É difícil assistir aos espetáculos destinados ao público infantil. O quadro é aterrador e se repete em praticamente todas as cidades brasileiras. Imitações toscas de desenhos animados ou outras superproduções da mega indústria do entretenimento norte-americano povoam os palcos em fórmulas comerciais de efeito fácil. São espetáculos que fazem sucesso e ganham dinheiro. E é mais difícil encontrar uma peça que seja exceção a esse mapa.
Dentro da programação do X Festival de Teatro de Fortaleza foram selecionadas algumas montagens dirigidas às crianças. Entre elas, Lix, O Super Lixeiro em Chama a Mamãe Aííí, do Grupo Teatro Novo. A peça tem dramaturgia de Allan Duvale, direção de Leuda Bandeira e supervisão de Sidney Malveira.
Desde 2001, Sidney Malveira lidera esse importante grupo cearense, que contabiliza no seu currículo mais de 25 produções. O coletivo tem quase 50 anos de fundação e no seu nascedouro estavam os atores Marcus Miranda (falecido), Maria Luiza e Aderbal Freire Filho. Apesar disso, a trupe não montou muita coisa direcionada para a infância e juventude.
Lix, o Super Lixeiro em Chama a Mamãe Aííí, como o título sugere, trabalha com a ideia de que é preciso cuidar do meio-ambiente. Para isso leva ao palco o personagem Francisco Lixo na Lata Mantém – ou Franlixtem -, um catador de lixo e, nas horas vagas, um inventor, que é coagido por seu patrão a espalhar sujeira pela cidade. Para rebater a posição do chefe, o artífice cria um robô com o dom de fazer reciclagem.
A ideia de pensar a limpeza em contraponto com a sujeira é simples. Mas a história é pobre. As atuações são medianas, embora o garoto que faz o robô tenha uma pouco mais de energia (mas é chato o bordão “chama minha mãe aííí”) e efeitos visuais são bem rudimentares.
A peça foi exibida no Centro Cultural Bom Jardim, no dia 23/11 e no Teatro Antonieta Noronha, no dia 24/11. As cadeiras da plateia estavam ocupadas por crianças das escolas de Fortaleza, que não me pareceram empolgadas após a segunda apresentação.
Enquanto as ações da peça se desenvolviam, eu me perguntava “o que pode uma criança?” e não consegui visualizar de que forma aquela montagem poderia ampliar os horizontes e desdobrar potências na infância.
A didática que a encenação defende é a de que o robô, Franlixtem Jr vai descobrir que sua mãe é a natureza e, ao contrário do que o patrão ensina, não é nada divertido sujar a cidade. Mas a argumentação para chegar a essa conclusão não é instigante. E as questões ética e estética discutidas na cena são rasteiras.
O que se apresenta como produto acabado poderia ser o mote para a criação de uma dramaturgia própria. Poderia ser o ponto de partida, para gerar reflexões acerca do universo da infância e as relações com a natureza e a cidade. Como foi apresentado, o caráter pedagogizante surrupia a experiência estética por meio dos sentidos dos pequenos e refuta o prazer de compreender o mundo de forma mais lúdica.
Ficha técnica
Lix, o super lixeiro em Chama minha mãe aííí
Texto: Allan Duvale
Direção: Leuda Bandeira
Supervisão: Sidney Malveira
Elenco: Robson Aragao, Lucas Souza e Patrick Scastro
Trilha sonora: Carlinhos Crisóstomos
Iluminação: Sidney Malveira
Execução de cenário: Josué e Luz
Figurino: Marcelo Belizário
Maquiagem: O grupo
Realização: Grupo Teatro Novo