Fim de semana intenso e um rei deslocado

Fim de semana intenso no Recife. Prévias carnavalescas para gostos variados. Filmes do Oscar nos cinemas da cidade. Algumas peças em cartaz. Dois shows de atrações internacionais: Backstreet Boys e Cyndi Lauper. A maratona começou com o lançamento do livro sobre Sivuca, sexta-feira, na Casa da Cultura. De Flávia Barreto, filha do músico, e do jornalista Fernando Gasparini, chama-se Sivuca e a música do Recife. Depois disso a imperdível exposição de fotos do carnaval do Recife e Olinda, do projeto Lambe-lambe. Breno Laprovitera, Jarbas Júnior e seus companheiros flagraram foliões ao longo de 15 anos do projeto. E você pode até encontrar sua foto de outros carnavais.

A banda Backstreet Boys não está mais no auge e a concorrência das atrações de sexta-feira não estava para brincadeira. Portanto, a casa de show Chevrolet Hall estava cheia, mas não lotada. Nossa amiga, a repórter Carolina Santos, diz que o show foi divertido, mas isso para quem era muito jovem (ou estava na mesma sintonia) no final da década de 1990. Na turnê This is us, os boys vieram ao Recife sem banda – “só com um DJ que tocava bateria e teclado -, sem parte do cenário e nenhum tipo de pirotecnia”. Mas os garotos continuam lindos, dançam sem parar e são bem afinados. Suas músicas faziam promessas de amor. E o público feminino não resistiu.

No sábado, foi a vez de Cyndi Lauper. Declinei e fui assistir ao duro Biutiful, primeiro longa de Alejandro González Iñárritu, com Javier Bardem no papel de Uxbal, um herói trágico, pai de dois filhos, e à beira da morte. Uma obra-prima que ainda expõe a complexa situação dos imigrantes na Espanha, africanos e chineses, explorados até por seus conterrâneos.

Mas Cindy Lauper, a cantora que disputou a coroa pop com Madonna nos anos 1980, fez um grande show, segundo nossa amiga Juliana Cavalcanti. Mesclou os hits da carreira, com músicas do álbum Memphis Blues. A percussionista Lan Lan ajudou na tradução de algumas palavras para o português e improvisou com Cyndi, apenas com voz e percussão, a inesquecível The Goonies ‘R’ good enough. Cyndy tirou os sapatos, e emendou numa sequência dançante com Girls just wanna have fun e outras músicas com sua voz potente.

Na sexta, fomos atrás do mestre. O maior dramaturgo que nós temos. Ariano Suassuna, que foi coroado rei do Baile dos Artistas. Ao longo da entrada, passagem para o salão, caboclos de maracatus saudavam os foliões. Quando chegamos ao Clube Português, ainda era cedo, estava sendo anunciada a coroação. Corri por alguns labirintos na cola de Tadeu Gondim, que disse já conhecer o caminho mais rápido. Queria ver a coroação, mas quando cheguei a um lugar que dava para ver, a atriz Hermila Guedes já tinha posto a coroa sobre a cabeça do nosso escritor.

Para acompanhar a coroação, precisava de um cantinho no camarote na frente. Não para ser vista, como a maioria, mas para ver e filmar alguma coisa. Encontrei Renato L, secretário de Cultura do Recife. Ele me apresentou ao prefeito, João da Costa. Foi do camarote do prefeito que captei algumas cenas do palco. O ator Vavá Paulino Schö-Paulino, com uma invejável barriga de tanquinho, dividia as apresentações com Elke Maravilha.

Elke Maravilha e Ariano Suassuna. foto Nando Chiapetta

Elke se derreteu em elogios ao rei da noite. Chegou a dizer que um dos grandes sonhos de sua vida era conhecer Ariano Suassuna. Agora poderia morrer em paz. Ariano fotografado por todos os lados, inclusive por seu assessor Samarone Lima, parecia gostar do paparico da Maravilha. Deram até um selinho. O blog do João Alberto publicou isso e muitos outros detalhes do baile.

Ariano Suassuna parecia deslocado naquele palco. E nenhuma afinidade com a rainha escolhida, Gretchen, que foi coroada pelo ator Irandhir Santos. Com Ariano ainda no palco, o jornalista Cleodon Coelho entregou o talismã a Daliana Martins.

Fico pensado o que foi que motivou Suassuna a aceitar esse título. O assessor dele, num telefonema anterior, também não soube explicar a motivação. Talvez a palavra dada. Aquela de sertanejo que cumpre o prometido. Talvez para agradar Eduardinho…

De longe, do camarote do prefeito do Recife (também sendo mimado por seus asseclas), me pareceu um sacrifício para o nosso escritor estar ali. Mesmo com tanta purpurina no salão, não dava pra disfarçar o estranhamento do dramaturgo com o ambiente.

Gretchen e Ariano Suassuna. Foto: Nando Chiapetta

Encontrei muita gente. Algumas eram só poses. Divertidas. Outas pura arrogância de quem não precisa mais de voto. Já está no poder. Muitas procurando aparecer de qualquer jeito. Algumas conseguiram. Tinha gente bonita. Mas me deparei com algumas em que a carcaça é bonita, mas elas são feias. Que “meda” dessa gente poderosa. Fui. Não fiquei para os shows de Almir Rouche e É o tchan.

Segui pro Guaiamum treloso, no Poço da Panela. E no palco estava Otto, feliz da vida. Nós também. Depois do show dele, meia hora para ajustar os instrumentos para Nando Reis e seu Bailão do Ruivão. Valeu a espera. Um showzaço. Mas fui embora quando anunciou a chuva.

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3 pensou em “Fim de semana intenso e um rei deslocado

  1. ADEH

    acredito q/ o nosso afamado Ariano não está transbordando de alegria por reinar junto da rainha do rebolation. Acho q/ a criatura merecia uma rainha mais a altura do nosso celebre escritor. E rebolar é arte?????

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  2. Rodrigo Dourado

    Ariano foi e será sempre rei desse NE nobiliárquico da Pedra do Reino e outros folclores. Só que, graças a Deus, nesse Reinado chamado Recife há muito também imperam outras Queens, as Drags e congêneres. Adoro quando esses dois Reinos se encontram em missão de paz ou não. É a melhor tradução desse lugar ATIVO/PASSIVO da cultura local: do obelisco de Brennand à bunda da Gretchen.

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  3. Roberto Hildegarhd

    Concordo com o estranhamento do rei e me pergunto porque a rainha escolhida foi esta, deve ter sido pelo vínculo com a produtora do baile, mas enfim..
    Acompanhei como pude lendo nos blogs e vendo as imagens que registraram tamanha tentativa dessa harmonia que Dourado defende.
    Este baile sempre foi muito estranho para mim, me pergunto porque a maioria das fantasias ganhadoras, por exemplo, precisam ter um cunho apelativo e sexual tão forte, acho que a criatividade vai tão mais além.
    Há alguns anos acompanhei a Drag Queen Gina Purpurina que desfilou e ganhou e pela primeira vez pude ver de perto a mistura que este evento proporciona e se o carnaval já tem um “sex appeal” fora de série, este baile supera e muito esta apelação.
    Então celebremos a mistura da Kussita com Elke, é o tchan, Ariano e toda a diversidade presente neste célebre evento.
    Évoé!

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