É encantadora, forte e envolvente a perfomance de Robert Softley em If these spasms could speak (Se estes espasmos pudessem falar). Ele fez três sessões, na Caixa Cultural do Recife, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos. Em cena uma grande e confortável poltrona e um telão ao fundo com projeções. O artista entra engatinhando e explica que seu problema na fala pode dificultar o entendimento (o texto é dito em inglês, com legendas em português). E o ator e dramaturgo já mostra aí um dos trunfos da peça: o humor sem nenhum tipo de autocomiseração. Softley comenta que acha estranho – essa dificuldade de comunicação – já que na cabeça dele sua fala chega “como a de Laurence Olivier”.
Se estes espasmos pudessem falar é composto por quadros em que o artista narra suas vivências e as de outras pessoas com deficiência em situações divertidas, ternas, tristes, de embate, de alegria, tristeza, vitalidade, prazer, tesão.
Há o episódio da moça que chama a atenção pelos seus seios numa festa de casamento e não por seu problema físico. Do cara vidrado em música que vai a um festival e tem que enfrentar um mar de gente para chegar ao banheiro para cadeirantes, que fica do lado oposto do palco. De suas memórias, Softley conta sobre a arrogância e estupidez de um jovem médico, que o toma por paciente quando ele vai visitar um irmão internado no hospital.
Carismático, o ator envolve a plateia com suas tocantes confissões e de seus entrevistados. Ao falar desses corpos limitados, ele amplifica as possibilidades de existências. E passeia por questões familiares, sexo, amor, relações humanas e jogos de poder quando os “corpos normais” ditam as regras.
Corajoso e com auto-estima robusta, o artista desafia a sociedade, qualquer uma, que ainda trata os deficientes como seres menores. Alí, ele diz que não aceita a posição de invisibilidade. E chama atenção para os problemas de acessibilidade que estão em toda parte.
A sonoplastia usa trechos de músicas que ressaltam os climas dos depoimentos. E para marcar a mudança de histórias ele ocupa posições diferentes na cadeira ou assume outro gestual.
Softley tem paralisia cerebral grave, distrofia muscular e problemas de fala. E um sorriso vitorioso no rosto. Seu espetáculo é uma celebração à vida e um soco em cada um de nós que vive reclamando por coisas banais.