Arquivo do Autor: Pollyanna Diniz

Uma semana para Hermilo Borba Filho

Espetáculo problematiza e amplia a catástrofe natural. Foto:Danilo Galvão/ Divulgação

Enchente, com direção de Flávia Pinheiro, participa da programação. Foto:Danilo Galvão/ Divulgação

Congregar espetáculos e ações que dialoguem com a obra e a estética de Hermilo Borba Filho. A Semana Hermilo, que começa nesta terça-feira (5) e vai até o dia 10 deste mês, é a principal ação visível, ao lado do projeto O Solo do Outro, do Centro de Formação e Pesquisa em Artes Cênicas Apolo-Hermilo, mantido pela Prefeitura do Recife. A secretária de Cultura do Recife e viúva de Hermilo, Leda Alves, deve participar da abertura oficial da programação.

Hoje, o público pode conferir o Núcleo de Formação de Rabequeiros de Pernambuco. Logo depois, as bailarinas/performers Gardênia Coleto, Marcela Aragão e Marcela Filipe apresentam o trabalho Enchente, resultado do projeto O Solo do Outro. Com direção de Flávia Pinheiro, o espetáculo é inspirado em conto homônimo de Hermilo Borba Filho.

Confira a crítica do espetáculo Enchente.

Amanhã, a semana continua com o Cavalo Marinho Estrela de Ouro, do Mestre Biu Alexandre; na quinta-feira (7), o Magiluth revisita seu repertório, encenando o espetáculo Luiz Lua Gonzaga; de sexta (8) a domingo (10), fica em cartaz a peça A gloriosa vida e o triste fim de Zumba sem dente, com direção de Carlos Carvalho, baseada em O traidor, de Hermilo Borba Filho.

As apresentações são gratuitas e acontecem sempre às 19h30, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife

Luiz Lua Gonzaga, do Magiluth. Foto: Ivana Moura

Luiz Lua Gonzaga, do Magiluth. Foto: Ivana Moura

Serviço:

Semana Hermilo
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Horário: 19h30
Quanto: Gratuito. Os ingressos serão liberados com uma hora de antecedência

Terça-feira (5)
Núcleo de Formaçaõ de Rabequeiros de Pernambuco + Enchente

Quarta-feira (6)
Cavalo Marinho Estrela de Ouro

Quinta-feira (7)
Luiz Lua Gonzaga

Sexta (8) a domingo (10)
A gloriosa vida e o triste fim de Zumba sem dente

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Trema! Festival de Teatro divulga programação

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

A importância de um festival de teatro não pode ser medida por sua duração ou pela quantidade de atrações. A proposta da curadoria, quando refletida na programação, é o que de fato mais importa. É nesse lugar que o Trema! Festival de Teatro se estabelece na capital pernambucana. Até então, o festival, que levava a assinatura do Magiluth, se voltava para o teatro de grupo. Agora, sob o comando da Trema! Plataforma de Teatro, tendo na coordenação Pedro Vilela, Mariana Rusu e Thiago Liberdade, a proposta foi ampliada, podendo incluir solos. Na realidade, a principal marca do festival continua: agregar montagens que tenham a pesquisa e a experimentação cênica como pressuposto.

Para fazer um breve retrospecto, pelo Trema!, já vimos no Recife o Teatro Kunyn, de São Paulo, a Cia Hiato, também de São Paulo, o Teatro Inominável, do Rio de Janeiro, o Grupo Espanca, de Belo Horizonte, o coletivo As Travestidas, de Fortaleza. São espetáculos de grupos que, com os seus trabalhos, têm muito a dizer sobre a realidade que vivemos e sobre os próprios procedimentos teatrais contemporâneos.

Nesta quarta edição, o Grupo Carmin, de Natal, abre a programação com a delicada Jacy, montagem de teatro-documentário que já foi vista em Garanhuns, no Festival de Inverno, mas ainda não havia chegado ao Recife. Jacy vem de uma recente temporada de sucesso no Rio de Janeiro, de uma passagem pelo Itaú Cultural (com lotação esgotada), em São Paulo, e começa agora a percorrer o Brasil pelo Palco Giratório.

De Belo Horizonte, o festival traz o grupo Primeira Campainha, com dois espetáculos do seu repertório: Isso é para Dor e Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões. Depois dos espetáculos, o grupo vai conversar sobre o processo criativo que norteou as montagens. A vinda da Primeira Campainha está sendo financiada pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014 em parceria com o festival.

O coletivo As Travestidas volta ao Recife com o mais recente espetáculo, Quem tem medo de travesti. A montagem faz parte da pesquisa continuada sobre o universo trans no Brasil. Recentemente, foi vista no Festival de Teatro de Curitiba. O coletivo também comanda a festa Cabaré das Travestidas, que vai acontecer no Roda Cultural, no Bairro do Recife. A festa promete improviso, dublagem, talk show e a participação de DJ´s.

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Por fim, uma das artistas mais interessantes da sua geração, Grace Passô, apresenta o solo Vaga carne. Depois de dez anos no Espanca, grupo que ajudou a fundar, Grace tem dirigido muitos espetáculos e participado de outros como atriz, como Krum, da Companhia Brasileira de Teatro. O solo Vaga carne, que tem direção, texto e atuação de Grace, integra o projeto Grãos da imagem, que reúne peças em torno de temas identitários.

Do Recife, a programação contará com as estreias de Retomada, do Grupo Totem, importante grupo de performance no cenário nacional, e pa(IDEIA), do Coletivo Grão Comum, um trabalho sobre Paulo Freire. Ainda estão na grade Soledad – A terra é fogo sob nossos pés (Confira a crítica), com Hilda Torres, e Vento Forte para Água e Sabão, musical para infância e juventude do Grupo Fiandeiros de Teatro, com texto de Giordano Castro e Amanda Torres.

Durante o festival, os produtores aproveitam para lançar a sexta edição da Trema! Revista, projeto que conta com o apoio do Funcultura.

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Os ingressos já estão à venda pela internet, através do site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

Tivemos uma importante conversa com Pedro Vilela, um dos produtores e idealizadores do festival. São questões sobre política cultural, resistência e permanência. Afinal, “a crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente”.

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

ENTREVISTA // PEDRO VILELA

De que maneira foi pensada a curadoria desta edição? Vocês falam, por exemplo, em (re)construção de paradigmas da nossa sociedade. Como isso se refletiu nos espetáculos escolhidos?

O teatro sempre será um espaço para enfrentamentos de ideias. Todo aquele que não se propõe a isto está fadado a ser apenas mais um mecanismo de reprodução da indústria cultural e da massificação de nosso povo. Ao pensar a curadoria do Trema! neste ano, procurei comungar trabalhos que em si carregam questões pertinentes para nosso tempo e que venham encontrando visibilidade no cenário artístico brasileiro. Poderíamos encher nossos palcos com obras de maior retorno financeiro para nós, organizadores, mas nosso compromisso ético com a ação faz com que estejamos muito atentos às reflexões que queremos propor. Ao assumir o tema (re)construção, estamos dispostos a percorrer um caminho duplo.

O primeiro está ligado à trajetória dos próprios organizadores, ao abandonarem antigos projetos artísticos na cidade e re-iniciarem novos percursos a partir da Trema! Plataforma de Teatro. (Re)construímos pois não achamos justo destruirmos algo que foi importante para nossa trajetória artística, ao passo que alimentamos o desejo por novos trajetos. O próprio nome do festival traz isto, este ano abandonamos o recorte exclusivo de “festival de teatro de grupo” e passarmos a ser apenas “Festival de Teatro”. Continuamos investindo na pesquisa de linguagem, mas ampliamos o olhar para artistas solos.

Em relação aos espetáculos, ao escolhermos espetáculos como os que compõem a programação, estamos nos propondo a reflexão em torno de temas como identidade, gênero, educação, tradição, ditadura, política, ou seja, pautas muito urgentes para nosso país. Acreditamos portanto que através do teatro podemos (re)construir nossa sociedade.

“Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola”

“Recife é a cidade dos festivais”. Essa frase é bastante dita quando discutimos a política cultural pernambucana, sem que a gente pare para avaliar de fato a importância de cada um dos festivais de artes cênicas da nossa cidade. No atual cenário, qual a importância do Trema!, tanto pra cidade quanto para os artistas? Porque insistir em fazer um festival, mesmo com a crise que assola os festivais no país todo?

Recife já foi a cidade dos festivais. Minha formação enquanto artista esteve muito ligada aos que aconteciam na nossa cidade. Esperava ansiosamente a cada ano e acompanhava absolutamente tudo. Os tempos são outros e o mais triste é perceber que retrocedemos. Já não temos o Palco Giratório, do SESC, e o Festival Recife virou um triste fantasma de anos anteriores, só para citar alguns. Os privados que teimam em resistir, a cada ano ou desistem pelo meio do caminho ou precisam fazer das tripas coração para serem executados. Isso é apenas uma breve demonstração do descaso do poder público para com as artes.

“Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha”.

É meio absurdo ter que nominar a importância desses eventos. Eles alimentam uma vasta cadeia produtiva, além de todas as questões simbólicas que suportam. O grande problema é que não conseguimos sermos vistos como utilidade pública, como elementos primordiais de construção da nossa sociedade. Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola. Mas se vivemos numa conjuntura que nem mesmo educação e saúde são ofertadas à população de maneira digna, o que podemos dizer das artes….

O Trema! resiste e insiste há quatro edições. Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha. A crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente.

Tentamos captação com diversas empresa do Estado e todas negaram recursos. Empresas inclusive que recentemente aportaram em nosso Estado com slogans ligados à cultura e ao desenvolvimento de nosso povo. O capital toma conta de nossos cidadãos, jogando-os num clico vicioso de consumo e onde apenas uma parte é beneficiada, o que vende.

Ninguém chega a Berlim, Paris ou qualquer lugar do mundo onde a produção artística é efervescente e fica deslegitimando a pluralidade que encontra. A única crítica que poderíamos fazer é quando invertemos o fomento às atividades continuadas e ficamos navegando exclusivamente em eventos passageiros. E isso sim é uma prática recorrente em nossa cidade. O que gastamos com decoração de Natal daria pra fomentar inúmeros festivais que possuem trajetória comprovada, por exemplo. Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar. O povo tá cansado de faz de conta. Educação é a única saída. Teatro, literatura, artes plásticas…. Isso sim muda um panorama.

“Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar”.

Qual o orçamento do Trema!? De onde vem o recurso? Qual o apoio, efetivamente, da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado?

O Trema! neste ano tem orçamento de R$ 60 mil. Algo muito abaixo do que precisaríamos para executar o festival. Às vezes fico com a sensação de sermos malabaristas em conseguirmos realizar a ação. Mas seria injusto de nossa parte levarmos todos os méritos. O festival só será possível graças a todas as parcerias criadas e principalmente pelo desejo que a classe artística de todo o país tem por sua realização. Os grupos locais receberão apenas as bilheterias, por exemplo; nos sentimos até envergonhados ao termos que propor isso. Os grupos de fora estão vindo com cachês muito abaixo do comumente praticado. Isso mostra a seriedade com que lidamos com o Festival ao longo dos últimos anos e também a união dos artistas nesta guerrilha. Poderia não querer responder a vocês sobre questões orçamentárias, mas acho importante para que as coisas comecem a ter seu devido valor. A Fundação de Cultura entrará com algo em torno de R$ 15 mil (recursos e serviços) e o Governo do Estado com R$ 20 mil (recursos e serviços). Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo! Pouco, não?! O restante são parcerias criadas e principalmente recursos nossos. Em todas as edições não ganhamos absolutamente nada para realizar o Festival, mas ao mesmo tempo não queremos ver o Festival morrer! O por quê de fazermos esta loucura? Fico me perguntando a todo momento. E não sabemos por quanto tempo conseguiremos.

Talvez este também seja o momento de (re) construirmos o elo perdido com o poder público. Talvez. O que nos resta é fazemos um apelo ao público do Recife para que estejam juntos conosco nesta batalha. A melhor maneira de contribuir neste momento é compartilhar o quanto puder nossa divulgação. Os tempos são outros e sabemos o quanto juntos podemos mudar este paradigma. Ao ocuparmos os teatros, estaremos mostrando a importância da ação e, ainda que simbolicamente, requisitando o que nos é de direito. Como bem postamos ao anunciar que iríamos fazer o festival: não é por nós, é pela cidade!

“Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo!”

Programação Trema! Festival de Teatro:

28/4
Jacy / Grupo Carmin (RN)
Teatro Apolo – 20h

29/4
Sobre dinosauros, galinhas e dragões / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti / Coletivo As Travestidas (CE)
Teatro Santa Isabel – 21h

30/4
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

FESTA: Cabaré das Travestidas / Coletivo As Travestidas (CE)
Roda cultural – a partir das 23h

01/5
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

03/5
Lançamento TREMA! Revista #6
Teatro Hermilo Borba Filho – a partir das 19h

pa(IDEIA) Pedagogia da autonomia / Coletivo Grão Comum (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra04/5

 

04/5

Retomada / Grupo Totem (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

05/5
Soledad, A terra é fogo sob nossos pés / Cria do Palco (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

06/5
GRÃOS DA IMAGEM: Vaga Carne / Grace Passô (MG)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

07/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

08/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

INGRESSOS:
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), com exceção do espetáculo Quem tem medo de travesti, com sessão no Teatro de Santa Isabel ao valor de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) e a festa Cabaré das Travestidas, com preço único de R$ 20.

Vendas antecipadas pelo site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

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O amor de Clotilde volta aos palcos

O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas. Foto: Júlio Morais

O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas. Foto: Júlio Morais

Comemorando seis anos em temporada, o espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas volta aos palcos pernambucanos neste fim de semana. Serão poucas apresentações: a peça fica em cartaz de 2 a 24 de abril, aos sábados e domingos, sempre às 19h, no Teatro Apolo, no Bairro do Recife.

A montagem da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, que já teve várias temporadas no Recife, rodou o Brasil pelo Palco Giratório e também fez circulação internacional, é baseada no romance A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, publicada em folhetins entre agosto de 1909 e janeiro de 1912, no Jornal Pequeno. Misto de suspense, policial, crítica de costumes e estudo sociológico de uma época, o texto de Vilela se transformou num delicioso melodrama no palco.

Confira a crítica de Ivana Moura sobre o espetáculo.

No elenco, Andréa Veruska, que interpreta a mãe da mocinha; Andréa Rosa, a empregada; Iara Campos, Clotilde; Jorge de Paula, o comerciante Jaime Favais, pai de Clotide; Tatto Medinni é o vilão interesseiro João Favais; e Marcelo Oliveira, o sedutor galante Leandro Dantas.

Muitos dos ingredientes dessa montagem são os clichês, o gesto exagerado, a dublagem das músicas bregas, a estética kitsch. Jorge de Paula, que também está no elenco, se mostra um encenador potente, criativo e muito hábil na direção de atores. De fato, a proposta do mergulho no melodrama se torna bem-sucedida principalmente pela qualidade do trabalho dos atores, todos no mesmo diapasão.

Ficha técnica:

Texto: Trupe Ensaia Aqui e Acolá
Encenação: Jorge de Paula
Atores: Andréa Veruska, Andréa Rosa, Iara Campos, Jorge de Paula, Marcelo Oliveira e Tatto Medinni.
Figurino: Marcondes Lima
Cenário: Jorge de Paula
Iluminação: Sávio Uchoa
Operação de luz: Dado Sodi
Maquiagem: Trupe Ensaia Aqui e Acolá
Pesquisa de trilha sonora: Trupe Ensaia Aqui e Acolá
Operação de som: Juliana Montenegro
Produção: Trupe Ensaia Aqui e Acolá

Serviço:
O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas
Quando: sábados e domingos, às 19h, de 2 a 24 de abril
Onde: Teatro Apolo
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada), disponíveis na bilheteria do teatro duas horas antes da peça, a partir das 17h

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Paixão de Cristo do Recife comemora 20 edições

José Pimentel começou a interpretar Jesus em Nova Jerusalém. Foto: Wellington Dantas

José Pimentel começou a interpretar Jesus em Nova Jerusalém. Foto: Wellington Dantas

Há quase 40 anos, José Pimentel interpreta Jesus Cristo. Homem de teatro, aguerrido, teimoso, aos 81 anos, diz que só deixa o papel quando não aguentar mais; ou, diz ele, quando o bisneto, também José Pimentel, tiver idade para assumir o posto. Na sua 20ª temporada, a Paixão de Cristo do Recife, comandada por Pimentel, mais uma vez é realizada em meio a muitas dificuldades. Até agora, o Governo do Estado ainda deve parte do patrocínio do ano passado e não há garantias de que vai arcar com parte do espetáculo deste ano, um dos principais do calendário religioso do estado.

Mesmo assim, José Pimentel, autor do texto, diretor e, como já dito, protagonista, comanda um elenco de cerca de 100 atores e 300 figurantes. Serão apenas três sessões, começando nesta sexta-feira (25) e seguindo até o domingo de Páscoa (27), sempre às 19h. A expectativa da produção é que até 30 mil pessoas acompanhem o espetáculo a cada noite.

O elenco da Paixão de Cristo do Recife conta com atores experientes, como Reinaldo de Oliveira, que interpreta Herodes, e Renato Phaelante (Caifás), ambos do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), e Ivo Barreto, intérprete de Judas. Os principais personagens femininos ficam com Angélica Zenith, que vive Maria; e Gabriela Quental, Madalena.

Shows – Antes de cada espetáculo da Paixão de Cristo do Recife, no Marco Zero, artistas pernambucanos fazem apresentações especiais, às 18h. Nesta sexta-feira (25), a atração será a banda Som da Terra. No sábado, Geraldo Maia e Beto Hortis sobem ao palco, separadamente. Encerrando a programação musical, no domingo é a vez de Walkyria Mendes se apresentar.

Serviço:
20ª Paixão de Cristo do Recife
Quando: 25, 26 e 27 de março, às 19h (às 18h iniciam as apresentações musicais)
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Quanto: Gratuito

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O afeto que aprisiona

Cinderela, de Joel Pommerat, abriu 3ª MITsp. Foto: Estúdio Zut

Cinderela, de Joel Pommerat, abriu 3ª MITsp. Foto: Estúdio Zut

Desde criança, quando ouvimos a história da Cinderela, enxergamos a suposta superação como foco da fábula. A garota que era maltratada e humilhada pela madrasta e por suas duas filhas diante da omissão do pai consegue finalmente livrar-se de todo sofrimento quando encontra o seu príncipe no baile. O enredo, mais do que conhecido por todos, ganhou outras possibilidades na versão do dramaturgo e encenador francês Joël Pommerat, apresentada pela Compagnie Louis Brouillard na abertura da 3ª edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) na última quinta-feira (3), no Auditório Ibirapuera. Uma questão que merece ser pontuada inicialmente, no âmbito de um festival internacional, é a importância das legendas, que continham erros de português e uma linguagem que parecia mais coloquial do que a peça propunha.

Mas vamos adiante na encenação: se os irmãos Grimm ou até mesmo Walt Disney trataram da morte da mãe de Cinderela de maneira muito episódica, apenas como disparadora da ação, Pommerat consegue traçar outros contextos, deixando a história mais psicológica e atraente não só para crianças e adolescentes, mas para os adultos. Na sua versão, Cinderela é Sandra, uma garota comum, de cabelos desgrenhados e mochila nas costas, que não consegue entender as últimas palavras da mãe no leito de morte. Acredita que a mãe tenha dito para que pensasse nela, a cada cinco minutos, para que ela não morresse de fato.

O amor e a devoção de Sandra à mãe, o medo de traí-la, não cumprindo o seu último pedido, fazem com que Sandra caia numa armadilha, enveredando-se por meandros dentro de si mesma, deixando-se aprisionar pelo afeto carregado do peso do medo, da culpa, da dor. Pommerat constrói uma personagem que se abandona; que, por exemplo, aceita as tarefas domésticas sem reclamações não por seu excesso de bondade, mas porque não se importa consigo mesma. Ou não trava um relacionamento com o pai porque não vê possibilidade de superação de uma realidade. Mesmo diante de uma suposta cumplicidade com o pai, quando ele fuma na companhia dela e não da madrasta, só há conformação nessa relação e não interação, diálogo, questionamento, vivência. Esse “autoabandono” se desdobra em diversas situações, como quando a madrasta faz um discurso sobre como Sandra está velha e descuidada.

As primeiras cenas desta Cinderela são sombrias, escuras.Na casa em que vive com a família, Sandra não vai alimentar os pássaros, cantando feliz, enquanto eles a ajudam nas tarefas, como no filme; aqui o cenário é diverso: a “princesa” carrega com as próprias mãos os pássaros que morreram ao se chocarem contra as paredes de vidro da casa. O sofrimento de Sandra é evidenciado na noite em que passa sozinha no quarto do sótão, sem janelas. A cenografia do espetáculo, composta em boa parte através de projeções, transmite essa confusão interior de Sandra, seu estado de espírito, ao mesmo tempo em que noutros momentos constrói realidades paralelas, como a casa de vidro ou as paredes que vão tendo estampas diversas.

Autor e diretor trabalha com embaralhamento e desconstrução de estereótipos

Autor e diretor trabalha com embaralhamento e desconstrução de estereótipos

Se o contexto psicológico é carregado e o relógio que Sandra tem no pulso toca insistente para lembrá-la de não esquecer a mãe, Pommerat brinca, com sarcasmo, ironia e humor, não se esquecendo de alimentar a identificação da fábula pelo espectador. Há alguns caminhos diretos: por exemplo, a madrasta e as irmãs continuam sendo figuras estranhas, feias e desengonçadas, mas Pommerat não se prende a isso, vai muito além. Nesse sentido, o autor e encenador tem na personagem da madrasta um dos grandes trunfos da montagem, enriquecendo as chaves de discussão abertas pela peça. A madrasta possui uma visão equivocada de si mesma, principalmente no que diz respeito à sua aparência física. Fica lisonjeada com os falsos elogios de que ela parece irmã das próprias filhas e se ilude com a possibilidade de que o príncipe se apaixone por ela e não pelas filhas.

No viés da desconstrução, ou mesmo do embaralhamento de alguns estereótipos tão comuns aos contos de fadas, o príncipe neste caso é feio, inseguro e também sofre com a ausência da própria mãe. No decorrer da montagem, alguns elementos deslocados, que fogem ao estabelecido a priori, vão dando um caráter muito mais instigante à peça, mas sem que ela perca a capacidade de fazer rir ou emocionar. Nesse mesmo âmbito, realidade e sonho, idealização, são dimensões questionadas pela encenação. Não podemos dizer que é exatamente uma experiência radical de reescrita desse texto, já que no espetáculo de Pommerat os elementos conhecidos do público, responsáveis por uma identificação direta com a história, estão todos lá. Ainda é a história da mocinha, mas aqui menos frágil e com nuances que a deixam mais interessante.

Ficha técnica
Texto e direção: Joël Pommerat
Cenário e iluminação: Eric Soyer
Assistente de iluminação: Gwendal Malard
Figurinos: Isabelle Deffin
Som: François Leymarie
Vídeo: Renaud Rubiano
Música original: Antonin Leymarie
Com: Alfredo Cañavate (pai da menina muito jovem, rei); Noémie Carcaud (fada, uma irmã); Caroline Donnelly (segunda irmã, príncipe); Catherine Mestoussis (sogra); Deborah Rouach (moça muito jovem); Marcella Carrara (voz do narrador); Nicolas Nore (narrador) e Julien Desmet (extra).
Diretor assistente: Pierre -Yves Le Borgne
Assistente do diretor da turnê: Philippe Carbonneaux
Diretor geral da turnê: Emmanuel Abate
Operador de luz: Guillaume Rizzo
Operador de som: Antoine Bourgain
Operador de vídeo: Grégoire Chomel
Diretor de cena: Julien Desmet, Nicolas Nore
Camareira: Nathalie Willems
Montagem de cenário e execução dos figurinos: Ateliers du Théâtre National de Bruxelles
Produção: Théâtre National/Bruxelas em coprodução com La Monnaie / De Munt Em associação com a Compagnie Louis Brouillard. Com suporte do Wallonie-Bruxelles International
Cinderela é publicada pela Éditions Actes Sud- Babel e Actes Sud-Heyoka Jeunesse, com ilustrações de Roxane Lumeret.

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