O texto é um pretexto, um fiozinho de dramaturgia tênue e frágil, para as três artistas desenvolverem seus talentos de comediantes. Ou melhor, da arte da palhaçaria. Divinas, espetáculo em cartaz no Teatro Barreto Júnior junta no mesmo palco a elegância de Fabiana Pirro, a ingenuidade de Odília Nunes e a experiência em arrancar risos de Lívia Falcão numa montagem graciosa e divertida.
O espetáculo mostra a trajetória de buscas. Das três contadoras de histórias que ao destrincharem um rosário de coisas preciosas (pequenas ações do cotidiano, um gesto, uma lembrança) também traçam uma metáfora com a Duas Companhias, que persegue e constrói sua própria linguagem dentro desse universo artístico da contemporaneidade.
A cultura popular dá o alicerce para essas conquistas. Foram quase dois anos de pesquisa. Além do ‘mergulho’ no universo do circo e dos palhaços, com a oficina de palhaças com a atriz Adelvane Neia.
As contadoras de histórias e palhaças Uruba (Fabiana Pirro), Zanoia (Lívia Falcão) e Bandeira (Odília Nunes) procuram um mundo melhor, buscam um utopia. Eles fazem parte do povo brasileiro, carente, com fome e com uma alegria de viver que desbanca qualquer tristeza. E instala-se o lirismo.
Uma malandragem aqui outra ali, por coisa pouca e até parece que o elo vai quebrar. Essas palhaças destacam o valor da amizade, o respeito pela memória. E com isso elas desenham uma geografia delicada para não esquecer dos sonhos.
Nesta temporada, a trupe conta com percussão ao vivo de Lucas Teixeira e trilha sonora de Beto Lemos. Os figurinos são simples e bonitos, os sapatos de Bandeira e Zanoia são de Jailson Marcos.
O palco do Barreto Júnior parece que ficou grande para ação da trupe, sem cenários. A pré-estreia no Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro) criava uma cumplicidade maior com plateia, pela proximidade. O espetáculo entrou na programação do Festival de Circo do Brasil. As últimas sessões gratuitas são hoje, às 20h, no Barreto Júnior; e quinta-feira, dia 20h, às 20h, na Praça do Arsenal da Marinha, no Recife Antigo.
Oi Ivana, ao contrário do que dizes, sobre o “fiozinho de dramaturgia tênue e frágil”, considero a dramaturgia de Divinas um trabalho lindíssimo, exatamente pela simplicidade de um texto que sai tão naturalmente das palhaças que parece natural, é como se os dramaturgos tivessem entrado na pele delas para escrever. Assisti ao espetáculo três vezes, sempre com muita emoção, uma emoção que é claramente resultado de uma dramaturgia muito bem pensada dentro da simplicidade e leveza que regem a festa. É um tipo de dramaturgia que dá voz e corpo aos artistas, com a humildade poética daqueles que não querem ser mais nem menos importantes que o todo, mas de quem sabe que é preciso brincar junto e sonhar junto pela potência da brincadeira. Leva o público com muita beleza do início ao fim e o final, aliás, é arrebatador. Parabéns aos escritores!