Arquivo mensais:fevereiro 2011

Um mês de Satisfeita, Yolanda?

Sabe aquela sensação: passou tão rápido, mas faz tanto tempo que estamos juntos? É isso que sentimos. Estamos muito felizes com este espaço e com as várias possibilidades que se descortinam. Na comemoração de um mês de lançamento do Satisfeita, Yolanda? queremos agradecer a todos que estão conosco neste desafio, aqueles que nos apoiaram, que passaram por aqui, não concordaram com o que escrevemos, deixaram comentários ou não, curtiram nossos links no facebook, nos retuitaram.

Como ainda estávamos (estamos?!) engatinhando no blog, na época do lançamento, só fizemos galeria de fotos no facebook. Então ficamos devendo as fotos por aqui. Rolou exposição de figurinos do Angu, com idealização de Carol Monteiro, performances de Júnior Sampaio, Fábio Caio e Arilson Lopes, e discotecagem de Marcondes Lima. A grande maioria das fotos é do querido Tadeu Gondim.

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Fim de semana intenso e um rei deslocado

Fim de semana intenso no Recife. Prévias carnavalescas para gostos variados. Filmes do Oscar nos cinemas da cidade. Algumas peças em cartaz. Dois shows de atrações internacionais: Backstreet Boys e Cyndi Lauper. A maratona começou com o lançamento do livro sobre Sivuca, sexta-feira, na Casa da Cultura. De Flávia Barreto, filha do músico, e do jornalista Fernando Gasparini, chama-se Sivuca e a música do Recife. Depois disso a imperdível exposição de fotos do carnaval do Recife e Olinda, do projeto Lambe-lambe. Breno Laprovitera, Jarbas Júnior e seus companheiros flagraram foliões ao longo de 15 anos do projeto. E você pode até encontrar sua foto de outros carnavais.

A banda Backstreet Boys não está mais no auge e a concorrência das atrações de sexta-feira não estava para brincadeira. Portanto, a casa de show Chevrolet Hall estava cheia, mas não lotada. Nossa amiga, a repórter Carolina Santos, diz que o show foi divertido, mas isso para quem era muito jovem (ou estava na mesma sintonia) no final da década de 1990. Na turnê This is us, os boys vieram ao Recife sem banda – “só com um DJ que tocava bateria e teclado -, sem parte do cenário e nenhum tipo de pirotecnia”. Mas os garotos continuam lindos, dançam sem parar e são bem afinados. Suas músicas faziam promessas de amor. E o público feminino não resistiu.

No sábado, foi a vez de Cyndi Lauper. Declinei e fui assistir ao duro Biutiful, primeiro longa de Alejandro González Iñárritu, com Javier Bardem no papel de Uxbal, um herói trágico, pai de dois filhos, e à beira da morte. Uma obra-prima que ainda expõe a complexa situação dos imigrantes na Espanha, africanos e chineses, explorados até por seus conterrâneos.

Mas Cindy Lauper, a cantora que disputou a coroa pop com Madonna nos anos 1980, fez um grande show, segundo nossa amiga Juliana Cavalcanti. Mesclou os hits da carreira, com músicas do álbum Memphis Blues. A percussionista Lan Lan ajudou na tradução de algumas palavras para o português e improvisou com Cyndi, apenas com voz e percussão, a inesquecível The Goonies ‘R’ good enough. Cyndy tirou os sapatos, e emendou numa sequência dançante com Girls just wanna have fun e outras músicas com sua voz potente.

Na sexta, fomos atrás do mestre. O maior dramaturgo que nós temos. Ariano Suassuna, que foi coroado rei do Baile dos Artistas. Ao longo da entrada, passagem para o salão, caboclos de maracatus saudavam os foliões. Quando chegamos ao Clube Português, ainda era cedo, estava sendo anunciada a coroação. Corri por alguns labirintos na cola de Tadeu Gondim, que disse já conhecer o caminho mais rápido. Queria ver a coroação, mas quando cheguei a um lugar que dava para ver, a atriz Hermila Guedes já tinha posto a coroa sobre a cabeça do nosso escritor.

Para acompanhar a coroação, precisava de um cantinho no camarote na frente. Não para ser vista, como a maioria, mas para ver e filmar alguma coisa. Encontrei Renato L, secretário de Cultura do Recife. Ele me apresentou ao prefeito, João da Costa. Foi do camarote do prefeito que captei algumas cenas do palco. O ator Vavá Paulino Schö-Paulino, com uma invejável barriga de tanquinho, dividia as apresentações com Elke Maravilha.

Elke Maravilha e Ariano Suassuna. foto Nando Chiapetta

Elke se derreteu em elogios ao rei da noite. Chegou a dizer que um dos grandes sonhos de sua vida era conhecer Ariano Suassuna. Agora poderia morrer em paz. Ariano fotografado por todos os lados, inclusive por seu assessor Samarone Lima, parecia gostar do paparico da Maravilha. Deram até um selinho. O blog do João Alberto publicou isso e muitos outros detalhes do baile.

Ariano Suassuna parecia deslocado naquele palco. E nenhuma afinidade com a rainha escolhida, Gretchen, que foi coroada pelo ator Irandhir Santos. Com Ariano ainda no palco, o jornalista Cleodon Coelho entregou o talismã a Daliana Martins.

Fico pensado o que foi que motivou Suassuna a aceitar esse título. O assessor dele, num telefonema anterior, também não soube explicar a motivação. Talvez a palavra dada. Aquela de sertanejo que cumpre o prometido. Talvez para agradar Eduardinho…

De longe, do camarote do prefeito do Recife (também sendo mimado por seus asseclas), me pareceu um sacrifício para o nosso escritor estar ali. Mesmo com tanta purpurina no salão, não dava pra disfarçar o estranhamento do dramaturgo com o ambiente.

Gretchen e Ariano Suassuna. Foto: Nando Chiapetta

Encontrei muita gente. Algumas eram só poses. Divertidas. Outas pura arrogância de quem não precisa mais de voto. Já está no poder. Muitas procurando aparecer de qualquer jeito. Algumas conseguiram. Tinha gente bonita. Mas me deparei com algumas em que a carcaça é bonita, mas elas são feias. Que “meda” dessa gente poderosa. Fui. Não fiquei para os shows de Almir Rouche e É o tchan.

Segui pro Guaiamum treloso, no Poço da Panela. E no palco estava Otto, feliz da vida. Nós também. Depois do show dele, meia hora para ajustar os instrumentos para Nando Reis e seu Bailão do Ruivão. Valeu a espera. Um showzaço. Mas fui embora quando anunciou a chuva.

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Estágio no Club Noir

Henrique Ponzi em Fio invisível da minha cabeça. Foto: Val Lima

Henrique Ponzi é daqueles atores que se engrandece no palco. Franzino e aparentemente tímido, ele se potencializa quando interpreta seus personagens. O olho acurado da atriz e diretora Juliana Galdino, do Club Noir, de São Paulo, não deixou isso passar despercebido. E durante um exercício de uma oficina coordenada por ela, em novembro, durante o Festival Recife do Teatro Nacional, Ponzi foi convidado para passar uma temporada de treinamento no grupo que ela mantém com o marido, o dramaturgo e diretor Roberto Alvim.

Além da oficina, Juliana Galdino apresentou no festival o espetáculo Comunicação a uma Academia, com texto de Franz Kafka e direção de Roberto Alvim. Uma intepretação estupenda. Ela desempenhava o papel de um macaco que se foi transformando em gente e expõe seu relato vigiado por um guarda armado (José Geraldo Jr.). O discurso sobre o processo de sua mutação de macaco caçado, maltratado e subjugado a homem é duro e nos joga na cara o quanto de “humano” existe em nosso comportamento. Qualquer semelhança com ações de colonialismo e aculturação não é mera coincidência. Ela apresentou o espetáculo no Teatro Barreto Júnior, com um palco praticamente vazio, numa encenação minimalista, com os atores quase imobilizados, com movimentos mínimos, às vezes quase imperceptíveis; num ambiente frio, escuro, claustrofóbico. Na parede, uma grande cabeça de cervo. E um domínio da fala, que brincava com nossas sensibilidades e limitações. Uma cena forte, cortante, que não aceita concessões.

Mas voltemos a Ponzi. Essa ida dele para estágio no Club Noir me fez recordar a atuação de Juliana no Recife.

Neste sábado, às 20h, e domingo, às 19h, Henrique Ponzi apresenta o monólogo Fio invisível da minha cabeça, baseada num conto de Caio Fernando Abreu. É a sua despedida e uma forma de levantar uma verba e ajudar a custear sua temporada em São Paulo, que deve durar no mínimo seis meses.

Ponzi estudou Letras e cursos livres de teatro. Mas acredita que é preciso investir sempre na formação. Em 2004, ele fundou a Cia. do Ator Nu, com ator e produtor Edjalma Freitas. Com a companhia montou Fio invisível da minha cabeça e Encruzilhada Hamlet, com texto e direção de João Denys.

O texto do espetáculo Fio invisível da minha cabeça foi elaborado pela Companhia do Ator Nu a partir do conto Além do ponto, do livro Morangos Mofados de Caio Fernando Abreu. Trecho a seguir:

“Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse um táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos.

Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pelos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d’água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.
…”

Adaptada e dirigida por Breno Fittipaldi, a peça mostra o desassossego de um homem que procura preencher o vazio interior. E será que isso é possível? O personagem sai numa louca jornada em busca de um amante que nunca é encontrado. Ele se des-espera por seu amor – inventado? Numa atmosfera noturna, urbana, cheia de referências ao universo de Caio Fernando Abreu.

O público também precisa de preparação. No hall do teatro. Música para entrar no clima com repertório de cantoras muito queridas pelo autor do conto, entre elas, Maria Bethânia e Angela Rô Rô. O jornalista Tiago Soares, na função de DJ, faz a seleção dos LPs. E será servida uma dose de conhaque aos espectadores.

Fio invisível da minha cabeça estreou em 2008, no Recife. Participou de alguns festivais como o de Curitiba, no Paraná; o POA em Cena, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o de Salvador, de Tuparetama, de Igarassu e de Petrolina.

As Yolandas vão conferir a despedida de Ponzi e desejar muita sorte para o ator na Paulicéia.

Serviço

Fio invisível da minha cabeça
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, Bairro do Recife)
Quando: Hoje, às 20h. Amanhã, às 19h
Quanto: R$ 20, R$ 10 (meia-entrada) ou R$ 15 (para colaborar com o intercâmbio)
Informações: 3355-3321/ 3355-3318

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Amor de blog

“Oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei, disse a secretária eletrônica com voz de me coma de quatro. Eu não deixei nenhum recado, continuei mudo segurando o telefone na orelha. É tão engraçado, a gente para no tempo e fica viajando sem mala e sem avião, o passaporte era o telefone, pus no gancho e entrei no carro. Apenas uma luz acesa naquele edificiozão. O apartamento dela iluminado, as janelas abertas e apenas uma secretária lá dentro, eletrônica. Só pode ser uma patologia, só pode. Vou contar um segredo porque sou seu amigo e confio em você: tenho fixação pela secretária eletrônica. Eu sei que é a Vanessa, mas aquela voz, aquela voz parecia ser de outra pessoa. Eu ligava mais de trinta vezes por dia só para poder ouvir ela dizendo oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei”. (Cleyton Cabral)

Gostou? Terça-feira, no Espaço Muda (Rua do Lima, 280, Santo Amaro) tem muito mais! Esse foi só um trechinho de um texto que ‘pesquei’ do blog Cleytudo; vários deles serviram de base para esta edição do Leia-se: Terça!, que está sob a direção de Rafael Almeida, e traz no elenco Evandro Lira, Fernanda Mélo, Luana Lira, Luciana Pontual e Thiago França.

“São textos sumários falando dos encontros e desencontros do coração, a descoberta do amor, as ilusões e desilusões amorosas. Os textos falam do cotidiano, mas de uma forma peculiar”, conta Rafael. A leitura dramática de Hoje quero falar de amor está marcada para 20h. E já estamos sabendo que na próxima edição, o texto também é de Cleyton, mas desta vez um infantil, que participou de uma série de leituras dramáticas no Sesc Santo Amaro no fim do ano passado (foi em janeiro deste ano!): O menino da gaiola. Ah, não tem cobrança de ingresso, tá? É “contribuição espontânea”!

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A visita da escritora

O Coletivo Angu de Teatro, do Recife, prepara sua quarta montagem. Essa febre que não passa, tem texto baseado no livro de contos da jornalista Luce Pereira, colunista do Diario de Pernambuco. No elenco do espetáculo, estão as atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Maeve Jinkings, Márcia Cruz e Mayra Waquim.

André Brasileiro, ator e produtor das peças anteriores, estreia na direção. Marcondes Lima, que dirigiu as outras três encenações do Angu de Teatro: Angu de Sangue e Rasif – Mar que arrebenta, com textos de Marcelino Freire, e Ópera, com texto de Newton Moreno, está na supervisão do espetáculo e também assina a direção de arte.

Foto: Ivana Moura

Ontem, a escritora visitou o grupo no ensaio no Teatro Hermilo Borba Filho, no bairro do Recife. Foi uma conversa que trilhou os caminhos da memória para tentar descobrir origens, afetividades, referências. As atrizes ficaram surpresas quando perceberam que muitos dos personagens têm sim um ponto de partida real. Seja uma tia da escritora, uma situação, ou o seu estado ‘outonal’, como ela mesma disse.

Luce compartilhou suas memórias

Ainda não está decidido quantos contos farão parte da montagem e quem fará quais personagens – as atrizes, claro, já tem as suas preferências, e algumas ainda estão em processo de disputa! O diretor avisa que nada está definido! Mas há uma ideia de que, ao contrário de Angu de sangue e Rasif, os contos possam estar, de alguma forma, atrelados, seja por elementos de cena ou personagens.

“Fico muito curiosa. Conheço as minhas personagens, mas não o que está em vocês”, disse Luce ao elenco. “É muito fácil se apaixonar, se emocionar com as suas mulheres”, retrucou Hilda Torres. Essa febre que não passa está prevista para estrear no fim do mês de abril.

A autora e as atrizes

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