“Sobre o Vivencial, só quem vivenciou de fato sabe que de sagrada subversão, e de hoje serem tão santificadas pelos vossos nomes, as ‘vivecas’, santas? Não foram nunca. Santas só do pau oco. Na verdade elas eram acostumadas a cutucar o cão com varas curtas e longas também. Amassaram o pão que o diabo comeu, viviam como o diabo gosta, estavam sempre com o diabo no corpo. Faziam até o que Deus duvidava, mas o diabo sempre teve a certeza do que elas eram capazes. E as ‘vivecas’ eram capazes de mamar em onça e de tirar leite de pedras. Sabiam que dos fracos não reza a história e não há mal que se perdure e nem bem que não se acabe. Como roupa suja se lava em casa, a união fez a força e a ocasião também fez o ladrão. Elas criaram fama e deitaram na cama e o hábito fez o monge. E como ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, elas tiveram perdão perpétuo. Como águas passadas não movem moinhos, não adianta chorar o leite derramado. Até por que, elas eram o cão chupando monga… Quero dizer; o cão chupando manga.”
O espetáculo Cabaré Diversiones foi gerado de fluxos de todas as direções, referências de várias tradições, do lugar-comum, dos provérbios populares, de uma manchete de jornal, de uma notícia que passou na TV, de uma conversa na sala do dentista. A montagem festeja os 40 anos Vivencial, sob direção de Henrique Celibi. Nesta curtíisssima temporada, as sessões são hoje e amanhã, e nos dias 27 e 28 do mês, no Teatro Hermilo Borba Filho.
O grupo pernambucano de teatro foi marco transgressor nos tempos da ditadura e inspirou o premiado longa-metragem Tatuagem, do cineasta Hilton Lacerda.
Cria do Vivencial, Henrique Celibi traz para o Cabaré Diversiones o clima daquela trupe irreverente, que alegrou, questionou, debochou, instigou, inventou, satirizou a dura realidade brasileira. Em uma hora e meia traz cenas apresentadas originalmente pelo Vivencial, atualizados pelo diretor.
A trama começa com uma aula sobre a história do teatro e do Brasil. E entram textos de Celibi (que é autor dentre outras de Cinderela, a estória que sua mãe não contou), sobre o convívio coletivo com as vivecas, além trechos de Carlos Eduardo Novaes, Glauco Matoso, Fernando Pessoa, Luiz Fernando Veríssimo e Guilherme Coelho, mentor do grupo e que junto com o irmão Fábio Coelho, acompanharam o desenvolvimento da encenação, auxiliando informalmente, como na confecção do cenário e figurino.
Celibi é múltiplo e assume várias funções na montagem. Assina a direção geral, preparação de elenco, trilha sonora, figurino, cenografia e direção de arte. São de Celibi também o roteiro final e as adaptações dos quadros encenados pelo Vivencial. Os cenários, figurinos e objetos de direção de arte foram confeccionados com material reciclado do lixo e refugos de outras peças, prática que ocorria no Vivencial. O elenco foi selecionado sem audições e é formado por intérpretes de várias formações.
SERVIÇO
Cabaré Diversiones
Quando: 20, 21, 27 e 28 de Agosto, às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121 – Bairro do Recife)
Quanto: R$20 e R$ 10 (Estudante e Idosos)
Ficha técnica
Direção, Roteiro, Cenário, Direção de Arte, Figurino, Trilha Sonora: Henrique Celibi
Iluminação: Beto Trindade
Preparação Vocal: Cindy Fragoso
Intérprete de Libras: Jaqueline Martins
Operador de Som e Luz: Renato Parentes
Elenco em ordem alfabética: Carlos Mallcom, Cássio Bomfim, Carol Paz, Cindy Fragoso, Filipe Enndrio, Flávio Andrade, Henrique Celibi, Ítalo Lima, Robério Lucado, Sharlene Esse; com participação especial de Ágatha Simões.