araújo e Tay Lopes
Serviço
Quando: Domingo, 15h. Até 28/07
Onde: SESC Interlagos (Avenida Manuel Alves Soares, 1100 – Parque Colonial – São Paulo)
Quanto: Grátis. Distribuição gratuita 1 hora antes do início da sessão.
Classificação indicativa: 8 anos
Capacidade 362 assentos
Telefone: 5662-9500

Eu já vi… Se eu fosse você… também iria assistir

Musical expõe os altos e baixos da trajetória de cantora Elza Soares. Aos 12 anos, casou-se praticamente obrigada pelo pai. Aos 13 teve o primeiro filho. Aos 21 anos, já com cinco rebentos, ficou viúva. Consagrou-se como cantora. Com o jogador Mané Garrincha (1933-1983) conheceu uma vida de amor e sofrimento. Hoje ela é referência absoluta de determinação, talento, perseverança, luta. Foto: Divulgação

Elza

Elza Soares foi ficando cada vez mais múltipla com o passar do tempo. Para dar conta desse mosaico de força, o musical  Elza explora os principais episódios da vida da artista, que como poucos soube levantar a cabeça e dar a volta por cima nos momentos difíceis. Com texto de Vinícius Calderoni e direção de Duda Maia, conta como elenco formado por Larissa Luz, Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacorte e Verônica Bonm. Todas fazem o papel da cantora na peça. As atrizes também incorporam / narram / comentam os homens importantes da trajetória de Elza, como o compositor e apresentador Ary Barroso (1903-1964), e o jogador de futebol Mané Garrincha (1933-1983), com quem ela foi casada. É uma história densa, mas carrega o DNA da guerreira.

Serviço
Quando: Quinta a sábado, 21h. Domingo: 18h. Até 28/7
Onde: Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista – São Paulo
Quanto: R$ 30 até R$ 150.
Telefone: 3288-0136 Capacidade 835 assentos

Bete Coelho em cena de Mãe Coragem, adaptação de Brecht, dirigida por Daniela Thomas – Jennifer Glass/Divulgação

Mãe Coragem

A comerciante Anna Fierling vende mercadorias aos soldados da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Portanto, ela também lucra com os sofrimentos, as mortes, a barbárie. Traduzido diretamente do alemão, a adaptação de Daniela Thomas para Mãe Coragem e Seus Filhos, o texto de Bertolt Brecht propõe uma reflexão pungente sobre o lugar da moral em tempos de guerras do guerras do passado e de outras guerras do presente.  A Mãe Coragem do título chega à conclusão que não é ela quem lucra com a guerra quando perde os três filhos, Eilif, Queijinho e Kattrin, em batalhas como as mães dos jovens negros ue tem seus filhos subtraídos em A tragédia se desenrola no ginásio e o público assiste das arquibancadas o elenco charfurdar na lama que traça ligações com Mariana e Brumadinho.

FICHA TÉCNICA
Texto – Bertolt Brecht
Música original – Paul Dessau
Tradução – Marcos Renaux
Direção – Daniela Thomas
Assistência de direção – Gabriel Fernandes
Direção musical e arranjos – Felipe Antunes
Cenário – Daniela Thomas e Felipe Tassara
Figurino – Cassio Brasil
Iluminador – Beto Bruel
Desenho de som – Gustavo Breier
Elenco: Bete Coelho, Luiza Curvo, Amanda Lyra, Carlota Joaquina, Luisa Renaux, Ricardo Bittencourt,
Murilo Grossi, Roberto Audio, Rodrigo Penna, Wilson Feitosa, Cacá Toledo, Murillo Carraro
Músicos: Juliana Perdigão/ Gui Augusto , Felipe Antunes, Allan Abbadia/Ednaldo Santos, Wilson Feitosa
Murilo Grossi, Cacá Toledo
Produtora de figurino – Patricia Sayuri Sato
Assistentes cenografia – Iara Ito e Tania Menecucci
Assistente figurino – Daniela Tocci
Assistente e operadora de luz – Sarah Salgado
Engenheiro de Som, Gravações e Mixagem – Gustavo Breier
Direção de palco – Murillo Carraro
Contrarregras – Theo Moraes e Davi Puga
Camareira – Lili Santa Rosa
Aderecistas – Jesus (Walkir Pedroso) e Bosco Bedeschi
Costureiras – Yrondi Moço Rillo, Salete Paiva e Lili Santa Rosa
Harmonização das partituras originais – Kezo Nogueira e Felipe Antunes
Estagiários – Alice Tassara, Annick Matalon, Maria Pini Piva e Thomas Carvalho
Diretor técnico – Nietzsche
Arquitetura – Alvaro Razuk
Equipe de Arquitetura – Daniel Winnik, Ligia Zilbersztejn, Tabata Sung e Anselmo Turazzi
Assessoria Jurídica: Olivieri Advogados (pro bono) / NBPF Advogados
Assessoria de imprensa – Pombo Correio
Arte gráfica – Celso Longo e Daniel Trench
Fotógrafa – Jennifer Glass
Assistentes de produção – Diogo Pasquim, Theo Moraes e Davi Puga
Produtor executivo – Arlindo Hartz
Direção de produção – Luís Henrique Luque Daltrozo
SERVIÇO
Serviço
Quando: Terça a sábado, 20h30. Domingo: 18h30. Até 21/7
Onde: Sesc Pompeia – ginásio primavera Rua Clélia, 93 – Água Branca – São Paulo
Quanto: R$ 12 até R$ 40.
Telefone: 3871-7700
Classificação: 12 anos
Duração: 150 minutos

AS cangaceiras

As Cangaceiras,Guerreiras do Sertão

Newton Moreno conta que um grupo de mulheres se rebelam contra mecanismos de opressão que encontravam dentro do próprio Cangaço. As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão é uma fábula inspirada nas mulheres que seguiam os bandos nordestinos. O musical busca refletir sobre as forças do feminino nesse espaço de libertação e sobre a ideia de cidadania e heroísmo.
Ficha técnica
Elenco: Amanda Acosta, Marco França, Vera Zimmermann, Carol Badra, Luciana Lyra, Rebeca Jamir, Jessé Scarpellini, Marcelo Boffat, Milton Filho, Pedro Arrais, Carol Costa, Badu Morais, Eduardo Leão e mais 5 músicos
Dramaturgia: Newton Moreno
Direção: Sergio Módena
Produção: Rodrigo Velloni
Direção Musical: Fernanda Maia
Canções Originais de Fernanda Maia e Newton Moreno
Coreografia: Erica Rodrigues
Figurino: Fabio Namatame
Cenário: Marcio Medina
Iluminação: Domingos Quintiliano
Assistente de Dramaturgia: Almir Martines
Diretora Assistente: Lorena Morais
Designer Gráfico: Ricardo Cammarota
Fotografia: Priscila Prade
Produção Executiva: Swan Prado e Luana Fioli
Assistente de Produção: Adriana Souza e Bruno Gonçalves
Administração Financeira: Vanessa Velloni
Realização: Velloni
Produções Artísticas e Sesi-SP.

Serviço
Quando: Quinta a sábado, 20h. Domingo: 19h. Até 04/8
Onde: Centro Cultural Fiesp – teatro Sesi São Paulo (Avenida Paulista, 1313 – Bela Vista – São Paulo
Quanto: Grátis.
Telefone: 3322-0050
Capacidade 456

terrenal leekyung kim

Terrenal

Uma das histórias mais famosas de todos os tempos: o conflito bíblico entre os irmãos Caim e Abel. Esse mito é vertido para um paraíso às avessas. Em um loteamento, Caim (Dagoberto Feliz) produz pimentões e vive apegado à terra e ao acúmulo de bens, enquanto Abel (Sergio Siviero) trabalha apenas aos domingos, o “dia santo”, vendendo iscas aos pescadores da região. Sem se entenderem, os irmãos não conseguem decidir sobre o que fazer com o terreno, até que Tata (Celso Frateschi), o pai que os abandonou ainda crianças, reaparece justamente na data que marca 20 anos de seu desaparecimento. A montagem levanta questões contemporâneas sobre justiça, divisão de riquezas e aceitação de visões de mundo distintas. Com recursos circenses e trilha sonora ao vivo, executada por Demian Pinto, o episódio do livro do Gênesis narra o fratricídio considerado o primeiro assassinato do mundo.

Texto: Mauricio Kartun
Direção de Marco Antonio Rodrigues
Duração 90 minutos.
Classificação é 16 anos.
Serviço
Quando: Quinta 21h. Até Até 25/07

Onde: Teatro Raul Cortez (Rua Doutor Plínio Barreto, 285 – Bela Vista – São Paulo)
Quanto: R$ 50 e R$ 25.
Telefone: 3254-1631
Capacidade :513 assentos

Janaína Leite e Amália Fontes Leite

Stabat Mater

A maternidade e a imagens construídas da Virgem Maria são um pretexto para um mergulho profundo, desafiador, inquietante e original da artista Janaina Leite. Na companhia da sua mãe em cena, Janaina verticaliza sua investigação sobre o real no teatro, investe na categoria do obsceno e explode pornografia… Com um pedido de desculpas do apagamento da mãe no solo anterior, Conversas Com Meu Pai, Stabat Mater é daqueles raros espetáculos em criatividade, rigor de pesquisa, ousadia, coragem, autoria, comungam na mesma cena para dizer porque o teatro é uma arte tão potente. Mas tudo o que se disser sobre essa encenação será pouco. Aviso aos puritanos: a peça contém cenas de nudez e sexo.
Ficha técnica
Concepção, direção, dramaturgia: Janaina Leite
Performance: Janaina Leite, Amália Fontes Leite e Priapo
Dramaturgismo e assistência de direção: Lara Duarte e Ramilla Souza
Direção de arte, cenário e figurino: Melina Schleder.
SERVIÇO
Quando: Sexta e sábado 21h domingo 20h. Sessão extra: quinta-feira 18/07. Até Até 21/07
Onde: CCSP – espaço cênico Ademar Guerra (Rua Vergueiro, 1000 – Liberdade – São Paulo)
Quanto: R$ 20 e R$ 10.
Telefone: 3397-4002
Capacidade 100 assentos
Indicação: 18 anos

Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva. Foto: Sérgio Silva

Terror e Miséria no Terceiro Milênio

Nove atores e dois DJs ensaiam. Sentados em dois bancos, refletem e criam. O disparador é o texto Terror e Miséria no Terceiro Reich, de Bertolt Brecht; e a matéria bruta, a realidade brasileira. Desses dois tempos de barbárie – ascensão do fascismo no mundo, os artistas improvisam recortes e samples com os embates de visões de mundo. Para erguer a peça Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias foi realizado o encontro entre integrante do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e artistas parceiros. A diretora Claudia Schapira diz que a os choques desses tempos e o conflito da diversidade foram levados para dentro da cena. E aí o grupo evidencia que essas segregações também são construções perversas do capitalismo e seus mecanismos de privilégios. A montagem acompanha a estrutura episódica do texto original e arquitetada uma dramaturgia fragmentada, entremeada de comentários, em que os atores constroem e desconstroem imagens e narrativas, que se desmantelam diariamente. Mas lançam utopias para o futuro.
Ficha técnica
Direção: Claudia Schapira
Atores mcs: Fernanda D’Umbra, Georgette Fadel, Jairo Pereira, Luaa Gabanini, Lucienne Guedes, Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva, Sérgio Siviero e Vinícius Meloni.
Atores DJs: Dani Nega e Eugênio Lima
Inserções de poemas: Jairo pereira e Roberta Estrela D’Alva
Direção Musical: Eugênio Lima, Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega
Direção de Movimento e Coreografias: Luaa Gabanini
Assistência de Direção: Maria Eugenia Portolano
Vídeo-intervenção: Bianca Turner
Cenário: Bianca Turner e Claudia Schapira
Figurino: Claudia Schapira
Figurinista assistente: Isabela Lourenço
Kempô e Treinamento de Luta: Ciro Godói
Danças Urbanas: Flip Couto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Técnicas de spoken word: Roberta Estrela D’Alva
Iluminação: Carol Autran
Engenharia de Som: Eugênio Lima e Viviane Barbosa
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa
Cenotécnico: Wanderley Wagner da Silva
Design gráfico: Murilo Thaveira
Estagiárias: Isa Coser, Junaída Mendes, Maitê Arouca
Direção de Produção: Mariza Dantas
Produção Executiva: Victória Martinez, Jessica Rodrigues
e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Serviço
Quando: Sexta e sábado 21h, domingo 18h. Até Até 28/07
Onde: Sesc Bom Retiro Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos – São Paulo
Quanto: R$ 6 a R$ 20.
Telefone: 3332-3600
Capacidade 250 assentos
Capacidade: 250 lugares.
Duração: 90 minutos.
Recomendação: 14 anos

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A música ao redor

Jean-Jacques Lemêtre, do Théâtre du Soleil, ministrou oficina no Espaço Coletivo. Fotos: Tadeu Gondim

Jean-Jacques Lemêtre, do Théâtre du Soleil, ministrou oficina no Espaço Coletivo. Fotos: Tadeu Gondim

Este último fim de semana foi intenso e proveitoso para quem acompanhou a oficina do artista Jean-Jacques Lemêtre, do Théâtre du Soleil, promovida pelo Angu de Teatro e pela Atos Produções, com a parceria do Sesc-PE, no Espaço Coletivo, no Bairro do Recife. Não é a primeira vez que o Angu traz ao Recife um dos integrantes da trupe de Ariane Mnouchkine. Em 2011, houve aqui alguns dias de trabalho com o ator e diretor Maurice Durozier que, inclusive, veio novamente no último mês de abril para uma oficina que teve como tema o teatro japonês.

Como só acompanhamos por fotos e relatos nas redes sociais a oficina de Jean-Jacques, pedimos uma colaboração ao encenador Quiercles Santana (obrigada!), que nos escreveu contando um pouquinho sobre a experiência de participar do workshop:

“Quem disse que 20 horas, divididas em três dias, não podem mudar a forma como a gente se percebe no mundo e como enxerga o próprio ofício? Jean-Jacques Lemêtre, multi-instrumentista francês, compositor responsável desde 1978 pelas criações musicais do Théâtre du Soleil, esteve este último fim de semana no Recife para ministrar a oficina “O Corpo Musical”, graças a uma iniciativa do Coletivo Angu de Teatro.

Apesar da barreira da língua e da turma por demais esfuziante, Lemêtre, sempre com generosidade e bom humor, nos pôs frente a frente com nossos limites e resistências (tanto corporais quanto psíquicas). Embaralhando as coordenações motoras, os andamentos, fez o corpo soar no espaço criador.

Mais uma vez a dificuldade de compreendermos em nós mesmos a música que nos habita, a forma como usamos o tempo, como nos movemos no palco, como lidamos com o outro. Mais uma vez os obstáculos racionais que impedem que a música fale por si, que a ouçamos com todo o ser. Mais uma vez os limites auto-impostos e a sensação de que existem outros níveis de compreensão (não realistas, não psicológicos, poéticos, necessários e urgentes) de se estar na cena e de que há outras verdades, sim, e nem tudo é só razão.

Mas essa ética, essa po-ética do Soleil, em que a imaginação tem papel preponderante, continuará sendo ainda um mistério para nós, mesmo depois do encontro com Lemêtre. A diferença é que agora (felizmente) a gente sabe que pode ir mais longe, de que pode ser também multi-instrumentistas e fazer música.”

Oficina integrou projeto Mexendo o Angu

Oficina integrou projeto Mexendo o Angu

Alunos da oficina O corpo musical

Alunos da oficina O corpo musical

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O mago do Théâtre du Soleil no Recife

multiinstrumentista, compositor e luthier Jean-Jacques Lemêtre vem pela primeira vez ao Recife ministrar oficina. Fotos: Divulgação

Jean-Jacques Lemêtre vem pela primeira vez ao Recife ministrar curso. Fotos: Divulgação

Grande parte da beleza, da força e da emoção dos espetáculos do Théâtre du Soleil (FR) vem da atuação do artista Jean-Jacques Lemêtre. Ele é um verdadeiro mago do som, que assina e executa as composições ao vivo. Com suas trilhas, o multiinstrumentista, compositor e luthier desperta as sensibilidades do público, cria texturas e atmosferas das montagens assinadas por Ariane Mnouchkine.

Quem assistiu aos espetáculos da companhia francesa no Brasil – Les Éphémères e Les Naufragés du Fol Espoir (Os Náufragos da Louca Esperança) ou ja foi à Cartoucherie de Vincennes (sede do grupo, nos arredores de Paris) sabe do peso do trabalho de JJ nas encenações da trupe. Existe uma ligação perfeita entre cena e música, como revelação onírica da montagem. A teatralidade se afina com a música.

Eu que tive o prazer de conferir três vezes o deslumbrante Les Éphémères (duas no Brasil e uma na sede) e Les Naufragés me emociono só de lembrar. É pura arte digna deste nome. É desconcertante o trabalho desse homem.

Oportunidade de conhecer um pouco mais do processo criativo do grupo francês dirigido por Ariane Mnouchkine

Oportunidade de conhecer um pouco mais do processo criativo do grupo francês dirigido por Ariane Mnouchkine

Para sorte de quem estiver no Recife nos dias 16, 17 e 18 de agosto (semana que vem, para ser mais exata) Lemêtre vai ministrar a oficina O corpo musical . Serão horas preciosas para desenvolver a consciência corporal/musical. O gênio dos vários instrumentos vai versar sobre a “música interior”, a relação entre a música e o teatro a partir de princípios como o “corpo melódico”, o “corpo harmônico” e o “corpo rítmico”. Ele vai coordenar exercícios corporais e de voz, improvisações coletivas e individuais, além de explicar sobre o processo de criação de suas trilhas.

Para Lemêtre, a música é como se fosse um terceiro pulmão do ator. Por seu trabalho musical ele recebeu o Prêmio Molière francês na categoria Música para Teatro. Desde 1978, Lemêtre faz as trilhas do Théatre du Soleil, inventa instrumentos musicais e executa mais de 2.800 objetos sonoros. Em suas viagens pelo mundo ele coletou gravações em mais de de 1.800 línguas e dialetos e, a partir desse material, criou o poema sinfônico, Babel, que estreou no Canadá, em novembro de 2012.

Lemêtre também compõe trilhas para o cinema – um dos diretores com quem ele trabalhou foi David Lynch. “Toco bastante instrumentos, mas acho que nenhum pode representar todos os sentimentos humanos. Transmitir, para mim, é quase um dever. Quero ensinar e repassar meus conhecimentos a fim de que eles tenham uma continuidade em qualquer parte no mundo – no Brasil, na Argentina, no Afeganistão”, já comentou JJ em suas passagens pelo país.

Serviço
Oficina O corpo musical,com Jean-Jacques Lemêtre.
Quando: Dias 16, 17 e 18 de agosto de 2013
16 de agosto (Sexta), das 18h às 22h
17 de agosto (Sábado), das 10h às 18h
18 de agosto (Domingo), das 10h às 18h
Onde: Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199 – Bairro do Recife)
Informações: 81 9735-4241 / 81 8929-8114 ou infos.angu@gmail.com
Investimento: R$150,00 (Cento e cinquenta reais)
Realização: Sesc-PE, Atos Produções Artísticas e Coletivo Angu de Teatro/AFE! (Angu de Formação e Eventos)

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O Théâtre du Soleil no Brasil, em 2011

Os Náufragos da louca esperança. Foto Ivana Moura

Uma das grandes experiências que vivi em 2011 foi assistir ao espetáculo Les naufragés du Fol Espoir (Aurores) do Théâtre du Soleil, em São Paulo. Desde a aventura de conseguir um ingresso (agradeço a José Manoel, Galiana Brasil, Sidnei Martins e pessoal do Sesc) até a encenação em si.

O Théâtre du Soleil tem 48 anos de existência, mas só veio ao Brasil pela primeira vez em 2007, com Les éphémères, uma encenação deslumbrante, que estreou no Porto Alegre em Cena e depois fez uma pequena temporada em São Paulo.

Este ano o grupo francês trouxe Os náufragos da louca esperança para Sampa em outubro, Rio de Janeiro, em novembro e Porto Alegre (Canoas) em dezembro. Foram quase três meses no Brasil. Além da peça, o Soleil ofereceu palestras com a diretora Ariane Mnouchkine e oficinas com outros integrantes em algumas cidades do país.

O ator e diretor Maurice Durozier ministrou oficina no Recife em setembro, graças à iniciativa do Coletivo Angu de Teatro, com patrocínio da Prefeitura do Recife e do Sesc Pernambuco. Foi um curso prático de interpretação, O teatro é o outro, e quem participou já quer mais.

Os frutos dessa passagem do Soleil pelo Brasil serão vistos em breve.

Montagem tem quatro horas de duração

Les naufragés du Fol Espoir (Aurores) é uma montagem de quatro horas de duração, inspirada no romance póstumo Os náufragos do Jonathan, de Julio Verne, com dramaturgia de Hélène Cixous.

O elenco de mais de trinta artistas, liderado pela atriz carioca Juliana Carneiro da Cunha, encena essa história embalados por uma trilha sonora original executada ao vivo pelo compositor Jean-Jacques Lemêtre. Os atores se desdobram em vários papéis.

O que vemos em cena é uma trupe fascinada pela chegada do cinematógrafo e que no sótão do cabaré Louca esperança realiza o sonho de rodar um filme. O grupo nos leva a 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. O romance póstumo de Júlio Verne Os Náufragos do Jonathan relata a edificação no Cabo Horn, ao extremo Sul do Chile, de uma pequena sociedade, pelos sobreviventes de um naufrágio. O filme mostra um grupo de imigrantes que, no final do século XIX, partem rumo à Austrália, mas naufragam na gélida Terra do Fogo, onde tentam forjar uma comunidade socialista.

Melhor espetáculo internacional que veio ao Brasil em 2011

A utopia do Les Naufragés du Fol Espoir remete para o próprio projeto artístico do grupo, que aposta na indissociável parceria de ética e estética, na arte com poder transformador e na igualdade de direitos (e deveres) de seus participantes

A sofisticação da montagem, e talvez aí também um dificuldade de leitura, conta com o recurso da mise en abîme – uma história dentro da história, dentro da história, e assim indefinidamente – que lembra uma babuska, a tradicional bonequinha russa.

São apresentados três planos narrativos: as lembranças de um dos atores do filme, através da voz off de sua neta, falando do que se passa no set e da política da Europa pré-guerra; o que se passa no estúdio amador montado no cabaré à beira do Marne; e a fita, com os atores mexendo os lábios sem emitir som, arregalando os olhos, tremendo e agitando-se, com suas gags, dramas, cenas de bravura, de erotismo, e revolta.

Peça fex temporda em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre

As filmagens do naufrágio ocorrem em ritmo frenético. O cenário é uma taberna parisiense, cedida pelo taberneiro Felix e transformada em um set de filmagem. Jean La Palette, diretor de cinema egresso dos estúdios Pathé, e sua irmã Gabrielle decidem rodar um filme mudo, tendo no elenco, cozinheiros, garçons e frequentadores da taberna.
Uma multidão de personagens ocupam o palco, como um arquiduque, capitalistas selvagens, jovens amantes, missionários, assassinos, indígenas, colonizadores gananciosos, traidores.

É impressionante a agilidade nas mudanças de cenas e técnica para mostrar como se filmava naquela época, com todas as precariedades, como balançar de saias ligadas por cordões ou utiliza ventiladores pra forjar a ventania.

O Théâtre du Soleil promove uma reflexão sobre a utopia no teatro e na política. Muito interessante para esses tempos pós-utópicos.

Ariane Mnouchkine, diretora do Théâtre du Soleil

Palestra-debate da fundadora e diretora do Théâtre du Soleil, Ariane Mnouchkine
Funarte – Teatro Dulcina – Rio de Janeiro
11 de novembro de 2011
(http://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2011/11/Palestra-debate_Th%C3%A9%C3%A2tre-du-Soleil_Ariane-Mnuchkine_Rio_2011.pdf)

Resumo das respostas

Trabalho e motivação – “O entusiasmo é fundamental. Ele é uma soma de dois elementos: o primeiro é trabalho – a próprio fazer e a própria obra; o segundo é o desejo e a forte vontade de realizar”

Lidar com o tempo – “O tempo se vinga do que se faz sem considerá-lo. Portanto, procuro não irritar o tempo.”

A “louca esperança” do teatro e da arte – “O teatro é um momento de utopia, derivado da capacidade de doação do elenco e do público. A arte provém da espectativa de transformar. Quando não existe a esperança verdadeira de transformar uma pessoa que seja, na plateia, não há teatro propriamente dito, mas, apenas uma representação vazia de sentido. É necessário que haja esta expectativa”.

O fazer teatral – “Houve quem dissesse que fazer teatro é como um naufrágio. Mas não. É como uma exploração. É tal qual explorar um mar desconhecido, na qual, sim, se corre o risco do naufrágio. Mas, sem este, não há exploração”.

O processo de criação e escolha de personagens – “Os personagens são propostos aos atores, mas a escolha acontece durante o processo da criação, no qual os personagens também se transformam, ganham novas características. Cito o exemplo de uma personagem de camareira, que propus a uma atriz. Foi um longo processo de criação. Dos muitos personagens que propus, foi criado este, uma coadjuvante. Era uma mulher comum, um tanto frágil. Mas a atriz, em meio ao ensaio, numa improvisação, mudou a personalidade da camareira. Ela foi ficando mais feroz,
agressiva. Diante disso, eu sugeri que ela se transformasse num homem que, na sequência, virou um quitandeiro, que foi crescendo na narrativa! Todos o adoraram! Ele se tornou o mecenas do grupo que, na peça, produziria um filme. Assim, ele foi criado no processo de ensaio e ganhou importância depois. Foi criada para ele uma pequena “guinguette” (taverna popular, ao ar livre, onde se bebe, come e dança) e o personagem cresceu – um quitandeiro que amava cinema, e trazia legumes e verduras para a produção e um tipo de mecenas, “cresce” e se transforma num taverneiro, que cede um espaço para os outros personagens desenvolverem a trama. Eis um exemplo concreto do que pode ocorrer durante o processo de criação.”

O “ouvir” e a criação do espetáculo e dos personagens – “A primeira tarefa e a primeira ferramenta do ator e do diretor é o ouvir. Antes do falar, antes do agir, primeiro é receber. Se eu não tivesse escutado a camareira, com sua autoridade quase masculina, as coisas não teriam tomado aquele rumo.”

Processo de criação e trabalho colaborativo – “Basicamente, nos reunimos e conversamos. Há liberdade para criar. Eu escuto antes os atores. O pacto que existe é não haver censura, nem a mim nem ao elenco. Os atores também se reúnem e trocam ideias entre si. Faço questão de não participar e não interferir, neste momento. Não se discute a qualidade das ideias, mas sim como realizá-las. Isso é um dos elementos mais importantes e mais formadores. A seguir, eles conversam um pouco, e logo se põem a trabalhar para a coisa, concretamente. Vão à oficina, para fabricar o
que for necessário. Nada de discussão filosófica, porque isto é fuga. Evitamos o blá-blá-blá. O debate filosófico acontece depois. Consideramos o tempo que temos como oportunidade para agir.”

Dramaturgia x criação em processo – “Não temos dramaturgo, nem roteiro pré-estabelecido. A criação é coletiva e ocorre no processo de elaboração e de ensaios. Entre começar com um roteiro e utilizar a criação livre, prefiro começar com o “nada”, com o “deserto”. Nele, realmente, se pode criar. Isto faz parte do processo de criação. Mas me tocam muito certos autores contemporâneos, como o canadense Robert Lepage, por exemplo.”

O papel do diretor – “O trabalho é, de fato, coletivo. Mas é visível e necessário também o papel do diretor. Mesmo com ele, trabalhamos coletivamente, mas isso não significa que não haja alguém que ajude o grupo a se organizar. Senão, seria anarquia, que é, na verdade, uma lei do mais forte disfarçada. Costumo comparar nosso trabalho com o “curling”, esporte em que equipes competem, no gelo, com o objetivo de fazer deslizar pedras lisas sobre uma pista, até um alvo, impresso nela. Quando alguém lança uma pedra, um dos companheiros fica o tempo todo aplainando a pista, facilitando o movimento da peça. O trabalho do diretor é semelhante ao deste jogador. É ele quem tira os obstáculos, reais ou imaginários do caminho dos atores. Ele facilita as coisas. A direção deveria ser executada mais assim do que impondo barreiras à criação. Portanto, o trabalho coletivo não inviabiliza a presença da direção. A confusão entre coletivo e anárquico me parece politicamente perigosa. – Afinal, caso não houvesse coordenação, não haveria nem
democracia representativa. É bem verdade que não há, ainda, democracia participativa, porque os líderes são eleitos mas, muitas vezes, não consultam o povo, a não ser em época próxima de eleições. Mas a democracia participativa é algo desejável.”

Criação da linguagem de cada espetáculo. Direcionamento da linguagem dos atores. Solução de divergências na direção – “Cada espetáculo é um mundo [cria sua dinâmica própria]. Escuto a todos e dou ênfase ao que parece evidentemente maravilhoso. Ao que não tem nada a ver com o espetáculo, digo não, simplesmente. Mas confio na criatividade e nas ideias dos atores. Se uma ideia me parece dissociada, pergunto o que ela tem a ver com o espetáculo, até para tentar aproveitá-la.A geração de ideias é sempre muito grande. Nós as selecionamos por eliminação. É uma pesquisa, uma exploração. Também aprendemos com o erro, também pelo método de tentativa e erro. Afinal, o teatro não é ciência exata. Se, muitas vezes não sabemos exatamente onde vamos chegar. O princípio é: ‘sabemos o que não queremos’.”

Postura do ator em relação ao público e aos colegas – “Há atores que se colocam acima das outras pessoas, dos demais. Porém, num grupo de teatro, não há ‘castas’. Eu nunca trabalharia com alguém que se recusasse a colaborar com o grupo em tarefas consideradas menores, mas que fazem parte da produção. No Théâtre du Soleil, todos os atores ajudam na confecção de material.”

Figurino e caracterização. Cenografia – “Os próprios atores buscam o material, no acervo da companhia. Eles vão experimentando e encontrando a caracterização pouco a pouco. Depois é que chegam as costureiras, que são, na realidade, mais do que isso: são verdadeiras consultoras e conselheiras. Mas não há figurino pronto. Não entendo como pode ser utilizado este processo tradicional. Já nos cenários é diferente. Nos pequenos cenários, trabalhamos de forma inteiramente cooperativa. Já nos grandes, nosso cenógrafo faz um projeto e uma pintora, que faz parte da equipe, trabalha na execução.”

A entrada de novos atores – “Um trabalho como o nosso é muito forte e muito frágil, ao mesmo tempo, e pode ser prejudicado por um indivíduo. Mas, felizmente, pessoas danosas ao grupo foram poucas e raras. O que é importante para novos atores é o compromisso. Quando alguém entra na companhia, parto do princípio que a pessoa deverá ficar nela por muito tempo. Tenho dito que isto é como um casamento. E que não se pode casar-se com qualquer pessoa. É necessária uma boa escolha.”

O processo de ensaios e o registro em vídeos – “De fato, há grupos que gravam os ensaios, como recurso de aprimoramento do trabalho. Mas nem pensamos nisto – somente se e quando alguém do grupo tem interesse. Mas, se isso der prazer aos atores, pode ser feito. Tivemos uma experiência, certa vez, com um palco bifrontal (plateia em ambos os lados), na qual a filmagem captou o público e sua emoção. Fizemos as gravações em seis apresentações. Não foi exatamente um filme, mas um registro documental do espetáculo. Em Os Náufragos da louca esperança, pretendo fazer um vídeo com a atuação no palco. Mas não com os recursos visuais atual, mas
reproduzindo as técnicas do cinema antigo, como num antigo filme. Mas farei isto porque dá prazer aos atores. Se assim não fosse, não o faria.”

Dificuldade na preparação e no exercício profissional do ator na América Latina, por falta de patrocínio direto dos governos, ao contrário da França. Dificuldade de disciplina dos atores, relacionada à falta de patrocínio
“Sim, na França há um sistema de incentivo privilegiado. Ela é uma exceção cultural. Lá há dinheiro público para a cultura, para teatros públicos e para grupos artísticos. Não posso ir muito longe no assunto, porque não conheço muito sobre patrocínios no Brasil. Porém, a maior parte do nosso patrocínio aqui, por exemplo, é dinheiro público, como da Funarte, por exemplo, ou angariado por uma representação coletiva.
Todavia, cabe a questão: é preciso ter patrocínio para ter disciplina? Esta provém de ouvirmos e respeitarmos uns aos outros. Para isso vocês precisam de patrocínio? Costumo dizer que o ator deve sair da sedução do falar e ouvir muito. No caso de vocês, acho que devem evitar confiar no ‘charme latino-americano’ e se pôr a trabalhar firmemente em teatro, sem se esconder em ‘borboleteios’. Para isto, não precisam de patrocínio. Sejam seus próprios patrocinadores! Mas lutem, também, procurando os órgãos públicos, para viabilizar patrocínios. Considero o fato de que, no Brasil, muitos atores precisam de outro trabalho para sobreviver. Sei que aqui, sua situação é muito mais difícil e menos propícia à criação do que na Europa. Por isso, parabenizo os esforços de vocês”.

O socialismo no contexto da época da criação da companhia. A identidade e o papel do Théâtre du Soleil na época de hoje, chamada de pós-moderna – “No começo, não éramos considerados esquerdistas, mas pequenos burgueses de esquerda. O fato de não sermos, de fato, do movimento esquerdista causou dificuldades de relacionamento com outros grupos, que eram da esquerda radical. Mas eles desapareceram, ou foram absorvidos pelo sistema dominante. Vencemos, mas não como muitos esquerdistas da época, que se tornaram donos de jornal, ou políticos. É curioso, ver, por exemplo, jornais que eram maoístas radicais hoje defender o individualismo. Ao contrário daquele tempo, hoje, nós é que somos chamados de radicais… Mantemos, por exemplo, a igualdade de salário, o que é raro. Mas, se nos mantivemos neste princípio de igualdade, isto não foi uma escolha politiqueira. Fazemos tudo no trabalho de forma coletiva; convivemos muito – mais de 14h juntos. Porém, preservamos a individualidade e a vida privada de cada integrante.”

O teatro conduz questões como liberdade e igualdade. Como é levá-lo a países onde há resistência a isso?
– “O Théâtre du Soleil não vai onde há ditaduras. Só fomos a um único lugar onde vi esta resistência à liberdade: um país do Oriente Médio. Porém, defendo o que acredito e, lá, deixei claro que defenderia meus valores. Há princípios transculturais e universais que defendo integralmente – por exemplo, a igualdade entre mulheres e homens. No Oriente, há coisas que
parecem tão bárbaras que estão além das nossas torturas ocidentais. Não é por ser costume de uma cultura que isto seria aceitável. O relativismo cultural não é desculpa para práticas autoritárias. Naquele país, exigi que houvesse mulheres nas oficinas. Eles trouxeram umas cinco ou seis, por causa disso. Foram poucas. Mas, pelo menos quatro delas estão na França, estudando teatro!”

Atuais movimentos de mobilização popular, tais como a “Primavera árabe” e suas possíveis consequências positivas para a área cultural – “É preciso dar tempo ao tempo, e verificar como estes movimentos vão-se desenvolver: se vão caminhar rumo à democracia e à laicidade, ou se parama volta do radicalismo religioso. Eis o cerne da questão. Para as mulheres, principalmente, isso é muito importante. Tenho muita esperança quanto a esse processo, mas não o vejo como algo angelical. Em pelo menos dois países, a primeira coisa que fizeram foi implantar a lei religiosa. Logo,
vamos observar bem. Parece que as pessoas começam a tentar respirar. Há outro exemplo: os indignados da Espanha. Acontecem coisas também na França, ainda pouco discerníveis. Mas, pelo menos, existe uma raiva. Ela pode ir para um lado ou para outro. Tenho esperança, mas, de qualquer forma, nosso trabalho é subvencionado pelo dinheiro dos cidadãos franceses. Alguns nem vão ao teatro, mas patrocinam a cultura.
Não devemos ficar desesperados, mas produzir, com coragem e entusiasmo, com a força da inteligência, apesar do momento que a Europa atravessa. Ela vive um tempo de muito desencanto e pessimismo – não como aqui. Diante disso, acho que meu papel não é o de criar coisas ainda mais sombrias. Ao contrário, é o de ser um pequeno farol, procurar onde brilha alguma pequena luz e trazer, junto comigo e a companhia, as centenas de pessoas, que estiverem na plateia, para
esta luta e para a resistência ao absurdo. Esta seria a ‘louca esperança’… “

A mulher o mercado de trabalho – “No início, eu não percebia a discriminação. Quando a notei, até no teatro, me surgiu uma revolta. Fui percebendo que, se metade da humanidade julga a outra metade como inferior, isto só pode ser uma das causas de subdesenvolvimento. Mesmo na França, uma das democracias européias, há uma discrepância entre homens e mulheres na ocupação de postos de trabalho e em ganhos, comprovada estatisticamente – e isso é contra a lei lá.”

Início de carreira e descoberta da vocação – “Um espetáculo que me marcou, no início, foi Arlequim, servidor de dois patrões (texto de Carlo Godoni). Minha escolha da carreira aconteceu na universidade, onde comecei no teatro. Saí de um ensaio fora de mim, como em êxtase. Foi como um amor à primeira vista. Eu pensei: ‘é isto que quero fazer por toda a minha vida’. Quando penso que muitos jovens não acham suas vocações, sinto que tive muita sorte em descobri-la”.

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Para não perder Os náufragos

Depois da venda praticamente instantânea de todos os ingressos para a temporada paulista, quem não conseguiu garantir uma vaguinha na plateia para ver o espetáculo do Théâtre du Soleil terá mais uma oportunidade, só que para as apresentações no Rio de Janeiro. As vendas para Os náufragos da louca esperança, com direção de Ariane Mnouchkine, começam hoje, a partir das 13h, nos sites www.sescrio.org.br e também pelo ingressorapido.com.br e pessoalmente nas bilheterias do Espaço Sesc ou Teatro Sesc Ginástico.

A temporada no Rio vai de 9 a 19 de novembro (exceto nos dias 14 e 15), de terça a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h. As apresentações serão no HSBC Arena, na Barra da Tijuca.

Para quem está no Rio ou tem possibilidade de viajar, serão realizadas uma série de encontros e oficinas com os integrantes do grupo no Espaço Sesc, em Copacabana.

O espetáculo ainda vai passar por Porto Alegre, ainda dentro da programação do Porto Alegre em Cena.

Como comprar:

www.sescrio.org.br ou www.ingressorapido.com.br

Espaço Sesc
Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana
Telefone: (21) 2547-0156

Teatro Sesc Ginástico
Av. Graça Aranha, 187 – Centro
Telefone: (21) 2279-4027

Companhia francesa vai ao Rio e depois segue para Porto Alegre. Foto: Divulgação

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