Fazendo graça com Shakespeare

Romeu e Julieta - Igual ao outro só que diferente. Foto: Pollyanna Diniz

Romeu e Julieta – Igual ao outro só que diferente. Foto: Pollyanna Diniz

O Teatro Geraldo Barros, na cidade de Arcoverde, a 257 km do Recife, estava lotadíssimo. Foi no mês passado, na segunda noite da mostra que leva o mesmo nome do teatro e faz homenagem ao ator, diretor e gestor falecido em 1999. O Satisfeita, Yolanda? foi convidado para conferir a programação de teatro do festival e depois realizar análises críticas e debates com os grupos. Uma experiência muito interessante, que nos fez compreender mais de perto as dificuldades e os desafios de quem não está nos grandes centros e ainda conhecer talentos e promessas.

O grupo Teatro de Retalhos, do Sesc Arcoverde, tem praticamente um fã-clube na cidade. Atrás de mim alguém dizia que aquela era a terceira vez que via a peça Romeu e Julieta – Igual ao outro só que diferente. É um espetáculo corajoso, que demonstra a ousadia do elenco – Djaelton Quirino (que também assina texto e direção), Carol Viana (também responsável pela direção de atores), Alex Pessoa (cenografia, ao lado de Djaelton), Éder Lopes, Ênio Felipe e Thyago Ribeiro. Eles pegaram um clássico (mas não um qualquer – porque tem aqueles clássicos que ninguém conhece, né?!) e dessacralizaram a obra, adaptando o texto de Shakespeare para tratar dos temas que bem desejavam, fosse a indústria cultural ou os entraves burocráticos para manter um grupo de teatro no Brasil.

Montagem do grupo Teatro de Retalhos vai participar de festival no Espírito Santo.

Montagem do Teatro de Retalhos vai participar de festival no Espírito Santo

A pesquisa do Retalhos passa pelo melodrama e pelo circo-teatro (por isso a peça inclusive tem muitos pontos em comum com O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, um fenômeno recente do teatro pernambucano). No palco esbanjam leveza, jovialidade, desprendimento e timing para a comédia. Os personagens se transformaram em Julieta “Capeletti” e Romeu “Ravioli”; Julieta é meio “víborazinha”, como diz um dos personagens, uma “periguete” adolescente. E Romeu ganhou trejeitos femininos, mas continua completamente apaixonado por sua amada.

Apesar de todas as sacadas interessantes na construção do espetáculo, a montagem é longa – fazer uma encenação é também saber cortar, se livrar dos excessos, reduzir. Isso leva a outro problema – a peça quase não nos dá fôlego, tempo de respiro. É sempre um crescente; como se o grupo tivesse que, a cada cena, idealizar soluções mirabolantes melhores do que as que acabaram de ser vistas. Dependendo da apresentação, da educação da plateia, a reação das pessoas chega até a incomodar, de tão eufórico que o público fica.

O elenco é bastante homogêneo, determinado, disposto. Mas há ajustes; alguns mais necessários, como, por exemplo, no momento em que um dos atores interpreta uma apresentadora de televisão. A atuação precisa ir além da voz gritante, do bate-cabelo de um lado para o outro, dos espasmos. O grupo também pode se apropriar mais da musicalidade e da iluminação como elementos da narrativa.

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Festival – Depois da Mostra Geraldo Barros, o Teatro de Retalhos vai participar do Festival de Teatro Nacional de Guaçuí, no Espírito Santo, no dia 23 deste mês. Antes disso, eles se apresentam de sexta (9) a domingo (11), sempre às 20h, no Teatro Geraldo Barros. Os ingressos, que já estão à venda no setor de Cultura do Sesc Arcoverde, custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Não há previsão de apresentações no Recife, mas o ator e diretor Djaelton Quirino confirmou que vai inscrever o grupo no Janeiro de Grandes Espetáculos. Estamos torcendo para que seja selecionado!

Confira um trechinho da peça:

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