O Teatro Apolo estava lotado na plateia baixa, ontem, noite de entrega do Prêmio Apacepe de Teatro e Dança, do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos. Como é previsível, quem não é indicado não pisa lá.
Os atores Alexandre Guimarães e Sônia Bierbard conduziram o anúncio da premiação com humor, doses de ironia e habilidade para manter um bom clima.
Alguns momentos de destaque na premiação, da lembrança dos que partiram, com Beto Hortis ao bandolim e as fotos projetadas. O dueto dos músicos Beto do Bandolim e Beto Hortis, com improvisação dançada da bailarina Inaê Silva. O ator Flávio Santos recebeu uma homenagem da produção do Sistema 25, que cantou a cena do guarda-chuva e emocionou a todos que conheceram essa figura humana maravilhosa. A mãe de Flávio Santos estava lá e não conteve as lágrimas. Nem eu.
Outro momento interessante foi a apresentação do mágico Rafa Santacruz, que levou até a cantora Cristina Amaral para o palco para ajudá-lo nos truques de sumir bolas e lenços e garantir o humor da noitada.
Em princípio estavam concorrendo as peças de teatro adulto A Rã; A Mulher Monstro; O Mascate, A Pé Rapada e Os Forasteiros; Puro Lixo; Alguém Pra Fugir Comigo; Olhos De Café Quente; Martelada; Histórias Bordadas em Mim; Pa(Ideia) – Pedagogia da Libertação; Terror e Miséria No Terceiro Reich – O Delator; A Partida; Baba Yaga; Severinos, Virgulinos e Vitalinos; Ossos. Os espetáculos de dança Tijolos De Esquecimento; Bacnaré: 31 Anos de Resistência; Os Superficiais; Grito; Amor, Segundo As Mulheres De Xangô; Dúvido; Enchente; Segunda Pele e Microclima. E os infantis Doralice; Vento Forte Para Água e Sabão; Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo.
Algumas dessas produções não foram indicadas a nenhuma categoria.
Na área de dança foram indicados Amor, Segundo as Mulheres de Xangô, do Grupo Grial (Recife); Enchente, de Flávia Pinheiro (Recife); Os Superficiais, da Cia. Etc. (Recife) e Segunda Pele, do Coletivo Lugar Comum (Recife) para Melhor Espetáculo.
Para melhor bailarina concorreram Iara Campos, de Microclima; Maria Agrelli, de Segunda Pele; Marcela Felipe, de Enchente e Maria Paula Costa Rêgo, de Amor, Segundo as Mulheres de Xangô. Houve apenas uma indicação para melhor bailarino.
Estavam no páreo por Melhor Iluminação os projetos de Cleison Ramos, de Dúvido; Luciana Raposo duplamente, por Amor, Segundo as Mulheres de Xangô e Segunda Pele. Foram indicados a Melhor Figurino Gustavo Silvestre, de Amor, Segundo as Mulheres de Xangô e Marcondes Lima, de Os Superficiais. Concorreram a Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora Caio Lima e Hugo Medeiros, por Segunda Pele e Tarsísio Resende, por Amor, Segundo as Mulheres de Xangô.
Os Jurados Dielson Pessôa, Nadja Maria e Viviane Ferreira consideraram que não havia merecedores a serem indicados para Melhor Coreografia; Melhor Cenário; Bailarino Revelação e Bailarina Revelação.
Foram entregues também Prêmios Especiais do Júri de Dança ao elenco do espetáculo Dúvido, da Cia Sopro-de-Zéfiro/Cecília Brennand; ao elenco do espetáculo Bacnaré: 31 Anos de Resistência, do Balé de Cultura Negra do Recife (Bacnaré), justificado porque “demonstraram forças congruentes na excelente execução de suas performances”.
Não havia nenhuma representante de Segunda Pele na hora da premiação, além de Luciana Raposo, que é a coordenadora técnica do Janeiro e estava cuidando da luz e outros detalhes, que depois pegou os prêmios do Coletivo Lugar Comum, inclusive o troféu dela mesma.
DANÇA
Melhor Espetáculo
Segunda Pele – Coletivo Lugar Comum (Recife)
Melhor Bailarino
Julio Roberto – Bacnaré: 31 Anos de Resistência
Melhor Bailarina
Maria Agrelli – Segunda Pele
Melhor Iluminação
Luciana Raposo – Segunda Pele
Melhor Figurino
Gustavo Silvestre – Amor, Segundo as Mulheres de Xangô
Trilha Sonora
Caio Lima e Hugo Medeiros – Segunda Pele
Eram quatro os infantis concorrendo a prêmios Doralice, com o espinhoso tema do abuso sexual; o lúdico Vento Forte Para Água e Sabão; Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo, que mergulha nos mitos e lendas do Rio São Francisco. A comissão foi formada por Ana Elizabeth Japiá, Márcia Cruz e Samuel Santos. Um dos momentos mais engraçados da noite foi quando a mãe de Tiago Gondim foi receber o prêmio pelo filho, que ela “mandou” estudar palhaçaria, numa curso em São Paulo, e disse que era uma sensação muito boa estar no palco.
TEATRO PARA A INFÂNCIA
Melhor Espetáculo
Vento Forte Para Água e Sabão – Companhia Fiandeiros de Teatro (Recife)
Melhor Diretor
André Filho – Vento Forte Para Água e Sabão
Melhor Ator
Tiago Gondim – Vento Forte Para Água e Sabão
Melhor Atriz
Juliene Moura – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
Daniela Travassos – Vento Forte Para Água e Sabão
Melhor Ator Coadjuvante
Ricardo Angeiras – Vento Forte Para Água e Sabão
Melhor Atriz Coadjuvante
Geysa Barlavento – Vento Forte Para Água e Sabão
Atriz Revelação
Gabriela Melo – Brinquedos & Brincadeiras
Trilha Sonora
André Filho e Samuel Lira – Vento Forte Para Água e Sabão
Melhor Iluminação
Carlos Tiago Alves Novais – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
Melhor Cenário
Antonio Veronaldo e Uriel Bezerra – Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo
Melhor Figurino
João Denys e Manuel Carlos – Vento Forte Para Água e Sabão
* Prêmios Especiais do Júri:
• A Giordano Castro e Amanda Torres pela dramaturgia da peça Vento Forte Para Água e Sabão;
• À Cia. 2 Em Cena de Teatro, Circo e Dança pela pesquisa temática sobre abuso de vulneráveis na peça DORalice.
As indicações aos Prêmios de Teatro Adulto causaram estranhamento. Alguns pontos chamaram a atenção. A montagens Martelada, com Claudio Ferrário; Terror e Miséria No Terceiro Reich – O Delator, com Stella Maris Saldanha e Germano Haiut; A Partida; Severinos, Virgulinos e Vitalinos não receberam nenhuma indicação.
Cada equipe de jurados usa seus critérios para avaliar os espetáculos, comparar atuações e escolher o que considera melhor do que viu.
Mas fiquei constrangida com a não indicação do ator Germano Haiut para melhor ator, tendo como perspectiva a designação dos outros cinco: André Brasileiro, de Ossos; Diógenes D. Lima, de O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros; Gil Paz, de Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade, José Neto Barbosa, de A Mulher Monstro e Júnior Aguiar, de pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação. Nenhum deles, na minha humilde opinião, melhor que a performance de Germano.
A atuação de Haiut espelha uma insegurança do personagem, uma hesitação e coloca o coração na boca para mostrar o que é estar no limite de uma pressão política de opressão. E qualquer argumento de fragilidade no gesto, na voz titubeante ou na intenção eu considero exatamente o contrário, a potência desse ator maduro, grande e que volta ao teatro após 30 anos apartado dos palcos, com aparições no cinema brasileiro e televisão. E abraço Germano Haiut na sua volta, que deveria ser saudada pelo JGE.
Com relação à melhor atriz, até a vencedora ficou incomodada de não haver outras concorrentes e externou isso no palco. Agri Melo, Stella Maris Saldanha, Cláudia Soares, Lívia Lins, para ficar nos espetáculos que vi, não estavam em condições de serem indicadas? É uma pergunta.
A atuação de Arilson Lopes, em Ossos, também vejo como merecedora de prêmio. O trabalho de Daniel Barros, em pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação é bom, mas eu ficaria com Arilson. São opiniões divergentes e não vou me prolongar nessa seara.
A decisão de uma comissão de prêmio é soberana e deve ser respeitada.
Mas penso que três não é um bom número para uma comissão julgadora para o JGE. Talvez fosse bom pensar para as próximas edições um planejamento que garanta uma verba para montar um júri com cinco ou sete pessoas, que contemple a diversidade de olhares. Uma outra sugestão, e isso dá um trabalho, é que a comissão justifique com um breve arrazoado suas escolhas.
A noite prosseguiu no no Bar Apolo 17 (Rua do Apolo, 170) com o DJ Sangue no Olho (Giordano Bruno) e foi movimentada e dançante. Mas gostaria de sugerir que o nosso querido magiluth investisse nas suas discotecagens num som soul, samba, funk, hip hop, afro groove, maracatu mais feminino e feminista. Há mulheres poderosas com umas músicas demais nas paradas. O trabalho da DJ Shaitemi Muganga, a artista mineira Nina Caetano arrasa nesse assunto e indica bons caminhos.
E por último e não menos importante. Sinto algo de muito conservador neste festival Janeiro de Grande Espetáculos e no Prêmio Apacepe de Teatro e Dança. Não consigo fazer um diagnóstico preciso, mas vejo seus sinais. Um deles estava estampado no hall de entrada do Teatro Apolo, ontem, noite de entrega da premiação. Folhas de jornais com matérias sobre o evento que ocorreu de entre os dias 12 a 29 de janeiro, numa realização da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe). Nenhuma reprodução das outras mídias. O blog Satisfeita, Yolanda publicou um material sobre o Janeiro e os links estão no final do post.
No futuro, se ignorasse essas outras plataformas, um pesquisador perderia nuances sobre o evento.
Isso pode parecer um detalhe sem importância, mas é o reflexo de um pensamento e é preciso pontuar as coisas para que elas não sejam naturalizadas.
TEATRO ADULTO
Melhor Espetáculo
Alguém Pra Fugir Comigo – Resta 1 Coletivo de Teatro
Melhor Diretor
Analice Croccia e Quiercles Santana – Alguém Pra Fugir Comigo
Melhor Ator
Diógenes D. Lima – O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros
Melhor Atriz
Soraya Silva – Olhos de Café Quente
Melhor Ator Coadjuvante
Daniel Barros – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Melhor Trilha Sonora
Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Melhor Iluminação
Elias Mouret – Alguém Pra Fugir Comigo
Júnior Aguiar – pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação
Melhor Cenário
Diógenes D. Lima, Gustavo Teixeira, Triell Andrade e Bernardo Júnior – O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros
Melhor Figurino
Marcondes Lima – Ossos
Melhor Maquiagem
Manuel Carlos de Araújo – Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade
Prêmios Especiais do Júri:
• Ao Resta 1 Coletivo de Teatro pelo elenco da peça Alguém Pra Fugir Comigo;
• A Ana Paula Sá, Quiercles Santana e o Resta 1 Coletivo de Teatro pela dramaturgia da peça Alguém Pra Fugir Comigo;
• A Diógenes D. Lima pela dramaturgia da peça O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros.
Corpo de Jurados Teatro Adulto: Breno Fittipaldi, Jorge de Paula e Rita Marize
Coordenação/Produção de Corpo de Júri: Augusta Ferraz
TROFÉUS CONCEDIDOS PELA APACEPE
Aos 50 anos de carreira do ator e diretor José Francisco Filho;
A José Manoel Sobrinho, por sua parceria e colaboração na trajetória do festival Janeiro de Grandes Espetáculos;
A Rudimar Constâncio, pela qualidade de produção nos espetáculos de conclusão do Curso de Interpretação Para Teatro do SESC Piedade.