As notícias de violação da dignidade da pessoa humana chegam de toda parte do planeta. De perto e de longe. No caminho inverso, da valoração das criaturas, temos Antígona, de Sófocles (± 496 a.C.- ±406 a.C.) a nos apontar caminhos de ética e compaixão, de beleza e desejo levado às últimas consequências. A tragédia composta há mais de 2.500 anos (442 A.C.) expõe a coragem da protagonista em desafiar as ordens do rei Creonte (seu tio) de não sepultar o corpo do irmão Polinices, morto em combate contra o outro irmão Etéocles, pelo trono de Tebas. Os três, além da frágil e temerosa Ismene, são filhos de Édipo e Jocasta. Antígona faz parte da trilogia tebana, composta também por Édipo Rei e Édipo em Colono.
Creonte reserva honras para Etéocles e planeja que os abutres e cães consumam o corpo de Polinices insepulto, julgado pelo tirano como traidor da pátria. Essa punição contrariava os costumes. A altiva Antígona não aceita e resolve cumprir as exéquias e sepultar o irmão, mesmo arriscando a própria vida por essa causa.
Segundo Jacques Lacan “O bem não poderá reinar sobre tudo sem que apareça um excesso, de cujas consequências fatais nos adverte a tragédia”. A posição de Creonte, de acordo com o psicanalista está calcando em razões de um tirano equivocado. “Tuas ordens não têm o poder de superar as leis dos deuses (pois és mortal)”, desafia Antígona. E em outra passagem o cego Tirésias tenta dissuadir Creonte sobre Polinices: “Não queiras matar quem já morreu. Que bravura há em exterminar um cadáver?”.
Antígona, de Sófocles, é a base da primeira performance da segunda etapa do projeto Dramaturgia Clássica, que a Cia Fiandeiros de Teatro apresenta neste sábado (26) e domingo (27), às 19h, na sede do grupo, no bairro da Boa Vista, com entrada gratuita.
O poema cênico Uma Antígona para Lúcia apresenta o encontro de uma atriz jovem com uma experiente, em volta do universo de Antígona. O título do programa faz alusão a Lúcia Neuenschwander, atriz pernambucana que morreu no ano passado. Neuenschwander interpretou Antígona numa produção do Teatro Popular do Nordeste – TPN, nos anos 1960. O solo é interpretado por Daniela Travassos e aproveita o clássico para falar do oficio do ator. A direção é de Luís Reis e Durval Cristovão.
No próximo fim de semana (3 e 4 de outubro), Manuel Carlos assume O canto do cisne, de Anton Tchékhov, com tradução e adaptação de André Filho e João Denys. A performance de A tempestade, de William Shakespeare, encerra a programação nos dias 10 e 11 de outubro, com André Filho dirigido por Marianne Consentino.
Ficha Técnica da Performance
Autoria: Sófocles
Adaptação: Luís Reis
Encenação: Luís Reis e Durval Cristovão
Atuação: Daniela Travassos
Iluminação: João Guilherme de Paula
Direção de arte: Manuel Carlos
Vozes do coro: André Filho e Manuel Carlos
Música de cena: Sandro Júnior
Preparação de elenco: Durval Cristovão
Ficha Técnica do Projeto
Concepção e coordenação geral: Daniela Travassos
Produção executiva: Renata Teles e Jefferson Figueirêdo
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro / Espaço Fiandeiros
Incentivo: Funcultura
SERVIÇO
Uma Antígona para Lúcia
Quando: Dias 26 e 27 de setembro, às 19h
Onde: Espaço Cultural Fiandeiros: Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista, Recife
Informações: (81) 4141.2431
Quanto: Entrada franca
Capacidade: 60 lugares