Arquivo mensais:fevereiro 2011

Paixão por Rilke e Salomé

Arder ou durar?

Lou Andreas Salomé, aos 36 anos, escritora consagrada, casada, não teve dúvidas quando conheceu o jovem poeta Rainer Maria Rilker, de 22 anos. Quebrou regras e desafiou o conservadorismo da Europa do século 19. Viveu intensamente sua paixão.

Ela estava viva.

O Fogo da vida, peça teatral em um ato, escrita por Sônia Bierbard e Gustavo Falcão, foi encenada no Recife em 2008, com Sônia no papel de Lou e André Riccari como intérprete de Rilke, sob a direção do encenador português João Mota.

Neste sábado (12/02), os autores do texto do espetáculo fizeram o lançamento da obra, na Livraria Cultura, com leitura de trecho da peça, exibição de vídeo e encontro com amigos. O Fogo da Vida foi inspirado no livro Humana, Demasiado Humana, da escritora Luzilá Gonçalves Ferreira, que assina o prefácio.

Fotos: Ivana Moura

Postado com as tags: , , , ,

Banda de palhaças

Foto: Luciana Dantas

Mulheres palhaças tocam nesta sexta-feira no Recife. Será no Espaço Muda, no bairro de Santo Amaro, a partir das 21h. Subversão e humor são ingredientes da banda As Levianas, formada pelas palhaças Aurhelia (Nara Menezes), Baju (Juliana Almeida), Mary Enn (Enne Marx) e Tan Tan (Tamara Floriano). O pocket show mescla em seu repertório desde Diana a latina Celia Cruz. A direção artística é de Marcondes Lima; a assessoria artística de Jeannick Dupont; e colaboração de Rosemary Oliveira e Adriana Milet. A realização é da Cia Animé.

SERVIÇO:
Show d’ As Levianas
Quando: Sextas 11 e 18 e sábados 12 e 19 de fevereiro, às 21h
Onde: Espaço MUDA Galeria.Artes cênicas.Moda.Bistrô (Rua do Lima, 280, Santo Amaro – Recife, PE. Fone: (81) 3032 1347)
Quanto: R$ 10

Postado com as tags: , , , , , , , ,

Prêmio de fomento ainda sem pagamento

Antes pouco do que nada. Mesmo que os artistas recifenses sempre tenham brigado por um aumento no valor do Prêmio de Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife, era assim que a categoria encarava a verba de R$ 100 mil concedida anualmente pelo órgão a cinco propostas de montagem de espetáculo. O valor é dividido por cinco projetos, ou seja, R$ 20 mil para cada projeto. O problema é que nem o compromisso do ‘pouco’, a PCR tem honrado.

O resultado do prêmio foi divulgado no mês de março do ano passado e, até agora, nenhum dos contemplados recebeu o seu prêmio. O ator Tatto Medinni, por exemplo, é um dos que teve o projeto, intitulado Jr., aprovado. ´Nós já tínhamos até data para estrear. Seria no dia 15 de outubro. Tinha agendado pauta no Espaço Muda, mas tive que desmarcar`, explica. O espetáculo seria uma parceria entre Medinni e Jorge de Paula. Os dois estariam em cena e assinariam a direção. O texto foi escrito por Marcelino Freire para Tatto Medinni.´O projeto trata sobre o conceito de fronteira. Nas funções mais técnicas, como cenário, figurino, luz, iríamos trabalhar com pessoas que não são do teatro, mas sem dinheiro não deu para prosseguir`, lamenta.

Ana Elizabeth Japiá ainda está pagando o empréstimo que fez para saldar dívidas adquiridas durante o processo de montagem e temporada do espetáculo infantil Minha cidade. ´Nós estreamos, mas fica o constrangimento de adiar pagamentos. É muita burocracia, desorganização e desinformação. Depois eles cobram qualidade, como foi na programação dos 160 anos do Santa Isabel, que não agregou nenhuma montagem daqui`. A peça deveria entrar em cartaz novamente, mas a incerteza com relação à liberação do fomento adiou os planos. ´É um desrespeito, desde o próprio secretário de Cultura, Renato L, que é desconectado do fazer teatral`, critica.

A peça Um rito de mães, rosas e sangue, que tem dez pessoas no elenco, também já estreou. ´Acabei pagando muitas coisas do meu próprio bolso, principalmente da parte técnica`, explica o diretor Claudio Lira. ´Acho lamentável. Cultura não é só carnaval, maracatu. Teatro tem que ser contemplado. Sentimos o desprezo nas políticas públicas`, finaliza Lira.

Promessa – Ao ser procurada pela reportagem do Diario, a Secretaria de Cultura deu um prazo para a liberação do pagamento. ´É a primeira vez que o prêmio de Fomento às Artes Cênicas será pago pelo Fundo Municipal de Cultura (antes era pago pela própria Secretaria) e isso gerou alguns entraves burocráticos que já estão sendo solucionados. Dentro de, no máximo, dez dias o pagamento da premiação será efetuado`, diz a nota. (Matéria minha publicada na edição desta quinta-feira (10), no Diario de Pernambuco)

Postado com as tags: , , , , , , ,

Todos os meses deveriam ser Janeiro

E lá estávamos, numa noite de quarta-feira, trancados num pequeno teatro (o Arraial), para discutir. O assunto? Uma avaliação do Janeiro de Grandes Espetáculos que, em sua décima-sétima edição, teve recorde de público. Como a gente já tinha comentado aqui, foram 20 mil pessoas acompanhando o festival e brigando nas portas dos teatros por ingresso. A venda de entradas, aliás, foi uma das questões. Pra quê um grupo que já fez temporada precisa de ingressos para família, namorada, irmão? Ficou acertado ou, ao menos, mais claro, que a preferência no Janeiro é para o público comum, que possivelmente seria atraído e continuaria indo às salas de espetáculo o ano todo.

Se nesse ponto quase não há polêmica, foi só colocar em discussão a necessidade ou não de se ter um prêmio no Janeiro para ouvir opiniões diversas. Isso porque muitos acham que não deveria existir competitividade, que arte não é pra isso, que a categoria deve estar cada vez mais unida; outros pensam que é só mais uma chancela para os espetáculos, que é preciso bom senso para não se deixar levar por picuinhas. E, no fim, o que parece é que todo mundo gosta de ser reconhecido e quer o seu nome na plaquinha do prêmio.

O reconhecimento, aliás, independente dos prêmios, deve levar os espetáculos pernambucanos a circular por muitos festivais espalhados pelo país. Só falta agora articulação para conseguir as passagens dos grupos. Bem que existe uma promessa do secretário Renato L de retomar o Recife Palco Brasil…É uma obrigação do governo! O nosso teatro está divulgando a cultura pernambucana. E só um adendo: seria um bom começo para essa retomada pagar os R$ 30 mil atrasados da edição de 2009. Os prejuízos foram divididos, porque os grupos não deixaram de viajar, independente da burocracia e lentidão do poder público: R$ 20 mil para a Apacepe e R$ 10 mil para o grupo Magiluth, que à época estava circulando com o espetáculo Ato.

Ah..só pra não deixar de dar o crédito – a equipe do Sesc em Caruaru e a aceitação da cidade ao festival foram super elogiados pelos artistas. E aí esse desejo de se espalhar vai ganhando força. Como boa sertaneja petrolinense (não é Leidson Ferraz?!) acho que o festival poderia ir ao Sertão. Já passou da hora de Petrolina dar mais espaço ao teatro. Ainda hoje, a cidade só conta mesmo com o Teatro do Sesc, com todas as suas especificidades. Eita..que agora a origem falou mais alto! Bom, são só provocações! E que este Janeiro possa se alongar por muitos meses deste ano!

Postado com as tags: , , , ,

A pedra no sapato (e na alma)

“A minha alma tá armada
E apontada para cara do sossego
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo”

A arte tem mesmo muitos poderes. Desde sempre. De fazer pensar, rir, chorar, ruborizar…Mas aquela que mais dói, quase corta, é a que nos tira da zona habitual de conforto – seja em relação aos procedimentos estéticos, mas principalmente no que diz respeito à mensagem da obra de arte. Rasif – Mar que arrebenta me deixou pequenininha. Com um desconfortável prazer que parecia ecoar e reverberar nas paredes de tijolinhos do Teatro Hermilo Borba Filho.

Foto: Tadeu Gondim

A montagem, assim como Angu de sangue, primeiro espetáculo do repertório do grupo Angu de teatro, é dividida em quadros. Ambas bebem na língua e escrita afiada do pernambucano de Sertânia, radicado em São Paulo, Marcelino Freire. São pequenos contos que não trazem relação direta de personagens entre si, mas passeiam pelos mesmos espectros de significados.

Desde a confusão de uma tribo de índios canibais que fala uma língua específica – só uma mulher entende e traduz – e ameaça uma atriz; à confusão do trânsito; à dor de uma mãe que não quer acordo com a paz, afinal já lhe tiraram o que ela tinha de mais precioso. O próprio nome do espetáculo – Rasif, extraído da origem árabe do nome Recife, já sugere um ambiente urbano, caótico, fragmentado.

Impossível não fazer uma menção especial ao ator Fábio Caio. A sua propriedade em cena, a capacidade de trazer para junto de si o espectador, de criar um mundo imaginário cruel, irônico, cheio de sarcasmo, riso nervoso ou escancarado. Com ele, entramos num ônibus com destino a algum dos Altos do Recife. Ele é uma velhinha que faz tricô para passar o tempo e é abordada por um sujeito. E o discurso se repete algumas vezes – algo do tipo, ‘não quero chiclete, não quero caneta, você está me pedindo dinheiro pra comprar remédio?’. O final, que eu não vou estragar, faz jus ao percurso circular do diálogo.

Foto: Tadeu Gondim

“Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero conservar
prá tentar ser feliz?”

Fábio Caio é também o menino na manjedoura, no caixote de madeira, nas tábuas duras de um barraco em Santo Amaro ou na Favela da Xuxa. Que conta a história de um amiguinho que se desiludiu com o Papai Noel e queria matá-lo de todo jeito. Também…pedir uma motoca com todas as suas luzes e receber uma bola! Ou ver a irmãzinha ganhando uma boneca horrorosa! Não é pra menos!

Se o talento de Fábio me salta aos olhos, não deixo de notar também a qualidade desse coletivo de atores, o Angu de Teatro, como grupo mesmo, que existe há sete anos. Participaram ainda da encenação no último fim de semana Vavá Schön-Paulino, Ivo Barreto, Arilson Lopes, Tatto Medinni, Márcia Cruz e Ceronha Pontes. No comando disso tudo e ainda nos vocais tão afiados e provocativos quanto o texto, o diretor Marcondes Lima.

As cenas se desenrolam num retângulo branco, que também serve como espelho para as projeções de imagens ou palavras. Às margens, pedras pesam sob os textos que compõem a peça. E a imagem da pedra diz muito sobre tudo que se passa ali. É uma pedrinha no sapato – que parece ser inofensiva, mas deixa um calo feio depois de um dia subindo a Conde da Boa Vista a pé.

Foto: Tadeu Gondim

Similaridades encaixadas – Rasif – Mar que arrebenta é muito mais provocador aos olhos de quem não viu Angu de sangue e vice-versa. Porque a fórmula cênica é mais ou menos a mesma. Os textos impiedosos de Marcelino, assim como sugerem os próprios livros, em contos rápidos, traduzidos pelo Angu de Teatro em cenas rápidas. A mulher que não quer aprender a ler, interpretada por Vavá Schön-Paulino em Rasif, parece aquela mesma feita por Fábio Caio, que não quer sair do lixão da Muribeca em Angu de sangue. Até nos trejeitos, na fala. E aí entram algumas coisas em questão, como fechar mesmo o ciclo “Marceliniano”, inovar ou não em relação ao espetáculo anterior (o grupo tem ainda a montagem Ópera, mas que é baseada em texto de Newton Moreno); e até que ponto não é válido se renovar mesmo apostando num mesmo formato. Não tenho as respostas. Só restam dúvidas e o amargor na boca, mesmo que a risada não se faça de rogada.

“As grades do condomínio são pra trazer proteção
Mas também trazem a dúvida se não é você que está nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!
Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido….
É pela paz que eu não quero seguir admitindo” (Minha Alma/ Marcelo Yuka)

Serviço:
Rasif estreou em 2008 e agora está fazendo uma série de 20 apresentações
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Bairro do Recife)
Quando: de quinta a domingo, às 20h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5

Postado com as tags: , , , ,