Arquivo mensais:julho 2016

O rito ancestral do Totem

Retomada

Retomada inspira-se na força guerreira dos povos originários. Foto: Fernando Figueiroa

Retomada, espetáculo do Grupo Totem. Foto: Claudia Rangel

Espetáculo do Grupo Totem é dirigido por Fred Nascimento. Foto: Claudia Rangel

A potência do espetáculo Retomada se nutre da força guerreira dos povos originários do Brasil. Dignidade é a palavra de ordem para traduzir a reação das tribos do país aos ataques violentos e desproporcionais armados por ruralistas. O espetáculo/performance do Grupo Totem conjuga energia e beleza. Resistência política nos pés, nos corpos e gestos dos atuadores inspirados nos rituais indígenas. O melhor de todos os trabalhos da companhia. Assistimos à peça durante o Trema! Festival de Teatro e hoje o bando liderado por Fred Nascimento faz uma apresentação no Instituto Ricardo Brennand, às 17h, na abertura do Cirkula 2016, evento do Programa de Pós Graduação em Antropologia da UFPE.

A cobiça do “homem branco” é motivo do confronto por pedaços (às vezes imensos) de chão. Ainda no século 19 os ocupantes históricos foram expulsos. A Constituição de 1988 reconheceu os direitos das tribos, mas o processo de demarcação por parte do governo tem sido devagar, quase parando.

Ao contrário dos produtores rurais, que com o arsenal bélico e poder político, inclusive com representantes no Congresso para defender seus interesses, avançam a passos largos para expulsar os nativos e as ações violentas deixam sempre um saldo negativo para as tribos.

Os poderosos dos interesses do agronegócio, tão bem alinhados ao governo provisório, intimidam com violência genocida e buscam expulsar ilegalmente as diversas etnias de sua terra ancestral.

A iluminação, a música e o vídeo amplificam a voz da montagem

A iluminação, a música e o vídeo amplificam a voz da encenação

A montagem é resultado da pesquisa Rito Ancestral, Corpo Contemporâneo. A dimensão da ancestralidade foi encaixada na expressão corporal e cênica da peça. Para isso, a trupe participou de laboratório de imersão no contexto indígena de aldeias localizadas em Pernambuco entre as etnias Xucuru, Pankararu e Kapinawá. A teoria perpassa por formulações do antropólogo Victor Turner, em diálogo com Richard Schechner e no Teatro Ritual proposto por Antonin Artaud.

O senso de coletividade, dos elementos rituais, o respeito à Terra e às unidades da natureza transbordam nas várias coreografias do grupo. Resistência política e tradição alimentam os componentes do espetáculo em vigor ritual e mítico. É uma experiência intrigante acompanhar como espectador a combativa obstinação de vozes que não se calam sobre a terra arrasada.

As atrizes-performers Lau Veríssimo, Gabi Cabral, Gabi Holanda, Inaê Veríssimo, Juliana Nardin, Taína Veríssimo e Tatiana Pedrosa carregam no corpo, no olhar, na energia do gesto, na composição da cena uma ancestralidade feminina, em conexão com a Mãe Terra. É desse planeta e dessa substância que são configuradas as renovações do ato ritual. O espaço sagrado é celebrado no corpo físico, no som e na luz, na conotação metafísica e na magnificência que esse corpo expandido atinge o universo ao seu redor.

Retomada, com o Grupo Totem
Quando: 26 de julho de 2016, terça-feira, 17h
Onde: Instituto Ricardo Brennand
Quanto: Grátis. O acesso se dará mediante inscrição por email: comunica@institutoricardobrennand.org.br, indicando nome completo e CPF, no corpo da mensagem, e nome do espetáculo (Retomada – TOTEM) no título da mensagem.

FICHA TÉCNICA
Encenação: Fred Nascimento
Atrizes-performers: Gabi Cabral, Gabriela Holanda, Inaê Veríssimo, Juliana Nardin, Lau Veríssimo e Taína Veríssimo
Música original: Cauê Nascimento, Fred Nascimento e Gustavo Vilar
Direção de palco: Tatiana Pedrosa
Cenografia: grupo Totem
Figurino: grupo Totem
Maquiagem: grupo Totem
Designer de luz: Natalie Revorêdo
Vj: bio Quirino
Pintura corporal: Airton Cardin
Assistente técnico: Ronaldo Pereira
Fotografia: Fernando Figueirôa
Designer gráfico: Iara Sales
Preparador vocal: Conrado Falbo
Assessoria de imprensa: Beth Oliveira

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Abuso de poder no ambiente corporativo

Débora Falabella e Yara de Novaes em Contrações. Foto: Vitor Zorzal

* Atualizada no dia 28 de julho, às 13h

Até onde você iria para garantir seu emprego? Puxaria o tapete de seu colega? Aceitaria se prostituir ideológica, estética e eticamente? Seria capaz de trair o seu melhor amigo? E você Outro que ocupa um cargo de confiança, mataria a própria mãe para se manter no poder? Eita terreno escorregadio!

O mundo do trabalho é feroz. O sistema capitalista predador. E ele pode devorar sua autoestima, sua dignidade, seus ideais. As relações no mundo corporativo são nutridas por sentimentos estranhos,  covardes, egoístas. Tomamos conhecimento ou vivenciamos coisas escabrosas para exercer a profissão.

As atrizes Débora Falabella e Yara de Novaes mostram os bastidores desse microcosmo de pequenos poderes exercidos numa empresa no espetáculo Contrações. A peça cumpre temporada de 28 a 30 de julho e de 4 a 6 de agosto, na CAIXA Cultural Recife. Os ingressos para a primeira semana já estão esgotados.

O Satisfeita, Yolanda? escreveu sobre o espetáculo Contrações em 2014, durante o Festival de Curitiba. Confira aqui o texto.

O texto Contrações, do dramaturgo inglês Mike Bartlett, expõe o horror da roda empresarial, com suas regras esdrúxulas, funcionários subalternos subjugados a pressões absurdas, com receio de perderem seus empregos.

É uma peça de teatro com situações plausíveis. A direção de Grace Passô reforça o conteúdo cruel, absurdo e usa a metáfora do esfriamento da temperatura do ambiente com o acirramento do conflito.

Frio traduz relação entre funcionária e chefe . Foto: Divulgação

Na peça, a gerente linha-dura inominável de um escritório de uma grande corporação (Yara de Novaes) convoca Emma (Débora Falabella), sua jovem e eficiente funcionária, para ler em voz alta uma cláusula do contrato que proíbe aos empregados estabelecerem qualquer relação sentimental ou sexual com outro contratado da firma.

E sempre é possível encontrar argumentos para defender regras estapafúrdias: segurança dos assalariados, produtividade da empresa, linhas de planejamento para melhorar bem-estar das equipes. Mas o que pesa mesmo é a sangria emocional e um jogo baixo para deixar claro quem está no comando.

Isso é o começo do calvário kafkiano para Emma.

Débora Falabella e Yara de Novaes em Contrações. Foto: Guto Muniz / Divulgação

Processo de “fritura” atinge corpo de Emma. Foto: Guto Muniz / Divulgação

O autoritarismo da chefe, com facetas de manipulação e vilania veladas, é revelado nos sucessivos encontros. Perseguida e humilhada Emma, para manter seu emprego, conta a respeito de seu envolvimento amoroso com um dos companheiros de vendas. Dizer não a esse tipo de opressão é possível, mas na prática é bem difícil.

Contrações critica o modelo de trabalho que massacra o humano em prol dos interesses empresariais. A experiência angustiante vai diminuindo a autoestima da personagem de Débora, que definha e sucumbe diante da maldade de sua chefe. É o pior dos mundos. Assédio mascarado que adoece o assediado diante do seu algoz.

O espetáculo estreou em outubro de 2013 e naquele ano rendeu às interpretes o prêmio APCA São Paulo de melhor atriz, dividido entre as duas.

O Grupo3 de Teatro foi criado em 2005 por Yara de Novaes, Débora Falabella e Gabriel Fontes Paiva. No repertório do coletivo estão A Serpente,(2005, texto de Nelson Rodrigues, direção Yara de Novaes, com Débora Falabella, Cynthia Falabella, Alexandre Cioletti,  Augusto Madeira como Décio, Cyda Morenyx, Mario Hermeto, Sarito Rodrigues) ;O Continente Negro (de 2007, com texto do chileno Marco Antonio de La Parra, dirigido por Aderbal Freire Filho, com Débora Falabella, Yara de Novaes e Ângelo Antônio no elenco) e Amor e Outros Estranhos Rumores, (2010,texto de Murilo Rubião, direção de Yara de Novaes, com Débora Falabella, Maurício de Barros, Priscila Jorge e Rodolfo Vaz).

Contrações
Quando: De 28 a 30 de julho e de 4 a 6 de agosto; quintas e sextas, às 20h, e aos sábados, às 18h e 20h.
Onde: Teatro da CAIXA Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10
Informações: (81) 3425-1900/1906

Ficha técnica
Texto: Mike Bartlett
Direção: Grace Passô
Atuação: Débora Falabella e Yara de Novaes
Duração: 80 minutos
Recomendação: 14 anos

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Amar é pathos de ampla dimensão

Amar é Crime Foto:- Geraldo Monteiro / Divulgação

Adaptação de quatro contos de Marcelino Freire marca estreia do AMARÉ. Fotos:- Geraldo Monteiro

Os personagens do espetáculo Amar é Crime não “andam sobre cadáveres sem nada sentir”, como os criminosos de Kurt Schneider, psiquiatra alemão. As figuras saídas das narrativas de Marcelino Freire e levadas ao palco por Isabelle Barros ardem e reagem às flechas envenenadas enviadas pelo mundo cruel ou por um objeto de amor (mesmo que imaginário). Desprezados ou feridos, eles chegam a um limite humano tolerável para dar o troco. São gritos desesperados de afirmação.

A encenação de Isabelle é despojada. Três atores, bancos, lanternas, e a doação desses intérpretes que materializam as palavras de Freire em expressividade e movimentos, em quatro cenas da peça. São personagens oprimidos. O amor (esse do desejo contemporâneo que é sinônimo de felicidade) aparece como objeto de luxo para os que vivem num universo que lhes nega direitos básicos de alimentação, saúde, transporte, educação. É uma bomba prestes a explodir.

Quatro contos do livro homônimo de Marcelino Freire, lançado pelo autor em 2011, são adaptados para o palco pelo coletivo AMARÉ Grupo de Teatro, criado em 2014 por ex-alunos do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc Santo Amaro. Além de Isabelle Barros, a trupe é formada por Natali Assunção e Marcos Medeiros. A atriz Micheli Arantes participa como convidada neste trabalho.

O elenco atua como atores-narradores das cenas escolhidas pelo grupo: Acompanhante, Crime, Mariângela e Vestido longo.

São vultos invisíveis que sob o domínio de pathos ganham um protagonismo temporário. As situações dessa notoriedade são cercadas por elementos cruéis.

Uma saudade, uma fantasia que ficaram na memória afetiva do velho caquético escorrem como opressão em direção à cuidadora, que recebe as ordens humilhantes de uma parente do idoso no quadro Acompanhante. A dignidade cingida da funcionária já feriu o ancião na sua incapacidade de cuidar de si mesmo e precisar de uma estranha para resolver questões íntimas de limpeza e alimentação. Ele tem espasmos em que seca de vontade e a desconhecida escuta as determinações, da outra da família, que beiram o assédio.

“Hoje minha namorada vai me dar valor”, anuncia o protagonista do episódio Crime. Os atores se revezam no papel para criar nunces do desespero do personagem na voz e no corpo, na projeção de revolta contra o mundo. Ao ser golpeado na sua autoestima, um jovem (negro, pobre, periférico) planeja sequestrar e punir a namorada por uma suposta traição. E detalha os passos do ato transitando entre sua dor particular e as contingências da indiferença social para quem vive na base, com a negação do básico. Ele quer ferir o objeto do seu amor e se transformar numa celebridade instantânea sem importância; daquelas que alimentam os programas policialescos, as chamadas sensacionalistas na televisão, a curiosidade mórbida da sociedade. As consequências são imprevisíveis.

“Quem disse que uma gorda não pode voar?”, pergunta a garota obesa em Mariângela. Ela sofre humilhações impostas pela própria mãe, criatura convencionada pelo senso comum como fonte de amor irrestrito. A menina é sugada por um buraco e fica presa no meio da rua, entalada no solo. Os atores narram sua história antes do ocorrido ressaltando o comportamento desmedido como necessidade de sobreviver e se vingar de alguém que negou e interditou o amor.

Uma vida inteira de privação parece traçar o destino da mulher de Vestido Longo, que cresceu sem ter o que comer, muito menos o que vestir. Nos grotões da fome foi apartada da mãe pela morte e encurralada pelo desejo masculino em troca de um tostão ou de um cascudo. Encontra no consumo da peça de roupa cara a compensação para um passado de abusos e carências. É ela quem reflete: “A miséria no Brasil, puta que pariu, é pornográfica”.

Primeiro trabalho profissional da e estrea de Isabelle Barros como diretora

Espetáculo de estreia profissional de Isabelle Barros como diretora

Isabelle equaliza para baixo a escala da fúria desses seres. As palavras já são sangrentas, cortantes. As frases queimam, mas a encenadora não apela para o transe. As situações-limite expõem gestos desenfreados; explosões no próprio texto. E a encenadora não tenta se sobrepor ao verbo. Ao não exacerbar o gesto, Barros chama esses dramas profundos para a vizinhança, para a proximidade.

Esses quadros arranham a vida em sua perspectiva mais profunda, ou seja, pathetica. No limite, vulneráveis, sem segurança alguma, essas criaturas parecem dominados pelo pathos grego submetido à discursividade. Mas também afasta-se desse conceito originário de pathos ao se enredar na ideia de passividade, afecção, sofrimento. Mas é também louvável que a encenação não tenha se quedado totalmente ao sentido principal de pathos na atualidade como doença, mal-estar ou anormalidade.

A paixão amorosa em seu sentido mais corriqueiro, sensual se manifesta mais no conto Crime, ao mostrar como a exacerbação pode conduzir a uma fatalidade.

Mas o pathos de Amar é Crime se apresenta em sentido mais amplo, como essência das leis que movem o humano. A intensidade da paixão nos quadros do espetáculo carrega potências que regem a vida do espírito, com suas diferentes durações.

Os atores são jovens e expressam suas possibilidades de criar a partir da bagagem vivenciada. Eles têm um frescor dos que ainda não conhecem o fundo do poço. Mas têm brilho que tende a aumentar. Há uma sutileza na direção, que remete para outro lugar da violência.

Saúdo com alegria a chegada de Isabelle Barros, essa jovem diretora de teatro e o AMARÉ Grupo de Teatro, com seus novatos que transbordam de afeto pelo palco. Isabelle vem com um olhar sensível sobre as dores do mundo, que não se perde em estranhamentos e exageros de só aproximar o pathos da doença.  De alguém que trilha a complexidade a partir das frases e intenções roubadas do cotidiano de Marcelino Freire.

SERVIÇO
Amar é Crime
Adaptação teatral do livro homônimo de Marcelino Freire.
Quando: 23, 24, 30 e 31 de julho, às 19h (Ingressos a partir das 18h)
Onde: Espaço Cênicas – Rua Marquês de Olinda, 199. Bairro do Recife (Entrada pela Rua Vigário Tenório).
Quanto: R$ 20 (inteira)/ R$ 10 (meia)
Informações: 81 9 7914 4306
Classificação indicativa: 14 anos
Capacidade do espaço
: 60 lugares
Informações: 97914-4306
Promoçãohttps://www.eventick.com.br/amarecrime

FICHA TÉCNICA
Encenação: Isabelle Barros
Texto: Marcelino Freire com adaptação de Natali Assunção
Elenco: Marcos Medeiros, Micheli Arantes e Natali Assunção
Iluminação: Marcos Medeiros
Figurino e cenografia: Micheli Arantes
Direção musical: Kleber Santana e Isabelle Barros
Produção: AMARÉ Grupo de Teatro

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Os Três Porquinhos vão ao Barreto

Os Três Porquinhos. Foto: Pedro Portugal

Os Três Porquinhos. Foto: Pedro Portugal

A produção de Os Três Porquinhos, de Pedro Portugal e Paulo de Castro, é uma das mais longevas e resistentes do Recife. Ficou anos em cartaz no Teatro do Horto de Dois Irmãos. A estreia oficial da peça ocorreu há 24 anos, em 16 de maio de 1992, no antigo Teatro José Carlos Cavalcanti Borges, da Fundaj (agora só cinema da Fundação). A encenação já viajou para outros estados como Sergipe, Alagoas, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí e Pará; além de quatro cidades portuguesas: Fafe, Valongo, Póvoa do Lanhoso e Ilha dos Açores. E agora faz mais uma curta temporada no Teatro Barreto Junior.

Os três porquinhos é um musical infantil que mostra as aventuras dos irmãos Prático, Cícero e Heitor que devem enfrentar um terrível e faminto Lobo Mau, mestre em disfarces. Versão de Joseph Jacobs da clássica fábula dos irmãos Grimm é adaptada por Reginaldo Silva e tem direção de Cleusson Vieira. Estão no elenco Com Cleusson Vieira, Mário Miranda e Sóstenes Vidal.

Com a presença desse predador, a floresta se torna um local perigoso. Os suínos buscam se proteger. Prático, o mais sensato do trio, constrói sua casa com tijolos e cimento. Já Cícero e Heitor, abraçados à preguiça, erguem suas casas de palha e madeira, respectivamente.

A encenação tem aquela moral da história, condenando a preguiça inimiga da segurança e defendendo a ideia de se pensar no futuro. Não deixa de ser uma simplificação. Mas mesmo assim, a montagem já sofreu, em 2013, com a anulação da temporada no Teatro Eva Herz, palco da Livraria Cultura na unidade do Shopping RioMar, no Pina. O quiproquó deveu-se às supostas reclamações do público quanto o conteúdo do espetáculo.

Em uma das cenas da peça, o Lobo, com trajes de professor, pede para a criança apagar a lousa com a mão. Um Porquinho questiona: “Cadê o apagador? ” O Lobo retruca: “É escola da prefeitura. Vai melhorar”. Outro momento é sobre a derrubada da casa, quando um deles diz que vai virar mais “um sem teto”. O outro responde: “vai para o movimento MPST, o Movimento dos Porquinhos Sem Teto, o governo vai gostar muito”. E outras piadas de improviso, que se referem à atual realidade. Que são as melhores tiradas.

SERVIÇO
Os Três Porquinhos
Quando: Sábado e domingo, às 16h30
Onde: Teatro Barreto Junior (Pina)

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Humor camaleônico de um Asdrúbal  

Luiz Fernando Guimarães se multiplica em 8 personagens em O impecável. Foto: Guga Melgar/ Divulgação

Luiz Fernando se multiplica em 8 personagens em O impecável. Foto: Guga Melgar/ Divulgação

Luiz Fernando Guimarães caiu no teatro por acaso; se é que isso existe. Em O Inspetor Geral, clássico de Nikolai Gogol, na montagem de 1974 do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, foi substituir um amigo na peça e se encontrou. O Asdrúbal apostava suas fichas no humor irreverente, debochado, com um sotaque fascinante e irritantemente carioca. Parecia uma banda de rock e entrava para o cenário brasileiro para contagiar de alegria, de vitalidade as plateias brasileiras. Nos decantados anos 1970, o teatro ideológico era regra. Essa tropa fazia parte da exceção. O bando queria se divertir e fazer um teatro mais leve e com outro vigor.

A força do grupo estava na criatividade de seus integrantes. Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita, Patrícia Travassos e Perfeito Fortuna, dirigidos por Hamilton Vaz Pereira esbanjavam talento. As criações do grupo eram coletivas, baseadas em improvisações e na experiência de seus integrantes.

Asdrúbal trouxe o trombone, era um código secreto que Regina Casé e seu pai usavam para avisar da chegada de um chato, ou quando a festa estava derrubada. Deu nome ao grupo que montou O inspetor geral (1974), Ubu Rei 1(975), Trate-me leão (1977), Aquela coisa toda (1980) e A farra da Terra (1983).

Depois dessa turma, o humor no teatro e na televisão brasileira nunca mais foi o mesmo. Eles subverteram as formas de fazer comédia com programas como TV Pirata, Os Normais,  e Casseta & Planeta, por exemplo.

Personagens se encontram no cabeleireiro.

Personagens se encontram no cabeleireiro

O Impecável é o espetáculo que Luiz Fernando Guimarães traz ao Recife neste 23 de julho, com sessão no Teatro Guararapes, às 21h. O texto é inspirado nos pecados capitais. Num salão de beleza, o intérprete é tomado por figuras com muitos vícios, poucas virtudes e histórias engraçadas para contar. O faxineiro Seu Francisco é um homem trabalhador e evangélico fervoroso. O atendente Ednardo é um preguiçoso e vive dando o truque para burlar o horário do serviço.

A fauna é da pesada. Chanderley, a que cuida das unhas dos clientes, garante a sobrevivência nos “serviços extras” que realiza nas madrugadas em Copacabana. Guido, o cabeleireiro, alardeia sua masculinidade e a conquista dos inúmeros diplomas. Serginho se gaba de ser um hairstylist de mão cheia.

É essa turma quem recebe clientes como Rodolfo, o solteirão que acompanha a mãe ao salão ou o Dr. Ivan, um psicólogo simpático que quer recuperar a beleza perdida ao nascer. A dona do local, Eleonora, é ex-miss, que não valoriza o empreendimento erguido com a grana herdada do ex-marido.

Luiz Fernando Guimarães estava com desejo de viajar pelo Brasil com um espetáculo e os autores Charles Möeller e Claudio Botelho resgataram personagens criados para peças diferentes e juntaram em um texto único. Os autores, que tem uma carreira consagrada nos musicais como Cristal Bacharach, Um Dia de Sol Em Shangrilá e Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, compuseram esse monólogo ‘multipersonagem’ sem música.

A ação de O Impecável, se passa numa tarde de sábado na Zona Sul do Rio de Janeiro, no Impecável Beauty. No palco, uma bancada e uma cadeira com secador de cabelo e a conhecida versatilidade do ator. A direção é de Marcus Alvisi, que já trabalhou com Guimarães no espetáculo Cinco Vezes Comédia (1988) e no programa Vida ao Vivo Show (1999).

Com poucos objetos de cena, a potência da intepretação de Luiz Fernando é acentuada, fazendo brilhar seu estilo de humor cínico, ácido e irônico. Até mesmo as trocas de roupas são dispensadas.

SERVIÇO
Espetáculo O Impecável, com Luiz Fernando Guimarães
Quando: 23 de Julho às 21h
Onde: Teatro Guararapes
Quanto: R$80, inteira e R$40, meia
Ponto de venda: Loja Vagamundo do Shopping RioMar, bilheteria do teatro e no site www.compreingressos.com
Duração: 60min
Classificação: 14 anos

Ficha Técnica:
Texto – Charles Möeller e Claudio Botelho
Direção – Marcus Alvisi
Cenário – Natália Lana
Figurino – Maria Diaz
Iluminação – Carlos Lafert
Trilha – Biltre
Designer Gráfico – Milton Menezes
Direção de Movimento – Sueli Guerra / Alessandro Brandão
Preparação Vocal – Rose Gonçalves
Assistente de Direção – Júlio Miranda
Assistente Luiz Fernando – Katia Jorgensen
Assistente de Figurino – Viviane Castelleoni
Chefe de Palco – André Salles
Operador de Som – Léo Magalhães
Operador de Luz – Carlos Lafert
Camareira – Maninha
Produtora Assistente –  Paula Valente Fraga
Produção Executiva e Administração – Cristina Leite
Direção de Produção – Alessandra Reis
Realização –  Brainstorming Entretenimento, Alessandra Reis 27 Produções Artísticas e Derbis Empreendimentos

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