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O que ver no Janeiro – parte 4

Grito. Com nne Costa e Marta Guimarães. Foto: Rafael Bandeira / Divulgação

Grito. Com nne Costa e Marta Guimarães. Foto: Rafael Bandeira / Divulgação

São alarmantes os números de violência contra mulher, alguns que chegam ao homicídio. Pernambuco está entre os cinco estados que mais exercem esse tipo de brutalidade no país. Inspirado em relatos de meninas de diferentes idades, bairros e classes sociais do Recife, o espetáculo Grito discute a atuação da mulher na sociedade e o combate à violência de gênero. A peça é fruto de um ano de ações da pesquisa Ver-ter: Um olhar sobre os sentimentos periféricos, desenvolvida pelo Coletivo Soma.

Durante esse tempo, o grupo – composto pelas bailarinas Anne Costa e Marta Guimarães e pela fotógrafa Dani Neves – recolheu relatos de violência sexual e agressões diárias e com esse material criou a primeira encenação. A montagem leva a assinatura na direção da atriz e bailarina Lili Rocha e trilha sonora do pianista Vitor Araújo. Grito propõe ouvir essas falas emudecidas e refletir sobre os papeis da mulher neste século 21.

A etapa final do Janeiro de Grandes Espetáculos vira maratona mesmo, se você quiser aproveitar ao máximo a programação. São três peças nesta sexta-feira no mesmo horário, 20h. Não dá para conciliar. h(EU)stória – o tempo em transe, do Coletivo Grão Comum e Gota Serena (Recife/PE), no Teatro Arraial; Grito, do Coletivo Soma (Recife/PE), no Espaço Experimental e A Gaivota, no Teatro Barreto Júnior. Além do show com Zé da Flauta e Ave Sangria – Noite da Psicodelia Nordestina, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), às 21h.

O cineasta baiano Glauber Rocha é o personagem em agonia do h(EU)stória – o tempo em transe, primeiro espetáculo da Trilogia Vermelha. A montagem do Coletivo Grão Comum e Gota Serena, tem Júnior Aguiar e Márcio Fecher no elenco.

A Gaivota é um Tchekhov. Reflete sobre criação artística e do que pode ser velho e novo no teatro, com direção de Sandra Possani e elenco do Curso de Interpretação Para Teatro do SESC Piedade (Jaboatão dos Guararapes/PE)

Dois shows compõe a Noite da Psicodelia Nordestina. Zé da Flauta lança seu primeiro CD solo, Psicoativo. E a banda Ave Sangria, apresenta O Novo Voo da Ave Sangria, que junta ritmos nordestino com o rock e a psicodelia.

SERVIÇO

Espetáculo Grito, do Coletivo Soma
Quando: Sexta (27) e sábado (28), às 20h; e domingo (29), às 19h
Onde: Espaço Experimental – Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Vendas: bilheterias do Teatro de Santa Isabel e do Espaço Experimental
Classificação etária: a partir dos 18 anos
Duração: 45 min.

h(EU)stória – o tempo em transe – Coletivo Grão Comum e Gota Serena (Recife/PE)
Onde: Teatro Arraial
Quando: Dia 27 de janeiro de 2017 (sexta-feira), às 20h
Quanto: R$: 30,00 (Inteira) | 15,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Duração: 1h15

Zé da Flauta e Ave Sangria – Noite da Psicodelia Nordestina – Wellima Produções (Recife/PE)
Onde: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu)
Quando: Dia 27 de janeiro de 2017 (sexta-feira), às 21h
Quanto: R$: 80,00 (Inteira) | 40,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 12 anos
Duração: 40 min. (Zé da Flauta) + 20 min. (intervalo) + 1h20 (Ave Sangria) = 2h20

O diretor Marcondes Lima interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

Daniel Barros, Marcondes Lima, Robério Lucado e André Brasileiro em Ossos Foto: Divulgação

A melancólica história de um escritor famoso, que carrega dentro de si o peso incomensurável do abandono é exposto em Ossos. Por honra, Heleno de Gusmão precisa dar um destino digno aos restos mortais do seu amante e fazer um acerto de contas com o seu passado. Montagem do Coletivo Angu de Teatro.

Para os pequenos, tem o poético encontro entre uma bolha de sabão, Bolonhesa e o inquieto Arlindo, uma rajada de vento, para os pequenos. Vento Forte para Água e Sabão, com a Companhia Fiandeiros de Teatro (Recife/PE).

Chamado de bispo vermelho pela atitude esquerdista na época dos militares Dom Helder Camara (1909-1999), arcebispo emérito de Olinda e Recife tem muito a nos sinalizar nestes tempos de temeridades. Defensor da não-violência e de uma Igreja Católica voltada aos pobres, ele se notabilizou nos anos de 1970 e 1980, por denunciar internacionalmente os crimes de tortura no Brasil. 

Habilidoso defensor dos direitos humanos esse baixinho incomodou os ditadores e continua sendo um sinal de luz. Sob a direção de Rodrigo Mercadante e Dinho Lima Flor, que faz o papel do bispo, O Avesso do Claustro junta a biografia de Camara com a trajetória de três personagens fictícios. Um pesquisador que vai em busca de Dom Helder no Recife, uma mulher que encara um duro cotidiano em São Paulo e uma cozinheira do Rio de Janeiro.

A mais temida das bruxas eslavas, canibal é interpretada por Sônia Carvalho, da Cia. Cênicas de Repertório. Baba Yaga que clama por seu filho Olaf, faz do público confidente de uma degradada relação familiar.

Temos também Terror e Miséria no Terceiro Reich – O Delator, com Germano Haiut e Stella Maris Saldanha, encenação de José Francisco Filho. Na Alemanha nazista, o clima de desconfiança e possibilidade de traição chega a níveis tão elevados, que um casal de classe média desconfia que o filho pode ser um dedo-duro e denunciá-los junta a polícia do ditador Hitler. Obra escrita entre 1935 e 1938 pelo dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht. Qualquer associação com a realidade atual não pode ser mera coincidência.

Stereo Franz é inspirado em

Stereo Franz é inspirado em

A versão da companhia [pH2] Estado de Teatro, de São Paulo para Woyzeck, texto inacabado do alemão George Büchner é ambientada em uma espécie de bar. Em Stereo Franz, é exposto o cotidiano dos personagens enquanto uma banda toca e destaca pontos da narrativa.

Com dramaturgia de Nicole Oliveira e dirigido por Paola Lopes, a peça refaz a trajetória de Franz, um homem que não domina a sua própria língua, é obcecado por questionamentos sobre a morte, é traído pela mulher que ama, rejeitado por si mesmo e por pessoas que admira e é incapaz de argumentar qualquer coisa a seu favor.

No domingo temos uma viagem pelo São Francisco, guiada por Chico, que conhece os segredos do rio como ninguém no infantil Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo, da Cia. Biruta de Teatro (Petrolina/PE). A fértil criatividade do barqueiro inventa personagens e historias e sonha em reencontrar os pais que sumiram em uma noite de chuva.

Duas autoras negras falam de suas vivências. A prosa da Carolina Maria de Jesus, que foi catadora de papel e habitante da extinta favela do Canindé, e Elisa Lucinda, com uma poesia que vasculha os mistérios do feminino. O que há de injustiça social nessas vidas é bradado ora sussurrado em Olhos de Café Quente.

Viva La Vida junta o universo da pintora mexicana Frida Kahlo e a Festa de Los Muertos, utiliza referências pessoais dos atores, que contribuem com imagens-homenagens a seus mortos e discursos sobre a resistência das minorias.

SERVIÇO

Vento Forte Para Água e Sabão
Onde: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro)
Quando: Dia 28 de janeiro de 2017 (sábado), às 16h30
Quanto: R$: 20,00 (Inteira) e 10,00 (Meia)
Classificação etária: livre
Duração: 55 min.

Ossos – Coletivo Angu de Teatro e Atos Produções Artísticas (Recife/PE)
Onde: Teatro Apolo
Quando: Dia 28 de janeiro de 2017 (sábado), às 18h
Quanto: R$: 30,00 (Inteira) e 15,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Duração: 1h30

O Avesso do Claustro – Cia. do Tijolo (São Paulo/SP)
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quando: Dias 28 e 29 de janeiro de 2017 (sábado e domingo), respectivamente às 20h e 18h
Quanto: R$: 60,00 (Inteira) | 30,00 (Meia
Classificação etária: a partir dos 12
Duração: 2h30

SERVIÇO
O Delator – Terror e Miséria no Terceiro Reich
Quando: sábados e domingos de janeiro, às 18h
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista)
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: 3184-3057

Baba Yaga – Cênicas Cia. de Repertório (Recife/PE)
Onde: Espaço Cênicas
Quando: Dias 28 e 29 de janeiro de 2017 (sábado e domingo), respectivamente às 20h e 18h
Quanto: R$: 30,00 (Inteira) e 15,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 12 anos
 Duração: 1h

Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo – Cia. Biruta de Teatro (Petrolina/PE)
Onde: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu)
Quando: Dia 29 de janeiro de 2017 (domingo), às 16h30
Quanto: R$: 20,00 (Inteira) | 10,00 (Meia)
Classificação etária: livre
Duração: 50 min.

Stereo Franz – [pH2]: estado de teatro (São Paulo/SP)
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quando: Dias 28 e 29 de janeiro de 2017 (sábado e domingo), respectivamente às 20h e 18h
Quanto: R$ 40,00 (Inteira) e 20,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Duração: 1h15

Olhos de Café Quente – N’Útero de Criação e Phaelante & Phaelante Ltda. (Recife/PE)
Onde: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro)
Quando: Dia 29 de janeiro de 2017 (domingo), às 17h e 19h
Quanto: R$: 30,00 (Inteira) e 15,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Duração: 1h

Viva La Vida – Coletivo Multus (Recife/PE)*
*Atração convidada do Festival Estudantil de Teatro e Dança
Onde: Teatro Apolo
Quando: Dia 29 de janeiro de 2017 (domingo), às 20h
Quanto: R$: (Inteira) e 10,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 14 anos
Duração: 1h

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Destino trágico das gregas… ou nem tanto

Três Tristes Gregas, com Suzana Costa, Sônia Bierbard e .Foto Gustavo

Três Tristes Gregas, com Suzana Costa, Sônia Bierbard e Isa Fernandes. Foto Gustavo

Desforra, trapaça, morte por (in)justiça. Pathos pesado dessas gregas. Como se sabe, o mito de Orestes remonta ao ciclo troiano e trata da vingança dos filhos de Agamêmnon, Orestes e Electra, contra a mãe Clitemnestra e Egisto, pelo assassinato do pai. Aparece na Oresteia, do dramaturgo grego Ésquilo – composta pelas tragédias Agamemnon, Coéforas e Euménides; na Electra, de Sófocles e na Electra, de Eurípides.

O mito de Fedra ganha pequenas variações em Eurípides, Sêneca e Racine, a partir dos contextos grego, romano e clássico francês. Mas basicamente mostra a destruidora paixão de uma mulher por seu enteado. Fedra era esposa de Teseu. Apaixonou-se por Hipólito, filho ilegítimo do marido. Rejeitada, ela acusa, falsamente, o filho adotivo de violação. E depois se mata.

Sarah Kane diagnosticou a degeneração da sociedade em O Amor de Fedra. Na releitura da dramaturga britânica são expostas as feridas do mundo contemporâneo que recebe tempero da hipocrisia, do cinismo e da atitude misógina.

Antígona é a continuação dramática de Édipo Rei, de Sófocles, que parece ter deixado a desgraça como legado aos quatro filhos (Etéocles, Polinice, Antígona e Ismênia). Etéocles assume o governo, mas não respeita o trato de revezamento de poder com o irmão Polinice. Em conflito os dois se matam e o tio Creonte – irmão de Jocasta, esposa de Édipo – decreta que Etéocles, receba as honrarias fúnebres e Polinice não. E ameaça com morte a quem desobedeça suas ordens. Antígona não aceita a determinação que considera arbitrária, por não respeitar as leis naturais mais antigas ou divinas que pregavam que todo homem tem o direito ao devido sepultamento.

Três Tristes Gregas, com Suzana Costa, Sônia Bierbard e .Foto Gustavo Túlio /Divulgação

O texto é de Moisés Neto e a direção da leitura é de Cira Ramos. Foto Gustavo Túlio /Divulgação

A leitura dramatizada Três Tristes Gregas… é a única atração desta segunda-feira do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos. Com direção Cira Ramos, a ação conta com Sônia Bierbard no papel de Elektra, Suzana Costa como Fedra e Isa Fernandes na pele de Antígone.

O escritor e dramaturgo Moisés Monteiro de Melo Neto vem com uma releitura da tragédia grega através das personagens femininas Fedra, Antígona e Elektra. Ele anuncia que tirou o mito do pedestal para fazer bulir ao rés-do-chão. E mistura o trio grego “com alcoviteiras, farrapos humanos e vícios” para ressaltar o papel das mulheres na Grécia antiga. Alardeia ambição esse texto que tem a “intenção de atingir o limite entre o justo e o injusto” daquela sociedade, mas para isso usa a lâmina do humor em combinação com a seriedade e o grotesco. Mas isso é apenas uma primeira leitura.

Ficha Técnica
Três Tristes Gregas
Texto: Moisés Monteiro de Melo Neto
Elenco: Isa Fernandes, Sônia Bierbard e Suzana Costa
Produção Executiva: Mísia Coutinho (METRATON)
Make up: Fê Uchoa
Design de luz: Eron Vilar
Sonoplastia: Fernando Lobo
Orientação corporal: Márcia Rocha
Criação de figurinos e adereços: Xuruca Pacheco
Programação visual: Ronaldo Tibúrcio
Participação especial voz na abertura: Magdale Alves

SERVIÇO
Três Tristes Gregas…
Quando: 23 de janeiro (segunda), às 20h
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 463, Boa Vista), Recife
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)

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O Encosto é mais cruel na vida real

Jr. Sampaio em O Churrasco. Foto: Joao Guilherme de Paula

Júnior Sampaio em O Churrasco. Foto: João Guilherme de Paula

O ator Júnior Sampaio entra em cena visivelmente nervoso e reforça esse palpite com a confissão de que está preocupado com o fenômeno teatral daquela noite. Pede a um espectador para segurar sua garrafinha d’água, a outro para acompanhar o texto e servir de ponto (caso ele erre alguma parte) e ao terceiro para guardar uma banana prata que ele trouxe para comer depois da sessão, já que é uma fruta com muito potássio. Já envolveu e tornou cúmplice a plateia com esse procedimento, que foi milimetricamente estudado.

Inteligente e esperto esse salgueirense radicado em Portugal. Na peça O Churrasco, ele interpreta um insólito churrasqueiro que diz que seu destino é aguardar a chegada da carne para matar a fome da humanidade. Mas a figura não leva em consideração os vegetarianos.

O espetáculo foi apresentado nos dias 13 e 14 deste mês, no Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), no Recife, e faz mais uma sessão nesta sexta-feira em Caruaru, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru), dentro do 23ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Pretensioso esse personagem, que oscila entra a arrogância e a modéstia. E que projeta no mundo variações do seu próprio umbigo. Mas será que não somos feitos dessa matéria? Só nos conectamos e reconhecemos frações de nós mesmos? Assunto para matutar. Desejamos nos relacionar de forma plena com o outro? O teatro pode ser um bom lugar dessa dessa troca subjetiva.

As “almas sentadas” acompanham o embate do Churrasqueiro com seu Encosto. A peleja é entre Auxivites, que garante que é um ser humano mesmo com o nome que carrega, e o Encosto, que nasceu em 20 de abril de 1889. “Vocês já sabem quem é este Encosto? Sabem ou não sabem? Se não sabe, estudem!”, provoca o personagem.

Com o palco limpo, apenas um tapete no chão e poucos objetos, as mudanças de clima são pontuadas pela luz, que também materializa a fogueira. O ator está vestido de uma bermuda e uma camiseta de marca, uma marca que grita em algum momento dentro desse discurso crítico.

Enquanto aguarda o carga de carne que encomendou, o Churrasqueiro discorre sobre variados assuntos. De sua origem de filho do cornudo com a vaca. “O meu pai, o cornudo, morreu queimado, deve ser isso que resolvi ser churrasqueiro”. Passando por reflexões sobre democracia, capitalismo, pobreza, opinião alheia, direito de ter filho.

Mas também define o Encosto: “Eu penso que nenhuma criatura neste mundo tem o direito de fazer o que tu fizeste. Deve ser por isso que tu não consegues reencarnar. Alma penada! Eu sei que todos merecem o perdão, mas eu não sou Cristo, apesar de ter dito que era, sou apenas um cristão discreto”.

O tom é de deboche, há ironias estendidas nas frases e intenções. Nada é demasiadamente denso. Mas instiga o espectador a explorar, e se deixar abalar das convicções arraigadas.

As balizas “cristãs” do que se entende por carne versus espírito avançam por caminhos que remetem para o mundo real ameaçado pela cobiça e pela concentração de riquezas nas mãos de poucos. Uma criatura pode num acesso de fúria fazer voar o nosso belo planeta, expõem as manchetes dos jornais do mundo inteiro, de forma velada ou nem tanto. “Que todas as fúrias do céu caiam sobre a raça dos poderosos! Que rolem as cabeças dos ditadores e dos delatores diante dos meus pés”, pontua Auxivites a certa altura.

Júnior Sampaio em O Churrasco. Foto: CMV / Divulgação

Cena despojada da montagem do português de Salgueiro.         Foto: CMV / Divulgação

Em O Churrasco, a literatura dramática atua como principal elemento organizador da encenação. Mas a alocução construída clama por ser chocalhada pelos possíveis coautores da escritura teatral, o público. O autor/ intérprete convoca a plateia a produzir significações e exercer sua liberdade para não aceitar os sentidos unívocos captados à primeira camada.

A arte de Júnior Sampaio trabalha com pequenos mecanismos contra a alienação. Sua dramaturgia formada por três dezenas de peças não descarta o divertimento, nem a ludicidade, mas persegue o essencial de uma apreciação do mundo e da crítica ao humano.

As frases de efeito do texto, as alusões a conceitos de pecado e perdão funcionam como trampolim para outras transgressões. Com sotaque português e alma que eletriza, Sampaio ficcionaliza suas demandas artísticas para tratar da vida.

O ator fisga em pequenos gestos, detalhes, coreografias corporais a sua fome de palco. E dispara em palavras as urgências políticas para nos assustar com o contemporâneo. “Todos nós temos uma ambiguidade”, vomita lá o Churrasqueiro. Para depois considerar: “Nem todo ser humano é humano”. Temo chegar a concordar com essa conclusão do filho da vaca com o cornudo. Enquanto aprecio o sobrevoo que esse intérprete cativante faz sobre os aspectos da prática da cena contemporânea na companhia de figuras como Samuel Beckett e Eugène Ionesco.

FICHA TÉCNICA
Texto, músicas, encenação e vivência cênica: Júnior Sampaio
Supervisão cênica, cenografia e pintura cenográfica:Leonardo Brício
Desenho de luz:Leonardo Brício e Júnior Sampaio
Técnicos de luz:Luciana Raposo e João Guilherme de Paula

SERVIÇO
O Churrasco – ENTREtanto TEATRO (Valongo/Portugal)
Onde: Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)
Quando: Dia 20 de janeiro de 2017 (sexta-feira), às 20h
Quanto: R$: 10,00 (Inteira) e 5,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 12 anos
Duração:50 min.
Classificação etária:a partir dos 12 anos

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Tsunami interno do bem contra o mal

Júnior Sampaio apresenta O Churrasco no 23 Janeiro de Grandes Espetáculos.  foto João Guilherme de Paula

Júnior Sampaio apresenta O Churrasco no 23 Janeiro de Grandes Espetáculos. foto João Guilherme de Paula

Auxivites (Auschwitz), é um homem estranho. Tem preocupações grandiosas, como fazer churrasco para matar a fome ao Mundo. Mas vive seus tsunamis internos. E no embate com essa porção magnânima existe um outro “eu” – um um espírito maquiavélico que o persegue desde Adão e Eva. Ele cumpre o destino traçado pelas Parcas.

Com atuação de Júnior Sampaio, a peça O Churrasco, da Cia. ENTREtanto Teatro, de Portugal, faz alusões ao nazismo. Mas também dialoga com Samuel Beckett e seus personagens à espera de Godot, os comportamentos bizarros das figuras de Ionesco e outros procedimentos do chamado Teatro do Absurdo.

                                                                                                                                                     100 palavras

FICHA TÉCNICA
Texto, Encenação e Vivência Cénica: Júnior Sampaio
Supervisão Cénica, Cenografia e Pintura Cenográfica: Leonardo Brício
Desenho de Luz: Leonardo Brício e Júnior Sampaio
Músicas: Júnior Sampaio
Foto: João Guilherme de Paula
Técnico de Luz: Luciana Raposo / João Guilherme de Paula
Produção: ENTREtanto TEATRO
Duração: 50 minutos
Classificação Etária: 12 anos

SERVIÇO
O Churrasco – ENTREtanto TEATRO (Valongo/Portugal)
Onde: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro)
Quando: Dias 13 e 14 de janeiro de 2017 (sexta-feira e sábado), respectivamente às 19h e 18h
Quanto: R$: 30,00 (Inteira) | 15,00 (Meia)

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