“Uma coisa aprendi junto a Soledad: que deve-se empunhar o pranto, deixá-lo cantar. Outra coisa aprendi com Soledad: que a pátria não é um só lugar. Uma terceira coisa nos ensinou: que o que um não consiga, o farão dois”, diz um trecho da música Soledad Barret, do cantor, compositor e instrumentista uruguaio Daniel Viglietti. A atriz Hilda Torres defende a história dessa paraguaia no monólogo Soledad – A terra é fogo sob nossos pés. A peça instiga reflexões sobre o passado e os dias atuais, as formas explicitas e disfarçadas de autoritarismo, a luta pelo sonho de liberdade, o empoderamento feminino, entre outras questões importantes para o exercício democrático. A montagem participa da 9ª Mostra Capiba de Teatro, do Sesc de Casa Amarela, com sessão nesta quarta-feira, às 20h.
Soledad Barrett Viedma foi uma militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) assassinada durante a ditadura militar no Brasil. Em Pernambuco ela viveu os últimos dias de sua vida e foi morta por delação de seu companheiro, o Cabo Anselmo, numa emboscada junto com outros companheiros[1].
A atriz mostra essa trajetória de Soledad e também faz referências ao período atual da política brasileira, utiliza poemas, músicas, elementos sonoros e símbolos.
Com direção da atriz e diretora paulista, Malú Bazan, a peça foi idealizada em janeiro de 2015 a partir do livro do escritor pernambucano Urariano Mota, Soledad no Recife. “O projeto contou, desde o início, com a ajuda de muitas pessoas, como ex-prisioneiros políticos, militantes da época que tiveram contato com Soledad, ou não, além de parentes e compatriotas paraguaios. Também recebeu o apoio de militantes contemporâneos, que entenderam a relevância do projeto como contribuição importante para diversas lutas sociais, como as de gênero, direitos humanos e a do entendimento da arte como instrumento de formação e empoderamento sociopolítico e cultural”, contou Malú Bazán na época da estreia.
Hilda Torres pensa que discorrer sobre ‘Sol’ é “falar de um pedaço de todos nós que nos impulsiona diariamente a enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um mundo melhor com direitos iguais para todos e todas na compreensão das nossas diferenças”.
[1] Cabo Anselmo é apontado como um dos líderes do protesto dos marinheiros em 1964. Integrou o movimento de resistência à ditadura nos anos 1960 e, na década de 1970, atuou como colaborador do regime militar. A suspeita é que em todos os episódios ele atuava como um agente policial infiltrado.
Foi Anselmo quem entregou o esconderijo dos membros do VPR em Pernambuco, uma chácara no loteamento São Bento, no município de Paulista. Junto com outros companheiros, Eudaldo Gomes da Silva, Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José Manoel da Silva, estava Soledad. Detalhe, em diversos depoimentos de conhecidos de Soledad afirma-se que ela estava grávida, esperando um filho do próprio cabo Anselmo.
Segundo a versão oficial, os militantes foram mortos numa troca de tiros na chácara. O jornalista Elio Gaspari, em A ditadura escancarada, classifica o episódio como “uma das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura”.
Ficha técnica
Dramaturgia: Hilda Torres e Malú Bazán
Atuação: Hilda Torres
Direção: Malú Bazán
Cenário e figurino: Malú Bazán
Desenho de luz: Eron Villar
Direção musical: Lucas Notaro
Produção geral: Márcio Santos
Produção executiva: Karuna Paula
Realização: Cria do Palco
Fotografias: Rick de Eça
Serviço
Soledad – A terra é fogo sob nossos pés
Quando: Nesta quarta-feira, 20h
Onde: Teatro Capiba. SESC Casa Amarela (Av. Professor José dos Anjos, 1190. Bairro: Mangabeira)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10
teatrocapiba@gmail.com
81 – 3267-4410
Duração: 70’
Classificação etária: 14 anos
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