A experiência do amor pode ser capaz de jogar os sujeitos envolvidos em uma seara privilegiada. Ou como diria Caio Fernando Abreu, no centro momentâneo de uma relação reluzente. Para o escritor gaúcho, os encontros afetivos funcionam como um acontecimento luminoso, mas efêmero. Esse estado não gera paz ao redor, pois desperta nos outros, não incluídos, emoções estranhas e atitudes repressivas. Essa força paradoxal é a linha condutora do espetáculo No se puede vivir sin amor, que a atriz Nara Keiserman apresenta hoje, abrindo a 9ª Mostra Capiba de Teatro, do Sesc Casa Amarela.
A programação traz nove espetáculos de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Sergipe, de hoje ao dia 22, sempre às 20h. São eles: O Açougueiro, com Alexandre Guimarães; A Mulher Monstro, com José Neto Barbosa; Histórias Bordadas em Mim, com a atriz Agrinez Melo; Soledad – A Terra é Fogo Sob Nossos Pés, com a atriz Hilda Torres; A Receita, com Naná Sodré; O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros, Diógenes D. Lima; Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud, Samir Murad e Vulcão com Diane Velôso.
A Mostra também abriga três oficinas: A Narrativa do Contador de Histórias na Construção da Personagem, com a atriz Augusta Ferraz; O Ator no Século XXI – Uma proposta de encontro entre o Ocidente e o Oriente, comandada por Samir Murad, e Ateliê de Crítica e Reflexão Teatral, com as jornalistas e críticas Luciana Romagnolli e Ivana Moura.
Além das três oficinas, haverá a aula-espetáculo Como era bonito lá, na segunda-feira (17), às 14h, com a atriz, diretora, pesquisadora e professora Nara Keiserman.
Nara Keiserman e Caio Fernando eram grandes amigos e ela resolveu celebrar sua memória, nos 20 anos de sua passagem (o escritor morreu de complicações do HIV, com 48 anos de idade, em 1996). E reuniu os textos mais poéticos sobre o amor. Nara o dirigiu num espetáculo infantil em 1977, em Porto Alegre; e também encenou contos de Morangos Mofados em 1982, no Rio de Janeiro, e (eu) Caio, Jogo Teatral, com textos dele e sobre ele.
Caio como sabemos, tem uma obra que se comunica fortemente com o presente. Abreu tinha um jeito único de traduzir sua sensibilidade e narrar suas histórias. Cheias de significados e carregadas de referências culturais, como filmes e músicas. Seus temas enfrentam a incomunicabilidade, a solidão, o preconceito, as identidades sexuais. Bem como a rediscussão do mito do grande amor, com uma pegada pop que dialoga com a cultura de massa.
Nara convida o espectador a entender a obra de Caio Fernando de forma diferente, numa entonação mais afetiva. O espetáculo segue a linha de teatralidade experimentada pela atriz no Núcleo Carioca de Teatro, assim como no grupo Atores Rapsodos, criado em 2000 com alunos formados na Escola de Teatro da UNIRIO.
A peça No se puede vivir sin amor, que tem direção de Demetrio Nicolau, foi concebida seguindo dois conceitos teatrais: a literatura não-dramática, fazendo com que o ator narre e dialogue com o público ao mesmo tempo; e a exploração da linguagem de texto e movimento, como canais diferenciados na comunicação com a plateia.
Inclui os contos Metâmeros, Mergulho II, Como era verde meu vale, Fotografias, Quando setembro vier e Creme de alface; trechos de Última carta para além dos muros, e de Dodecaedro ; além de inéditos escritos especialmente para Nara: um poema, uma carta e um texto para o programa de Morangos Mofados.
Em cena apenas uma mesa, com poucos objetos ritualísticos, duas cadeiras. A simplicidade acompanha a iluminação e o figurino. Além disso, os textos de Caio Fernando Abreu e a força e sensibilidade da intérprete.
Ficha técnica
Textos: Caio Fernando Abreu
Concepção, Dramaturgia e Atuação: Nara Keiserman
Direção, Iluminação e Arte: Demetrio Nicolau
Cenografia e Figurino: Carlos Alberto Nunes
Orientação Musical: Alba Lírio
Maquiagem: Mona Magalhães
Fotos: Matheus Soriedem
Filmagem: Ronaldo Iannotti
Produção: Natasha Corbelino
Assistente de Produção: Vanessa Garcia
Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes
Realização: Atores Rapsodos
Serviço
No se puede vivir sin amor – (Atores Rapsodos) – Rio de Janeiro – RJ
Duração: 60’
Quando: Nesta sexta, às 20h
Onde: Teatro Capiba. SESC Casa Amarela (Av. Professor José dos Anjos, 1190. Bairro: Mangabeira)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10
teatrocapiba@gmail.com
81 – 3267-4410