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Festival Estudantil garimpa artistas
e investe na formação de público
*Ação Cena Expandida*

A Praieira, do Pantomima Grupo de Dança do Recife. Foto: Divulgação

Veredas da Salvação tem adaptação e direção de Rodrigo Hermínio. Foto: Divulgação

O Festival Estudantil de Teatro e Dança (Feted) funciona como um laboratório estético, uma porta de entrada artística na perspectiva de renovar quadros da cena na cidade do Recife. Essa partilha do sensível atua na base também para a formação de novos púbicos.

A sua 19ª edição acontece de 8 a 18 de setembro, no Teatro Apolo, região central do Recife, com trabalhos de alunos das escolas públicas e privadas inscritas no edital.

Retrato de Família abre a programação. Com texto de Nelson Rodrigues, a livre adaptação das peças Senhora dos Afogados, Toda Nudez Será Castigada e Álbum de Família discute as hipocrisias da sociedade. Já Vereda Da Salvação, clássico brasileiro de Jorge Andrade, mergulha no debate sobre fanatismo religioso e posse de terra.

Versões de Molière, Gil Vicente e Ariano Suassuna, respectivamente, Médico à Força, Auto da Barca do Inferno e A Farsa da Boa Preguiça, estão no repertório do programa.

Uma empresa de cupidos, mas com alguns funcionários atrapalhados movimentam a peça Departamento de Emergências Amorosas.

Fred Nascimento dirige peça de Samuel Beckett, em Fim de Jogo – Desmontagem para grupo da Escola Municipal de Arte João Pernambuco. A programação completa está no final do post.

Fim do Jogo, encenação da Escola João Pernambuco, dirigida por Fred Nascimento. Foto: Divulgação

As peças de dança estão concentradas no dia 18 de setembro, com participações do Ballet COMPAZ,  Pantomima Grupo de Dança , Grupo Celeiro do Passo, Studio oito de Danças, Colégio Equipe e Grupo Soma.

Criado em 2003 pelo produtor cultural Pedro Portugal, o Feted busca dar visibilidade e incentivar novos talentos. Alguns integrantes de grupos consolidados na cidade do Recife já passaram pelo festival, a exemplo do Magiluth, Trupe Ensaia Aqui e Acolá, Grupo Teatral Ariano Suassuna e a Trupe Mulungu Teatro de Bonecos e Atores.

Duas mulheres da cultura pernambucana são as homenageadas neste ano: a professora, diretora teatral, atriz e produtora cultural Albanita Almeida e a professora, coreógrafa e diretora artística Viviane Lira.

O Feted – Festival Estudantil de Teatro e Dança integra a Cena Expandida, articulação que junta cinco festivais no mês de setembro: o Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena, o Feteag- Festival de Teatro de Agreste, o Reside – Festival Internacional de Teatro de PE, e o Transborda – as linguagens da cena, do SESC PE.  Atualizações sobre a iniciativa podem ser conferidas nas redes sociais @cenaexpandidarec.

19º FESTIVAL ESTUDANTIL DE TEATRO E DANÇA (FETED)
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife. Telefone: 3355 3321).
Ingressos: R$ 20,00 (deste valor, R$ 12,00 são direcionados a cada grupo, como forma de incentivo à produção).

Retratos de Família abre a programação do festival. Foto Divulgação

PROGRAMAÇÃO – TEATRO

Dia 8 de setembro de 2022 (quinta-feira), 19h
RETRATOS DE FAMILIA (Espaço Cênicas – Recife-PE)
Texto: Livre adaptação de três obras clássicas de Nelson Rodrigues: Senhora dos Afogados, Toda Nudez Será Castigada e Álbum
de Família.
Direção Antônio Rodrigues

Dia 9 de setembro de 2022 (sexta-feira), 19h
DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIAS AMOROSAS (SESC/Cine Teatro
Samuel Campelo- Jaboatão dos Guararapes-PE)
Texto: O Grupo.
Direção Anderson Damião

Dia 10 de setembro de 2022 (sábado), 16h
BOI ESTRELADO (Grupo Teatral Ariano Suassuna – Igarassu-PE)
Texto: Albanita Almeida.
Direção André Ramos

Dia 10 de setembro de 2022 (sábado), 19h
VEREDA DA SALVAÇÃO (Desvendando o Teatro – Teatro do Amanhã – Recife-PE)
Texto: Jorge Andrade / Adaptação: Rodrigo Hermínio.
Direção Rodrigo Hermínio

Dia 11 de setembro de 2022 (domingo), 16h
MÉDICO À FORÇA (Grupo Teatral AchylesCoqueijo – GTAC – Recife-PE)
Texto: Molière adaptação: Fabio Siqueira.
Direção: Marcos Santos

Dia 11 de setembro de 2022 (domingo), 19h
NARRATIVAS DE UMA HISTÓRIA DE FÉ (Desvendando o Teatro – Teatro do Amanhã – Recife-PE)
Texto: Coletivo.
Dramaturgismo/Direção: Rodrigo Hermínio

Dia 13 de setembro de 2022 (terça-feira-feira), 19h
QUEBRANTO DE UMA LUA CHEIA (Escola Estadual Cônego Jonas Taurino – Recife-PE)
Texto e direção: Sérgio Neves Barbosa

Dia 14 de setembro de 2022 (quarta-feira), 19h
AUTO DA BARCA DO INFERNO (Espaço Cênicas- Recife-PE)
Texto: Livre adaptação da obra de Gil Vicente.
Direção: Antônio Rodrigues

Dia 15 de setembro de 2022 (quinta-feira), 19h
A FARSA DA BOA PREGUIÇA (SESC Casa Amarela – Recife-PE)
Texto: Ariano Suassuna
Direção: Adriana Madasil / Iná Paz

Dia 16 de setembro de 2022 (sexta-feira), 19h
CORDEL ESTRADEIRO, UMA VIAGEM IMPRESSIONANTE AO SERTÃO (Escola Mun. Maria De Lourdes Dubeux Dourado Recife – Ipojuca-PE)
Texto e Direção: Márcio Silva Lima

Dia 17 de setembro de 2022 (sábado), 16h
UM SONHO ENCANTADO (Organização de Auxilio Fraterno – OAF –Recife-PE)
Texto e direção: Marcelinho Maracá

Dia 17 de setembro de 2022 (sábado), 19h
FIM DE JOGO – DESMONTAGEM (Escola Municipal de Arte João Pernambuco -Recife-PE)
Texto: Samuel Beckett.
Direção: Fred Nascimento

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 16h
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS (Espaço Cultural Socorro Raposo – Recife-PE)
Texto e Direção: Sissi Loreto

PROGRAMAÇÃO – DANÇA
Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19h
DANÇA DAS BONECAS (Ballet COMPAZ – Recife-PE)
Coreografa: Liliane Freitas

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:05h
A PRAIEIRA (Pantomima Grupo de Dança Recife-PE)
Coreografas: Taynanda Carvalho e Viviane Lira

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:10h
CocoDub (Pantomima Grupo de Dança) – Recife-PE)
Coreografas: Taynanda Carvalho e Viviane Lira

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:15h
CAMARÁ: TERRA DE BRINCANTE (Grupo Celeiro do Passo – CCVA – Recife-PE- Recife-PE)
Coreografo: Anderson Henry

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:20h
FERVENDO/ ANDANDO NO PASSO DO FREVO (Studio oito de Danças – Recife-PE)
Coreografa: Liliane Freitas

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:25h
ENCONTRO (Colégio Equipe Recife-PE)
Coreografas: Taynanda Carvalho e Viviane Lira

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:30h
CHORINHO (Grupo Soma)
Coreografas: Brenda Schettini;

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:35h
WE CAN DO IT (Grupo Soma)
Coreografas: Sabrina Arruda

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:40h
CORRA (Grupo Soma)
Coreografas: Sabrina Arruda

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:45h
VALSA DAS HORAS (Grupo Soma)
Coreografas: Juliana Siqueira

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:50h
REVOLUTION (Grupo Soma)
Coreografas: Sabrina Arruda

Dia 18 de setembro de 2022 (domingo), 19:55h
MIRLITONS (Grupo Soma)
Coreografas: Juliana Siqueira

Programação da Cena Expandida

Feted – 8 a 18 de setembro (@feted.pe)
Transborda – 8 a 18 de setembro (@sescpe e sescpe.org.br)
Cena Cumplicidades – 10 a 30 de setembro (@ccumplicidades e cenacumplicidades.com.br)
Feteag – 20 a 30 de setembro (@feteag e feteag.com.br)
Reside – 22 a 28 de setembro (@residefestivalbr e residefestival.com.br)

 

Entrevista: Pedro Portugal

Pedro Portugal, produtor do Feted – Festival Estudantil de Teatro e Dança. Foto: Divulgação

– Pedro, o que te motiva, o te move a tocar o Festival Estudantil de Teatro e Dança?

Eu comecei a mexer com teatro em 1981 com Marcus Siqueira (criador do Grupo de Teatro Hermilo Borba Filho). Trabalhamos um ano juntos. Depois eu fui fazer CFA (Curso de Formação do Ator) no Teatro Joaquim Cardozo. E virei produtor em 1989. Trabalhei com Enéas (Alvarez) muitos anos no TEBO. Nos últimos anos do TEBO Enéas estava muito obeso e não podia subir as escadas. No Teatro do Forte das Cinco Pontas tinha que subir as escadas. E Sonia Medeiros fazia anos que não aparecia lá. Então, os últimos cinco anos do TEBO quem fez fui eu. Praticamente eu que fazia; Enéas dava as coordenadas, mas quem botava para moer era eu. Então, qual o motivo? O motivo era aquele que Enéas tinha: de descobrir novos talentos, de descobrir gente nova na cidade, mexer com o público, mexer com a cidade e realmente isso nós estamos conseguindo. Para você ter uma ideia, nessa nova geração, o festival este ano faz 20 anos. É a 19ª edição porque teve um ano que não aconteceu por causa da pandemia. Ano passado nós fizemos online. Então o festival tem 20 anos e a geração que está aí dessa época, 90% que trabalha com teatro passaram pelo festival estudantil. Ou como técnico, como ator, como diretor, como autor. Você não faz ideia da minha emoção quando vejo um espetáculo de um amigo, não sei porque é tanta gente que passou no festival que não sei… não me lembro de todos, claro… Praticamente 400 que passam pelo teatro por ano, tem anos que é mais. Teve um ano que só de dança foram 36 coreografias. Tinha coreografias com mais de 30 meninas e meninos. Então, faz as contas de 18 edições … multiplica por isso. Então, esse é o motivo para continuar fazendo. Eu não sei se vou continuar fazendo, eu estou ficando cansado. Tenho 65 anos e estou ficando cansado. E trabalhar sem dinheiro é muito complicado. Todo ano eu tenho que ir atrás de um amigo “ohhh meu amigo, faça a arte para mim. Oh, companheiro faça isso, oh amigo faça isso”. Aí sempre dou um agrado, mas não é o preço justo, porque a gente não tem dinheiro. A minha motivação é ver as pessoas passando na rua e muitas pessoas falando comigo: “Pedro, eu faço teatro por sua causa!”, “Pedro, eu comecei a fazer teatro com você”. Rapaz, você não faz nem ideia. Então essa é a minha motivação.  

– Você “herdou” esse festival de Enéas Alvarez, é isso? Como foi isso?

Olha, realmente, eu não herdei o festival de Enéas, não. O festival é em cima de ideias de Enéas, o TEBO. O TEBO começou como festival estudantil de teatro na Casa da Cultura e eu participei desde o primeiro ano. Eu trabalhava na Casa da Cultura. Foi lá que conheci Marcus Siqueira; nós trabalhamos mais de um ano juntos. E comecei a me envolver com o festival. Aí Enéas ficou muito chateado com o festival, porque não dava dinheiro e as pessoas ainda falavam mal do festival. Ele não ganhava dinheiro e ainda era esculhambado. Enéas iria terminar no 13º. E dona Clea Krause (primeira-dama do Recife de 1979-1982  e de 1985-1988), que faleceu, a mãe de Priscila Krause, essa mulher gostava muito de teatro. Mas isso é outra coisa. Então dona Clea disse a Enéas: “Rapaz, termina com 15”. Aí ele fez 15 anos de festival e aí o festival parou por sete, oito anos, eu não me lembro agora não. Não tenho isso na cabeça, não. O festival passou mais de sete anos parado. Aí eu conversei com alguns amigos para a gente fazer o festival e um produtor quis fazer comigo e nós fomos atrás de algumas pessoas. Fomos atrás do Sesc, formos na Fundarpe – e não vou dizer o nome das pessoas por ética – e as algumas disseram “ah isso já passou, o tempo não é mais disso, não”; “Pedro, isso é uma viagem sua”. E o produtor cultural que estava pensando em fazer comigo, também desistiu. Aí eu disse: “sabe de uma coisa, vou fazer esse negócio sozinho”. Então, é ideia do TEBO sim, mas é uma coisa em outro formato, no meu estilo, não mais do TEBO. Agora tem teatro e dança.

– Seu festival está num lugar estratégico para a formação de público, pois a mostra de vem de produções de escolas públicas e particulares, cursos livres de teatro e dança, ONGs e universidades. Que análise você faz desse papel de formador de público?

Acho o teatro Apolo um teatro legal; no centro da cidade, um teatro pequeno, que se você botar 100 pessoas tem um público legal. A gente fez todos os anos lá. Teve um ano que a gente fez a dança no Barreto Júnior. Já teve anos que a gente fez a dança no teatro do Chocolate. Mas não foi legal. Já fizemos no teatro do Parque também, a parte da dança, quando eram muitas meninas dançando. Teve ano que eram mais de 36 coreografias. E eram em dois dias. O Apolo é um lugar estratégico e o teatro é bem equipado, dá pra fazer os nossos trabalhos.

O Festival estudantil trabalha com ONGs, cursos de teatro, escolas públicas e privadas. Como é que a gente consegue formar público? Trazendo os pais para ver os filhos. Para fazer pessoas que nunca foram ao teatro sair de casa só se for para ver a família. Então a gente tira os pais de casa, tira a família inteira; vai primos, vai vizinhos, vai colegas, vai amigos. Isso é a nossa estratégia de formar público. E até os atores. Claro, 90% ou mais não serão atores, até porque não tem campo para todo mundo. É feito jogador de futebol. Eu mesmo gosto de futebol. Jogador de futebol, minha filha, é um milhão para sair sete ou oito jogadores. É feito o teatro. Como eu disse, 300, 400 passam pelo Festival Estudantil –atores, bailarinos e técnicos –,mas a maioria não será nem uma coisa nem outra.  Mas pelo menos leem um texto de teatro, vão ao teatro ver os espetáculos, sabem o que é o teatro. E outra coisa: abre a cabeça das pessoas. E é nossa ideia de as escolas chamarem arte-educadores para montar espetáculos nas escolas. Isso aconteceu durante um tempo, algumas escolas montaram espetáculos para o festival. Vinham para o festival estudantil, depois iam para o Feteag de Caruaru, iam para Vitória, iam para os festivais de estudante, que Pernambuco tem muito festival de estudante. O Feteag praticamente já não faz mais com escolas, só em Caruaru mesmo, mas não tem mais aquele festival grande, de competição, não existe mais. O Feteag se voltou para o lado profissional e até um lado mais internacional. Então era nossa ideia, mas o tempo vai mudando e a gente vai tentando adequar. Mas uma coisa é certa, as pessoas que passam pelo teatro e pela dança serão outras pessoas no futuro. Isso eu tenho certeza.

– Como você interpreta a política públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente.

Eu vou ser muito sincero. Eu não tenho partido político. Eu voto em pessoas, geralmente de esquerda. Porque acho que a esquerda é mais ligada à cultura. Mas não tenho partido. Tenho as minhas convicções, gosto de estudar o candidato para votar nele.

Nós tivemos um boom muito grande na cidade do Recife na era PT de João Paulo. João da Costa começou a desmontar tudo. Então você vê que são as pessoas. PT de João Paulo e PT de João da Costa, entendeu. João da Costa acabou com o SIC municipal e outras coisas que não quero comentar aqui. O que é que falta? Faltam políticas sérias na cidade. Mas o político geralmente não investe em cultura. Por que não investe em cultura? Porque a pessoa quanto mais analfabeta melhor para eles. Dá para ver a porcentagem da pessoa que vota na direita e na esquerda. Na área da cultura as pessoas são mais antenadas. E eles não querem isso. O político em si quer as pessoas quanto mais – não são todos, claro, tem as exceções – mas a maioria deles, quanto mais burra melhor para eles, porque fica feito manada. Quem lê um livro, quem vai ao teatro, vai ao cinema, vai a uma dança, quem vai ver espetáculo de ópera ou até mesmo vai a um show, já tem outra cabeça e isso eles não querem. O que a gente precisa é de político na câmara ligado à arte. Sem política a gente não chega em canto nenhum. As pessoas que entram, tem uns que tem umas ideias boas, boa-vontade, mas esbarra. A arte é sempre última coisa que o político olha.

– Fale brevemente do cardápio dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a edição.

Nesta edição temos 12 espetáculos de teatro e 10 coreografias. Então é um cardápio bem legal de espetáculos de todas as linhas que você possa imaginar. Os textos são muito interessantes. Vou dizer feito um amigo meu dizia: o espetáculo em si pode não ser a oitava maravilha do mundo, mas só você escutar o texto já sai do teatro mais culto um pouquinho. Ultimamente temos espetáculos muito interessantes. Tem gente do Sesc, da Cênicas que é Toni Rodrigues que faz trabalhos muito legais. E tem coreografias muito boas. A dança é sempre um ponto alto no festival. Tem muitas escolas de dança boas que estão participando com a gente.

– Você sempre fala que faz o festival “na raça”. Isso é motivo de orgulho ou preocupação.

É verdade. São 20 anos de festival, mas 19 edições. A gente ganhou patrocínio: três Funcutura, três SIC municipal (teve um que a gente ganhou, mas o dinheiro não foi entregue, mexerem em tudo, acabaram com o SIC. Como é que se acaba com um edital depois de estar na rua, depois da comissão julgadora julgar os projetos, tudinho e não pagar as pessoas?!). Eu soube que meu projeto tinha sido classificado. Tinha já uma pessoa captando o dinheiro … é muito complicado. Em dois anos ou três – não me lembro direito – a prefeitura deu um dinheiro que chama do balcão. Foi na época de João Paulo – que foi muito bom para a cultura  – e arrumaram um patrocínio para a gente. Não era um patrocínio grande, mas dava para a gente fazer alguma coisa. Mas o resto dos anos, nós fazemos com o dinheiro da bilheteria e com as inscrições.

Dizem “Pedro, teu festival não passa no Funcultura porque cobra ingresso”.  Minha gente se não cobrasse ingresso o festival tinha acabado. Outra coisa. Esse ano o ingresso é R$ 20, mas desses R$ 20, R$ 12 é para as escolas, para ajudar num figurino, num adereço, num ônibus, para se mexer. Então para nós sobra R$ 8 este ano, porque ano passado era R$ 6. Nós vivemos muito em cima do ingresso. Dá para pagar uma parte das contas. A gente podia oferecer cursos e várias outras coisas, mas como fazer isso sem dinheiro? A gente não tem dinheiro nem para pagar decentemente uma pessoa que faça a arte. Tem horas que fico morrendo de vergonha. Ontem eu estava falando como o menino que faz a programação visual, Douglas Duan, – gente da melhor qualidade e a programação visual dele é linda. Eu disse a ele, “Duan, é tão chato pedir todo ano a você”. A gente dá um trocado ao cara.

Agora a preocupação é que tenha um ano ruim de público e a gente tenha que pagar do nosso bolso. Houve ano que paguei do meu bolso sim. Porque a gente viajou em coisas. Foi prometido dinheiro… Instituições prometeram e a gente botou a logomarca nos cartazes e no fim não deram dinheiro, não. Este ano nós temos o apoio da Prefeitura do Recife, pela Secretaria de cultura e Fundação de Cultura.

– Neste ano, com previsão para os seguintes, o festival estudantil integra o Cena Expandida com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?

A Cena Expandida, como é um piloto, vamos ver no que vai dar. Eu, Paula (de Renor), Fábio (Pascoal) e Arnaldo (Siqueira) principalmente os quatro – o Transborda é do Sesc – estamos com muita esperança de ser uma coisa muito legal. E vão chegar mais festivais, que já estiveram conosco, mas por causa do tempo não ficaram este ano. Acho que vai ser uma coisa muito interessante essa Cena Expandida. Daqui a um ano ou dois, um mês vai ser pouco para abrigar tanto festival. É aquela história, unidos somos fortes.

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