“…o baile aqui não termina,
o baile aqui principia
do mesmo jeito que o sol
se renova a cada dia,
da mesma forma que a lua
quatro vezes se recria,
do mesmo tanto que a estrela
repassa a rota e nos guia”
O Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal é um procedimento que dá certo no palco há 33 anos. Há 13 é quase um destino obrigatório do período natalino na Praça do Marco zero, no centro do Recife. O que faz esse espetáculo ser tão especial? É uma química, uma combinação certeira de elementos da cultura popular nordestina, de músicas inspiradas nos folguedos, no talento de artistas, no clima da época que juntos provocam uma alegria genuína, uma esperança na humanidade (que os céticos dirão; “tolos”). Mas talvez precisemos dessas pequenas doses de bálsamos para seguir.
O espetáculo faz três apresentações, de 23 a 25 de dezembro, ao ar livre, às 20h. Com texto de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima e trilha sonora de Antônio Madureira (que é a alma da obra) a peça integra a Trilogia das Festas Brasileiras, composta ainda por Bandeira de São João e Arlequim.
A montagem busca encorpar a já desgastada expressão espirito natalino, na dramaturgia do texto, da cenografia e figurinos, das canções, no humor das manifestações culturais do Nordeste brasileiro que se erguem no palco em passos de esplendor.
Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal é um símbolo pernambucano . Essa opereta nordestina junta as danças populares da região, músicas incríveis e personagens que nascem de uma mistura de reisados, maracatu, cavalo-marinho e bois. Explosão de beleza.
A história é simples. Dois Mateus perseguem a casa onde estão alojados José, Maria e o recém-nascido Jesus, para fazer uma festa na entrada. A porta está trancada. Para abrir a porta eles fazem rezas, prendas, mágicas fajutas. E convocam os seres encantados – como Jaraguá e a burrinha Zabelim, além das pastoras, a Lua, a estrela e o Sol – para reforçar a empreitada.
E a festa passa diante de nossos olhos. A música de Zoca Madureira é executada ao vivo por uma orquestra regida pelo maestro José Renato Accioly, que faz desfilar frevo, maracatu, caboclinho, ciranda e bumba meu boi.
Sóstenes Vidal que interpreta um dos Mateus do Baile há 13 anos (e durante dez anos fez o Mateus na montagem do Balé Basílica, do Balé Popular do Recife), garante que é uma realização profissional – pelas pessoas envolvidas e pela grandeza do espetáculo. “A parceria com Arilson Lopes , não poderia ser melhor. Considero um dos grandes atores brasileiros, um carisma maravilhoso, profissional, desde o primeiro ano, tive a certeza que estava muito bem acompanhado no palco”.
Arilson Lopes também está no Baile do Menino Deus desde o primeiro ano no Marco Zero. “São exatos 13 anos festejando o Natal com um elenco incrível de músicos, cantores, bailarinos, atores, técnicos e uma multidão de espectadores apaixonados”, comenta com indisfarçável alegria.
“Considero o Baile do Menino Deus um espetáculo extremamente importante na minha trajetória como ator, pela beleza dessa história que contamos, pela direção generosa e atenta de Ronaldo Brito, pela poesia do personagem que defendo, por compartilhar esse aprendizado com uma equipe talentosa e dedicada e por atuar na praça para milhares e milhares de pessoas. É uma alegria também estar em cena com o ator Sóstenes Vidal, que faz o Mateus 2. Ele é um grande parceiro. Estamos juntos nesse espetáculo desde o comecinho e nossa convivência sempre foi de respeito e admiração mútuos. Sempre nos ouvimos muito, discutimos cada proposta de cena e vibramos a cada nova descoberta”, conta.
Para manter acesa a chama, o Baile do Menino Deus acrescenta novidades na encenação a cada ano. A principal delas em 2016 é que o visual ganha inspiração da cultura africana e do Oriente Médio.
Com isso, são acrescidas peças de figurinos de José e Maria, dos Mateus, da orquestra, do coros adulto e infantil, de alguns solistas e das ciganas. O multiartista Marcondes Lima, que assina a direção de arte, incrementa as roupas com mais colorido, com estampas, elementos pouco explorados nas edições anteriores. “Os figurinos terão um contraste ainda maior diante do cenário que se define como um fundo neutro, com as casas quase totalmente brancas”, pensa Marcondes, que criou 50 novas peças.
“O conceito visual da arte bizantina permaneceu nos quatro primeiros anos do Baile. Depois tivemos um conceito palestino-árabe, numa perspectiva da presença dessa cultura no Nordeste. Em seguida, nos inspiramos no leste europeu; e, por fim, agora, na cultura africana e na do Oriente Médio”, explica o diretor Ronaldo Correia de Brito.
Outra alteração de registro se refere à Sagrada Família, que segundo Correia de Brito recebe um tratamento de “humanização”. “José e Maria já tinham uma performance bem humana, bem popular e agora têm algo mais moderno. Queremos dessacralizar cada vez mais essas duas figuras”, pontua o diretor. Por exemplo, Maria, interpretada pela atriz e cantora Isadora Melo, não usará mais véu e os seus ombros ficarão à mostra.
Outro detalhe dessa edição é que a encenação vem com dois Reis Magos e uma Rainha, além de uma mulher também no grupo de caboclinhos, anteriormente composto apenas por homens. A bailarina Marcela Felipe defende esses novos papéis femininos.
O Baile aglutina uma equipe caudalosa. São mais de 300 pessoas envolvidas. Sendo uma orquestra com 14 músicos, coro de 26 cantores (13 adultos e 13 crianças) e seis solistas, incluindo o cantor Silvério Pessoa.
O Mateus mais lírico, Arilson Lopes, lembra que o texto original já recebeu vários tratamentos, novas palavras e novas cenas. “ Acho que o Baile do Menino Deus é um sucesso porque o público se vê, se reconhece nas brincadeiras, nas músicas, nos folguedos ressignificados, no sotaque, na nossa cultura. Já não vejo o Natal do Recife sem essa celebração que se tornou o Baile do Menino Deus, no Marco Zero”.
SERVIÇO
Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal
Quando: 23, 24 e 25 de dezembro de 2016, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Acesso gratuito
Classificação livre