O espetáculo Quincas, do grupo Osfodidário de João Pessoa, faz a segunda apresentação hoje, no Teatro Luiz Souto Dourado, no Festival de Inverno de Garanhuns. Nessa livre adaptação da obra de Jorge Amado, A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água, a sonoridade feita com água, batuques e própria voz dos atores ganha relevo na peça. A cachaça, o choro e o mar estão envoltos dessa água que jorra das bocas, ocupa garrafas e desliza pelo palco de toneis, carcaça de geladeira e outros objetos.
São quatro atores em cena que se multiplicam por vários personagens, da família do morto aos amigos escudeiros do pai-cachaceiro que os ensinou a ser livres. Curió (Fabíola Morais), Pastinha (Dudha Moreira), Pé-de-Vento (Odécio Antonio) e Cabo Martim (Thardelly Lima). Eles nos conduzem, os espectadores, pelo mundo dos desvalidos da cidade baixa de Salvador. Mas esse cenário ganha outros contornos com bêbados sonhadores e seus encontros com jogadores sem dinheiro e prostitutas apaixonadas.
O amigo de copo morreu e isso merece uma festa até chegar ao mar, atestam os quatro aventureiros pelas ruas da capital baiana. Na montagem, adaptada e dirigida por Daniel Porpino, essa malandragem é bendita por orações e por uma poética da ralé.
O espetáculo segue uma linha cômica, reforça as deixas de grande apelo popular e escamoteia as incongruências do cidadão Joaquim Soares da Cunha de passado burguês, que largou tudo para viver entre os desvalidos em estado de embriaguez.
O elenco apresenta um impressionante fôlego para contar essa história. Os atores se encantam com os tipos pobres e espertos do imaginário brasileiro, de Jorge Amado, de um romantismo alcoólico. Outras camadas esperam por desvelamentos e novos riscos. Outras facetas para o deboche.
O público lotou ontem a antiga estação de trem de Garanhuns e aplaudiu os intérpretes várias vezes em cena aberta, gargalhou, numa demonstração de comunhão com a cena.
SERVIÇO
Quincas, com Grupo de Teatro Osfodidário (PB)
Quando: Sábado, às 19h
Onde: Teatro Luiz Souto Dourado