Encontro de avaliação pública
Festival Recife do Teatro Nacional – parte 2
Reflexões e desafios

Pessoas que participaram da reunião. foto: self de Saulo Uchoa

Na segunda parte do encontro, que teve três horas de duração num clima respeitoso e propositivo, os participantes se dedicaram à escuta ativa, compartilhando suas percepções sobre a 23ª edição do Festival do Teatro Nacional. Nessa reunião compareceram diversas figuras do cenário cultural de Recife, além da avaliadora contratada Giovana Soar. Entre os presentes estavam a atriz, produtora e diretora Augusta Ferraz, o coordenador do festival André Brasileiro, o coordenador de produção Alexandre Sampaio, o assistente de produção Pascoal Filizola, o diretor técnico do festival e seu assistente Sávio Uchôa e Ivo Barreto, Léo Davino e Marcela Torres, da SECULT, a jornalista Janaína Lima, o ator, bailarino e coreógrafo Raimundo Branco, a jornalista, atriz e produtora cultural Edivane Bactista, o professor e multiartista Marcondes Lima, o conselheiro do Conselho Municipal de Cultura Oséas Borba, a pesquisadora e crítica Ivana Moura, a artista iluminadora Nathalie Revoredo, o diretor e dramaturgo curador do OFF REC Rodrigo Dourado,  a atriz Larissa Pinheiro, o artista e técnico Artur Marinho,  a artista Inês Franco Maia e o ator Tatto Medinni.

Foram apresentadas propostas e debatidas questões cruciais relacionadas ao festival e à cultura local, com foco em como atrair e ampliar o público do evento e, consequentemente, do teatro. Uma das principais preocupações levantadas foi a precarização das casas de espetáculos na cidade, que impacta diretamente a qualidade das produções e a experiência do público.

Durante as discussões sobre a organização e o acesso do público ao FRTN, destacou-se a quesito das plateias reduzidas principalmente no OFF REC e algumas peças locais da mostra principal. Foram sugeridas alterações nos horários da programação do OFF REC para evitar conflitos com outros espetáculos da mostra principal. Além disso, abordou-se a importância da valorização cultural e a necessidade de apoiar grupos teatrais locais que estão comprometidos com a formação de público, enfatizando a relevância de fortalecer a cena teatral local.

Os interlocutores, com suas diversas perspectivas e experiências, enriqueceram o debate sobre os desafios e oportunidades do festival. A reunião foi um espaço de troca de ideias e colaboração, buscando soluções para fortalecer o teatro e a cultura na cidade.

Após os apontamentos da avaliadora do festival, Giovana Soar, a atriz, produtora e diretora Augusta Ferraz iniciou suas considerações agradecendo pela perspectiva da analista contratada, que destacou a importância de integrar o respeito ao público como um ato de cidadania. Para Augusta, o teatro deve ir além da construção cultural, servindo como um meio de transmitir saberes, ensinar a pensar, observar e sensibilizar-se. Ela acredita que essas qualidades são essenciais não apenas para o festival, mas para a vida comunitária de quem trabalha com teatro no Recife e para os públicos que frequentam esses espaços.

A precarização das casas de espetáculos no Recife é uma preocupação constante para Augusta. Ela menciona que, apesar de existirem estruturas prontas, como o Teatro do Derby (Cine Teatro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco, sem funcionar há pelo menos 20 anos) e o Barreto Júnior, que precisam de melhorias significativas. O Barreto Júnior, por exemplo, é visto como um “subteatro” na vida cotidiana dos profissionais do teatro, não oferecendo as qualidades necessárias para apresentações dignas. Augusta lamenta que a luta política para reivindicar melhorias seja tão árdua, levando à aceitação do que é precário e ruim.

Além disso, Augusta destaca a necessidade de revitalizar espaços como o Teatro José Carlos Cavalcante Borges (durante os anos 1980 e 1990, o espaço dividia suas pautas entre o teatro, cinema e música; em 1998 assumiu definitivamente sua identidade como Cinema da Fundação) e o Teatro Valdemar de Oliveira (do Teatro de Amadores de Pernambuco, está fechado desde 2020, foi alvo nos últimos anos de arrombamentos, roubos e depredações; e sofreu um incêndio no dia 7 de fevereiro deste ano), que, apesar de ter sido destruído por um incêndio, ainda possui potencial para outras atividades culturais. Para ela, sem o desenvolvimento desses espaços, não se contribui para a vida cultural da cidade nem para o próprio festival, que deveria ser uma plataforma de expansão e diálogo.

Com 51 anos de dedicação ao teatro recifense, pernambucano e brasileiro, Augusta se sente inquieta com essas questões, pois também é uma apaixonada pelo teatro, tanto no palco quanto na plateia. A falta de divulgação do festival no Conecta Recife foi criticada por Augusta, que o destaca como um aplicativo excelente, que oferece informações sobre a vida civil e os direitos dos cidadãos, além de permitir o agendamento de trocas e procedimentos junto à prefeitura. Ela menciona que, embora tenha visto um vídeo de Rodrigo Dourado apresentando a programação do OFF REC, a divulgação foi insuficiente. 

Augusta relembra momentos em que o festival conseguiu atrair pessoas que não eram tradicionalmente parte do público de teatro, por meio de parcerias estratégicas com as secretarias de Saúde, Educação e Cidadania. Esses esforços colaborativos resultaram em teatros lotados, demonstrando o potencial de inclusão e alcance do festival. Augusta acredita que retomar essas iniciativas seria fundamental para preencher os espaços vazios observados nesta edição. 

Desde os 15 anos, Giovana tem acompanhado o Festival de Curitiba, que já alcançou sua 33ª edição. Mesmo quando esteve fora, ela encontrou maneiras de se manter conectada ao evento. Com essa expertise, ela aponta a impressionante quantidade de teatros que o festival fez surgir, observando que, durante o evento, há apresentações teatrais em todos os cantos da cidade. Giovana brinca que, se alguém deixar a casa aberta, um grupo de teatro pode entrar e começar uma apresentação. Nesse sentido, ela acredita que a retomada do festival do Recife pode gerar uma demanda semelhante, impulsionando o crescimento do evento.

Raimundo Branco, ator, bailarino e coreógrafo, parabenizou o festival, mas expressou sua insatisfação com a falta de público. Ele destacou que o OFF REC, embora superbem-vindo, foi mal divulgado. Ele comentou que muitas pessoas não compareceram por falta de conhecimento e considerou isso um desperdício. No entanto, mostrou-se otimista por se tratar do primeiro ano do evento, que tem potencial para crescer e precisa de apoio.

Giovana interrompeu para acrescentar que o público do OFF REC foi majoritariamente composto pelos próprios artistas que participaram do evento. Ela ressaltou que as redes desses artistas não são suficientes para expandir a discussão para além da mesma bolha.

Branco levantou uma questão delicada sobre a democracia no tratamento dos artistas, questionando se o camarim oferecido aos artistas desconhecidos era o mesmo que o dos artistas mais renomados.  André Brasileiro, coordenador do festival, respondeu que o tratamento era o mesmo, mas que algumas adaptações eram feitas para atender restrições alimentares específicas, como no caso de Nanini, que é vegetariano.

Sinapse Darwin, da CAsa de Zoé, fez duas apresentações no palco montado na Rua da Aurora. Foto Divulgação

O “Palco da Aurora” foi citado como uma iniciativa bem-sucedida e Branco expressou seu desejo de que essa ação se expanda para outras áreas da cidade do Recife. André respondeu mencionando que, neste ano do festival, os bairros da Tamarineira e Macaxeira também receberam seus palcos, nos parques.

A ação do Palco Giratório, que realizou uma sessão nos jardins do Teatro do Parque antes da abertura oficial, foi destacada como uma iniciativa bacana por Raimundo Branco, que sugeriu que o Festival Recife do Teatro Nacional poderia adotar uma abordagem semelhante, organizando uma apresentação preliminar antes do início oficial. No Palco Giratório, o grupo Mamulengo Novo Milênio, liderado pelo Mestre Miro, desempenhou esse papel na ocasião.

Oséas Borba, conselheiro do Conselho Municipal de Cultura, retomou a ideia da democratização dos espaços, lembrando que é preciso pensar no Teatro do Sítio da Trindade. “É importante considerar, até mesmo para a Prefeitura, uma forma de revitalizar aquele anfiteatro ali, que está praticamente fechado.” André respondeu de imediato que “está prevista uma obra para ele, assim, para o ano.”

A questão do público-alvo também foi mencionada pelo professor e multiartista Marcondes Lima que salientou a necessidade de alcançar diferentes segmentos de público. Ele mencionou que, durante o experimento do OFF REC realizado no sábado às 10 horas da manhã, – a abertura do processo de Senhora dos Sonhos (baseado na trajetória de vida da Dra. Nise da Silveira), uma parte significativa da plateia era composta por usuários de serviços de saúde psicológica. E aventou como o festival poderia considerar esse aspecto. Além de indagar se seria realista esperar que todas as pessoas do Recife se deslocassem até o Sítio da Trindade, por exemplo, ou se seria necessário agenciar o público para garantir sua presença. E problematizou sobre qual seria o público-alvo do OFF REC, se seria o mesmo que frequenta o Teatro do Parque para assistir a espetáculos como o de NaninI.

Ao tratar do know-how do Festival de Curitiba em relação às ferramentas de comunicação, Giovana Soar sublinhou a importância de entender onde e como essa comunicação é disseminada. Ela explicou que organizar um festival envolve o desafio de lidar com uma variedade de espaços e públicos. Isso inclui desde espetáculos que atraem até duas mil pessoas no Teatro Guaíra, geralmente um público mais burguês interessado em comédia ou dança, até apresentações mais alternativas e cabeçudas, destinadas a outros segmentos. Giovana reconheceu a complexidade desse processo e apontou a necessidade de contar com profissionais competentes que possam desenvolver estratégias eficazes para alcançar e engajar esses diversos públicos de maneira adequada.

Oséas levantou que o programa do evento só chegou na segunda semana do festival, um dificultado da divulgação do festival. Outro problema citado por ele foi o calor no local dos debates, nas salas não climatizadas do Centro Apolo-Hermilo. Por sua vez, Giovana comentou que, apesar de não ter incluído isso em seu relato, ela sentiu muito frio em todos os teatros. E reconheceu que, nesse aspecto, faz parte da minoria. André respondeu que é ainda pior quando o ar-condicionado quebra ou não funciona.

A falta de uma cafeteria ou lanchonete no Centro Apolo-Hermilo foi sublinhada por Giovana. Ela expressou seu amor por comida, afirmando que onde há comida, há felicidade e alegria. Giovana elogiou o bar do Teatro do Parque deste ano, mencionando a comida ótima, mas sentiu falta de um espaço semelhante no Hermilo, sugerindo que implementar algo assim seria benéfico.

A jornalista, atriz e produtora cultural Edivane Bactista, da Métron Produções, realizadora do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, começou parabenizou a equipe do festival, afirmando que o evento foi digno. Mas, apesar dos elogios, reforçou a preocupação em relação ao público. Como conquistar as pessoas preferem ir à praia ou ao litoral em vez de frequentar o teatro. Com pessoas de produção, sugeriu que o planejamento financeiro do festival comece no início do ano. 

A programação do OFF REC, na sua opinião, precisa ser ajustada com relação aos horários, para não conflitar com outros espetáculos da mostra principal. André Brasileiro mencionou que havia conversado com Rodrigo Dourado sobre a possibilidade de realizar eventos durante o dia, mas reconheceu que é um , dilema. Mas a intenção é experimentar horários alternativos no próximo ano. Outra preocupação de Edivane é que os artistas da cidade não tenham comparecido em grande número ao festival, que era gratuito. Ela também propôs que o festival disponibilizasse transporte entre os teatros do centro, o que poderia facilitar o acesso. André reconheceu a complexidade dessa ideia.

Diante dessa inquietação com o público, a avaliadora confessou que ficou muito impressionada com a presença de duas mil pessoas na festa do Magiluth, promovida por um grupo de teatro Recife. “Nunca vi algo assim acontecer em nenhum outro lugar do Brasil, talvez apenas com o Grupo Galpão ou Zé Celso”. No entanto, ela percebeu que essas pessoas, que estavam presentes na celebração dos 20 anos do Magiluth, que ocorreu durante o festival, não estavam nos teatros. E reforçou a pergunta: Como podemos trazer essas pessoas para o teatro?

Alguém comentou que, no máximo, essas pessoas tenham ido ao Édipo REC, espetáculo do Magiluth. Outro mencionou que elas também estavam na fila do Bar Bucurau. Giovana retomou a discussão, afirmando que esse é o dilema que enfrentamos: colocar as pessoas dentro do teatro não é fácil. Essa é a nossa missão, e é por isso que ela busca garantir que em Curitiba não haja lugares vazios. Giovana explicou que distribuem 1.500 ingressos no Festival de Curitiba para estudantes de teatro. No caso do festival do Recife, os ingressos já são gratuitos, então não há nem mesmo a opção de distribuir ingressos como incentivo. 

Augusta Ferraz tocou na dificuldade dos artistas em utilizar os espaços destinados ao teatro, que, segundo ela, foram ocupados pela prefeitura para reuniões políticas. E a alternativa que ela encontrou, não a ideal, foi ensaiar em uma sala cedida pela síndica de seu prédio. Ela reforça que apesar de terem recebido recursos dos editais, – Paulo Gustavo e Aldir Blanc – os artistas enfrentam dificuldades para trabalhar devido à falta de espaços adequados.

A jovem artista de Recife, Inês Franco Maia, inicia sua fala concordando com a avaliação de Giorvana sobre o uso de totens humanos na divulgação, considerando essa prática desrespeitosa. Em seguida, ela avança para a questão da valorização cultural, questionando se a cadeia produtiva do teatro em Recife realmente respeita e valoriza a cultura local. Inês critica a tendência de valorizar mais os trabalhos que vêm de fora, pois acredita que isso contribui para o afastamento do público recifense do teatro. Ele menciona o Magiluth dizendo que o grupo só conseguiu reconhecimento local após ser legitimado fora de Recife, e salienta a importância de apoiar grupos teatrais comprometidos com a formação de público.

Inês vê o festival como um grande potencial, mas ressalta a necessidade de aprofundar o processo democrático de escuta e posicionamento para entender diferentes perspectivas e enfrentar os desafios coletivos do teatro em Recife. Ela expressa confiança no potencial cultural de cidade, acreditando na capacidade de alcançar novamente uma qualidade técnica, artística e conceitual no cenário nacional.

Mas a predominância de monólogos entre os espetáculos pernambucanos selecionados é vista com ceticismo por Inês, que sugere que isso pode não refletir a diversidade e a riqueza da produção teatral local. Para Inês, condições adequadas para a produção teatral, como ensaios com luz e som, são essenciais para alcançar a excelência artística. 

Giovana esclarece que as inscrições eram majoritariamente de monólogos e que o festival é um retrato da produção teatral do momento, refletindo as tendências e escolhas atuais da cena local. E sublinha que a inclusão dos espetáculos no OFF REC não deve ser visto como um desmerecimento. E atesta que suas melhores experiências no festival recifense, especialmente em termos de representatividade, ocorreram no OFF REC. E reforça que a abertura do OFF REC o impactante espetáculo Monga, de Jéssica Teixeira teve a intenção deliberada de destacar a importância e o valor que o OFF Rec traz para a cena teatral recifense.

O Problema é a Cerca enfrentou dificuldades durante a apresentação, sendo relato de Inês, uma grave transtorno de comunicação devido a uma falha técnica de som. Ela diz que isso criou uma situação embaraçosa, onde o público presente na plateia pôde ouvir o técnico discutindo com a produção do espetáculo sobre um cabo de som que não estava funcionando corretamente. 

Peça As Charlatonas, do Tocantins, fez sessões nos Parques da Macaxeira e da Tamarineira. Foto: Divulgação

Marcondes Lima sustenta a relevância de se discutir o festival em sua totalidade, ao invés de focar exclusivamente na avaliação dos espetáculos apresentados. Ele acredita que é nesse espaço de diálogo que se pode realmente progredir e implementar melhorias significativas. Mesmo sendo apenas o segundo ano da retomada do festival, ele já percebe alguns avanços notáveis. 

Ao explorar a complexidade de atrair público para o teatro, Lima identifica o receio que as pessoas no Recife têm de se deslocar pela cidade, seja para sair de casa ou para ir de um teatro a outro, como do Teatro Apolo para o Teatro do Parque.  No entanto, Marcondes enfatiza que o verdadeiro desafio está em criar um encantamento que motive o público a superar essas barreiras e vivenciar essas experiências artísticas.

Para Marcondes é essencial que o artista crie uma conexão emocional e intelectual com o público,  produzam um fascínio. Despertem o interesse e o desejo no público de assistir aos espetáculos. Que, ao ver imagens ou cenas de uma peça, as pessoas possam se sentir inspiradas a atravessar a cidade para assisti-la. Esse encantamento é um elemento crucial dentro do projeto de comunicação e divulgação do teatro.

Ao refletir sobre a trajetória do festival, André Brasileiro reconhece que esse evento cênico já atingiu um ápice significativo em termos de público em determinado momento. Ele expressa confiança de que o FRTN tem o potencial de se reconstruir e alcançar novamente esse nível de sucesso. No auge, o festival atraiu um público de 12.800 pessoas, um marco alcançado em um ano em que o grupo Galpão apresentou a peça Till, a saga de um herói torto ao ar livre, na rua. Essa abertura ao público em um espaço aberto foi um fator crucial para o sucesso daquele ano.

Com o desejo de retornar a esse ponto de grande envolvimento e participação do público, André sugere que eventos ao ar livre e acessíveis podem ser uma estratégia eficaz para atrair mais espectadores e revitalizar o festival. Ele acredita que, com planejamento e inovação, é possível recriar essa experiência de sucesso e engajamento comunitário.

O festival, que já conta com 23 anos de história, passou por edições complicadas, mas houve uma retomada no ano passado. Ainda há muito a ser reconstruído e revitalizado, e o festival está em um processo de recuperação, aproximando-se novamente de seu potencial. 

Giovana Soar entende que encher salas grandes como como o Teatro Luiz Mendonça e o Teatro do Parque, com capacidade para acomodar até 800 pessoas, não é uma tarefa simples. E traz uma perspectiva interessante à discussão ao mencionar uma prática positiva que acontece em Curitiba, onde o público tem o hábito de ir à bilheteria e perguntar quais ingressos estão disponíveis, confiantes de que qualquer espetáculo proporcionará uma boa experiência.

No Festival de Curitiba, o preço do ingresso é de 80 reais, com a meia-entrada custando 40 reais, tornando-se acessível para a maioria da população. Giovana destaca que praticamente todos em Curitiba pagam meia-entrada, graças a políticas que facilitam esse acesso, como descontos para quem paga contas de serviços públicos. Além disso, profissionais com DRT podem adquirir ingressos por apenas 25 reais, permitindo que, com 100 reais, seja possível assistir a quatro espetáculos.

A demanda por ingressos em Curitiba é tão alta que, atualmente, quando alguém vai à bilheteria e pergunta “o que ainda tem?”, isso reflete o sucesso e a popularidade do festival, com ingressos se esgotando rapidamente. Essa dinâmica demonstra a eficácia das estratégias de acessibilidade e a forte cultura teatral presente na cidade.

Durante o debate, André socializa algumas observações que ouviu de pelo menos cinco pessoas, destacando relatos que merecem atenção. Algumas dessas pessoas expressaram descontentamento com o sistema de troca de alimentos por ingressos, preferindo a opção de comprar ingressos e reservar seus assentos. Elas mencionaram que não gostam de ir ao teatro sem ter um lugar marcado, o que levanta uma questão sobre as preferências do público em relação à organização dos eventos.

Apesar dessas preocupações, André pondera que não houve impedimentos para a entrada de ninguém nos teatros durante o festival. Ele destaca que, ao chegar uma hora antes, todos conseguiram entrar, o que sugere que o sistema atual, embora não perfeito, tem funcionado para garantir o acesso ao público.

Reconhecendo que há uma parte da população que prefere a comodidade de ter um assento reservado, André admite que o atual momento do festival busca democratizar o acesso ao teatro. O único teatro onde os lugares são marcados é o Teatro Santa Isabel, que tem essa característica específica. E destaca que no Teatro do Parque, embora o público não tenha sido grande, o festival conseguiu atrair pessoas que normalmente não frequentavam o teatro. Para André, isso é um ponto positivo, pois se a experiência foi boa, há potencial para aumentar esse público no futuro.

Por outro lado, Branco propõe uma estratégia para melhorar a divulgação dos festivais culturais em Recife: a criação de um calendário de eventos divulgado com antecedência pela prefeitura. Ele acredita que essa prática educaria a população sobre as ofertas culturais e permitiria que as informações se espalhassem de maneira mais eficaz.

Refletindo sobre suas experiências pessoais, Branco lembra que, em eventos passados, como o festival de teatro, as oficinas eram realizadas antes do início oficial do festival. Para ele, essa prática é vantajosa, pois já engaja o público e evita conflitos de agenda com a programação de espetáculos, por exemplo. Alexandre Sampaio acrescenta que, embora sejam realizadas escutas prévias para planejar os eventos, a participação é frequentemente baixa. O coordenador de produção aponta que a ideia da doação de alimentos surgiu em uma dessas escutas.

Branco também lamenta a ausência de residências artísticas em Recife, considerando isso uma perda significativa para a cena cultural local. Ele reconhece os desafios em termos de tempo e recursos financeiros, mas acredita que o retorno dessas grandes residências seria extremamente benéfico para o enriquecimento cultural e artístico da cidade.

Continua no próximo post

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, ruína acesa e Tudo menos uma crítica

 
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