Memórias de uma estreia

Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases será encenada na Mostra Capiba. Foto: Rogério Alves

A long time ago, num reino desencantado, um encenador que merece essa nomeação transformou uma criatura numa atriz. O espetáculo era Woyzeck, do alemão Georg Büchner. O encenador, Moncho Rodriguez. E aqui não estou avaliando método, processo, e relação do líder (que além de diretor de cena é diretor de ator) com o elenco, mas o resultado. O episódio da transformação. Isso sempre me volta como memória agradável e promissora. Então, é possível transformar alguém em um ator?! Bem, não sei se tanto, mas pelo menos naquela montagem a pessoa estava convincente, bela, límpida e transparente.

Assisti à montagem Olivier e Lili: Uma história de amor em 900 frases na estreia, no Teatro Hermilo Borba Filho, que foi um desastre. O som falhou, o vídeo pifou, os efeitos inventados pela equipe não funcionaram. Quer dizer, ficou um espetáculo meia boca, meia sola. Quem é de teatro sabe que essas coisas acontecem. Embora, por problemas técnicos, espetáculos já tenham sido detonados na cidade.

Sabemos também que, muitas vezes, a legitimação ou não de uma obra de arte depende de interesses extrínsecos ou obscuros; ou tão límpidos e transparentes que alguns insistem em não enxergar. É. A vida é cheia de mistérios. E os humanos, quando botam o lado podre para fora, é como um cegueira de ódio.

O texto original, Les Drôles, foi montado por Olivier Py e pela da dramaturga Elizabeth Mazev, em 1993, com direção dele. E passa pela história da amizade dos dois, o que eles enfrentaram quando mais jovens. O amor dos dois artistas franceses pelo teatro. Quem viu a encenação assinada por Py, garante que era leve, bonita e repleta de emoção.

Um parêntese. Em 2009, Ano da França no Brasil, foi apresentada em São Paulo a peça Epître aux jeunes acteurs (Epístola aos jovens atores), de Olivier Py, que além da dramaturgia assinava a direção e iluminação. Como o título sugere, trata da arte teatral e é apresentado como grande poema.

A dramaturgia de Olivier e Lili é problemática, lógico que na minha opinião, por vários aspectos. Entre eles não é possível enxergar os artistas Olivier Py, que foi diretor artístico do Odéon-Théâtre de l’Europe, em Paris, por cinco anos. E que, no ano que vem, assume o cargo de diretor do Festival de Avignon. Tampouco Elizabeth Mazev. Os personagens que dão título à peça ficam só na superfície.

Se esse teatro de fronteiras busca trabalhar com a memória dos atores, tendo por base o texto de Elizabeth, penso que eles não obtiveram êxito.

Dramaturgia evidencia muito mais as histórias de Leidson e Fátima

Talvez fosse melhor chamar a peça simplesmente de Leidson e Fatinha, pelo menos, o público saberia o que o esperava lá dentro: a história de vida dessas duas pessoas. Mas vamos lá. Trabalhando nessa zona de transição, a montagem, como um todo, precisaria avançar mais do que misturar as memórias dos franceses e dos pernambucanos. O que se vê no palco é muito pouco, enquanto pesquisa e experimentação contemporânea. Falta pulsação.

Eu adoro teatro. Os meus amigos, para me provocar, dizem que eu falei que até teatro ruim é bom. Eu nunca falei isso, não exatamente assim. Mas há espetáculos que são precários. Mas uma luz, um brilho no olho do ator, a troca que ele faz com o público, uma entonação, um gesto, revela uma faísca que pode virar labaredas.

Seguindo e voltando à questão do desempenho. As atuações são fracas, dos dois atores. A dele mais do que a dela. Ele é estridente e falta-lhe a graça sugerida pelo texto original. Leidson Ferraz é alto e magro, e Fátima Pontes é baixinha. A direção poderia tirar proveito dessa determinação da natureza. Claro que os dois atores têm potencialidades e podem ser melhor aproveitados. O que enxerguei foi um gestual pouco criativo, com clichês, modulação de voz acomodada e lembranças que não foram bem exploradas cenicamente. Essas são minhas impressões da estreia.

Gente que estava nesse mesmo dia que eu e voltou depois garante que o espetáculo ganhou outro rumo. Mas também escutei a mesma opinião que a minha de outros que viram a peça com tudo de cima. Bem, a minha memória, por enquanto é da estreia. E foi assim que recebi a peça.

A participação do diretor parece forçar uma barra. É lógico que tem muitos diretores que gostam de aparecer na cena. Gerald Thomas é um deles. Mas ele acrescentava, pelo menos, nas suas encenações mais emblemáticas. Não achei que era o caso.

De qualquer forma, pretendo assistir novamente ao espetáculo. Não sei se vai dar para ser hoje, quando Olivier e Lili é apresentado dentro da Mostra Capiba, às 20h, no Sesc Casa Amarela. Se não, no Janeiro de Grandes Espetáculos, que a peça está escalada. Quem sabe não mudo de opinião? Lembrando a música de Raul Seixas, Metamorfose: “Prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Eu prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião /Formada sobre tudo…”

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31 pensou em “Memórias de uma estreia

  1. Leidson Ferraz

    Uau, Ivana! Finalmente, após quatro meses da estreia (estreamos em agosto!), você nos dá sua impressão sobre Olivier e Lili… / Leidson/Fatinha e Rodrigo. Que pena que não curtiu… E, de fato, estaremos no 19º Janeiro de Grandes Espetáculos, no dia 26 de janeiro (um sábado), às 18h, no Teatro Hermilo Borba Filho. Como é sempre bom ter retorno do público que nos acompanha, por favor, leitores, comentem! E viva a liberdade de opinião! Sempre! Beijos, beijos!

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  2. Tiago Ferro

    Não contei as frases… Mas poderia escrever 900 coisas que gostei na peça. Entre essas coisas: a interatividade, a história das personagens que se mistura com a dos atores, as atuações sensíveis e naturais, as frutas estavam uma delícia, etc. Chorei; Sorri; Senti saudade da minha infância, da minha vó; Fiquei curioso com o que tava escrito no chão e fiquei muito feliz com a mensagem; E mais outras 890 coisas que eu não vou contar, vão assistir a peça e tirem suas próprias conclusões… 🙂 Creio que realmente precisamos de opiniões tão distintas quantas forem o número de espectadores desta peça, afinal a democracia em que vivemos merece essa liberdade, creio que cabe ainda outra opinião, o teatro e a dança em nosso tempo estão, cada vez mais, precisando de verdade, a verdade que vi em Leidson e em Fátima nesta peça, disso as pessoas precisam, isso falta em muitas produções, talvez por isso não tenham tanto público.

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  3. Ivana Moura Autor do post

    Pois é, Leidson tentei ver uma segunda vez, da estreia para cá, não foi possível por choques de horários. Devem ter opiniões diferentes, muitas favoráveis. A minha foi essa quando escrevi. E é muito bom que a apresentação de Lili seja num sábado no Janeiro de Grandes espetáculos (acho que as outras foram em dias da semana chocando com meus afazeres na redação). É um exercício de democracia aceitar posições diferentes. Mas é um exercício que vale a pena. Sucesso com Olivier e Lili e pela vida. Já marquei na minha agenda para revera peça no sábado, 26/01. Beijão!

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  4. Ricardo Mourão

    Sabe de uma coisa? Não tenho esse comprometimento com a crítica formal, embora saibamos que nós, atores, já temos um olhar “educado” (ou deseducado! rsrsrs) quando nos propomos a assistir a um espetáculo.

    Digo que concordo em muitos pontos com a visão da Ivana (e ela está no seu papel mesmo, e isso é muito bom, e sem “puxação de saco”), mas acabo me desligando um pouco dessa visão pormenorizada e tento (com esforço) ser apenas um espectador, deixando que o impacto daquilo que vejo me tome sem muitos “filtros”.

    Assisti a “Olivier e Lili” sem criar expectativas maiores, pelo desejo de ver colegas em cena, contando uma história. Simples. E gostei muito. Ri, me emocionei, me admirei em alguns momentos. Gostei de muita coisa, não gostei de outras tantas, mas o que ficou em mim foi muito bom. Saí do teatro com uma nostalgia tão gostosa, tão natural… E isso me fez bem, muito bem mesmo. É justo por esse viés que teço essas minhas palavras. Quero ter (e isso pode parecer bem infantil… Mas o infantil tem seus encantos) essa “displicência”, esse despojamento e simplesmente, como uma criança, assistir e entrar no “jogo” de encantamento.

    Eu me flagrei num processo “perigoso”, e isso pode cheirar a depoimento (talvez seja mesmo). À medida que ia me ambientando com o fazer teatral, curiosamente fui me tornando racional demais, avaliando, ponderando, perscrutando tudo o tempo todo, nesse eterno “laboratório” em que vivemos. Acabei deixando de lado esse “impulso primeiro”, essa entrega desmedida, essa “passividade” em deixar-me levar.

    Com “Olivier e Lili” fiz o exercício inverso. Simplesmente deixei acontecer. Nem me liguei com a história original, e concordo que a dos atores franceses acaba sendo quase nada diante de todo o restante (mas a referência me foi tomada como um “aparte” curioso, o de conhecer as pessoas por trás das personas). Como conheço os dois atores, naturalmente a ligação é bem mais forte quando contam e mostram suas histórias. Claro que me perguntei se um espectador que não os conhece e não tem nenhuma referência sentiria o que senti, se envolveria como me envolvi. Não sei.

    Bobagem… Cada um sente aquilo que lhe toca e, portanto, é bem pessoal.

    Eu gostei, muitos gostaram, outros muitos nem tanto. É assim mesmo! Vamos em frente. Às vezes o que parece inadequado e sugere um “erro” ou precipitação nada mais é do que uma visão, particular ou não, de toooooodo um processo, que crítica alguma (ou a maioria) consegue registrar (sem demérito algum aos críticos, “palamordedeus”!) rsrsrsrsrsrsrsrsrs.

    Adorei essas crianças sapecas e provocadoras! Beijo grande!

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  5. Breno Fittipaldi

    O espetáculo é lindo, sensível, envolvente, comovente. Com direção segura, precisa. Atores entregues, despojados, intensos. Uma obra-prima para Pernambuco, nesses últimos anos, nessa última década. Vi sete vezes e veria, aliás, verei mais vezes ainda. Nada abala a humanidade que emana dos olhos úmidos, emocionados, cativantes de Leitinho e Fatinha. Em Olivier e Lili, o teatro reconta a vida e nos dá a chance de nos questionar sobre a nossa própria. Amo tudo ali, inclusive a atmosfera que retoma o passado, que mostra o presente, e que por vezes saudosista, nos deixa no ar que a vida continua e que o melhor está por vir. Parabéns a todos por tão bela obra. Vocês já possuem a bênção dos deuses, de Dionísio, Baco, Apolo e tantos outros que se encantam e impulsionam ao mistério do desconhecido, do encantamento invisível e secreto. Avante, vocês podem tudo.

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  6. Cleyton Cabral

    Você se lembra dos seus primeiros brinquedos? E do primeiro amor? E do quintal da sua casa? Ser confundido com goiabas, mangas, pitombas nas árvores. E as brincadeiras de rua? O primeiro beijo, o primeiro fora? E aquela perda irreparável? Uma história de amizade sob a ótica do amor. Sem ser cafona. De deixar o sorriso largo e o coração apertado. Eu saí do teatro com a força de um touro e a leveza de uma borboleta. Assisti seis vezes. OLIVIER E LILI: UMA HISTÓRIA DE AMOR EM 900 FRASES. Uma das melhores surpresas da cena teatral recifense em 2012. #indico

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  7. Rafael Almeida

    Sempre me pergunto qual o sentido de fazermos Teatro. E ainda não encontrei outra resposta que não seja ‘despertar sentimentos no outro’, não só no sentido de emocionar, mas quando Brecht propõe despertar um pensamento crítico no seu público está também querendo que o público sinta algo, de uma forma mais racional, mas que perpassa pelo emocional. Eu acredito que não há fórmula (e faço uso dessa palavra, mesmo achando inadequada, por não encontrar termo mais apropriado) mais certa no teatro do que falar do Humano, mesmo sabendo que em alguns momentos a reação do público pode ser de repulsa, afinal não é fácil olhar e ver-se a si mesmo refletido num palco, por vezes em situações ridículas e clichês. Mas quase sempre falar do Humano é bem recebido, por essa identificação e reconhecimento do público nas personagens, nas situações, nas histórias.
    “Olivier e Lili” foi, para mim, a estreia mais aguardada do ano. E fui, ansiosamente, assistir a estreia, que aconteceu com vário atropelos, mesmo assim eu já senti que aquele espetáculo me pegaria. Fui assisti-lo ao final da primeira temporada e já pude perceber o crescimento do espetáculo, tanto por causa das falhar técnicas terem sido resolvidas como pelo salto na interpretação dos atores, que já se sentiam à vontade no espetáculo, pareciam estar na sala da casa recebendo amigos. Realmente valeu a pena esperar “Olivier e Lili”, gostei, gosto, me emociono e vou às gargalhadas todas as vezes que assisto. Assisti mais duas vezes na segunda temporada e fiz questão de estar presente numa das apresentações do Festival Recife do Teatro Nacional, para me entregar àqueles momentos tão belos e fortes. Um espetáculo que é uma confissão de amor, de amor do seu diretor com os atores, entre os atores e de amor ao Teatro. Eu acredito que “Olivier e Lili” é uma resposta ao meu questionamento do sentido de fazer Teatro. Vida longa ao espetáculo!

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  8. Luciana Barbosa

    Sentir o pulsar das memorias da infância de volta a tona, risos, lagrimas e vibrantes interpretações foi o que vivencie ao assistir inúmeras vezes Olivier e Lili.
    Vida longa ao Teatro de Fronteira!!

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  9. Gera Cyber

    Fazer crítica tempos depois sem rever o espetáculo é como falar de um fim de amor mal resolvido, onde só ficam defeitos e a sensação de que não deu certo.

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  10. Eliane Moura

    Impressionante a incapacidade das pessoas de entenderem a crítica. A visão crítica é imparcial, não tem nada a ver com o pessoal.
    Devemos enxergar qualquer crítica de forma racional e procurar aprender, se na visão de alguém nosso trabalho não atinge os níveis de expectativas, devemos fazer por onde melhorá-lo. Aff

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  11. Dulce

    Gera Cyber foi preciso no seu comentário. Crítica é crítica e somos atores. Estamos expostos a tudo. O público pode e DEVE ter várias opiniões. Se a gente quisesse fazer teatro pra receber elogios, montava um palco na sala de casa e mostrava pro pai e pra mãe! O que não acho bacana é criticar depois de tanto tempo e ainda de uma estreia que teve tantos problemas, como a própria Ivana comentou e salientou que precisava ver novamente. A liberdade de expressão é fundamental… Vida longa ao espetáculo que me emocionou muito e com a sua forma despretensiosa, foi o MELHOR espetáculo de 2012.

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  12. Sofia Abreu

    Cada um sente e pensa o que quer, fato. Arriscado é publicar uma opnião quando se está certo de que é preciso reviver a experiência. Mas a vida, assim como no teatro, é risco! E que venha outras oportunidades de reviver a experiência “Olivier e Lili”. Mas de qualquer forma que boa repercussão!!! Muita gente refletindo sobre o que sentiu e viu com o espetáculo. MERDA sempre.

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  13. Álvaro Lucard

    Das duas vezes que assisti me senti transportado a épocas felizes de minha vida. Quando Leidson se refere ao quintal da casa dele que se parece com o Sítio do Picapau Amarelo chorei por dentro das lembranças felizes de infância. Bem como algumas coisas mexeram com um lado meu que não gosto de tocar. Assisti como ator, mas, primeiro de tudo assisti como espectador que é o que me interessa, meu lado espectador precisa curtir para que o lado ator tenha sua chance. E, em várias ocasiões, tanto pessoal como virtualmente expressei a Leidson, Fatinha e Rodrigo minhas profundas impressões. Quando curto um espetáculo gosto de revê-lo, foi o que fiz e, com toda certeza, verei novamente no Janeiro de Grandes Espetáculos.

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  14. JúniorAguiar

    surpreendente e simples, nada no teatro Pernambucano em 2012 me tocou tanto como Olivier e Lili, através da tríade Leidson, fatinha e Dourado. e foram tantos os motivos bons: o programa que merece ser realmente lido antes da encenação (cada palavra, cada frase foi me preparando para sentar na plateia do hermilo e me emocionar com aquele teatro que vinha da alma e das memórias); a plateia cheia e sorrindo, rindo e aplaudindo com entusiasmo, festa e envolvimento); saber que as inúmeras tentativas do Teatro de Fronteira, finalmente, chegou num território fecundo e de clara prosperidade criativa e humana!! sim, o teatro é feito por pessoas e por tentativas… e aqueles grandes atores estavam ali, inteiros, felizes, iluminados pela vontade de ser e de encenar suas vidas e as dos personagens. e tudo se tornou para mim um inesquecível! como vi em outros comentários e é um tanto raro, tenho a imensa vontade de rever a encanação tantas e tantas vezes… 🙂 recomendo a presença de todos no janeiro!

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  15. Roberto Hildegarhd

    Como faz bem irmos ao Teatro… o cinema me apetece, mas o ao vivo me encanta muito mais, é um sentir supremo, ver vidas tão reais.
    Se ir já é bom, imagina quando você descobre um ESPETÁCULO (com letras maiúsculas)! Daqueles que nos trazem um misto de emoções, algumas delas até já haviam caído no esquecimento, é melhor que uma terapia, a arte ajuda a refletirmos e através destas reflexões revisitar nosso cérebro, nossa criança interior, o fundo do nosso mais subjetivo mundo.
    Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases é assim, uma linguagem “multifuncional” que integra diversas formas de comunicação, indo além do texto falado oralmente para imagens escolhidas propositalmente para fazer a platéia envolver-se na trama.

    Escrevi após ter assistido no Hermilo, publiquei no blog http://www.vejadica.com/olivier-e-lili-uma-historia-de-amor-em-900-frases-2/

    Estou adorando esse debate… tem + coisa lá no post, fiquem a vontade para ler na íntegra!

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  16. Lili

    Sou uma simples estudante de teatro. Ainda tenho muito que aprender sobre essa arte milenar composta por mistérios metafísicos. Algo que aprendi é a escutar e refletir sobre o que o publico fala sobre a peça que assistiu. Digo, que uma pessoa que já possui anos de convivência com essa arte possui o olhar mais treinado. Mas, para mim, vale muito mais a opinião de uma pessoa que não é de teatro sobre um determinado espetáculo. Considero esse um olhar puro, como de uma criança. Um olhar que não é recheado de conceitos acadêmicos e egos feridos. Um olhar verdadeiro. E por isso digo: já assistir “Olivier e Lili” 3 vezes. 3 VEZES! E sempre levo um amigo que não é de teatro à tiracolo. Da ultima vez que fui, levei um rapaz, jovem, estudante de física que tinha me confidenciado que NUNCA tinha assistido a uma peça de teatro que tivesse lhe tocado. Ele até chegou a dizer que era culpa dele, por ser insensível. Na mesma hora pensei: Vou leva-lo para ver “Olivier e Lili”. Convite feito, fomos. Com menos de 10 minutos de peça, ele me olhou e disse: a peça é muito boa! Comprovei isso, a cada sorriso, espanto, surpresa e emoção que o espetáculo “Olivier e Lili” despertava no meu amigo. Não só ele, mas TODAS as vezes que assistir a “Olivier e Lili” à plateia estava em êxtase. No final dessa apresentação, ele se despediu com um forte abraço e um Obrigado. Esse rapaz ,que não tem nada haver com teatro e com uma vida completamente diferente do típico publico do Teatro Pernambucano, saiu ENCANTADO com o espetáculo. Para mim, uma mera aprendiz, a opinião dele e os sorrisos que vi são a prova das diversas emoções que a produção de Rodrigo Dourado provoca. Sim, assistir 3 vezes, mas assistira 4, 5, 6, 7 … Várias vezes. E pretendo levar outros amigos a se emocionarem junto comigo vendo outras belíssimas apresentações de “Olivier e Lili”.

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  17. Ana Paula Sá

    Virou polêmica!
    Concordo com quase todos, por razões diversas.
    Algumas visões de Ivana eu compartilho: acho a dramaturgia desencaixada – inclusive prefiro Leidson e Fátima a Olivier e Lili, que terminam surgindo esvaziados algumas vezes, outras excessivo, redundante; tive a impressão que o espetáculo tinha acabado umas quatro vezes – não só pelo tempo já decorrido (não costumo contabilizar), mas pelo jeito de arremate; penso que menos um pouco seria muito mais para o espetáculo; também sinto excessiva a introdução do diretor em cena, embora a história que ele conte seja a mais bela. No fundo, acredito que, da forma como está construída – até porque não li o original, nem vi, e estou dando um crédito aos elogios de Ivana ao dramaturgo – Olivier e Lili ficam rasos perto das histórias de Leidson e Fatinha. Apostar na história dos dois já emociona. Sim, também ri muito, me emocionei, saí leve, felizinha da vida. Foi uma noite agradável. É verdade que não me arrebatou, não me remexeu as entranhas, nem me virou pelo avesso – coisa que sempre espero quando vou ao teatro, tô perdida – mas recomendei aos amigos como “é bonito, leve e divertido, vá lá rir com eles”. Acho digno.
    Nas atuações já não fiquei incomodada. Quando vi, já no final da primeira curta temporada – primeira vez que a vi em cena – Fatinha parecia ainda um pouco desconfortável, mas era visível (estou errada?) a inquietação dela na busca pela personagem. Isso me ganha muito mais do que quem já começa sabendo que está certo – e isso é tão fácil de encontrar no meu Recife, não é? Atores acomodados, sem interesse por descobrir coisas, se arriscar, fazer outros personagens. Vejam que massa: Leidson não é o Chicó!
    Tenho a impressão que o espetáculo é uma busca do grupo por essa linguagem própria – que nem é meu estilo favorito, mas não me impede de dialogar. Não me pareceu estarem já convictos de que acharam a fórmula. Ou será que estão? Inocência ou petulância minha, não vi Rodrigo Dourado, Wellington Júnior, Leidson Ferraz e Fátima Pontes com ares de “tá dominado”, como percebo em outros encenadores e atores da nossa cena.
    Da mesma forma, muitas vezes discordo de Ivana, de Pollyana, e de mais um monte, mas tenho noção de que são visões pessoais, como todas as outras aqui expressas. Não vejo razão para entornar o caldo, Leitinho, nós mesmos já discordamos sobre espetáculos que vimos e nem por isso. O Armazém tái né, o grupo lá de Barbacena, enfim.
    Mas, reconheço que precisamos (enquanto criadores) do diálogo, do retorno, principalmente o estímulo e o apoio, na maior parte das vezes, de preferência. Como as Yolandas são as figuras ativas nesse campo, por aqui, é inerente a espera e a expectativa. Lembro com muita frustação que Ivana esteve na penúltima apresentação de Voragem, a única que não pude acompanhar, e não publicou absolutamente nada, o que consegue ser mais frustante do que todas as críticas. Para não dizer que não teve uma linha, teve um comentário de que tinha ido assistir e estava lá também Ronaldo Brito, com quem realizou uma entrevista e lá vai a notícia. Que felicidade, quando soube, à distância, que Ivana Moura tinha ido ver. Pensei logo: alguém vai falar do nosso trabalho. Que massa! Vamos poder dialogar, mesmo que seja uma crítica para devastar tudo.
    Entretanto, lembro de forma muito carinhosa as palavras de Wellington Júnior apontando todos os erros do espetáculo, em Triunfo, na programação do festival de teatro estudantil do Sesc. E quase todos que foram contemplados com as críticas ficaram muito gratos, só uma pessoa entrou em crise existencial, mas porque não tinha maturidade para perceber qual enriquecedor era aquele retorno. Terá Wellington poupado os amigos e sido gentil? Não sei. Pareceu bem honesto na ocaisão.
    Do mais, Ivana, assista novamente sim. Com o coração sereno para receber o que a coisa é. É possível que você perceba, sem os problemas técnicos, com o espetáculo mais amadurecido, outras coisas que não foram possíveis na primeira audição.
    Ao grupo, boa pesquisa pra vocês, estejam abertos também ao olhar daqueles que não são os pares, os amigos, os parceiros, os que comungam do mesmo gosto.
    Aguardarei com bom coração as críticas ao nosso Le Petit, em 2013, por favor! rsss

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  18. Marcia Cruz

    gente, que massa essa troca de opiniões a partir da critica de ivana moura. de fato, assisti ao espetaculo e sai com a sensaçao de ter visto um teatro interessante e autobiografico. lendo a critica de ivana achei q o comentario sobre o espetaculo embasa minha percepçao, realmente o espetaculo poderia se chamar olivier e lili sob o olhar de fatima e leidson, pq ‘e o que de fato me pareceu acontecer. mas isso não me faz achar menor, menos emocionante o espetaculo q assisti. parabens fatima e leidson pelo desempenho e emoçao em contar suas historias a partir da historia e oliviier e lili. parabens ivana pela critica, nao deve ser nada facil avaliar assim uma paixao – o teatro e amigos – leidson e fatima. besos em todos e viva ao teatro!

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  19. Pollyanna Diniz

    Gostaria de esclarecer que todos os comentários que não desrespeitem ninguém e que tenham seus autores identificados são aprovados no Satisfeita, Yolanda? . Não há censura. Não é esse o próposito! Estimulamos o debate. Este espaço é para isso. Mas não para ofensas pessoais. Quando a discussão descamba para a ofensa pessoal, preferimos não responder. Não é do nosso feitio, não é o nosso objetivo, não faz parte do que acreditamos. É só ler a crítica de Ivana Moura para confirmar que não há críticas ou ofensas pessoais. É a análise de uma obra. E a opinião de uma crítica. Ela tem direito de expressar a opinião dela sobre a obra, sem denegrir ninguém. E todos têm o direito de comentar, mas também sem denegrir ninguém. Que o debate continue! Que muitas outras críticas possam gerar discussões positivas.

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  20. André Chaves

    Gosto de ler críticas assim, e ver o quanto o público se projeta e interage com isso. Não vi o espetáculo ainda, estava querendo ver, mas agora desperta mais curiosidade, e sem dúvidas assistirei pensando no pensamento do público e da crítica, e depois formular e construir uma visão minha, e compartilhar se der na telha. Uma crítica é sempre bem vinda quando soma, mesmo que seja “negativa”. São pontos de vistas diferentes. Parabéns Ivana pela crítica. Parabéns ao Leidson pela aceitação e divulgação (só li devido a postagem que ele fez no perfil do Facebook dele.), e parabéns a Pollyanna pela mediação! kk.
    Quero ver Oliver e Lili!!

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  21. Tatto Medinni

    Gente! Que bom o que esta acontecendo! Mas nós artistas, de Recife para ser mais específico, estamos acostumados a ouvir elogios lindos pela frente e muita depreciação por trás. Vou emitir minha opnião em relação ao espetáculo: Gostei e muito! Liguei pra Dourado, falei pata Leidson. É uma obra muito pessoal, iíntima e de amigos. É a vida de três amigos que estão ali na cena. Fiquei muito emocionado. Quero também dizer aqui que essa crítica que Ivana escreveu, é uma visão de uma profissional que escreve para teatro há anos e posso até estar enganado, mas se ela escrevesse só elogios e afins, não estaria rendendo tanto assunto. Se esta critica do espetáculo fosse escrita a base de elogios, mesmo após 4 meses, tava todo mundo agradecendo por ela. Artista é puramente EGO e quando esse ego é cutucado de forma a machucar, causa o que está causando.

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  22. Juliana

    Concordo com Tatto Medinni. Se a crítica fosse só elogios, estava todo mundo agradecendo. Como o texto levanta questões técnicas do espetáculo, virou polêmica. Crítica é crítica. Não cabe criticar a crítica. Ou se concorda com ela, ou não. Não vi nada de pessoal na análise de Ivana. Pelo contrário. Aponta questões pertinentes à montagem.

    Particularmente, achei cansativa e repetitiva a opção narrativa de realizar toda a peça na “terceira pessoa”. Esse caminho engessa a encenação e faz com que perca ritmo e dramaturgia. Perde-se o contato olho no olho, diálogos, nuances possíveis; algo que chega a incomodar e cansar na metade do espetáculo.

    O texto tem as experiências pessoais dos atores e diretor, mas se perde dos personagens que dão título à montagem. Tatto Medinni falou algo interessante: “é uma obra pessoal, íntima e de amigos”. Há trechos emocionantes sobre a vida dos atores, narrados de forma bastante pessoal. Talvez por isso tenha interessado a tantos amigos e conhecidos, que aplaudem as vivências, as dores e perdas dessas pessoas. Enquanto montagem teatral, vale uma análise mais técnica da encenação.

    Achei bem mais interessantes as histórias pessoais narradas do que a encenação teatral em si. Algo que já mereceria repensar o espetáculo e a proposta de montagem. Não fica claro quem são Olivier e Lili – a não ser pelos trechos de documentários apresentados, nem a relevância do encontro dos dois para a vida deles e para o teatro.

    Não conheço o texto original no qual se baseou a peça, mas também vai de encontro à descrição do espetáculo. Não lembra um diário, porque ninguém faz diário em terceira pessoa. Diário acontece em primeira pessoa e é justamente nas situações dramáticas envolvendo os personagens principais que se perde quem são essas pessoas. Também não há uma noção clara de passagem de tempo na atuação, parecendo que as personagens são crianças e adolescentes do início ao fim (o jeito de falar e o gestual dizem isso – quando na verdade fica subentendido que envelheceram juntos).

    O corte para a vivência dos atores segue o mesmo tom, sem nenhuma solução cênica que marque estas passagens. O espetáculo segue numa mesma pisada do início ao fim. O cenário e a iluminação são interessantes. A movimentação dos atores precisaria de uma marcação mais definida. O figurino funciona. O uso dos microfones me pareceu dispensável. Em alguns momentos acho que a montagem pediria instrumentos musicais (senão uma banda ao vivo, que os atores tocassem instrumentos, ou musicassem algumas passagens).

    Achei bonito e emocionante Leidson cantando; uma cena que para mim ficou um pouco perdida diante do todo e que mereceria mais destaque, fosse outra a proposta do espetáculo (talvez a opção de envelhecer junto com os personagens).

    Enfim, repito: não cabe criticar a crítica. Senão não existiriam Bárbara Heliodora, Aimar Labaki, Sábato Magaldi e tantos outros. Não é porque existe uma crítica negativa, que a questão é pessoal. É um olhar técnico, nem sempre amigável, como desejaria o grupo, mas sempre interessante, por vir de alguém que se dedicou a analisar a obra e por promover o debate. Afinal, de acertos e também de erros se farão as próximas montagens!

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  23. Rainal

    Há tempos não frequentava teatros. Posso dizer que meu retorno à plateia, como expectador de “Olivier e Lili”, foi bastante feliz. Senti-me envolvido pela peça, pelas histórias, pelas memórias, alegres e tristes, que me remeteram às minhas próprias experiências de vida. Achei ótimas as interações com o público, a mistura de emoções com as dos próprios atores e do diretor (excelentes, aliás). Saí leve do teatro, com um sorriso besta de orelha à orelha, maravilhado com esta experiência agradável e ímpar.

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  24. Daniel Moreira

    Preocupei-me um pouco com tamanha intensidade de comentários, “revoltas” e réplicas…. Sou leigo por demais em crítica teatral. Ao longo dos meus poucos anos vivendo na esfera já vi críticas “negativas” de Corra, de Clotilde… espetáculos que eu particularmente admiro demais… e ficava simplesmente sem entender “como outra pessoa não gostou?”. E claro, o grupo dificilmente recebia com sorrisos… mas sabia desprezar certos elementos da crítica SE necessário. Já chamaram Corra de “achados técnicos” (queria que todos espetáculos “achassem” essa técnica também…)… chamaram Clotilde de “humor fácil, riso fácil, e até mesmo peça do tipo ‘teatrão’ ” (queria que todos tivessem essa “facilidade” e que todo ‘teatrão’ me agradasse….) Minhas impressões do espetáculo comentei com o Dourado… acho que o amadurecimento dele enquanto diretor é notório… e a peça apresenta sim momentos questionáveis como a Juliana citou acima. Mas minha opinião nesse “debate” é de que as pessoas (leigas ou não) podem exprimir suas relações de sentido com uma peça da forma que ela sentir necessidade… passionais ou não… nunca poderemos impedir isso… acho que no final só nos desgastamos… Pra mim, críticas negativas ou não, não me impedem de assistir a um espetáculo… por uma, duas ou três vezes. Cada cabeça é um universo singular e muito complexo. Não dá pra esperar que todos correspondam da forma que a gente espera ou da forma “ideal” (a crítica imparcial, puramente de análise estética – da qual, nem sei se acredito nisso)… Quero deixar claro que nem estou defendendo o posicionamento da Ivana nem do grupo, apenas esclarecendo meu ponto de vista sobre criticar/receber crítica. De antemão, respeito todas as opiniões colocadas aqui. Espero que compreendam a minha também. E revisando o que comentei no início… se todo comentário “negativo” sobre uma peça gerasse uma preocupação e posicionamento das pessoas sobre o fazer teatral… sinceramente gostaria que toda peça tivesse alguma crítica assim… pq… concordando um pouco com o Tatto.. infelizmente nosso costume é de falar e ouvir somente coisas boas, e quando é de amigo então… …me choco de antemão com comentários que ouvi de pessoas sobre o espetáculo de forma “fantástica”, quando às vezes nem sabemos as reais considerações dessa pessoa. Se houve alguma situação passional aí… é algo que nem faço questão de saber… afinal, me preocupo com meus sentidos… logo… acho que a crítica da crítica poderia ser um bom exercício a ser realizado pelo grupo… depois de um ensaio… para tirar suas devidas conclusões… mas não como forma de “protesto” ou “guerra declarada”. Com bombas de um lado e do outro… acho que a classe perde sua classe. Espero ter contribuído. Abraços.

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  25. Raquel Lima

    Se uma blogueira não tem liberdade de dizer o que pensa em seu próprio blog, onde mais terá? E uma crítica muito bem fundamentada. Em primeira pessoa, cara limpa. Não concorda? Discorde, então, mas com respeito.

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  26. Leidson Ferraz

    Uau, quantos comentários, hem?! Tomara que tudo isso atraia mais leitores ao blog e mais espectadores ao nosso teatro. Só acho pertinente esclarecer algumas questões, especialmente a Juliana (infelizmente não vi seu sobrenome aqui). O texto original “Les Drôles: Un Mille-Phrases”, de Elizabeth Mazev, foi escrito em terceira pessoa mesmo, com frases curtas, em 1993 (há 19 anos!!!), época que a Internet ainda nem bombava. Ou seja, é quase como um diário mesmo para ator-narrador (tão em voga hoje, hem?!), com repetição do nome de Lili e Olivier propositadamente e frases antecipadamente “twittadas”, digamos assim, extremamente contemporâneas, no meu entender. Em momento algum, pelo que percebo, a dramaturga tentou fazer uma biografia dela ou de Olivier, mas, sim, revelar os seus sentimentos na relação com a vida, com ele e com o teatro desde a infância. Tudo isso em situações que, ao meu ver, fazem muita gente se identificar, inclusive nós do elenco. Tanto que o diretor Rodrigo Dourado pensou em fundir as nossas quatro histórias, o que não era nosso projeto inicial (pensávamos em apenas fazer o texto original, cuja tradução pode ser “Os Divertidos – Em Mil Frases”). Esta outra ideia foi resultado dos nossos diversos e intensos laboratórios no processo. Quanto ao público que nos prestigia, já tivemos plateia praticamente desconhecida, e, felizmente, a resposta, confesso, foi melhor ainda. Por isso, acho que o texto como está, pode reverberar numa identificação imediata com histórias de vida de quem quer que seja, e não só aos nossos amigos íntimos. Isso na minha opinião. Sobre a carreira dos dois, o texto foi escrito em 1993, e como nem a dramaturga (penso eu) nem nós queremos fazer uma peça biográfica, mas sim revelar sentimentos e situações da dupla enquanto criança e juventude (com identificações ao mundo! Afinal, há um tanto deles dois em cada um de nós…), Elizabeth Mazev não poderia prever que Olivier se tornaria diretor do Théâtre de l’Odéon (até porque isso só aconteceu em 2007!) ou o grande encenador que hoje ele é. Na obra dramatúrgica, eles são crianças e jovens, repito, tanto que se “casaram” pouco depois dos 18, 19 anos, em início de carreira teatral. Se você achou que estávamos velhos, talvez seja nossa idade real (kkk). Mas tudo bem. O bom é termos cada vez mais público. Torço para que bombemos de gente na plateia do 19º Janeiro de Grandes Espetáculos, assim como foram nossas duas primeiras temporadas no Teatro Hermilo Borba Filho, ainda que gostem ou não do que fizemos. Isso é salutar! Evoé ao teatro pernambucano!

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  27. Séfiro Rosa

    Pensando em crítica de arte e em como ela deve e precisa auxiliar a reflexão de uma obra artística, eu disse a reflexão e não a leitura porque a leitura quem faz é cada um, dentro de suas limitações e de suas possibilidades, o gosto e o sentimento nem se fala nem deveria se falar, permitindo que se crie esse espaço de continua mobilidade de achismos, de suposições, de comparações, de elegibilidade de tendências e de sua demolição imediamente posterior, de pressupostos e de poéticas mil, de polêmicas ou de questões inequívocas.
    A primeira questão é que se leva a crítica (nesse caso dubiamente) muito a sério. Como se ela pudesse tomar o lugar do meu próprio olhar e da minha própria indagação, da minha perplexidade e da minha eloqüência, como se ela fosse capaz de me tirar ou me dar prazer antes ou depois da minha apreciação. Assim, como se o fato de ela expressar o contrário do que eu penso pudesse me tirar algo, me surrupiar a alegria ou quaisquer outras sensações, memórias, entendimentos que o espetáculo me possibilitou sentir, perceber . Quando sua função é exatamente essa, contrariar, provocar, forçar, mesmo equivocadamente, destemperadamente, moto tosco, ou inverso apontando erros nunca dantes percebidos, deslizes acondicionados pelas sedas das relações pessoais, das amizades e da tensão entre elas. As vezes isso era só o que faltava pra eu não desistir de pensar o espetáculo porque ele já passou, porque ele terminou quando sai do teatro (lugar da apresentação), dando a incrível possibilidade de reelaborar minhas impressões e me fazer vê-las realmente legítimas e defender fielmente minha memória afetiva (afetiva é do prazer, dos caminhos prazerosos aos quais a peça me destinou, seja no campo emocional ou técnico, mental) do espetáculo.
    Gostaria apenas de somar a outras palavras e assinaturas aqui expressas que essa é a melhor forma de se dizer sobre o que fazemos e construímos nessa nossa história como artistas, como público, como produtores e críticos, que devemos cuidar para que esse espaço cresça e tome as melhores proporções possíveis, sem mágoas, sem tantas pessoalidades, sem tanta passionalidade. Estamos avançando e só sucumbiremos ao mar, vamos cuidar mais uns dos outros na pessoalidade, ser mais gentis, mais tolerantes, em qualquer âmbito de nossa atuação e vamos defender nosso pensamento, nossa posição em referência a alguma particularidade, pensando nelas e não nas pessoas que a fazem, vamos ser gentis com o próprio trabalho e cuidar deles como se fossem parte, e são, de uma grande colcha de retalhos da arte que apenas não combinam as vezes entre si, que precisam estar distantes para poder compor esse grande pano das idéias.
    Por exemplo, por que me irritar com a autocomplascência alheia posta em cena, por tantos grupos como o que tenho presenciado recentemente? Isso me diz o quê? E por que então eu teria condições de valorar positiva ou negativamente um grupo que faz a mesma coisa que o outro de forma diferente? Estamos em busca do mesmo resultado que deve funcionar aos olhos da mesma maneira? Sei que não.
    Mas sem comparações pois estaria contradizendo o que acabei de falar, mas é que encontro nas minhas últimas idas ao teatro relações diretas entre por exemplo o Magiluth (que um grupo de pesquisa) e a encenação de Olivier e Lili . Para mim é muito mais importante refletir os porquês de trazer à cena a minha vida, as minhas histórias, sem nenhuma tratamento poético, sem a transposição dessas vivências para um estado de arte, confiando na força que isso venha produzir no público que esteja me apreciando (olha aí outra questão, eu quero que o publico me veja ou veja teatro em mim?), se ele me conhece tem uma, se ele não conhece tem outra, o sentido se esvazia, talvez num subjetivo muito mais vazio do que se supõe a poesia de uma cena prescrita, desenhada, construída e reconstruida através dos ensaios. Laboratório por laboratório não sobe em cena, nem desce, nem improvisa nada. Por que tanta preocupação em tirar o público do seu lugar habitual, fazê-lo por fazer, impor muitas que ele participe da cena que talvez ele não queira, que não lhe toque, que não está lhe dizendo nada, da qual não se sinta disponível para contribuir? Por que expor o público? Pra que tanto riso fácil, tanta comunicação imediata, na base da besteira e do exercício do poder que a situação implica? Por que a exaustão da repetição do modelo que funcionou, da interpretação que funcionou, do recurso que funcionou, do equívoco do que seja contemporâneo, da crise da dramaturgia, e da dramaturgia mal feita, mal escrita, mal estruturada, dessa aposta desleal, antiética no caos…!!!! viemos do caos, no princípio era o caos, continuamos nele e voltaremos a ele sempre, o problema é que há ordem no caos. Essas questões vejo como disse antes em vários espetáculos de vários grupos e por que uns seriam melhores que outros? Salvaguardando as delicadezas aqui e acolá, as pessoalidades aqui e acolá, alguém precisa ir mais fundo.

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  28. Maria Oliveira

    Críticos seremos sempre em tudo o que vemos, sentimos e produzimos. Criticar o nosso trabalho é quase que obrigação na área de teatro. Não é preciso nem solicitar que o trabalho do outro já estamos de prontidão para criticar. O que o fazemos na maioria das vezes aqui em Pernambuco de um modo disfarçado, escorregadio, porque não há espaço para as críticas. A gente tende a levar sempre para o lado pessoal. Mas fazemos a nosso modo.

    Quanto ao espetáculo Olivier e Lili não conheço o original, mas este que vi não precisaria ver mais de uma vez para entender que tudo o que estava exposto tinha uma intenção de provocar lembranças e guardados, achados e perdidos. Uma poética expositiva, visceral, melancólica, crua. Vi sentimentos no ator Leidson, sua entrega ao personagem, a busca de Fátima em fazer dela mesma um personagem.
    Já experimentei isto ao fazer O Laço, ou a vida íntima de Maria Oliveira, texto e direção de Antônio Guinho. É sofrimento o tempo todo para ser você mesma sendo outra ao mesmo tempo. Não é fácil.

    Mas o caminho é este: jogar-se no palco e dar a cara à tapa é caminho sem volta. é tarefa de guerreiro.

    Vi falhas e cenas rasuradas na estreia. Estreia é isso mesmo. Tudo por corrigir. E eu gosto de estreia. Nela está a verdade teatral que deseja ser completa, intensa. O teatro é processo. Quer amadurecer sempre. Mas faltou pouco para dar nota 10 ao espetáculo que vi! Quer uma nota?
    11 (onze)
    Em minha mente ficaram as imagens das caixinhas que guardavam as lembranças. Deu pra recordar os quintais que curti tanto comendo manga,caju, goiaba, jambo!…

    Teatro é estética, é rigor, é treino, é exatidão? Sim ou não?
    Teatro é também despojamento, compartilhamentos … Teatro traz também o mundo dos afetos e nos permite viajar com ele. Foi bom assistir vocês!
    Bravo! Bravissimo!

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