Ressurreição de Soledad Barrett no palco

Hilda Torres interpreta Soledad - A terra é fogo sob nossos pés

Hilda Torres interpreta Soledad

Há espetáculos que falam destes tempos que pulsam, mesmo que remetam a outro. Soledad – A terra é fogo sob nossos pés faz parte dessa arte urgente e inadiável. Necessária e bela. Imperiosa para o presente ameaçado, e ajuste de conta com a História. E isso amplia sua escala de arte fincada no real e com as garras e os dentes afiados para não sermos devorados pelo obscurantismo. Não, de novo, não.

A entrega da interpretação de Hilda Torres é algo que precisa ser aplaudido. De pé. É a primeira dramatização da vida da guerrilheira paraguaia Soledad Barrett Viedma para palcos brasileiros. Ela foi caluniada como terrorista e ficou conhecida como a mulher do Cabo Anselmo, o policial infiltrado na guerrilha que a entregou a Fleury em 1973. Soledad e mais cinco militantes contra a ditadura foram executados no “O massacre da granja São Bento”. Ela estava grávida.

A peça faz única apresentação nesta quinta-feira, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro da programação do Trema! Festival de Teatro.

Hilda Torres é idealizadora do espetáculo junto com a diretora Malú Bazan, que assinam o texto. O monólogo faz referências ao livro Soledad no Recife, de Urariano Mora, a uma série de entrevistas e pesquisa documental realizadas por ambas, à publicação 68, a geração que queria mudar o mundo“, compilação de relatos de uma centena de ex-militantes políticos, organizados e sistematizados Eliete Ferrer, do grupo Os Amigos de 68. Além de consultas ao tijolaço da Comissão da Verdade e registros do Tortura Nunca Mais. E poemas de Marco Albertim e da artista plástica Ñasaindy de Araújo Barrett, filha de Soledad, que assina composições e empresta sua voz de cantora ao espetáculo.

A montagem se expressa generosa e caudalosa para recuperar a vida e a luta de uma mulher entregue à repressão pelo marido, numa farsa encenada pelo Estado de terror e traição no Recife da ditadura militar. A peça manifesta o poder da arte, de promover a reparação – pelo menos da imagem púbica – das violações a direitos fundamentais. Para reescrever a História e subverter a ordem do esquecimento.

O monólogo poético, que também faz alusões ao período atual da política brasileira, traça o percurso de Soledad Barret, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Os seus conflitos como mulher, mãe, filha, militante perseguida. E recupera as facetas dessa musa política das esquerdas da América Latina.

Como já disse Urariano Mota, “Soledad Barrett Viedma é um dos casos mais eloquentes da guerra suja da ditadura no Brasil”. A peça é uma vitória pelo resgate da memória, da verdade e da justiça.

Serviço
Soledad – A terra é fogo sob nossos pés
Quando: Nesta quinta-feira, às 20h;
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho

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