Encontrei Luciano Chirolli e Maria Alice Vergueiro na manhã de ontem, no saguão do hotel em que eles (e todos os artistas que vem ao Recife participar do Janeiro de Grandes Espetáculos) estão hospedados, no Pina. Batom vermelho, óculos escuros, cadeira de rodas. Maria Alice disse que me acompanhava tomando café – sem açúcar; Luciano pediu um suco de melancia – bem gelado. (Já comecei a conversa feliz, quando Luciano disse que acompanhava o Satisfeita, Yolanda? e inclusive já tinha lido o blog para Maria Alice; sim, às vezes a gente perde a noção de que as pessoas estão lendo o que escrevemos nesse espaço virtual! 😉
Passamos quase uma hora conversando sobre As três velhas, sobre teatro e amor – redundância? Lá pelas tantas: “Conhecemos a plenitude do teatro, que é superior a do amor”, disse Chirolli; “Para mim, é a mesma coisa”, arremata Maria Alice. Os dois trabalharam juntos pela primeira vez na década de 1990; fizeram, por exemplo, O amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim, de Federico Garcia Lorca. “Foi um sucesso, fizemos turnê pela Europa, mais de dez festivais”. O carinho entre os dois transparece.
As três velhas estreou em Agosto de 210 e levou os prêmios Shell 2010 de teatro (melhor ator com Luciano Chirolli) e Cooperativa Paulista de Teatro 2010 (CPTA) de melhor elenco. O texto é inédito: foi escrito pelo chileno Alejandro Jodorowsky em 2003. “Pelo que nos disseram, foi a pedido da ex-mulher do autor, uma atriz mexicana, mas que não chegou a montá-lo”, conta Chirolli. Os atores avisam que a peça é uma fábula e que, por isso, vários recursos teatrais podem ser utilizados. “Nós saímos do realismo, do linear, a voz pode ser diferente, como quando você vai contar uma história a uma criança, ou alguém pode cair no alçapão de repente”, complementa o ator. Apesar do lúdico, adianta Maria Alice, há também muito horror. Até por conta da fome.
Sim, porque essas velhas vivem na ilusão de um tempo em que a fartura abundava; mas agora não têm nem o que comer; caçam ratos em casa e olham umas para outras como se estivessem prestes a se atacar. A peça começa com um baile, em que só uma pode ir, porque só há um vestido, uma dentadura, uma peruca. “Estou tendo uma compaixão muito grande por essas mulheres, violentadas, esquecidas, por uma sociedade patriarcal. E eu que, vou confessar, era um pouco misógino, machista”, diz Luciano baixinho em tom confessional. “Se o autor dá uma solução até para essas mulheres, porque ele dá, você sai com a impressão de que há uma solução para você também”, complementa. “Não é uma questão de salvação, porque essa é uma palavra muito cristã, mas é remissão”, conta Maria Alice, que é também a diretora do espetáculo. Apesar disso, não espere nenhum espetáculo de autoajuda: “o autor tira sarro”. Aliás, não espere nada. É o que pede Maria Alice. “Dê uma tapa na pantera e vá ver o espetáculo, tranquilo, tranquilo”.
Ficha Técnica:
Realização e Produção: Luciano Chirolli Produções Artísticas
Texto: Alejandro Jodorowsky
Idealização: Teatro Pândega
Direção: Maria Alice Vergueiro
Elenco: Maria Alice Vergueiro, Luciano Chirolli, Danilo Grangheia e Lui Seixas
Assistência de Direção: Carolina Splendore
Tradução: Fábio Furtado
Direção de Arte: Simone Mina e Carol Bertier
Desenho de Luz: Alessandra Domingues
Operação de Luz: Carolina Splendore
Trilha Sonora Original: Otavio Ortega
Operação de Som: Monique Salustiano
Design Gráfico: Natália Zapella
Fotógrafo: Fábio Furtado
Produção Executiva: Elisete Jeremias
Direção de Palco: Tiago Miranda
No vídeo, o elenco ainda contava com Pascoal da Conceição, que foi substituído quando foi fazer a minissérie O astro:
As três velhas
Quando: hoje e amanhã, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quanto: R$ 10 (preço único promocional)
Indicação: 18 anos
Aviso!Os ingressos para o Janeiro de Grandes Espetáculos, para todos os teatros, podem ser comprados antecipadamente na bilheteria do Teatro de Santa Isabel, das 10h às 16h. No dia do espetáculo, você pode comprar no próprio teatro onde será o espetáculo, duas horas antes.