A vida é breve e imprevisível. É preciso aproveitar cada segundo, entende a Bolonhesa depois que fez amizade com Arlindo. Metáfora poderosa, essa curiosa relação entre a bolha de sabão e a rajada de vento. Juntos eles vão experimentar as belezas e os sabores do mundo, mesmo sabendo que é tudo muito arriscado. O oitavo espetáculo da Companhia Fiandeiros de Teatro e o segundo voltado ao público da infância e juventude, Vento Forte para Água e Sabão está em cartaz aos sábados e domingos, às 16h, no Teatro Hermilo Borba Filho até o final do mês.
Para falar da fugacidade dessa passagem pela Terra e a ameaça constante da morte, o diretor levou para cena alusões a planetas, astros, estrelas, galáxias em contraponto lúdico com a bolha de sabão. No elenco da peça, incentivada pelo Funcultura, estãoTiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras.
O musical tem texto assinado por Giordano Castro e Amanda Torres. O ator do Grupo Magiluth fala um pouco sobre a dramaturgia, na entrevista a seguir.
Como foi o processo para criação da peça Vento Forte para Água e Sabão?
Esse processo surgiu na oficina Fronteiras da Linguagem, na Fundaj, ministrada por Luiz Felipe Botelho. Um dos exercícios da oficina era experimentar a escrita a partir de um universo. Eu e Amanda, que éramos um grupo, ficamos com o universo do fantástico. E aí a gente enveredou por essa escrita. Eu e Amanda tínhamos vontade de escrever para criança. Queria escrever de como falar sobre morte para criança. Essa foi a proposta inicial e foi daí que surgiu a história da bolha de sabão e do vento.
Que valores você destaca na peça?
Acho bastante subjetivo. Na verdade, a gente enquanto fazedor artístico se propõe a criar uma obra. As leituras dessa obra, como ela é recebida, quais as mensagens e os valores que cada um tira dela é um processo de fruição pessoal. Acho que seria até uma arrogância minha. Sei o mote, a abordagem da morte para criança. O importante é apreciar e ver o que ela suscita em cada pessoa.
Como a peça dialoga com o Brasil de hoje?
Essa peça foi escrita há um bom tempo. Faz uns 4, 5 anos, não lembro bem. Se esse viés é o momento que a gente está vivendo agora, crise politica e tudo mais, acho que ela não dialoga diretamente com isso. Ela dialoga com uma questão que vai ser sempre falada, que é a vida e dentro dessa vida, a morte, que também faz parte dela. E é sempre um assunto delicado para qualquer pessoa, mas falar para uma criança… A primeira experiência com a morte pode se dar em várias linhas, mas quando se fala que é uma pessoa mais próxima, tudo é mais difícil. Mas tenho absoluta certeza que as crianças conseguem lidar e resolver conflitos muito melhor do que os adultos. Então é isso, a peça dialoga com a vida, com o que fazer e o que viver, porque a gente não sabe quando vai morrer.
É mais difícil escrever teatro para crianças do que para adultos?
Tenho achado cada dia mais que o difícil é escrever. Com as tecnologias, principalmente as redes sociais, blogs etc, todo mundo tem a possibilidade de escrever, de se expressar mais do que antigamente, que era preciso um veículo para expor as suas ideias. E hoje a internet democratizou isso. Então cada vez mais tem aparecido pessoas com escritas e estéticas bem interessantes. Escrever para adulto ou para criança acho que é indiferente com relação à dificuldade. O que acho que é importante perceber e olhar é saber o que você quer falar para esse determinado público. Eu tenho uma crença muito forte que a gente não tem que colocar a criança no lugar de uma tábula rasa, que precisa encher de informações. Como eu disse, elas conseguem lidar com muitas coisas do dia a dia, da vida muito melhor do que qualquer adulto. Assim em vez de olhá-las de cima para baixo, vamos olhá-las de frente, olho a olho e saber lidar com essa informação. Então, acho que existe uma preocupação, principalmente pra mim, de um texto para crianças e tal e não colocá-las no lugar de infantiloide ou do bobinho e sim levar em consideração que ela sabe lidar muito bem com o mundo ao redor dela.
O que percebe do teatro pernambucano atual?
O teatro Pernambuco atual hoje acho que tá da mesma forma que todos esses anos… assim. Tá do jeito que tá… não sei responder muito isso não. A gente tá passando por um momento bastante delicado principalmente por causa desse viés político, que a gente não tem muito como separar uma coisa da outra. Essa administração municipal e estadual é extremamente omissa quanto às questões culturais. Vemos cada vez mais os espaços cênicos da cidade não receberem o cuidado que eles merecem. Enfim, acho que a gente passa por momento delicado.
E o que é feito para o público infantil no Recife?
Sobre o teatro feito para infância aqui no Recife, pelo menos os que eu acompanho e eu admiro, eu acho incrível e de ótima qualidade. Eu me refiro a alguns autores. Eu gosto muito de Carla Denise e do pessoal do Mão Molenga. Admiro pra caramba o trabalho de Luciano Pontes. Alexsandro Souto Maior escreve muito para criança e eu adoro. Sempre fui muito fã das coisas de Marco Camarotti também. Então acho que a gente tem uma leva muito boa, de pessoas que escrevem com muita responsabilidade para criança, com muito cuidado. Esse teatro é bem bom. O teatro para criança mais comercial acho que ele tem o seu lugar, apesar de eu não acompanhar, de não curtir, acho que há espaço para todo mundo, que tem lugar pra eles na cidade.
Qual é a peça de teatro que você mais gostou de fazer? Como dramaturgo e intérprete?
A peça que eu mais gostei de fazer… Ah! não sei. Cada peça tem o seu sabor especial. Os trabalhos que faço junto ao Magiluth… Enfim, toda minha experiência teatral está no Magiluth. Cada espetáculo é uma experiência importante e o mais interessante é estar com os meus companheiros, com os meus amigos. A gente se sente bem em cena. É uma continuação da nossa vida, na sala de ensaio, no dia-a-dia. Então estar em cena é mais um momento com eles, que é tão bom quanto. Cada espetáculo a gente se diverte de forma diferente. Eu gosto muito muito muito muito de fazer Aquilo que meu Olhar Guardou para Você; O Viúva porém Honesta é bem cansativo, mas me divirto bastante. Luiz Gonzaga ele tem um lugar também muito legal, adoro estar na rua. O ano em que sonhamos perigosamente é o trabalho que eu me sinto mais concentrado, mais focado, mais cuidadoso enquanto estou fazendo, mas me divirto; mas é em outro lugar, com um cuidado maior.
O que é preciso para ser um “bom” dramaturgo?
O que é preciso para ser um bom dramaturgo?! Eu também estou querendo saber. Quem souber responder por favor me diga, que eu também quero aprender a ser um bom dramaturgo. O que eu busco é sempre ler coisas novas, presto atenção no dia a dia, nos assuntos que as pessoas estão discutindo. Tentando ver, ouvir e prestar atenção em tudo.
Ficha Técnica
Texto: Giordano Castro e Amanda Torres
Direção geral: André Filho
Elenco: Tiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras
Direção musical e arranjos vocais: Samuel Lira
Direção de arte: João Denys e Manuel Carlos
Direção de produção: Daniela Travassos
Iluminação: João Guilherme de Paula
Operação de luz: João Victor e João Guilherme de Paula
Preparação corporal: Jefferson Figueirêdo
Produção executiva: Renata Teles
Apoio: Charly Jadson e Jefferson Figueiredo
Aderecistas: João Denys e Manuel Carlos
Equipe de apoio confecção de adereços: Maria José Araújo, Marco Antônio, Emerson Soares e Jerônimo Barbosa
Costureira: Ira Galdino e Georgete Bezerra
Cenotécnico: Israel Marinho
Fotografias: Rogério Alves
Design gráfico: Hana Luzia
Assessoria de Imprensa: Míddia Assessoria
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro
Incentivo: Funcultura
SERVIÇO
Vento Forte para Água e Sabão
Quando: Até 29 de maio, Sábados e Domingos, às 16
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$10 (Inteira) | R$5 (Meia) – Neste final de semana vale meia-entrada para todos