Noctiluzes é um potente texto do dramaturgo argentino Santiago Serrano, escrito especialmente para a brasiliense Cia. Plágio de Teatro. A dramaturgia é inteligente, repleta de humor e reflexões sobre as mazelas humanas no mundo contemporâneo. Na peça, três desconhecidos se esbarram numa madrugada em um píer que já teve honrosas serventias. Cada um foi parar ali por motivos próprios e a presença dos outros é um incômodo, que eles tentam negociar para chegar ao seu propósito secreto. E a vida para esses três homens não será a mesma depois daquela noite.
Noctiluzes participa da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, com duas sessões no Teatro Apolo, ontem e hoje, às 20h.
O autor é o mesmo de Dinossauros e mostra como encontros fortuitos podem trazer revelações sobre estados miseráveis e possíveis redenções. Tudo isso com um olhar generoso e otimista para as possibilidades do humano, apesar de todas as evidências que depõem contra esses seres.
A direção de Sérgio Sartório e Rachel Mendes extrai as ondulações de um encontro inusitado, em que as criaturas deixam escapar mágoas e desejos, afetos e frustrações. A perseguição do sonho de paternidade de um, a situação-limite de outro, a sabedoria de um terceiro. A montagem opera na chave do minimalismo e cada detalhe se veste de grande valor.
Essa noitada com vaga-lume iluminando discretamente o cais subverte posições do centramento de cada personagem à permissividade do surgimento da amizade ou o exercício da solidariedade.
Instala esse lirismo de forma simples, com diálogos tocantes, bons atores que se jogam numa jogo interpretativo fascinante. Chico Sant’Anna no papel do cego Tirésias dá um show. Sérgio Sartório e Vinicius Ferreira também estão ótimos.
A força da montagem está na simplicidade e na harmonia dos elementos. A iluminação, a trilha sonora, o cenário entram em sintonia na competência de sua execução. O texto é precioso, a direção segura. O time de atores lidam com muita habilidade com os grandes silêncios, que repercutem em ecos progressivo na alma da plateia.
Ficha técnica
Texto e supervisão: Santiago Serrano
Direção e tradução: Sérgio Sartório
Codireção: Rachel Mendes
Elenco: Chico Sant’Anna, Sérgio Sartório e Vinícius Ferreira
Iluminação: Sérgio Sartório e Vinícius Ferreira
Cenário e figurino: Roustang Carillho
Trilha sonora: Tomás Seferin
Direção técnica: Chico Sassi
Direção de produção: Cia. Plágio de Teatro
Produção: Guinada Produções (Daniela Vasconcelos)
Assistente de produção: Guylherme Almeida
Prezada Ivana
Muito obrigado com sua materia. Fiquei feliz com todo o que voce fala da peca.
Grande beijo.