Arquivo mensais:fevereiro 2011

Hoje é dia de prêmio

O Teatro Armazém era assim em outubro de 2009 Foto: Rubem Moraes

Hoje é dia de festa para quem participou da maratona do Janeiro de Grandes Espetáculos, principalmente para os artistas que estão indicados ao Prêmio APACEPE de Teatro e Dança. A festa começa às 20h, Teatro Armazém. A noite que também marca a despedida do Armazém como teatro alternativo comandado por Paula de Renor, terá como atrações a Orquestra Contemporânea de Olinda, DJ’s Roger e Tiago de Renor e participação de DJ Dolores. Os ingressos para a festa custam R$ 20 e R$ 10.

Das montagens adultas que estão concorrendo, no nossa enquete no blog Satisfeita Yolanda?, por enquanto O Amor de Clotilde por um Certo Leandro Dantas está em primeiro lugar; Senhora dos Afogados em segundo; nenhuma dessas opções em terceiro; Cordel do Amor Sem Fim em quarto e Um Rito de Mães, Rosas e Sangue, em quinto.

Os encenadores mais experientes e renomados da cidade ficaram de fora dessa lista da comissão julgadora, a exemplo de por Antonio Cadengue, que dirigiu Lágrimas de um Guarda-Chuva, e João Denys, que dirigiu Os Fuzis da Senhora Carrar.

Vou falar um pouco de alguns dos indicados.

Espetáculo O Fio Mágico..................Foto: Carla Denise

Antes disso revelo que o melhor espetáculo do Janeiro de Grandes Espetáculos, para mim, é O Fio Mágico, do Mão Molenga Teatro de Bonecos. É delicado, divertido, engraçado, sério, reflexivo, tem um ótimo texto, com ótimas atuações. Assisti duas vezes (pretendo ver mais) e percebi as crianças tão atentas e encantadas quanto eu.

O Fio Mágico está disputando em várias categorias. De Melhor Espetáculo concorrendo com Reprilhadas e Entralhofas- Um Concerto Para Acabar Com a Tristeza, da Cia. 2 Em Cena de Teatro, Circo e Dança e No Meio da Noite Escura Tem Um Pé de Maravilha, produção de Andrêzza Alves, Fábio Caio e Jorge de Paula. O Fio Mágico também foi indicado para Melhor Diretor (Marcondes Lima ); Melhor Ator ( Marcondes Lima e Fábio Caio); Melhor Atriz Coadjuvante (Fátima Caio); Trilha Sonora (Henrique Macedo); Melhor Iluminação (Sávio Uchôa); Melhor Cenário (Marcondes Lima); Melhor Figurino (Marcondes Lima).

Dos indicados para espetáculos adultos, Senhora dos Afogados (Cênicas Companhia de Repertório), é uma produção bem cuidada, com direção arrojada de Érico José, mas que não se realiza por completo devido às limitações do elenco. Um exemplo disso é a atuação de Antônio Rodrigues como Misael, chefe da família Drummond – uma tradição “de 300 anos” de homens de respeito e mulheres supostamente castas. Ele não carrega o peso, a voz, a experiência desse assassino com pose de guardião dos bons costumes. O papel não é para ele, pelo menos não é ainda.

Espetáculo Senhora dos Afogados ..........Foto: Ivana Moura

Por outro lado, o desempenho da jovem atriz Bruna Castiel, como Moema, é surpreendente, e não deixa de ser uma revelação.

Um Rito de Mães, Rosas e Sangue, produzido por Claudio Lira e Andrêzza Alves, é uma investida no universo de Federico Garcia Lorca, especificamente sobre as suas três tragédias rurais: Bodas de Sangue, Yerma e A Casa de Bernarda Alba. O espetáculo dirigido por Claudio Lira tem lindas imagens e algumas sequências emocionantes.

O espetáculo O Amor de Clotilde Por Um Certo Leandro Dantas, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, é inspirado no folhetim de Carneiro Vilela, A emparedada da Rua Nova, uma história que acalenta o imaginário pernambucano desde o século XIX, sobre o sufocamento do feminino. Diz a lenda que a moça foi emparedada viva pelo próprio pai, depois que ele descobriu que a filha estava grávida.

Esse mote fica em segundo plano, quando a Trupe Ensaia Aqui e Acolá elege ressaltar a história de amor. O melodrama tem cenas bem exageradas em todos os aspectos – cenários, figurinos, maquiagem, interpretação. Carrega nos ingredientes de paixão, falsa amizade, cobiça, traição, reviravoltas. Uma trilha sonora brega e coreografias de clássicos como Unchained Melody (do filme Ghost) e suas dublagens dessincronizadas colaboram para a cumplicidade do público.

Talvez o aspecto de ser o espelho crítico do pop e da celebridade contribua para essa empatia desmedida. Ou a aparente despretensão da montagem. O elenco afinado (Andrea Rosa, Andréa Veruska, Iara Campos, Jorge de Paula (que também é o diretor), Tatto Medinni e Marcelo Oliveira) e a direção segura de Jorge de Paula dá aquele tom de alegria ao espetáculo.

Espetáculo O Amor de Clotilde por um Certo Leandro Dantas....................Foto: Val Lima

Cordel do Amor Sem Fim, produzido por O Poste Soluções Luminosas, traduz um resultado de pesquisa de intepretação bem caprichada e harmonia dos elementos de cena. Também trata do amor e seus descaminhos. Direção criativa de Samuel Santos.

Henrique Celibi concorre a melhor ator (por Madleia + ou – Doida). Ele é um intérprete poderoso e faz de sua Medéia uma louca que passeia com o público pelas canções que tratam do amor desesperado da Música Popular Brasileira. O talento de Celibi está no seu gestual, no seu timing, e no domínio que ele tem da cena. Os outros concorrentes são Domingos Soares (por O Santo e a Porca), Thomás Aquino (por Cordel do Amor Sem Fim), Jorge de Paula ( por O Amor de Clotilde por Um Certo Leandro Dantas), José Ramos (por Os Fuzis da Senhora Carrar).

Todas as indicadas a Melhor Atriz são figuras de grande vitalidade. São elas Maria Alves (por Solteira, Casada, Viúva e Divorciada), Francine Monteiro (por O Santo e a Porca), Naná Sodré (por Cordel do Amor Sem Fim), Sandra Possani (por O Acidente), Stella Maris Saldanha (por Os Fuzis da Senhora Carrar). Mas a atuação de Stella Maris Saldanha como Senhora Carrar é luminosa. Montagem considerada datada num debate do festival (opinião da qual discordo completamente), por ter os rostos pintados de branco – e talvez não por um desses produtos brilhosos das estrelas do mundo pop- traz de volta uma discussão interessante, por que devemos lutar neste século 21.
Vamos à festa.

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Separação amigável é para rir

Foto: Val Lima

Renata Phaelante é bicho de teatro. Desde pequena acompanha os pais, Renato e Vanda Phaelante, nas montagens do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Em 1982, aos nove anos, debutou no palco com a peça A Capital Federal. Ontem (quinta-feira, dia 3 de fevereiro), ela fez uma estreia, agora na dramaturgia. Ela assina e protagoniza o espetáculo Separação amigável, que prossegue em cartaz às quintas e sextas-feiras, às 20h, até o fim de março, no Teatro Valdemar de Oliveira, na Boa Vista, no Recife.

É uma comédia de costumes, com fôlego para conquistar plateias pouco afeitas a elucubrações e dispostas a rir com um chiste, uma gagueira, um trejeito que remeta para alguma celebridade do presente ou do passado, ou mesmo um diálogo inteligente. Separação amigável tem um pouco de tudo isso.

Milena (interpretada pela própria Renata) e o psicanalista Mário (Pascoal Filizola) são recém-separados, depois de uma união de 20 anos. Mas ele não se conforma com a ruptura no casamento e tenta a todo custo reatar. Nesse primeiro momento da peça, os diálogos são inteligentes, ágeis, engraçados, que expõem a árdua tarefa de conviver com alguém intimamente por tanto tempo.

O motivo do conflito para a separação – o marido foi flagrado no elevador com a jovem vizinha Malu (Sandra Rino) – é frágil e a própria dramaturgia encontra dificuldade de engatar os motivos e manter o embate com vibração.

A vizinha aparece no apartamento do casal para contar uma ideia estapafúrdia que teve para se livrar do próprio marido Esmeraldo (Valdir Oliveira): de que estava tendo um caso com Mário. E a vida do psicanalista só faz piorar.

Dramaturgicamente percebemos essas oscilações na peça que na sua estrutura interna se perde em intenções, nas mudanças dos quadros. No fluxo da comédia de costumes para a farsa. Há também barrigas, que precisam ser resolvidas.

A direção de Kleber Lourenço apela para alguns truques que funcionam como válvulas de humor em Separação amigável. Como um efeito de luz ou som para realçar uma característica de alguma personagem.

Os atores da peça brincam com tipos bem fáceis de serem reconhecidos. Milena criada por Renata Phaelante é uma mulher dominadora, falante, cheia de conceitos, expansiva, de gestos largos e roupas extravagantes. Mário concebido por Pascoal Filizola é um psicanalista bem sucedido, mas na vida privada é um homem dominado pela mulher, gago, medroso, de gestos contidos. A junção desses dois dá uma receita bem engraçada.

Foto: Val Lima

O casal vizinho, Malu (Sandra Rino) é uma ninfomaníaca, que quando bebe baixa a Pomba-gira. Essa composição dramatúrgica é cheia de fissuras e a atriz buscou o tom mais histérico para provocar o riso. Consegue. Esmeraldo (Valdir Oliveira), o marido de Malu, parece um matador profissional, e aparece com todo aquele estereótipo de marido ciumento que veio tomar satisfação. O texto ainda diz que ele tem distúrbios mentais. Valdir Oliveira tem maneirismo entre o valentão e o gozador (no caso do coitado do marido da Milena, que está com suposto problema sexual), que dá graça ao personagem.

São situações patéticas, de personagens caricaturados que garantem o riso. O registro em alta, quase beirando o histerismo provocaram muitas gargalhadas na estreia.

Alguns detalhes são interessantes. Como por exemplo o número do apartamento do casal é 171. Há outros que o público pode descobrir.

A junção de profissionais de tribos tão diferentes cria um caldo criativo interessante. A direção do ator, bailarino e diretor Kleber Lourenço (com assistência de direção de Tato Medini) busca aproximar de uma plateia que frequenta o Teatro Valdemar de Oliveira, interessada no jogo da diversão. Os cenários são propositadamente cafonas e foram idealizados por Marcondes Lima. A trilha sonora é de Henrique Macêdo; a iluminação de Jathyles Miranda, que se harmonizam com a proposta.

Serviço:
Separação amigável
Quando: quinta e sextas-feiras, às 20h, até o fim de março
Onde: Teatro Valdemar de Oliveira (Praça Oswaldo Cruz, 412, Boa Vista)
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Informações: (81) 9208-1000 / (81) 9619-5396

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Inscrições para o Festival de teatro mais antigo do país

“Respeitável Público” é o tema do 53º Festival Santista de Teatro, o FESTA, que está com inscrições abertas até 27 de fevereiro para grupos de todo o país. Os cadastros para a seleção podem ser feitos pela internet, www.festivalsantista.com.br, para peças nas categorias adulto, infantil e de rua. Apenas o vídeo deve ser enviado pelos Correios. O festival será realizado entre os dias 15 e 23 de abril, em Santos, no litoral de São Paulo. Mostras paralelas, exposições, mesas-redondas e oficinas gratuitas também farão parte da programação, entre outras atividades.

O FESTA foi criado em 1958, encabeçada pela musa do Modernismo, Patrícia Galvão, a Pagu, com apoio do teatrólogo Paschoal Carlos Magno e do dramaturgo Plínio Marcos. Portanto, é o festival de teatro em atividade mais antigo do país. Desde 2009, o FESTA deixou de ter caráter amador para incluir produções profissionais em sua programação. Uma diferença em relação a outros festivais é que os próprios grupos devem propor o cachê das apresentações, segundo o coordenador geral do FESTA 53, Leandro Taveira. Quem se candidata?

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A Peleja da Mãe é uma investida corajosa

Fotos: Ivana Moura

A Peleja da Mãe nas Terras do Senhor do Açúcar, encenação de Carlos Carvalho que vincula brincantes da cultura popular e atores me fez pensar sobre a amplitude do contemporâneo. Há muito que falar sobre a montagem. Mas antes de qualquer outra coisa, é preciso reforçar que é uma investida corajosa de Carvalho, e espelha um pouco das inquietações do criador. Ele aposta num teatro político (não partidário, é bom ressaltar) e num teatro popular. Nesse último ponto, ele é herdeiro das ideias do dramaturgo Hermilo Borba Filho, de quem Carlos já montou alguns textos.

Desta vez, Carvalho foi buscar mais do que inspiração na Zona da Mata pernambucana. Requisitou de lá os próprios intérpretes-criadores. Entre eles, Mestre Grimário, Grimário Filho e Dielson José. Se por um lado essa iniciativa traz em si a possibilidade de enriquecimento em todos os aspectos (pessoal, estético, de inovação, ético), também produz dificuldades para harmonizar o universo dos folgazões com os dos atores de várias formações.

O espetáculo estreou no Recife no dia 28 de janeiro, sexta-feira, no Teatro Apolo, com casa lotada, em única récita. A peça já havia sido exibida na Zona da Mata.

No palco, a montagem tem força, beleza. É poderosa, às vezes alegre às vezes triste, em alguns momentos inquietante. Mas também apresenta problemas. Da dramaturgia à interpretação, do tempo dilatado a escolhas da direção.

A Peleja da Mãe nas Terras do Senhor do Açúcar é inspirada no texto A mãe, do russo Máximo Gorki.

Lá, a obra literária está contextualizada na Rússia do início do século XX, inspirada em manifestações reais do primeiro de maio de 1902. O rebatimento da revolução de um povo no seio de uma família.

Cá, o território é a Zona da Mata canavieira da década de 1970. A vida no campo. O homem aguenta a violência do meio em que vive. Trabalha na terra que não lhe pertence, casa, tem filhos, enterra os seus, bebe, brinca, é espancado, espanca e parte dessa para outra dimensão.

Em Gorki, quando o serralheiro Mikhail Vlassov morre, restam a mãe viúva e o filho. Uma relação quase desconhecida: falavam pouco e quase não se viam. Em Peleja da Mãe, depois que o pai Miguel (Mestre Grimário) morre sem atendimento médico, o filho (Paulo Henrique, do Maracatu Piaba de Ouro) se aproxima ainda mais do movimento sindicalista, no momento do país em que vigorava a ditatura militar com todos os seus tentáculos de repressão e violência.

Os camponeses se exprimiam pouco, sentiam e entendiam o que se passava, mas tinham medo. A pressão, a injustiça, um pensamento diferente que chega dos livros vermelhos e a vontade de ser livre. A Mãe teme pelo filho, mas depois até ela acha inevitável ter um posicionamento mais crítico perante a vida.

Mas o encenador também traça intertextualidades dramatúrgicas com Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Ao parodiar o poema cabralino, Carvalho empobrece o texto, que perde sua poética no deslocamento.

O espetáculo começa com festa. O elenco dança, Catirina faz suas acrobacias, os mestres se desafiam. Uma projeção sobrevoa a Zona da Mata pernambucana até chegar ao canavial. Há um desfile de movimentos coreográficos pujantes inspirados no cavalo-marinho. As imagens são poderosas, o som contagiante.

Depois da festa, da dança, da embriaguez, a volta para casa, para a realidade, que alguns se recusam a aceitar. A Mãe se entretém com seu radinho. O mestre pensa no seu maracatu.

Mas da passagem do universo lúdico das brincadeiras populares para o drama dos canavieiros algo se solta, os elementos se desencaixam. Catirina com sua presença constante tenta fazer a ligação. Arrumando o cenário de pequenas casinhas (marca do diretor).

O discurso mais político do texto beira o panfletário. O texto no geral precisa ser revisto para não virar um arremedo de poema.

A atuação do elenco é bastante irregular no seu conjunto. Alguns atores são bem imaturos no trabalho, o que fica gritante nas cenas com diálogos. O ponto alto da interpretação fica por conta do ator Flávio Renovatto, que se desdobra nos papeis de capataz e um dos canavieiros.

A grande atriz Auricéia Fraga oscila em sua atuação. Mas ela traz uma força que alguns ensaios a mais deve resolver. E até mesmo suas precariedades, como na dança, ela pode reverter a favor dela própria.

O tempo dilatado também precisa de equalização, para não parecer que é um apenas um buraco.
Por outro lado, a decisão de juntar esses dois universos pode gerar bons frutos. Vale lembrar que toda a renovação musical pernambucana passou pela cultura popular e pelo som dos tambores do maracatu.

O espetáculo tem méritos. É ousado, busca uma linguagem própria sem se preocupar em imitar ninguém ou seguir modismos, estabelece suas bases, e conquista seus participantes. Precisa de ajustes internos. Mas, como avisou o diretor Carlos Carvalho, o espetáculo vai mudar e muito. Torcemos que para melhor.

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Existe separação amigável?

Kleber Lourenço é o diretor da peça Separação amigável, que estreia nesta quinta-feira, às 20h, no Teatro Valdemar de Oliveira. É uma comédia urbana, o primeiro texto para teatro da atriz e produtora Renata Phaelante, que está em cena interpretando a ‘afetada’ Milena. Os outros atores são Sandra Rino (Malu), Pascoal Filizola (Mário) e Valdir Oliveira (Esmeraldo).

SERVIÇO

Separação amigável
Quando: quinta e sextas-feiras, às 20h, até o fim de março
Onde: Teatro Valdemar de Oliveira (Praça Oswaldo Cruz, 412, Boa Vista)
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Informações: (81) 9208-1000 / (81) 9619-5396

Foto: Val Lima

Ficha técnica
Texto: Renata Phaelante
Direção: Kleber Lourenço
Assistência de direção: Tato Medini
Elenco: Renata Phaelante, Pascoal Filizola, Sandra Rino e Valdir Oliveira
Cenário e figurino: Marcondes Lima
Trilha sonora: Henrique Macêdo
Iluminação: Jathyles Miranda
Produção: Karla Martins e Renata Phaelante

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