Uma colaboração de Paulo Carvalho…
A matéria saiu hoje, no Diario de Pernambuco.
“O teatro é um templo, uma alma. Tudo – histórias, personagens, ações boas e ruins – está inscrito nas paredes. É por isso que nós atores somos muito supersticiosos. Há forças que temos que, se não dominar, aprender a viver com elas”. Esses ensinamentos são do ator, encenador e professor do tradicional grupo parisiense Théâtre du Soleil, Maurice Durozier, e atualizam temas de sua mais recente passagem pelo Recife com a promoção da oficina O teatro é o outro (já em andamento e exclusivo para atores) e dos espetáculos-conferências Palavra do ator, nos próximos dias 24, às 20h, no teatro Marco Camarotti; e 30, às 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho, abertos ao público e com entrada gratuita. Promovida pelo Sesc e Prefeitura do Recife, a vinda de Maurice é ladeada pela atriz e assistente Aline Borsari, uma da três brasileiras a integrar o grupo de 80 atores do Soleil em Paris.
O link com a cidade aconteceu através do cearense Grupo Bagaceira de Teatro e do nosso Coletivo Angu (mais especificamente através de um convite feito na sede do teatro francês pelo ator André Brasileiro). Neste momento, todo o grupo está em turnê, no Brasil, onde apresentam o espetáculo Os náufragos da louca esperança, a partir do dia 5 de outubro em São Paulo – com passagem prevista ainda pelo Rio de Janeiro e Porto Alegre. “Chegamos duas semanas antes desta estreia para realizar o curso e o ciclo de espetáculos-conferências no Recife”, explica Maurice, para depois oferecer algumas interpretações para o nome do curso, O teatro é o outro. Desde o último dia 19, a oficina acolhe 50 participantes pernambucanos, sendo promovida até o próximo dia 30 de setembro num total de 50 horas de convivência artística, nos teatros Hermilo e Marco Camarotti.
“São várias as interpretações para este nome. O Théâtre du Soleil trabalha muito com criações coletivas e tudo esta relacionado com o outro. Nesse sentido, a participação individual no processo de criação é uma coisa mínima em relação ao que você pode receber do outro, em relação ao estímulo de imaginação que o outro pode provocar em cena. Esse é um dos aspectos deste tema: nessa oficina trabalhamos juntos e tento transmitir o nosso método de trabalho. Outra face desse tema é a relação do ator com o seu personagem. O personagem é um outro, não é o ator. É outra personalidade que toma lugar no interior do ator e todo trabalho é chegar a essa despossessão que chamamos também de o dom de encarnação”.
Sobre a primeira conferência, a ser realizada no próximo sábado, Maurice acrescenta: “A minha família fazia teatro já há quatro gerações e então caí neste mundo quando era bebê. Não gostava de estar no palco: gritava, chorava, contaram-me depois. Fui criado por meus avós, que eram atores e, em casa, não havia separação entre as coisas da vida e do teatro. Depois, quando voltei a fazer teatro, com 16-17 anos, entrar no palco era como estar na minha casa. Mais tarde, entrei neste grupo. Nele fazemos peças muito longas. Portanto, são horas e horas nesse outro mundo, no outro lado do espelho. Nesse mundo, vivo tudo que tenho que viver como ator, mas, saindo do palco, sensações, reflexão, pensamentos, crônicas, sempre chegavam e pensei que agora era o momento para falar disso: da vida do ator, a partir do interior, do que está acontecendo dentro dele”.