Hoje é dia de festa para quem participou da maratona do Janeiro de Grandes Espetáculos, principalmente para os artistas que estão indicados ao Prêmio APACEPE de Teatro e Dança. A festa começa às 20h, Teatro Armazém. A noite que também marca a despedida do Armazém como teatro alternativo comandado por Paula de Renor, terá como atrações a Orquestra Contemporânea de Olinda, DJ’s Roger e Tiago de Renor e participação de DJ Dolores. Os ingressos para a festa custam R$ 20 e R$ 10.
Das montagens adultas que estão concorrendo, no nossa enquete no blog Satisfeita Yolanda?, por enquanto O Amor de Clotilde por um Certo Leandro Dantas está em primeiro lugar; Senhora dos Afogados em segundo; nenhuma dessas opções em terceiro; Cordel do Amor Sem Fim em quarto e Um Rito de Mães, Rosas e Sangue, em quinto.
Os encenadores mais experientes e renomados da cidade ficaram de fora dessa lista da comissão julgadora, a exemplo de por Antonio Cadengue, que dirigiu Lágrimas de um Guarda-Chuva, e João Denys, que dirigiu Os Fuzis da Senhora Carrar.
Vou falar um pouco de alguns dos indicados.
Antes disso revelo que o melhor espetáculo do Janeiro de Grandes Espetáculos, para mim, é O Fio Mágico, do Mão Molenga Teatro de Bonecos. É delicado, divertido, engraçado, sério, reflexivo, tem um ótimo texto, com ótimas atuações. Assisti duas vezes (pretendo ver mais) e percebi as crianças tão atentas e encantadas quanto eu.
O Fio Mágico está disputando em várias categorias. De Melhor Espetáculo concorrendo com Reprilhadas e Entralhofas- Um Concerto Para Acabar Com a Tristeza, da Cia. 2 Em Cena de Teatro, Circo e Dança e No Meio da Noite Escura Tem Um Pé de Maravilha, produção de Andrêzza Alves, Fábio Caio e Jorge de Paula. O Fio Mágico também foi indicado para Melhor Diretor (Marcondes Lima ); Melhor Ator ( Marcondes Lima e Fábio Caio); Melhor Atriz Coadjuvante (Fátima Caio); Trilha Sonora (Henrique Macedo); Melhor Iluminação (Sávio Uchôa); Melhor Cenário (Marcondes Lima); Melhor Figurino (Marcondes Lima).
Dos indicados para espetáculos adultos, Senhora dos Afogados (Cênicas Companhia de Repertório), é uma produção bem cuidada, com direção arrojada de Érico José, mas que não se realiza por completo devido às limitações do elenco. Um exemplo disso é a atuação de Antônio Rodrigues como Misael, chefe da família Drummond – uma tradição “de 300 anos” de homens de respeito e mulheres supostamente castas. Ele não carrega o peso, a voz, a experiência desse assassino com pose de guardião dos bons costumes. O papel não é para ele, pelo menos não é ainda.
Por outro lado, o desempenho da jovem atriz Bruna Castiel, como Moema, é surpreendente, e não deixa de ser uma revelação.
Um Rito de Mães, Rosas e Sangue, produzido por Claudio Lira e Andrêzza Alves, é uma investida no universo de Federico Garcia Lorca, especificamente sobre as suas três tragédias rurais: Bodas de Sangue, Yerma e A Casa de Bernarda Alba. O espetáculo dirigido por Claudio Lira tem lindas imagens e algumas sequências emocionantes.
O espetáculo O Amor de Clotilde Por Um Certo Leandro Dantas, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, é inspirado no folhetim de Carneiro Vilela, A emparedada da Rua Nova, uma história que acalenta o imaginário pernambucano desde o século XIX, sobre o sufocamento do feminino. Diz a lenda que a moça foi emparedada viva pelo próprio pai, depois que ele descobriu que a filha estava grávida.
Esse mote fica em segundo plano, quando a Trupe Ensaia Aqui e Acolá elege ressaltar a história de amor. O melodrama tem cenas bem exageradas em todos os aspectos – cenários, figurinos, maquiagem, interpretação. Carrega nos ingredientes de paixão, falsa amizade, cobiça, traição, reviravoltas. Uma trilha sonora brega e coreografias de clássicos como Unchained Melody (do filme Ghost) e suas dublagens dessincronizadas colaboram para a cumplicidade do público.
Talvez o aspecto de ser o espelho crítico do pop e da celebridade contribua para essa empatia desmedida. Ou a aparente despretensão da montagem. O elenco afinado (Andrea Rosa, Andréa Veruska, Iara Campos, Jorge de Paula (que também é o diretor), Tatto Medinni e Marcelo Oliveira) e a direção segura de Jorge de Paula dá aquele tom de alegria ao espetáculo.
Cordel do Amor Sem Fim, produzido por O Poste Soluções Luminosas, traduz um resultado de pesquisa de intepretação bem caprichada e harmonia dos elementos de cena. Também trata do amor e seus descaminhos. Direção criativa de Samuel Santos.
Henrique Celibi concorre a melhor ator (por Madleia + ou – Doida). Ele é um intérprete poderoso e faz de sua Medéia uma louca que passeia com o público pelas canções que tratam do amor desesperado da Música Popular Brasileira. O talento de Celibi está no seu gestual, no seu timing, e no domínio que ele tem da cena. Os outros concorrentes são Domingos Soares (por O Santo e a Porca), Thomás Aquino (por Cordel do Amor Sem Fim), Jorge de Paula ( por O Amor de Clotilde por Um Certo Leandro Dantas), José Ramos (por Os Fuzis da Senhora Carrar).
Todas as indicadas a Melhor Atriz são figuras de grande vitalidade. São elas Maria Alves (por Solteira, Casada, Viúva e Divorciada), Francine Monteiro (por O Santo e a Porca), Naná Sodré (por Cordel do Amor Sem Fim), Sandra Possani (por O Acidente), Stella Maris Saldanha (por Os Fuzis da Senhora Carrar). Mas a atuação de Stella Maris Saldanha como Senhora Carrar é luminosa. Montagem considerada datada num debate do festival (opinião da qual discordo completamente), por ter os rostos pintados de branco – e talvez não por um desses produtos brilhosos das estrelas do mundo pop- traz de volta uma discussão interessante, por que devemos lutar neste século 21.
Vamos à festa.