Amo os bichxs de teatro! Os que têm essa arte no DNA e sua prática é tão essencial quanto respirar. Amo esses seres, tão fortes… tão frágeis, tão humanos. Uma constelação desses criadores está no espetáculo A Pane, do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921 — 1990), com direção de Malú Bazán. Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes e Roberto Ascar. Quatro deles veteranos dessa arte e todos inspiram e transpiram essa paixão. A peça parece uma ode ao teatro e à trajetória desses artistas.
Em temporada no Sesc Santana ainda neste domingo (foram só três dias), a montagem volta em 14 de janeiro de 2022, no Teatro Faap, até 20 de fevereiro.
A peça fala de responsabilidade ética, do exercício da justiça e de egos inflamados pelo poder, inclusive por parte de quem comete um “crime”.
A fábula é um intricado e inteligente quebra-cabeça. O Jaguar do representante comercial Alfredo Traps tem uma pane na estrada próxima a uma pequena cidade. Com os hotéis lotados, ele é hospedado pelo ex-juiz da cidade, que “aluga” quartos. Seu pagamento é participar de um jogo curioso. Quatro velhos amigos aposentados assumem suas antigas funções de juiz, promotor, advogado de defesa e carrasco.
Eles partem da premissa que todos nós cometemos algum tipo de delito ou crime secreto. Um ardil engenhoso do promotor com perguntas enreda Traps na morte de seu patrão, fato que gerou a ascensão social do caixeiro-viajante.
Bazán armou um tabuleiro onde as peças trafegam. Em meio a uma sucessão de vinhos de safras especiais, cada personagem expõe seus pontos de vista. O tom de suspense, com rasgos cômicos, faz associações com nossa malfadada realidade – os truques da justiça que colaboraram para atual situação política. É uma experiência kafkiana a do forasteiro, que nos faz pensar também como os registros de distopia mudaram de uns tempos para cá.
Os traços épicos do teatro de Dürrenmatt são acentuados pela direção. Há um humor duro envolvido nesse debate projetado no tecido do real. Uma solução engenhosa de Malú no enquadramento do puro teatro é a personagem do narrador/garçom – e ponto – para acudir eventualmente os octogenários juristas.
Nosso mundo repleto de imperfeições é trançado no palco entre brincadeiras de tribunal, e um questionamento feroz sobre conceitos de justiça e sistema de Justiça. “Uma história ainda possível”, como diz o autor.
Ficha técnica:
Texto: Friedrich Dürrenmatt
Tradução: Diego Viana
Direção: Malú Bazán
Elenco: Antonio Petrin, Cesar Baccan, Heitor Goldflus, Marcelo Ullmann, Oswaldo Mendes,
Roberto Ascar
Concepção cenográfica: Anne Cerutti e Malú Bazán
Figurino: Anne Cerutti
Assistente de figurino e cenário: Adriana Barreto
Cenotécnico: Douglas Caldas
Desenho de luz: Wagner Pinto
Música original: Dan Maia
Operador de luz: Gabriel Greghi
Operador de som: Silney Marcondes
Contrarregra: Márcio Polli
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Visagismo: Dhiego Durso
Programador visual: Rafael Oliveira
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Assistente de produção: Rebeca Oliveira
Assistente de produção: Beatriz Nominato
Co-produção: Kavaná Produções
Produção e realização: Baccan Produções
Serciço:
# A Pane no Sesc Santana
Onde: Sesc Santana (Av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana, São Paulo)
Quando: De 10 a 12 de dezembro. Hoje, domingo, a apresentação é às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia-entrada)
Informações: (11) 2971-8700
# A Pane no Teatro Faap
Onde: Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo)
Quando: de 14 de janeiro a 20 de fevereiro de 2022; Sextas-feiras às 21h; sábados, às 20h; domingos, às 18h.
Ingressos: Sábados; R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada). Sextas e domingos; R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada), à venda na bilheteria do teatro e pelo site https://teatrofaap.showare.com.br/
Informações: 11 3662-7233 / 11 3662-7234