Cuidado com a barbárie!

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro Foto: Annelize Tozetto

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro Foto: Annelize Tozetto

Definitivamente, não vivemos tempos de delicadeza. A intolerância predomina e quem tiver mais poder de convencimento pode até passar por cima da razão, da lei, do bom-senso. Isso ocorre no campo da política ou das relações mais estreitas. Ferir o outro que pensa diferente pode até ser um forma de exibir um pequeno troféu. Se os demônios de cada um eram domados para o convívio social, agora os monstros estão soltos.

 Um recorte da realidade político-social do Brasil é explorado no espetáculo A Mulher Monstro, que expõe a conduta de uma burguesinha perseguida pela visão intransigente de seus pares, ou seja do reflexo dela mesma. A mulher tenta domar a solidão e derrama-se em ódio que alimenta dentro de si contra o diferente, num cenário explosivo de corrupção, golpe de estado e cinismo generalizado.

Com atuação do ator José Neto Barbosa, A Mulher Monstro faz mais uma temporada no Recife, desta vez de 9 a 18 de junho (sextas, sábados e domingos) no Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife Antigo.

A montagem estreou em 2016, motivada pelas barbáries que passou a circular nas redes sociais e na rua. O artista fez uma colagem de falas reais de figuras públicas e de anônimos, com o conto Creme de Alface de Caio Fernando Abreu. Entram também na dramaturgia suas memórias da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos, e principalmente fatos e discursos impositivos na sua vida, desde infância, fruto da discriminação sentida no convívio social. 

O conto de Caio F. foi escrito em plena ditadura militar, mas só publicado em 1995: “O que me aterroriza neste conto de 1975 é a sua atualidade. Com a censura da época, seria impossível publicá-lo. Depois, cada vez que o relia, acabava por rejeitá-lo com um arrepio de repulsa pela sua absoluta violência. Assim, durante vinte anos, escondi até de mim mesmo a personagem dessa mulher monstro fabricada pelas grandes cidades. Não é exatamente uma boa sensação, hoje, perceber que as cidades ficaram ainda piores, e pessoas assim ainda mais comuns”, disse o escritor dois anos antes de sua morte.

“Se de 1975 para 1995 Caio percebeu que a sociedade estava mais intolerante, hoje, vemos que pouco avançamos com relação à intolerância e ao preconceito. E eu resolvi fazer da minha arte militância”, conta José Neto, que também dirige a peça.

SERVIÇO

A Mulher Monstro
Quando:
De  9 a 18 de junho de 2017, Sextas e sábados às 19h. Domingo às 18h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Recife Antigo)
Ingressos: R$ 30,00 inteira / R$ 15,00 meia (vendidos também duas horas antes do espetáculo, na Bilheteria do Teatro) 
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: pouco mais de 60 minutos.
Informações: 81 33553321 ou facebook.com/semciadeteatro

Postado com as tags: , ,

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *