O palco do mundo para além do eurocentrismo 9ª edição da MITsp investe no decolonial

Broken Chord [Acorde Rompido] faz a abertura da MITsp. Foto: Thomas Müller / Divulgação

Na sua nona edição, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo aprofunda sua essência experimental e crítica, apostando numa perspectiva curatorial que destaca espetáculos oriundos das margens das hegemonias geográficas. Encontramos aqui obras e artistas cujas raízes territoriais, étnicas e culturais manifestam diversificadas teatralidades e investigações. A presença de criadores, grupos e pesquisadores/as da África, Ásia, Oriente Médio e América Latina reflete um esforço da MITsp de descentralizar do cânone  das narrativas eurocêntricas do teatro e ampliar o palco para outras vozes. “Neste sentido, a curadoria intensificou a perspectiva decolonial”, afirma Antonio Araujo, no material de divulgação. 

Araujo, diretor artístico, e Guilherme Marques, diretor geral, idealizadores da Mostra, aquecem as provocações sobre nosso tempo com as discussões que atravessam os trabalhos, carregadas de novos olhares para questões como memória, racismo, transfobia, identidade, conhecimento, colonialismo, entre outros.

A MITsp é um dos principais eventos de artes cênicas do país e funciona em quatro eixos principais: Mostra de Espetáculos, Ações Pedagógicas, Olhares Críticos e MITbr – Plataforma Brasil.  A programação ocorre entre entre os dias 1º e 10 de março de 2024 e conta com nove montagens internacionais, uma estreia nacional, dez espetáculos na MITbr série de oficinas, debates e conversas ao longo dos dez dias de evento.

O espetáculo Broken Chord [Acorde Rompido], uma colaboração entre Gregory Maqoma e Thuthuka Sibisi, faz a abertura dessa intensa maratona cênica no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros. A obra mergulha  A peça mescla dança e música tradicionais africanas com elementos da dança contemporânea e música clássica europeia, e mergulha nos efeitos duradouros do apartheid, para investigar as feridas históricas.

Também da África do Sul, O Circo Preto da República Bantu, solo de Albert Ibokwe Khoza, discute racismo e violência contra corpos negros através da história dos zoológicos humanos na Europa.

Lolling and Rolling, do sul-coreano Jaha Koo. Foto de Marie Clauzade

Nesta edição da MITsp o foco se volta para a obra do diretor e compositor sul-coreano Jaha Koo, que traz ao evento sua Trilogia Hamartia, composta por Lolling and Rolling, Cuckoo e A História do Teatro Ocidental Coreano. Essa série explora a intersecção e o impacto do encontro entre culturas orientais e ocidentais na vida individual, ancorada no conceito grego de “hamartia”, que se refere a um defeito ou falha trágica.

Contado pela Minha Mãe, do libanês Ali Chahrour, outra obra da mostra, utiliza uma combinação de dança, teatro e música para narrar a história de uma mãe que se recusa a aceitar a morte de seu filho, criando poemas e canções na esperança de seu retorno.

Profético (nós já nascemos), da costa-marfinense Nadia Beugré, aborda questões de racialidade, transsexualidade e preconceito com um enfoque crítico e engajado.

A Argentina contribui com duas estreias: PERROS – Diálogos Caninos, uma colaboração entre Monina Monelli, Celso Curi e Renata Melo, explora a complexidade das relações entre humanos e cachorros; enquanto Wayqeycuna [Meus Irmãos], de Tiziano Cruz, investiga a memória e a identidade cultural através dos quipus, um artefato andino tradicional.

A MITsp investiu como produção nacional na estreia de Agora tudo era tão velho – FANTASMAGORIA IV, sob a direção de Felipe Hirsch, marcando a continuidade do festival em ser uma plataforma de lançamento para obras de artistas brasileiros renomados e emergentes.

A MITsp de 2024 reforça que é um evento chave no calendário cultural da cidade de São Paulo, e do Brasil, e reflete o compromisso do festival em oferecer um espaço para diálogos transculturais e a exploração de temas contemporâneos através do teatro, dança e performance.

Em 2024, a MITsp tem patrocínio  da Redecard, Sabesp e Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. A mostra tem correalização do Sesi, Consulado Francês, Instituto Francês, Centro Cultural Coreano no Brasil e Goethe Institut; e copatrocínio do IBT – Instituto Brasileiro de Teatro. A realização do evento é da Olhares Cultural, ECUM Central de Produção, Itaú Cultural, Sesc SP e Ministério da Cultura – Governo Federal.

MITbr Plataforma Brasil

Lançada em 2018, a MITbr – Plataforma Brasil emerge como um componente vital da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), dedicada à promoção e internacionalização das artes cênicas brasileiras. A cada ano, a plataforma se propõe a apresentar uma seleção de obras nas áreas de teatro, dança e performance, enfatizando a diversidade regional do Brasil e abordando temas contemporâneos e urgentes.

Para a seleção dos projetos, a MITbr conta anualmente com a expertise de curadores convidados, que são encarregados de escolher entre 10 e 12 trabalhos de um conjunto de inscrições que, desde sua primeira edição, supera a marca de 400 candidaturas. O objetivo é destacar a riqueza e a qualidade da cena artística brasileira em um contexto global.

Neste ano, os curadores Marise Maués, Cecilia Kuska e Marcelo Evelin analisaram 446 inscrições provenientes de 19 estados do Brasil, do Distrito Federal e de países da América Latina. A seleção resultou em dez obras que serão vistas entre o público geral por um grupo composto por cerca de 100 programadores nacionais e internacionais, uma investida para  ampliar o reconhecimento e a circulação das artes cênicas brasileiras no cenário mundial.

As obras escolhidas para a nona edição da MITsp são representativas da riqueza artística brasileira, cada uma originária de diferentes cidades do país, demonstrando a vasta gama de estilos e temáticas abordadas pelos artistas nacionais:

Ané das Pedras da Coletiva Flecha Lançada Arte, é uma obra que vem do Crato (CE) e da aldeia Kariri-Xocó (AL). O espetáculo explora a relação indígena com a terra e a natureza através de um ritual de plantação de pedra, destacando a visão indígena sobre a existência e a comunicação com o meio ambiente. Por sua vez, Dança Monstro”, da Cia. dos Pés, vem de Maceió (AL) e investiga a interação entre o corpo humano e a natureza, utilizando a dança como meio de conexão com o essencial.

EU NÃO SOU SÓ EU EM MIM – Estado de Natureza – Procedimento 01, do Grupo Cena 11, originário de Florianópolis (SC), propõe uma reflexão sobre a identidade brasileira, misturando dança e teoria para questionar o conceito de “povo brasileiro”. 

Gente de Lá, de Wellington Gadelha, traz uma perspectiva de Fortaleza (CE), apresentando um olhar crítico sobre a violência estrutural dirigida à população negra no Brasil, através de uma performance que mescla artes visuais e movimento.

Já O que mancha, de Beatriz Sano e Eduardo Fukushima, é um projeto de São Paulo (SP), que desafia as fronteiras entre o movimento e o som, questionando dualidades como humano/animal e masculino/feminino. 

Meu Corpo Está Aqui”, produzido pela Fábrica de Eventos do Rio de Janeiro (RJ), aborda as experiências de pessoas com deficiência, explorando questões de relacionamento, corpo e desejo.

Lança Cabocla, da Plataforma Lança Cabocla, é um espetáculo multimídia que une São Luís (MA), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e São Paulo (SP), explorando danças populares e afrodiaspóricas em um contexto contemporâneo.

7 Samurais, de Laura Samy do Rio de Janeiro (RJ), inspira-se no clássico filme Os Sete Samurais para criar uma ponte entre os guerreiros japoneses e os artistas de hoje, investigando suas lutas e existências.

Eunucos, das Irmãs Brasil, com origens em São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), reflete sobre a castração, a transição de gênero e as performances de gênero em uma abordagem crua e simbólica.

Wilemara Barros é a artista em Foco da MITbr e apresenta o espetáculo Preta Rainha. Foto: Luciano Gomes

E por fim, a peça da “Artista em Foco” deste ano. Preta Rainha é um solo autobiográfico que percorre a vida de Wilemara Barros, bailarina e educadora vinculada à Cia. Dita, sediada em Fortaleza. Aos 60 anos, Barros apresenta uma obra que funciona tanto como uma introspecção pessoal quanto uma exposição pública de sua rica jornada artística. 

Preta Rainha é mais do que uma performance; é um mergulho profundo nas memórias pessoais e afetivas de Barros, traçando sua evolução desde os primeiros passos no balé clássico até a consagração como artista contemporânea. Este solo narra a história de sua vida e reflete sobre a herança cultural e ancestral que lhe foi transmitida por sua família. A peça se destaca por seu caráter introspectivo e pela maneira como Barros se apropria de seu legado, reafirmando sua identidade e contribuição para a dança brasileira.

Além de criar uma vitrine para os talentos brasileiros no cenário global, a MITbr – Plataforma Brasil, incorporou uma série de programas educacionais e de reflexão, como o Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas Brasileiras e workshops destinados a capacitar artistas e produtores locais. Guilherme Marques destaca a importância da preparação além da produção artística. Ele ressalta que o mercado internacional, com sua estrutura altamente organizada, exige dos profissionais não apenas excelência artística, mas também um profundo entendimento das dinâmicas de negociação e comunicação. Isso é fundamental para que as obras alcancem os programadores e plataformas ideais. Marques aponta para a lacuna existente no Brasil em relação ao papel do agente-difusor, uma figura chave no mercado internacional de artes, mas ainda pouco presente no contexto nacional.

Ações críticas e pedagógicas

O segmento Olhares Críticos destaca a participação de Achille Mbembe, renomado filósofo, historiador e acadêmico camaronês. Mbembe, uma figura proeminente nos estudos pós-coloniais, é conhecido por suas análises afrocêntricas dos impactos do colonialismo tanto na África quanto globalmente, além de ter introduzido o conceito de necropolítica. Sua participação na MITsp inclui uma aula magna programada para ocorrer na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP) no dia 4 de março, marcando um dos pontos altos do evento.

Para o ano de 2024, a curadoria do Olhares Críticos está sob a responsabilidade de Leda Maria Martins, ensaísta, dramaturga e professora, que visa fomentar o debate sobre as intersecções entre as artes cênicas e questões contemporâneas. Este eixo do evento será enriquecido por uma série de atividades que incluem conversas com pensadores e pesquisadores de diversas disciplinas, além da publicação de uma variedade de materiais críticos, como críticas, artigos e entrevistas. Entre os destaques da programação estão as sessões de Reflexões Estético-Políticas, Pensamento-em-Processo, Diálogos Transversais e Prática da Crítica, prometendo um ambiente rico em diálogo e reflexão crítica sobre o papel e a influência das artes cênicas na sociedade contemporânea.

No segmento de Ações Pedagógicas da MITsp, sob a curadoria de Dodi Leal, que é performer, docente e investigadora, o público é convidado a mergulhar no universo criativo dos artistas participantes por meio de uma programação diversificada que inclui diálogos, oficinas, apresentações musicais e atuações. Um dos pontos centrais é o Encontro de Pedagogias Teatrais, que visa a renovação das técnicas de criação no teatro através da exploração de metodologias educacionais influenciadas pelos conhecimentos transgêneros. Outra iniciativa significativa é o Laboratório de Pedagogias da Performance, que promove o encontro de artistas e acadêmicos, tanto nacionais quanto internacionais, para discutir e praticar a arte performática, destacando-se a participação da artista argentina Susy Shock.

Além desses eixos, a MITsp oferece a edição de Cartografias, um catálogo que funciona como um compêndio de ensaios, entrevistas e artigos elaborados por pesquisadores e artistas do Brasil. Esta publicação resulta de uma colaboração com o Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sendo editada pelo professor e pesquisador de artes cênicas, Ferdinando Martins. Cartografias busca não apenas documentar as diversas vozes e perspectivas presentes na MITsp, mas também contribuir para o debate acadêmico e prático dentro das artes cênicas contemporâneas.

9ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO DE SÃO PAULO

Quando De 1º a 10 de março 

Onde: São Paulo: Biblioteca Mário de Andrade, Centro Cultural Olido, CCSP – Centro Cultural São Paulo, Cúpula do Theatro Municipal de São Paulo, Itaú Cultural, Teatro Cacilda Becker, Teatro Paulo Autran – Sesc Pinheiros, Teatro Antunes Filho – Sesc Vila Mariana, Teatro Anchieta – Sesc Consolação, Teatro do Sesi-SP e Tendal da Lapa.

A programação completa está disponível no site www.mitsp.org.

 

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Shakespeare esteja conosco!
O relato de uma substituição plena de afeto
e amor ao teatro*

José Roberto Jardim e Paulo de Pontes no Teatro de Santa Isabel, em 18 de novembro. Foto: Marcos Pastich

Tay Lopez substituindo Paulo de Pontes no dia 19 de novembro. Foto: Arquivo pessoal

Terminou neste domingo, 26 de novembro, a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN). Infelizmente, o Satisfeita, Yolanda? não conseguiu acompanhar de perto a programação, pois não havia recursos para arcar com o trabalho da crítica. É uma pena. Pode ser tema de conversas e reflexões vindouras.

Mas, desde o dia 16, histórias aconteceram: nos palcos e fora deles. Muitas, nem ficamos sabendo, são quase restritas, tiveram como cenário coxias, plateias, bares pós-espetáculo. Mas uma delas, em especial, nós soubemos e achamos que merecia ser registrada.

Sueño é um espetáculo livremente inspirado em Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, com direção e dramaturgia do pernambucano Newton Moreno, um dos homenageados do FRTN ao lado de André Filho.

A peça de 2h30 de duração, dois atos, estreou em São Paulo em novembro de 2021, na retomada do teatro presencial, nos jardins do Teatro João Caetano. Em agosto deste ano, fez uma temporada no Itaú Cultural.

Um dos destaques do elenco é o pernambucano Paulo de Pontes, que voltou ao Recife há alguns anos, depois de duas décadas morando em São Paulo. Paulinho, como é conhecido, brilha em cena. E havia uma grande expectativa por sua apresentação em casa, no Teatro de Santa Isabel.

Imaginamos que seria uma consagração, merecida. Mas as coisas nem sempre estão no nosso controle. E no dia 18 de novembro, logo depois da primeira cena de Paulo de Pontes, o espetáculo foi interrompido. O ator passou mal e não conseguiu continuar a peça.

Mesmo assim, no dia seguinte, o espetáculo aconteceu: Paulo de Pontes foi substituído por Tay Lopez, ator pernambucano que mora em São Paulo, mas tinha acabado de gravar um filme na Paraíba e estava de férias na cidade. Lopez fez uma leitura encenada do texto.

Diante dessa história cheia de inesperados e de ode ao teatro e a sua efemeridade, pedimos ao ator Tay Lopez que, no calor do momento, na segunda-feira, dia 20 de novembro, escrevesse um relato de experiência. Queríamos ouvir como foi viver tudo isso, deixar essa história registrada e compartilhá-la com outras pessoas.

É esse o texto que postamos aqui.

Obrigada, Tay Lopez, por atender ao convite de Newton Moreno e ao nosso.

Paulo de Pontes está bem.

Infelizmente, não conseguimos registros de imagem profissionais da sessão do dia 19 de novembro, então publicamos fotos amadoras, feitas de celulares por amigos que estavam na plateia.

“Shakespeare esteja conosco! O relato de uma substituição plena de afeto e amor ao teatro” *

Por Tay Lopez

Sábado, 18 de novembro, Festival Recife do Teatro Nacional, importantíssimo festival da cidade, que foi retomado bravamente este ano.

O cenário é o Teatro de Santa Isabel, lugar tão significativo para a cidade e para mim: me recordo quantas histórias vivi nesse teatro!

Peça: Sueño, do consagrado autor e amigo Newton Moreno, homenageado pelo festival juntamente com André Filho.

No foyer do teatro, um encontro festivo. Amigos de longa data, afetos, abraços. Feliz em estar na cidade de férias. Feliz em estar com minha mãe para vermos juntos uma peça que tanto gosto e que eu já tinha visto duas vezes em São Paulo. Há 2 anos, na estreia, retomada do teatro presencial, vi a montagem no Teatro João Caetano. E, há poucos meses, em agosto, revi na sua segunda temporada, no Itaú Cultural.

Espetáculo começa no Santa Isabel. Paulo de Pontes, irmão, amigo, confidente, entra em cena com seu Shakespeare maravilhoso. Plateia na mão.

Todos estavam na expectativa em ver Sueño na cidade, mas o espetáculo é interrompido, pois Paulinho não conseguiu voltar ao palco depois da primeira cena. Ela passou mal e precisou ser atendido por especialistas em um hospital próximo.

Vou ao camarim, procuro informações, me comunico com a família, com amigos e fico sabendo que, graças a Deus, não é nada grave. Volto para casa, durmo. Sonho com Paulinho. Estamos indo fazer um espetáculo juntos em algum lugar.

Acordo, procuro saber notícias sobre a saúde de meu amigo e recebo informações de que tudo está melhor, ele está bem, tinha sido só um susto. Fico aliviado.

Horas depois, o telefone toca. Newton Moreno me convida, sem rodeios, para uma tarefa. Na verdade, uma missão: substituir Paulo de Pontes. Não era um convite para encenar os mesmos personagens de Paulinho, o que seria impossível, mas para fazer uma leitura encenada.

Moreno me deixa muito à vontade para dizer não. Mas como dizer não para amigos tão queridos? Como não aceitar esse desafio? Como não homenagear Paulinho e tranquilizá-lo em saber que o espetáculo, de alguma forma, irá acontecer? Respondo que sim. E que essa decisão, na verdade, tinha que ser mais do grupo do que minha.

Newton fica feliz, agradece e já me manda o texto on-line. Domingo, 19 de novembro, 11h30, começo a ler a dramaturgia de Sueño.

Pouco tempo depois, decido parar. Vou à praia, mergulho no mar e volto. Tomo banho, almoço e sigo para o teatro.

Chegando lá, fui recebido com tanto amor, tanta atenção, que o mínimo que eu poderia fazer era tentar responder à altura. Tanta gente que admiro nesse elenco, nessa equipe.

Tay Lopez, José Roberto Jardim e Sandra Corveloni. Foto: arquivo pessoal

O espetáculo que seria às 16h foi transferido para às 20h.  Ensaiamos as cenas. Alguma ideia de marcação, de intenção, mas de liberdade e improviso.

Newton, como maestro, conduzindo tudo. Sandra Corveloni e José Roberto Jardim me ajudando nas cenas em que estaríamos juntos. Leopoldo Pacheco assessorando com os figurinos. Erica Rodrigues nos movimentos, Gregory Slivar nas intervenções musicais, Simone Evaristo na força puckiana. Almir Martines no olhar amoroso. Michele Boesche com palavras de encorajamento. Todos me passando confiança e acreditando que tudo daria certo.

Fui com serenidade, amor e espírito aberto para que a magia do teatro acontecesse naquela noite. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia”, frase de Shakespeare, primeiro personagem de Paulo de Pontes.

Findado o ensaio, vou ao camarim. Léo Pacheco faz a minha maquiagem. Separamos os figurinos.

Paulinho me manda mensagem. Já está em casa e se recuperando bem. Eu tenho que dizer que ainda nutria esperanças de que ele poderia fazer a peça, mas não.

Fazemos a famosa roda de teatro. Dedicamos a apresentação a Paulinho e jogamos ao etéreo a força que nos guiaria naquela sessão.

Eis que a sala é aberta, o público se acomoda. Terceiro sinal e lá vamos nós. O público é avisado da minha entrada em substituição e do fato de eu estar com o texto na mão.

Primeira entrada. O público, muito generoso, embarca na experiência de ver uma sessão única. Teatro já é único, mas nesse dia, mais do que nunca, seria único para os outros atores que estavam em cena também. Um elemento novo estava ali. Um novo corpo, uma nova voz, um novo ritmo. Sobretudo, a memória da contracena com um jogador tão pleno que é Paulo de Pontes.

Paulinho é gênio! E sei de perto a importância que essas apresentações em Recife tinham para ele. Puxei meu amigo em meus pensamentos e tentei trazê-lo para perto. Sim, estávamos juntos. E assim aconteceu. Primeiro ato, segundo ato, público disponível.

Foi emoção à flor da pele. Que texto belo o de Newton! Tantas camadas.

Foi divertido, na medida do possível. Foi de verdade, com olhos e ouvidos presentes. Foi o que pude fazer. Foi teatro, jogo, “to play or not to play?”. Entre o “ser ou não ser”, escolhemos o ser e fomos. Um só corpo. Como o teatro tem que ser.

Sinto que só agora estou acordando desse grande Sueño. Torço muito para que o espetáculo volte ao Recife, com Paulo de Pontes no lugar que lhe cabe, mas preciso dizer o quanto foi uma experiência inesperada, louca e incrível. Teatro! Evoé!

Registro no palco do Teatro de Santa Isabel. Foto: arquivo pessoal

 

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Nanini leva tombo em estreia e mesmo assim retoma peça

Marco Nanini estreia Traidor, texto e direção de Gerald Thomas. Foto: Matheus José Maria

Grande Nanini. Na estreia do espetáculo Traidor, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, na noite deste sábado, 18/11, o ator de 75 anos levou uma queda no percurso de saída do palco.

Era uma transição de cena, estava escuro, e o ator tropeçou em duas pedras cenográficas que estavam no meio do caminho, do lado direito do palco, o que o fez bater com o rosto no chão. A peça foi interrompida.

Alguns minutos depois, o próprio Nanini retornou para avisar que estava com o nariz sangrando e seria atendido no camarim.

Um susto e minutos de muita apreensão. O diretor e dramaturgo da montagem, Gerald Thomas, entrou no palco para pedir que o público aguardasse, pois Nanini fazia questão de terminar a peça.

Disse que todo mundo ficou muito nervoso com a estreia e que a queda não fazia parte do espetáculo – o que pareceu óbvio, mas também tinha tudo a ver com as explorações dramatúrgicas da teatralidade em Nietzsche, citada em fluxos de pensamento, do questionamento da falta de sentido da vida à mira dos procedimentos cênicos. 

Thomas voltou ainda outra vez, para situar o estado do ator e confirmar que Nanini terminaria a peça.

No cenário de Traidor, entre outras coisas, tem um boneco gigante de Nanini amarrado, deitado no palco, e pedras. Essas pedras, que já haviam sido citadas na fala desconexa da personagem, de Drummond e seus versos, foram retiradas na segunda parte da apresentação, após a queda. 

Traidor  “é um abundante e divertido delírio psicológico de um ator acreditando e vivendo a soma de todos os personagens da história do teatro”, diz o material de divulgação. Nesse estado de desvario, a figura mistura diversos assuntos aleatórios: guerra Israel-Hamas-Palestina, publicidade, salsicha no bumbum, colapso climático, Kafka, William Shakespeare, Beckett.

Marco Nanini em cena no início de Traidor. Matheus José Maria

Outros atores também participam da peça, mas sem falas, numa movimentação que cria imagens sugestivas de sonhos ou pesadelos: Apollo Faria, Eder dos Anjos, Hugo Lobo e Wallace Lau e, pela voz em off, a atriz Fabiana Gugli, a sua diretora imaginária.

Nanini repete algumas vezes, em diferentes momentos, a frase “a gente se emociona, sim”, que remete à montagem Um Circo de Rins e Fígados, encenada em 2005, também com direção de Gerald Thomas.

Na segunda parte da peça, depois da queda, o ator veterano, que utiliza ponto há 10 anos (no teatro, cinema e TV), improvisou e brincou com o tombo e já emendou no texto que coincidentemente falava de médico e arte.

Foi muito aplaudido pela bravura, pelo amor ao seu ofício e pela garra renovada.

A peça segue em cartaz no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, até 17 de dezembro.

Boneco gigante do ator, amarrado, deitado no palco, compõe cenografia. Foto: Matheus José Maria

Traidor
Quando: 18 de novembro a 17 de dezembro. Quintas, sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 18h
Onde: Teatro Antunes Filho, Sesc Vila Mariana, São Paulo
Quanto: R$ 60, R$ 30 (meia-entrada) e R$ 18 (credencial plena)
Ingressos: https://www.sescsp.org.br/programacao/traidor/

Ficha técnica:
Texto, direção e concepção visual: Gerald Thomas
Iluminação: Wagner Pinto
Cenografia: Fernando Passetti
Figurinos: Antonio Guedes
Direção musical e trilha sonora: Alê Martins
Direção de movimento: Dani Lima
Assistente de direção: Samuel Kavalerski
Direção de produção: Fernando Libonati
Coordenação de produção: Carolina Tavares

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A retomada do Festival Recife do Teatro Nacional

Viva o povo brasileiro. Foto Annelize Tozetto / Divulgação

Se eu fosse Malcolm. Foto: Rogerio Alves / Divulgação

É ambiciosa a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional que se desenrola entre 16 e 26 de novembro na capital pernambucana. Essa programação, da retomada, junta 28 espetáculos, sendo 15 produções do estado e 13 montagens nacionais inéditas no Recife, que estarão espalhadas pelos teatros de Santa Isabel e Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, Barreto Júnior e Luiz Mendonça. Além de ocupar as ruas da cidade, com apresentações no Morro da Conceição e na Avenida Rio Branco e nos mercados públicos de São José, Afogados, Água Fria e Casa Amarela. Esta edição mais que dobra em quantidade de peças da última, em 2019 (e talvez a mais reduzida, que aglutinou 12 obras cênicas) e tem como meta reavivar em tom maior um festival muito importante para cidade.

A 22ª edição do programa alimenta um clima festivo e de resistência, como a assumir um respiro depois desses últimos anos de pandemia e de pandemônio. E sintoniza com algumas pautas urgentes desse mundo problemático. Há uma diversidade de assuntos, das guerras ao protagonismo feminino, do sagrado ancestral indígena às mudanças climáticas, dos grandes gênios como Shakespeare e Garcia Lorca, passando pelo brasileiro João Ubaldo Ribeiro, ao poeta recifense periférico Miró da Muribeca.

É lógico que os recortes curatoriais poderiam ser outros. Um festival também é feito de possíveis. Dos recursos reservados para essa finalidade, disponibilidades dos grupos teatrais para compor a programação, escolhas e combinações entre produto artístico e espaço para pensamento crítico. Enfim, uma rede de negociações, interesses expostos e secretos, recortes curatoriais (mesmo quando são por chamamento púbico), prioridades de investimento.

De todo modo e preciso destacar a relevância deste festival para a cidade, tanto para o público quanto para os artistas do Recife. Lembro que já ouvi mais de uma vez o depoimento do ator, diretor e dramaturgo Giordano Castro, do Grupo Magiluth, que salienta a relevância para a formação dele mesmo, de sua trupe e dos artistas da cidade ao apontar o Festival Recife do Teatro Nacional como preponderante na construção de caminhos estéticos, éticos e políticos. Não é pouco.

A primeira versão do FRTN ocorreu em 1997, levando ao Recife um panorama de parte da produção cênica brasileira. Nessa edição inaugural algumas peças chegavam para tensionar certezas. Entre os espetáculos participantes estavam Para Dar um Fim no Juízo de Deus, encenada por José Celso Martinez Corrêa, Ensaio para Danton, de Sérgio de Carvalho, Rua da Amargura, do grupo Galpão na montagem de Gabriel Villela, as produções recifenses Duelo com encenação de Carlos Carvalho e a versão teatral controversa de A Pedra do Reino, do romance de Ariano Suassuna encenada por  Romero de Andrade Lima; entre outros.

Miró: Estudo nº 2 , do Grupo Magiluth. Foto: Joao Maria Silva Jr/ Divulgação

 

Yerma Atemporal. Foto Divulgação

O FRTN começa nesta quinta-feira com o musical carioca Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé), produzido pela Sarau Cultura Brasileira. A versão cênica do romance Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), é dirigida por André Paes Leme, tem 30 músicas originais compostas por Chico César, e direção musical e trilha original  assinada por João Milet Meirelles (da banda BaianaSystem). Ambientada em Itaparica, na Bahia, a montagem expõe um período de 400 anos, 1647 a 1977, acompanhando uma alma em busca da identidade brasileira, que encarna em personagens invisibilizadas nesse percurso histórico. Três figuras – Caboclo Capiroba, o Alferes e Maria Dafé -, destacam a força da ancestralidade na luta contra a escravidão e por uma igualdade e justiça social até hoje.

A produção local é majoritária nesta edição, pois ficou represada nos três anos sem festival e graças à articulação dos artistas que convenceram a equipe coordenadora do festival que pode ser uma boa ideia de dar uma centralidade aos trabalhos locais, ou seja, ter muitas peças pernambucanas num festival nacional pernambucano. 

Miró: Estudo nº 2, do Magiluth, celebra o poeta e a literatura de Miró da Muribeca, um homem negro e periférico que instalou em seu corpo performático o Recife como seu mundo. Com suas palavras feitas de amor e revolta o artista deslocou a margem para o centro do protagonismo. A partir de Miró, o Magiluth reflete neste espetáculo os lugares dos sujeitos numa peça teatral e para além dela.

Yerma – Atemporal revisita Garcia Lorca numa perspectiva do papel da mulher na sociedade contemporânea, da obsessão da protagonista em ser mãe e dos desejos femininos. A peça tem tradução e adaptação de Simone Figueiredo, e direção dela junto com Paulo de Pontes.

A performance cênico-musical Se eu fosse Malcom, percorre o legado de Malcolm X, uma das mais potentes vozes no combate à segregação racial, num trabalho  atravessado por outras ativistas feito Elza Soares, Lélia González e bell hooks. Com Eron Villar e Dj Vibra.

Grande Prêmio Brazil, performance urbana de Andréa Veruska e Wagner Montenegro,  apresentam duass personagens, Salário Mínimo e Custo de Vida, em quatro sessões nos mercados públicos da cidade.

Livremente inspirada em Gil Vicente, a montagem O Auto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório com direção de Antonio Rodrigues traz para a atualidade a discussão de moral, convenções sociais e religiosidade da dramaturgia.

O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste. Foto Ayane Melo

Severino e Sebastião vivem um romance homoafetivo e são perseguidos pela pequena comunidade quilombola evangelizada do Sertão pernambucano onde moram. O espetáculo O Irôko, a Pedra e o Sol utiliza referências da cultura de matriz africana, ancestralidade corporal e vocal. A montagem do grupo O Poste Soluções Luminosas tem elenco formado inteiramente por artistas negros. A trilha sonora foi composta e é tocada ao vivo pelo Grupo Bongar. 

Ao Paraíso tem texto e direção de Valécio Bruno, inspirado no conto Eu, agente funerário, de Hermilo Borba Filho. É a história do herdeiro de uma funerária à beira da falência, mas que vê seu  destino mudar após a chegada de um misterioso andarilho. O espetáculo é o resultado da pesquisa vencedora do edital O Aprendiz em Cena 2020.

Solo Para um Sertão Blues, é baseado no livro de título homônimo, da escritora Cida Pedrosa. O trabalho musical leva para a cena as vozes, climas e memórias de mulheres catadoras de algodão da região do sertão de Pernambuco. A direção é de Cláudio Lira.

Com classificação livre (crianças a partir de 4 anos), o espetáculo Enquanto Godot Não Vem versa sobre o tempo, sobre o que fazemos do nosso tempo. Enquanto esperam um mestre, os três Palhaços, Dodo, Dunga e Cadinho, refletem sobre as pulsações da vida nos dias de hoje.

Vento Forte para Água e Sabão. Foto: Rogerio Alves / Divulgação –

Alguém para fugir comigo. Foto: Divulgação

Fazem parte do repertório do Festival as montagens Deslenhar, do grupo Teatro Miçanga, Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (leia texto aqui), Pedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas, Narrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (leia crítica aqui), o infantil Céu estrelado, do grupo Pedra Polida, além de Vento forte para água e sabão, do Grupo Fiandeiros, fundado por um dos homenageados da 22ª edição do festival recifense, André Filho,

Duas sessões de leitura dramatizada integram o evento:  Justa, com texto de Newton Moreno, também homenageado do festival, encenado por Fabiana Pirro e Ceronha Pontes; e O Sonho de Ent, com texto de André Filho, encenado pela Cia Fiandeiros.

Cabaré Coragem, com o Grupo Galpão. Foto: Mateus Lustosa /Divulgação

Nacionais e inéditos

O tema desta edição é Teatro e Democracia e está presente na peça de abertura Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé) e de alguma forma em todas as montagens.

O Grupo Galpão, coletivo mineiro que já participou de várias edições do festival, desde a primeira, comparece com dois espetáculos inéditos: De tempo somos, um musical que celebra a história da companhia, e Cabaré Coragem, que reafirma a arte como lugar de identidade e permanência, e chama o público para compartilhar um repertório de músicas interpretadas ao vivo com números de variedades e danças, fragmentos de textos da obra de Brecht e cenas de dramaturgia própria.

O Clows de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, leva para as ruas do Morro da Conceição algumas personagens do clássico Ubu Rei, de Alfred Jarry. Sátira política do espetáculo Ubu – O que é bom tem que continuar.

 Com dramaturgia e direção geral de Newton Moreno, Sueño, da Heroica Companhia Cênica, desloca Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, para uma América Latina em que vigorava o autoritarismo e é ainda assombrada pelas ditaduras de ontem, mas que sempre sonha com liberdade.

Tatuagem, musical da paulistana Cia da Revista, faz uma adaptação para o teatro do filme homônimo do pernambucano Hilton Lacerda, que resgatou a irreverência do grupo de teatro Vivencial. A Direção da peça é de Kleber Montanheiro.

Pelos quatro cantos do mundo. Foto: Divulgação

O solo autobiográfico Azira’i resgata a vivência da atriz Zahy Tentehar com a mãe, Azira’i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Ancestralidade, amor e sagrado se irmanam no espetáculo, que tem direção é assinada por Denise Stutz e Duda Rios.

Entre os infantis estão na programação Pelos quatro cantos do mundo, da Cia Teatral Milongas, do Rio de Janeiro, que leva ao palco a jornada de uma criança síria refugiada em busca do pai. Boquinha: E assim surgiu o mundo, que trata, como o título aponta, da origem e grandeza do universo; com o Coletivo Preto, da Bahia, e texto do ator Lázaro Ramos.  

Enquanto a trupe de Nuno, formada por Ana, Nico, Jonas, Olivia e Suriá, os A.N.J.O.S. do título da peça, buscam algo que se perdeu, ou que um deles perdeu, eles utilizam dança e circo para conduzirem o público por uma aventura engraçada. com a Cia Nau de Ícaros, de São Paulo, espetáculo de dança e circo.

Confira a programação completa abaixo.

Oficinas

A parte formativa do FRTN inclui cinco oficinas gratuitas, entre os dias 15 e 23 de novembro. Júlio Maciel, do Grupo Galpão, comanda O Ator e o Trabalho em Grupo, no dia 15 (das 9h às 13h, no Teatro Hermilo Borba Filho) com foco nas práticas de trabalho e experiências de escuta, atenção, presença e criação coletivas.

Produção e Gestão de Grupos, com Gilma Oliveira, também do Grupo Galpão, ocorre no dia 16 de novembro, ainda no Hermilo, das 14h às 18h. Na pauta estão alguns princípios norteadores da produção cênica, relacionados a contratos, planejamento, orçamentos, liberações, cargas, roteiros, checklists, cronogramas e logística de viagens, entre outros.

O ator, palhaço, dramaturgo e diretor Duda Rios, um dos fundadores da Barca dos Corações Partidos toca a Oficina Criativa de Atuação e Movimento, entre os dias 21 e 25, das 9h às 13h, no Paço do Frevo. O trabalho busca  potencializar o exercício criativo, a partir da investigação do movimento, da incorporação da natureza (Máscara Neutra) e da construção de universos teatrais particulares surgidos em improvisações.

O dramaturgo pernambucano premiadíssimo e homenageado da edição deste ano do Festival, Newton Moreno, ministra de 21 a 23 de novembro, das 14h às 17h, a Oficina de Dramaturgia, dedicada ao processo de criação do texto teatral, a partir do estudo de caso de alguns textos/processos.

A artista carioca Maria Lucas vai trabalhar a construção de narrativas cênicas individuais e em grupo na Oficina Corpo-Coro, a partir de histórias pessoais, utilizando como ponto de partida três perguntas: de onde venho, quem sou e o que me move? A oficina é direcionada para pessoas com poucas oportunidades de acesso às artes, pessoas trans, LGBTs, pretas e indígenas e se realiza de 17 a 19 de novembro das 14h às 17h, no Paço do Frevo.

As inscrições podem ser feitas no link: https://forms.gle/DTtU2YkbMz5gGacb9.

Sueño, de Newton Moreno. Foto Divulgação

Tatuagem, dirigida por Kleber Montanheiro. Foto: Rodrigo Chueri Divulgação

22º Festival Recife do Teatro Nacional

De 16 a 26 de novembro

Acesso gratuito, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível

 Programação

Dia 16 (quinta-feira)

19h – Abertura + Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira, (RJ), no Teatro do Parque

 Dia 17 (sexta-feira)

12hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de São José

19hViva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira (RJ), no Teatro do Parque

20h – Se eu fosse Malcom, de Eron Villar e DJ Vibra (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

20hDe tempo somos, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça.

Dia 18 (sábado)

16hVento forte para água e sabão (infantil), do Grupo Fiandeiros (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (RJ), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

20hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro Santa Isabel

Dia 19 (domingo)

16hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro de Santa Isabel

16hEnquanto Godot não vem, da Cia 2 em Cena (PE), no Teatro Barreto Júnior

17h – O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste Soluções Luminosas (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (MA), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

Dia 20 (segunda-feira)

19hMiró: Estudo nº 2, do Grupo Magiluth (PE), no Teatro do Parque

19hDeslenhar, do grupo Teatro Miçanga (PE), na área externa entre os teatros Hermilo e Apolo

20hÓrfãs de Dinheiro, solo de Inês Peixoto (MG), no Teatro Apolo

Dia 21 (terça-feira)

20h – Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 22 (quarta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Afogados

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), no Morro da Conceição

18h – Leitura dramatizada Justa, com Fabiana Pirro e Ceronha Pontes, na Faculdade de Direito

19hYerma – Atemporal, de Simone Figueiredo e Paulo de Pontes (PE), no Teatro do Parque

20hPedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas (PE), no Teatro de Santa Isabel

Dia 23 (quinta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Água Fria

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), na Avenida Rio Branco

19hAuto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório (PE), no Teatro do Parque

21hSolo para um Sertão Blues, de Cláudio Lira (PE), no Teatro Apolo

21hNarrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 24 (sexta-feira)

11hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Casa Amarela

15hBoquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

19h – Leitura dramatizada O Sonho de Ent, da Cia Fiandeiro (PE), na sede da companhia (Rua da Saudade, 240, Boa Vista)

20hContestados, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

21hAo Paraíso, de Valécio Bruno (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 25 (sábado)

15h – Boquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

17hA.N.J.O.S (infantil), da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20h – “Interior”, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Tatuagem”, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

20h – “Contestados”, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

Dia 26 (domingo)

16hCéu estrelado (infantil), do grupo Pedra Polida (PE), no Teatro Apolo

17hA.N.J.O.S, da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20hInterior, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19hTatuagem, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

 

 

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“Aqui você tem tempo”
Crítica de Guará Vermelha,
espetáculo da Companhia do Tijolo

 

Guará Vermelha é uma livre adaptação para o teatro do romance O voo da Guará Vermelha, de Maria Valéria Rezende. Foto: Ivana Moura

Trabalhadores do espetáculo da Companhia do Tijolo. Foto: Ivana Moura

Alguém do elenco de Guará Vermelha, espetáculo da Companhia do Tijolo, escreve na lona, que serve de quadro e chão: “Aqui você tem tempo”. Que convite fascinante e irrecusável neste mundo capitalista, que nos rouba o sono e o desejo na sanha de consolidar no imaginário de que tempo é dinheiro. Não meus amigos. Tempo é muito mais que o vil metal. Danem-se as campanhas publicitárias e os donos das grandes fortunas que insistem nessa tecla. Tempo é vida que pulsa, feito a flor de Drummond que rasga o asfalto contrariando as regras. Tempo pode ser haicai ou poema épico e assim vai.

A trajetória do Tijolo tem dessas coisas de comungar. De partilhar as horas, de esticar o encontro numa troca de muitas bonitezas (mesmo ao apontar lados sombrios). Às vezes a trupe vai tão fundo nas humanidades que até dói. Mas investe no caminho da cura, devagarzinho. É uma aposta no caminho freiriano da educação como prática da liberdade, do aprendizado e formação do ser, da celebração coletiva, da atuação no mundo com arte no teatro.   

Na maioria das vezes, as montagens são longas, urdindo fabulações que parece aquela música do Gilberto Gil, Entra em beco e sai em beco, cuja personagem começa sentada numa pedra.

As pedras estão em toda parte em Guará Vermelha. No meio do caminho. Pedra bruta do cotidiano. No lombo do ajudante da construção civil iletrado, que conta histórias com a maestria de Sherazade (narradora dos contos de As Mil e Uma Noites). Na educação pela pedra de João Cabral. Na pedra que ensina à criatura da aridez geográfica e humana.  

Pedrinhas que simbolizam pessoas que passaram e seguiram. Elas se fazem presentes. Pedras que podem traçar as pistas do itinerário, mas os apressados transeuntes desmancham sem nem notar. Pedras que entram na constituição de casas, escolas e teatros.  

Cena de Guará Vermelha, com Thaís Pimpão no papel de Anginha ao centro. Foto Ivana Moura

Guará Vermelha, a peça, se ergue em livre adaptação do romance O voo da Guará Vermelha, de Maria Valéria Rezende, que fala das necessidades afetivas, das fomes e carências dos que são achatados na pirâmide social e da epifania do encontro. São muitas coisas, muitas emoções da perspectiva dos oprimidos que a pedagoga, educadora popular (que colaborou com o professor Paulo Freire nas suas andanças pela educação) e escritora, Maria Valéria Rezende provoca e o Tijolo põe em cena.

O espetáculo tem direção de Dinho Lima Flor e um elenco grande, como gosta o Tijolo, de se ajuntar. Karen Menatti, Rodrigo Mercadante, Odilia Nunes, Thaís Pimpão, Artur Mattar, Lucas Vedovoto, May Tuti, Danilo Nonato, Dinho Lima Flor, Jonathan Silva, Maurício Damasceno, Marcos Coin, Nanda Guedes.

As personagens Irene e Rosálio,. Foto Ivana Moura

A atriz Karen Menatti e o ator Rodrigo Mercadante. Foto: Ivana Moura

O encontro de dois seres.. Foto: Ivana Moura

Irene (Karen Menatti) e Rosálio, (Rodrigo Mercadante) são os protagonistas, mas outras figuras acendem na cena – Anginha (Thaís Pimpão), João dos Ais (Jonathan Silva), Floripes (May Tuti), Beto do Fole (Nanda Guedes), Gaguinho de nome de pia Eustáquio (Odilia Nunes) e outros. O grupo faz também citações e homenagens: Conceição Evaristo, Ivone Gebara, Lourdes Barreto, Margarida Maria Alves, Abdias Nascimento, Antônio Candido, Nêgo Bispo, Paulo Freire. E muito mais.

“Das fomes e vontades do corpo há muitos jeitos de se cuidar porque, desde sempre, quase todo o viver é isso, mas agora, crescentemente, é uma fome da alma que aperreia Rosálio, lá dentro, fome de palavras, de sentimentos e de gentes, fome que é assim uma sozinhez inteira, um escuro no oco do peito, uma cegueira de olhos abertos e…”, começa o livro de Rezende.

A peça arde com festejo da re-união. Uma celebração à vida, com elenco e uma boneca gigante de Maria Rezende, a interação das atrizes e dos atores com público ofertando pedra ou pedrinha e discorrendo sobre a força real e simbólica do mineral.

Afeto, simpatia, amor, amizade se entrelaçam numa rede para tratar de consciência de classe, opressão, injustiças e lutas. “Para onde fugiu a humanidade?”, pergunta atônito Rosálio, filho de mãe solteira, o Nem Ninguém que depois é chamado de Curumim e, que conquista a existência civil com o nome na documentação de Rosálio da Conceição.  

Ele inventou esse nome para si mesmo. Um primeiro passo para erguer-se como protagonista de sua própria história. A trajetória da personagem é tão mirabolante – escravizado, mira de revólver, mineração, libertação com a doação de pepita de ouro da velha senhora, voo de avião, nuvens, a escravização do liberalismo econômico (“Comeu feijão, trabalhou, lavou-se, dormiu, comeu feijão, trabalhou, lavou-se, dormiu”) que parece história de trancoso das “comunidades narrativas” da tradição oral do Nordeste do Brasil.

Rosálio analfabeto carrega consigo uma pequena mala com alguns livros (“Os livros são objetos transcendentes / mas podemos amá-los do amor táctil”, canta Caetano).  Esses livros que cultiva são a fortuna de Rosálio, que correu o mundo motivado pela vontade de aprender a ler. (Isso é de chorar de alegria, num país que parte da população cultiva a bala como forma de intolerância). Rosálio não conseguiu o letramento nos lugares óbvios. Até se deparar com Irene.

Irene saiu do Norte. Em São Paulo vive/viveu da prostituição e pega/pegou Aids. No jogo de narrar e interpretar o grupo explica a diferença do HIV na década de 1980, com menos recursos de tratamento, mais desinformação e discriminação, para os dias atuais, quando a doença pode ser controlada, embora o preconceito seja um grande inimigo. Irene é uma prostituta que envelheceu com a doença, não consegue muitos clientes e tem que pagar para a mulher que cuida do seu filho.

No livro, existia um tal de Romualdo no passado de Irene. Mas a dramaturgia e a direção fizeram bem em diluir essa figura na cena.

A essência de Rosálio sintoniza com a essência de Irene. Mesma frequência de empatia com os seres viventes. Ele sentia a dor do corte no corpo quando arranjou um serviço de derrubar árvores. Um sagui e uma guará povoam a memória de cada uma dessas figuras como impulsionadores de compaixão.

A guará vermelha do título é uma ave de cor magnífica, bico fino, longo e levemente curvado para baixo. Pega essa pigmentação de plumagem rubra porque se nutre dos caranguejinhos vermelhos dos mangues. E é muito interessante saber que no cativeiro, com outras comidas, as plumas “desbotam”. Um paralelo com nós mesmos: somos também o que nos alimentamos no corpo, imaginário, espírito, utopias etc.

O público dança com os atores. Foto Ivana Moura

As andanças de Rosálio são incitadas por um desejo inquebrantável de aprender a ler. Irene também tem sua paixão pelas palavras, e guarda embaixo do colchão um caderno pensando em escrever histórias, um dia. Juntos, esses dois personagens forjam a “expansão do Universo” e adiam a chegada da morte. O entrosamento entre a atriz e o ator é de uma afinação profunda e isso é uma das riquezas do teatro de grupo, de anos trabalhando juntos, do conhecimento, entrega e respeito pelo outro.

Dessa troca de grupo são extraídos o humano, o onírico e o popular com delicadeza num jogo que conduz e envolve a plateia. A música, os arranjos musicais e as letras das músicas dialogam e coabitam os espaços cênicos produzindo texturas de forte apelo sensorial.

A cultura popular — com a literatura de cordel e as geniais oralidades – se entende muito bem com clássicos como Dom Quixote e As mil e uma noites, citados na peça. Palavras, frases, musicalidade da construção literária de Rezende se expressam perfeitamente pela boca e o corpo dos atores. 

O teatro, esse teatro, é uma forma de se posicionar contra as atrocidades do estado e da sociedade. Cria espaços para a reflexão crítica, como instrumento de transformação. A coerência estética do Tijolo faz sua práxis atenta às principais lutas políticas de seu tempo – contra a desigualdade social, o genocídio dos negros e dos indígenas, a opressão da classe trabalhadora, a violência contra a mulher e o feminicídio, o abuso de poder, a violência policial, a desvalorização de professores, a exploração, a homofobia, a transfobia, a lesbofobia, etc.

Na sua pesquisa estética continuada, a companhia enaltece a educação como prática da liberdade, da pedagogia anticolonialista, do aprendizado como estratégia de conscientização e realização de sonhos. O aprendizado da troca de afetos para iluminar o mundo.

Atriz Odília Nunes. Foto Ivana Moura

A encenação alterna presente, passado e futuro do passado em uma dinâmica bem elaborada, como ocorre também no livro. Narradores e personagens, os artistas utilizam técnicas épicas e dramáticas para obter escuta e acolhimento da plateia.

Os nomes dos capítulos do livro (cinzento e encarnado; verde e negro; ocre e rosa) estão estampados nos macacões do elenco. Em Alaranjado e verde vai pra cena um brincante que constrói um teatro no alto do morro e envolve toda a comunidade. Gaguinho narra essa história. Ou melhor Odília Nunes abraça e solta Gaguinho e fala também do seu projeto No Meu Terreiro Tem Arte, iniciativa linda realizada há alguns anos no Sertão do Pajeú, no sertão pernambucano, que promove intercâmbio cultural, residência artística, festivais como Chama Violeta e Palhaçada é Coisa Séria, no Sítio Minadouro.

A atuação de Odília é um farol, de um brilho vulcânico, com seu sotaque pernambucano e uma aterramento nas ancestralidades nordestinas. É um prazer vê-la em cena, a deslocar-se no palco, a acionar a ligeireza de raciocínio, o drible do jogo nas suas intervenções.

O elenco todo passa um compromisso com os princípios do Tijolo. Há algumas variações nas atuações. A inexperiência dos mais jovens está carregada de entusiasmo e acrobacias. Anginha de Thaís Pimpão é uma prostituta amargurada, revoltada e que não se importa se vai contagiar os parceiros com a doença. Mas há muita humanidade nesse ódio.

A cena melodramática, um trechinho de opereta cômico-popular do artista abandonado pela mulher amada tem um apelo de um hit chiclete. Com May Tuti (Floripes) e os músicos Jonathan Silva (João dos Ais) e Beto do Fole (Nanda Guedes), a cena utiliza-se da simplicidade e humor para fazer uma crítica ao patriarcado. 

É a palavra de Rezende que robustece a trilha de Rosálio e leva vigor para os últimos dias de Irene. Irene vive mais e melhor com as histórias que alimentam os dois. Irene ensina, Rosálio aprende, ele ensina, ela aprende.  Eles se alimentam de palavras e afetos. Eles se aceitam e não se julgam. Histórias de Brasis. Guará Vermelha defende que Irenes podem desejar sim viver de amor, mesmo que doam os “golpes dos pés do homem tarado”. O coração de Rosálio pode sim desejar contar histórias, ser um grande escritor.

A inclinação épico-dialético das narrações frenéticas com os pés no teatro contemporâneo, o arsenal  político-estético-pedagógico do teatro, o trabalho militante sem alienação do processo artístico desta peça do Tijolo projetam as questões e as contradições sociais como disparador do pensamento crítico.

Os pactos, a elaboração do diretor Dinho Lima Flor junto ao seu grupo apostam na chave brechtiana/ freiriana / rezendiana da diversão e do prazer do aprendizado. O desejo de modificar o mundo por uma vida mais digna está presente. Vida longa ao espetáculo. Viva o teatro!

Primeira temporada no Sesc Avenida Paulista. Foto: Ivana Moura

FICHA TÉCNICA

Direção geral Dinho Lima Flor
Elenco Karen Menatti, Rodrigo Mercadante, Odilia Nunes, Thaís Pimpão, Artur Mattar, Lucas Vedovoto, May Tuti, Danilo Nonato, Dinho Lima Flor, Jonathan Silva, Maurício Damasceno, Marcos Coin, Nanda Guedes
Direção musical William Guedes
Iluminadora Laiza Menegassi
Figurino Silvana Marcondes Cia do Tijolo
Cenário Andreas Guimarães Cia do Tijolo
Técnico de som Leandro Simões
Dramaturgia Fabiana Vasconcelos Cia do Tijolo
Concepção do projeto Dinho Lima Flor Rodrigo Mercadante Karen Menatti
Direção de produção Suelen Garcez
Assistente de produção Lucas Vedovoto
Fotos Alécio Cesar
Design gráfico Cia do Tijolo Fábio Viana
Espetáculo inspirado no livro O Voo da Guará Vermelha de Maria Valéria Rezende

Temporada
Sesc Avenida Paulista (Arte II (13º andar)
Duração: 170 minutos
Até 22/10
Sessões esgotadas

Temporada estendida até  05/11
Sessões de quarta a domingo
Ingressos https://www.sescsp.org.br/programacao/guara-vermelha/ ou nas bilheterias do Sesc

 

 

Este texto integra o projeto arquipélago de fomento à crítica, com apoio da Corpo Rastreado.

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