Cinderela pra lá de escrachada

, com lenço na cabeça, interpreta a Burralheira. Foto: Ivana Moura

Filipe Enndrio, com lenço na cabeça, interpreta a Burralheira. Foto: Ivana Moura

A Cinderela suburbana criada por Henrique Celibi mostra suas garras e truques na despedida da temporada de A Bicha Burralheira, a estória que sua mãe não contou, hoje e amanhã, no Teatro Apolo, às 19h30. A protagonista que carrega os cacoetes da gente de povo, da periferia do Recife pobre, é desbocada, órfã, gay e luta contra as micro opressões cotidianas dentro da sua própria casa. Suas maiores inimigas são “sua” família: a madrasta e as irmãs postiças, que fazem de tudo para prejudicá-la.

Mas isso não é fácil não, queridinha. Porque além de calejada com as maldades fraternas ela ainda conta com a ajuda de uma fada madrinha para realizar seus desejos. E ela vai à luta pelo bofe magia (nem tão bofe assim).

Essa Burralheira leva ao palco uma autocritica da discussão de gênero ao zombar da sua condição. Não faltam gírias e palavras obscenas. O elenco é muito bom e tira o máximo de comicidade das gags e da esculhambação. Filipe Enndrio como a Burralheira desafia o espectador mais carrancudo a ficar sério. O jogo do grupo é muito interessante e divertido com Carlos Mallcom (Madrasta), Flavio Andrade (Príncipe), Renê Ribeiro e Robério Lucado (as irmãs), Henrique Celibi (Bicha Madrinha) e Ítalo Lima (vassalo do rei).

O improviso ganha corpo e voz, show de esquisitices, com direito a demonstrações de fetiche e gozação. De sobras e material reciclável o grupo cria cenário, figurinos, adereços imprimindo um aspecto de precariedade muito apropriada com a proposta.

Egresso do Grupo Vivencial, trupe que exerceu resistência cultural com muito deboche e purpurina nas décadas de 1970/1980, Celibi ainda parece preso às tiradas da época. Que embora vivamos épocas que convergem em alguns aspectos da burrice política atual, novas investidas de desacato contra o que está posto poderiam ser mais agressivas, provocantes, certeiras e cortantes na dramaturgia.

Mas com certeza, A Bicha Burralheira é diversão garantida.

Elenco e diretor Henrique Celibi. Foto: Ivana Moura

Elenco e diretor Henrique Celibi. Foto: Ivana Moura

A Bicha Burralheira, a estória que sua mãe não contou
Ficha técnica:
Texto, direção, produção: Henrique Celibi
Elenco: Carlos Mallcom (Madrasta), Filipe Enndrio (Burralheira), Flavio Andrade (Príncipe), Renê Ribeiro e Robério Lucado (as irmãs), Henrique Celibi (Bicha Madrinha), Ítalo Lima (vassalo do rei)
SERVIÇO
A Bicha Burralheira, a estória que sua mãe não contou,
Onde: Teatro Apolo (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 29 e 30 de junho, às 19h30
Preço único: R$ 20

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