O menino coisa linda gosta de teatro, mas naquele domingo estava abusado. Mesmo com tantas crianças sentadas no chão ele preferiu o colo da avó, que tem uma paciência de Jó e um amor infindo. Fez seu showzinho particular ao derrubar os meus óculos e insistiu em voltar para casa. Mas o encanto estava tão perto de começar que a avó aguentou a rara chatice daquele pequeno, que vai completar três anos mês que vem, e apresentava sinais de sono.
Entra em cena o ator, palhaço, bonequeiro e contador de histórias Luciano Pontes para narrar a trajetória de três reis. Ele é acompanhado pela flauta e tambor do músico Gustavo Vilar no espetáculo Seu Rei Mandou…, da Cia. Meias Palavras. E o domador de ferinhas hipnotiza a plateia do Teatro Marco Camarotti, no Sesc de Santo Amaro.
Tudo é muito simples na encenação. Palco limpo, com poucos objetos de cena, como uns paninhos que servem de tapetes e outras coisinhas, leques e umas pernas de bailarina. Mas repleto de poesia e humor. As três histórias vêm da tradição oral: A lavadeira real, O rato que roeu a roupa do rei e O rei chinês Reinaldo Reis. E são recontadas de forma deliciosa e magnética. A habilidade de Luciano em lidar com crianças é admirável.
Equaliza fluxos, destaca palavras, tira proveito de repetições de falas e movimentos e passeia com propriedade por vários personagens. Ainda sabe dar bronca em criança com tanta delicadeza que parece brincadeira.
E esse ator com graça de palhaço conduz com sua voz e manobras do corpo e das mãos os miúdos e grandinhos por terras encantadas. É possível se compadecer da solidão do monarca sem herdeiros, com o destino trágico da princesa ou a felicidade óbvia que as pessoas só reconhecem depois de muitas reviravoltas.
Há punhados de inveja e tirania, bravura e bondade, astúcia e final feliz. É um exercício maravilhoso de ator, que faz rir e pensar e embala nosso coração nas cores de um mundo mais definido. É uma montagem leve e fácil de levar para qualquer lugar. Para alegrar adultos e crianças.
Durante a apresentação, o lindo de viver Rocco Wicks deixou a choradeira de lado. O sono deu lugar ao interesse. Do interesse ao envolvimento no espetáculo foi um pulo. Riu de gargalhar, repetiu palavras, interagiu e no final aplaudiu com entusiasmo. Conclusão: o bom teatro faz bem para o humor e afasta o pantim dos meninos. Recomendo sem moderação.
Quando lemos a porta se abre para uma infindades de leituras, quando vemos os olhos abarcam o mundo pelas possibilidades da leitura. Os poucos passos dados pelas Cia Meias Palavras agradece a leitura e a visão do blog Satisfeita Yolanda que faz o teatro ter mais nobreza, mas realeza! Gratos!