A minha mãe teria saído na metade do espetáculo. Provavelmente, me faria milhões de questionamentos sobre como eu posso gostar de uma coisa dessas! Que isso não é espetáculo! Que não entendeu nada! Não posso criticar a minha mãe…já coloquei a “tadinha” em algumas roubadas por conta do experimentalismo… do grupo jovem, que está se esforçando e tentando fazer algo inovador. E lá vai ela me acompanhar…
Bom, à primeira vista, o espetáculo Namorados da Catedral Bêbada, em cartaz no Teatro HSBC, aqui em Curitiba, dentro da mostra intitulada Conexão Roosevelt, é assim. Não tem pé nem cabeça.
Bárbara Bêbada vive numa casa-adega; é apaixonada por D. Diogo, que satisfaz seus desejos sexuais com a vedete Sandra-Spotlight e também com um garoto de ar inocente, que engravida e é enjaulado. Bárbara, que não é besta, cobra ingresso para quem quiser ver a atração: dois mil dólares ou quarenta reais. Tem também um garoto-segurança metido a fortinho que ela tirou da Febem e abrigou, e protege a casa do Porcão, que já transou com Bêbada e aproveitou para assaltá-la. Ah..e o Gato-Bruxo..que faz uma porção mágica para matar a vedete Sandra, de meia-arrastão e pernas sempre abertas, a pedido de Bárbara, morta de ciúmes de D. Diogo. Ui… muita coisa, né?
Mas não é completamente assim… cheio de referências, histórias truncadas e imagens que se sobrepõem a cada minuto o mundo em que vivemos? Eu mesma era só angústia sempre que entrava numa biblioteca e percebia que nunca conseguiria dar conta. Ou quando quero ver todos os filmes em cartaz. Ou os programas da televisão que os meus amigos comentam no jornal no outro dia. É nesta sociedade que a peça está inserida. Bárbara tinha que beber mesmo.
Afora a violência que salta aos olhos em cada cena do espetáculo. Essa também está impregnada no nosso cotidiano. Hoje mesmo, depois de assistirmos bravamente (ou não!) a três horas do espetáculo Trilhas sonoras de amor perdidas, fomos jantar. Fizemos metade do caminho de volta caminhando..mas depois ficamos com medo. Quem seriam aqueles garotos mais ali à frente? Não conhecíamos “as bocadas” da cidade…bom, se fosse no Recife, contamos com ar de brincadeira, não teríamos nos atrevido nem a andar um quarteirão às 2h30 da manhã.
Enfim..Namorados da Catedral Bêbada é sobre tudo isso. Sobre os Serginhos dos BBB´s, as putas dos shows de calouros, o garanhão gostoso que pega todas. Ah..a peça é do Núcleo de Atores Francisco Carlos, que assina a dramaturgia e direção. No elenco, André Engracia, Majeca Angelucci, Ondina Clais, Eros Valério, Kiko Pissolato, José Trassi e Bernardo Machado. Hoje, domingo, tem mais uma sessão, às 21h.