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Carnavalizando a filosofia

O canto de Gregório estreou em 2011. Foto: Pollyanna Diniz

O canto de Gregório, que estreou em 2011, está novamente em cartaz. Foto: Pollyanna Diniz

Filosofia, esquemas lógicos, racionalidade. O canto de Gregório, escrito por Paulo Santoro, é denso, cheio de retórica, réplicas e tréplicas argumentativas. Se fosse para apostar no resultado final, a palavra levada ao palco, talvez arriscássemos dizer que seria um espetáculo ao menos cansativo – embora sim, o texto seja muito interessante (e tenha sido montado por Antunes Filho). Mas, vamos lá, o palpite até poderia ser correto, se o grupo que tivesse decidido montar esse texto não fosse o Magiluth, coletivo pernambucano que comemora dez anos em 2014.

Repassando mentalmente a história do grupo é impossível não observar a sua coerência estética. A cada novo espetáculo eles amadurecem escolhas, desenvolvem soluções que antes tinham sido sutis, embarcam no desconhecido, mas com um background tão sólido – de horas de ensaio, de trabalho continuado, de criação compartilhada, que as coisas parecem se suceder de modo muito natural.

Em O canto de Gregório, que estreou em 2011, Pedro Vilela já deixava claro o seu arrojamento na direção – que estaria ainda mais pungente em Viúva, porém honesta (2013). Nada de marcações estanques ou coreografadas, mas ao mesmo tempo um rigor refinado, que nos dá a impressão de uma brincadeira, um jogo, que vai ao limiar do caótico, mas está completamente sob controle. Além disso consegue ser ácido, sarcástico, de soluções que, de tão simples, podem ser desconcertantes – a chuva de batatas em Viúva para comprovar.

Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Lucas Torres interpretam vários personagens nessa montagem em que aparecem figuras como Jesus, Buda e Sócrates (três Sócrates, aliás). Depois de um ano bastante intenso, de três estreias: Aquilo que o meu olhar guardou para você, Viúva e Luiz Lua Gonzaga, o elenco está mais homogêneo para voltar a encenar O canto de Gregório. As discrepâncias ficam cada vez mais suaves e cada um dos atores traz elementos, características e poéticas muito especiais para a cena.

Além disso, o espetáculo está muito mais leve e próximo do público – quando estreou, a ideia é que ele fosse encenado dentro de um cubo branco – parecia um ambiente hospitalar; numa temporada em Curitiba, depois de muita discussão, o grupo decidiu abolir aquelas paredes brancas, o que fez mesmo muito bem à peça.

Pedro Wagner defende o personagem-título

Pedro Wagner (foto) defende o personagem-título

O papel título do espetáculo é de Pedro Wagner, um ator que transborda talento; é um sujeito magrelo, doce, mas de opiniões fortes; e que, no palco, toma uma proporção que nos arrebata, com a consciência do seu corpo, da voz, das nuances do texto, das viagens a que pode levar o espectador “só” dizendo algumas palavras.

Apesar do jogo com os personagens, do humor do grupo – afinal, quem diria, Jesus adora carnaval -, a principal característica de O canto de Gregório é o respeito ao texto e a palavra. É nele que o espetáculo está calcado, numa encenação em que, claro, os outros elementos também têm muita importância. Isso talvez também se repita em Viúva, mas não com tanto destaque, por conta da natureza do texto mesmo. É porque em O canto de Gregório o que importa é o jogo retórico, os esquemas lógicos que são construídos, a possibilidade da vitória, ou não, só pela argumentação.

Giordano Castro e Pedro Wagner

Giordano Castro e Pedro Wagner

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Projeto Pague quanto puder

O Magiluth voltou a encenar O canto de Gregório dentro do projeto Pague quanto puder, que tem o apoio do Funcultura. O espetáculo está em cartaz terças, quartas e quintas-feiras, às 20h, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. Antes dele, às 19h, Giordano Castro apresenta o solo 1 torto, com direção de Pedro Wagner. Já nas sextas (19h) e sábados (em duas sessões, às 18h e 20h), o grupo ocupa o Teatro Arraial, na Rua da Aurora, com o espetáculo Aquilo que meu olhar guardou para você. Não há um preço pré-estabelecido do ingresso; é o espectador quem define quanto pagará para assistir aos espetáculos.

Erivaldo Oliveira e Lucas Torres

Erivaldo Oliveira e Lucas Torres

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Você é bom?

O canto de Gregório, nova empreitada do Magiluth

O grupo pernambucano Magiluth estreia hoje um espetáculo que define como “uma metralhadora racional”. Depois de 1 Torto, espetáculo que tinha um personagem sensitivo, intuitivo, emotivo, O canto de Gregório traz um homem que vai em busca de respostas. Quer saber, prioritariamente, o que é a bondade. Trilhando esse caminho, encontra com personagens como Jesus Cristo, Buda, Sócrates.

O texto é do paulista Paulo Santoro e já foi encenado pelo CPT, sob direção de Antunes Filho, em 2004. A Yolandinha Ivana Moura me disse que tanto a encenação quanto o texto eram ótimos.

Ao que parece, os meninos do Magiluth optaram por uma encenação “limpa”. Tão limpa que queriam uma “caixa branca” para fazer a encenação, pronta desde janeiro. Fizeram uma peregrinação por vários teatros e espaços da cidade, inclusive algumas galerias de arte, quando finalmente veio a confirmação de que apresentariam no Teatro Hermilo Borba Filho. A direção é de Pedro Vilela e no elenco estão Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Pedro Wagner.

Serviço:

O canto de Gregório, do grupo Magiluth
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Bairro do Recife)
Quando: estreia hoje e fica em cartaz sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h, só até 01 de maio
Quanto: R$ 16 e R$ 8 (meia)

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Caminhando ao passado

Filha da anistia. Fotos: Vítor Vieira

Quando decidiram montar Filha da anistia, os atores da Caros Amigos Cia. de Teatro, de São Paulo, não queriam uma peça datada ou histórica sobre a época em que o Brasil vivenciou uma ditadura militar. Por isso mesmo, nas quatro apresentações gratuitas que o grupo fará no Recife – de hoje a domingo, sempre às 20h, no Teatro Apolo – não espere música de Geraldo Vandré ou cenas de tortura.

A intenção dos atores era trazer uma história em que as pessoas, de todas as idades, se interessassem, se identificassem e pudessem, aí sim, refletir sobre o passado. “É uma inquietação enquanto artistas e cidadãos, de olhar para o nosso passado tão recente e ver parte da história que não está esclarecida, não é conhecida de verdade”, explica o ator Alexandre Piccini, que divide a cena e a autoria do texto com Carolina Rodrigues. A direção é de João Otávio.

No enredo, Clara também não conhece a sua história. Foi criada pelos avós, ouvindo que a mãe havia morrido no parto. Quando os avós morrem, ela vai em busca do pai e descobre que tudo que sabia sobre si mesma não era bem verdade. “Criamos uma ficção, mas que é um recorte de muitas histórias de pessoas que viveram nessa época”, conta o ator.

Ele e Carolina passaram três anos pesquisando em arquivos públicos, livros, documentos e ouvindo depoimentos para montar a dramaturgia da peça, que recebeu incentivo do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura de São Paulo em 2009, estreou em 2010, e agora estabeleceu uma parceria com o projeto Marcas da memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Através dessa parceria, a peça vai passar por lugares como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina e Brasília, além de Pernambuco.

Clara não sabe a sua própria história

Depois de cada apresentação, é realizado um debate com os atores, convidados e o público. “Já tivemos conversas maravilhosas, porque na plateia acontece o encontro de gerações que nos interessa muito. E assim conhecemos o nosso presente. Porque a nossa educação, cultura, segurança pública, a maneira de se comportar dentro de uma democracia, foram moldados a partir do período da ditadura”, finaliza o ator.

CURTINHAS:

Muita coisa rolando hoje na cidade. Aí vão outras dicas:

1 Torto, do Magiluth, será apresentado no Teatro Arraial, na Rua da Aurora, às 20h. O texto e a encenação são de Giordano Castro e a direção é de Pedro Wagner. O grupo propõe um jogo cênico com o cotidiano de um personagem que vive procurando palavras para dizer quem é e não consegue domar o coração. Pode ser brega e até prolixo; mas é, sobretudo, um cara comum. Aproveitem porque, por agora, esa será uma das últimas oportunidades de ver a peça, já que, por estes dias, a companhia estreia O canto de Gregório. Ingressos: R$ 10.

Giordano Castro protagoniza 1 Torto. Foto: Val Lima

– O espetáculo Separação amigável faz, nesta quinta (31) e sexta-feira (01), às 20h, as duas últimas apresentações da temporada no Teatro Valdemar de Oliveira, na Boa Vista. A montagem traz Renata Phaelante, Pascoal Filizola, Sandra Rino e Valdir Oliveira no elenco e tem direção de Kleber Lourenço. O texto é de Renata Phaelante (estreando na dramaturgia), que começou a carreira de atriz aos nove anos, em 1982, com a peça A capital federal, uma montagem do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). A montagem traz um casal em crise, depois que o marido foi “flagrado” com a vizinha piriguete no elevador. Só que ela tem um marido ciumento e muito estranho, que veio cobrar satisfação! Ingressos: R$ 10 e R$ 5.

Pascoal Filizola e Renata Phaelante interpretam casal em crise. Foto: Val Lima

-O Grupo Grial de Dança apresenta, hoje e amanhã, o espetáculo Travessia, às 20h, no recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu. Se você ainda não conheceu a nova casa, está aí uma ótima oportunidade! Segunda etapa da trilogia Uma história, duas ou três – iniciada em maio, com A barca, na Praça do Arsenal – o espetáculo celebra os contadores de histórias da atualidade, a partir do legado de Dona Militana, romanceira potiguar falecida em junho, aos 85 anos. A coreografia contempla desde as pinturas rupestres e itaquatiaras (pedra pintada, em tupi) que registram o início da história da humanidade, até as histórias transmitidas oralmente, nos dias atuais. A cantadeira Nice Teles, do Cavalo Marinho Estrela Brilhante, de Condado, canta ao vivo durante Travessia, que teve cenários criados por Dantas Suassuna. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados com duas horas de antecedência.

Grial homenageia Dona Militana, romanceira potiguar

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